terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Dia 7. O último dia.

Há seis meses, foi o meu último dia na firma colorida. Chovia muito, e eu botei minha blusa listrada de mangas compridas e meu casaco de tweed. Ia ser um dia triste. Eu botei sapatilhas verdes e peguei um taxi, porque era demais ultrapassar aquele 1km a pé. Eu não queria andar para o meu último dia de trabalho na firma colorida. Eu me lembro da chuva, do frio, do almoço com os queridos no restaurante alemão. Do nó na garganta, o dia todo.

Hoje foi meu último dia na oficina colorida. Dessa vez eu saio porque quero. Estou com meu vestido roxo, que tem uma fita laranja que combina com as unhas. É um dia feliz. Fez sol, fez calor, o céu esteve azul. Foi um dia feliz. Exceto pela parte que eu tive de me despedir de algumas das minhas pessoas favoritas no mundo todo.


Porque se teve algo que a oficina me deu, algo que nem a firma colorida chegou tão perto, foi amigos. Amigas, pra ser mais exata. O conglomerado de mulheres muito bem podia ser um ambiente de competição, mas não. Sempre foi um clube da luluzinha, com idas combinadas à manicure, e desfile de vestidos fofos. Tem a confraria do martini, a discussão sobre liquidações, sobre meninos com e sem covinhas. Isso não tem preço. Isso eu tive ali, desde o começo. E isso vai ser bem triste de deixar pra trás.


Levo comigo as brincadeiras fora de hora, as reuniõezinhas para fofocas como a que aconteceu de tardinha, em volta de mim. Levo os olhos cor de avelã da co-worker que, quando soube que eu ia sair, disse que eu era um dos respiros dela ali dentro. Levo a chinesinha mais do que fofa dizendo "eu não domino o português", mas que raramente usou uma preposição fora de lugar. Levo a boneca de Olivia Palito, que estava na mesa quando eu cheguei, mas que veio embora comigo, na bolsa.

I earned it.


Levo os post its da parede, demonstrações aleatórias de carinho. (L)


Não teve bronca de chefa que costuma gritar. Não teve mais nenhum entrevero com a evil manager. Teve ela me olhando feio, mas teve eu sorrindo lindamente. Teve pessoas coloridas da firma colorida, novamente, no msn, perguntando se eu estava animada. Adoro. Teve almoço com todas as queridas, todas, sem exceção. E eu saí do meu corpo por uns instantes e olhei a gente de longe, se interrompendo, falando assuntos bizarramente opostos, mas em perfeita sintonia. E eu lamentei não ter trazido a câmera, pra fotografar aquele momento. Guardei na memória, apenas.

Um comentário:

Luiz com Z disse...

Só não esquece o câncer na muié.