quinta-feira, 24 de maio de 2007

Eu tento pensar em pessoas feias e me lembro que, depois de cinco minutos, quando elas ganham três dimensões, voz, personalidade, movimentos, ninguém é mais tão feio assim. Isso acontece, pra mim, com qualquer caso de extremos. Se a pessoa for muito bonita, cinco minutos depois ela vai ser normal, comum, bonitinha. Perde o brilho. Se a pessoa for muito feia, depois de cinco minutos vai ficar legal, normal, feinha. Ganha brilho. Todo mundo, na minha cabeça, depois daqueles cinco minutos de choque, está fadado ao equilíbrio. Os muito belos passam brilho para os muito feios e todos viram cor pastel.

O fato é que eu tentei definir a minha forma de classificar espécimes humanos que trombem comigo por aí. E, se há algum tempo, a parte estética até tinha alguma expressividade, hoje nem tem mais. Eu me guio por preceitos básicos de comportamento. Não gosto de gente mal educada. Não precisa ser simpático, não precisa saber se portar em frente a estranhos. Gosto de gente que diz bom dia, que segura a porta do elevador enquanto eu me enrolo passando o cartão na maldita da roleta. Gosto de quem dá a passagem, de quem se veste cobrindo partes do corpo que eu não me interesso em ver, como barriga e afins. Depilação em dia, por favor. Olheiras cobertas com base, corretivo, pancake, argamassa. Se eu faço, não me digam que não dá. Cabelos domados, primordial. Pomada, leave in, produto é o que não falta. Odeio quem se veste de forma vulgar, chamativa. Sempre fui adepta da teoria de que menos é mais. Não gosto de quem invade espaço dos outros. Mas, em geral, o que mais me emputece é falta de educação mesmo. Não segurar a porta do elevador é muito ruim. Há algum tempo, um dos diretores da empresa em que eu trabalho, mesmo tendo me visto logo atrás dele, entrou no elevador e foi embora. Sem mim. Achei tão horrível isso. No dia seguinte, a mesma coisa aconteceu, só que eu era a privilegiada, perto do elevador. Fiz questão de segurar a porta. E de dizer bom dia.

Atualmente, essa pessoa é uma das mais feias que eu conheço.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

O fantástico (?) mundo dos sonhos de Madame Ç.

Sonhei que a professora do curso de MBA que nunca acaba me ligava, pra dizer que eu tinha colado na prova. Ela ligava anonimamente, e eu descobria que era ela me ameaçando por causa da gargalhada de vilã de história infantil. Ela não tem nada de vilã. É meio afetada, aliás muito. É ex mulher do coordenador, algo assim. Tem franjinha, e isso seria uma coisa que eu criticaria, se não tivesse adotado uma na minha própria testa.

Fato é que ela me ligava, e eu estava na ilha do lost, tomando sol ao lado do Jack. Eu, que odeio sol, no sonho, estava com um biquíni pequeno, e eu olhava pra mim mesma e até me achava digna daquele biquíni. E era o Jack sentado do meu lado, caramba. Não era o Sawyer. O lance é que eu acho o Jack* mais interessante MESMO, mas em personalidade o Sawyer dá banho. Lost, série que eu não assisto desde o episódio 6 dessa temporada, a 3ª. Até andei ouvindo que depois de uns episódios bem mornos, da saída patética do Rodrigo Santoro, a história está ficando legal de novo. Mas eu estou numa fase Heroes, e não sobra tempo pra ver outras coisas. E, no sonho, eu estava sentada no sol, e o mar estava agitado, e as pessoas passavam nadando, como se tudo fosse um grande clube, daqueles bem cafonas. E eu estava na praia, ao lado do Jack, e a professora de franjinha ligava, pra dizer que eu tinha colado. Na prova do MBA. Que é mais pesadelo que qualquer outra coisa.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Às vezes, a vontade é gritar. Um grito único, isolado, pra quebrar o marasmo dos que fingem trabalhar tranquilamente. Um grito que sacuda tudo. Que assuste, que faça o coração disparar. Que dê medo, que provoque risos, ainda que contidos. Que provoque perguntas, mas não aquelas clássicas, do tipo “por que ela gritou?”. Que provoque engulhos, que todos se dêem conta de que estão quietos, e que deveriam gritar. Pra assustar, pra sacudir, tirar as coisas do estado normal. Os gritos deveriam ser todos no sentido “Por que eu não gritei antes?”. Todos deveriam gritar, mas ninguém parece se dar conta disso. Será que essas pessoas são felizes? Será que não querem chutar tudo para o alto, ou pelo menos gritar? De dor, de tédio, de desespero mesmo. Um grito daqueles, meio chorando, com força. Só pra mostrar que estão vivos, meu deus. Será que estão vivos? Se estão, por que não gritam? Será que essas pessoas todas são felizes? Fazendo o que fazem, dia após dia? Eu, definitivamente, quero gritar.

E permaneço calada, e finjo trabalhar tranquilamente.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Free Paris

Enquanto a garota de lá suspira com idéias de voltar a Paris, e a garota de cá surta com idéias vindas de Paris, traduzidas para um inglês macarrônico em uma conference Call, dos franceses meio loucos que agora mandam em tudo. Paris. Pra uma, sonho. Pra outra, pesadelo.

A Paris que merece atenção agora, no entanto, é outra. Loura, magra, bêbada, ex-amiga de Britney, ex-amiga de Nicole Ritchie, inimiga declarada de Lindsay Lohan e aquela uma que fazia a Marissa, do The OC. Paris andou fazendo bagunça, bebendo em excesso, dirigindo sem habilitação. Paris precisa de amigos. Suas amigas estão ocupadas demais vomitando, ou entre idas e vindas da reabilitação, entre cabeças raspadas e gritos de “eu sou o anticristo”. Paris está só.

Eu já ia com a cara de Paris há tempos. Nada melhor nesse mundo do que não ter o que fazer, e ter dinheiro. Ela mora em um hotel, eu assisti ao seu E! True Hollywood Story, com depoimentos da tia, da mãe e de amigas. Não precisa trabalhar, pode apenas dilapidar o patrimônio dos Hilton. Ela pode dilapidar o patrimônio durante toda a sua vida, full time, e ainda assim passará seus últimos anos em um daqueles centros especializados em idosos, tomando champanhe e aguardando sua hora. Paris conseguiu sair sem grandes arranhões do episódio do vídeo de sexo com o namorado oportunista. Guardou sua dor e seguiu em frente. O maligno deve lucrar com isso até hoje. Paris confiou em Nicole, sua amiga dos tempos de The Simple Life, aquele reality que eu nunca quis ver, e Nicole, provavelmente drogada em uma festinha em casa, achou que seria divertido exibir a amiga em um telão, novamente em vídeo. E a amizade se partiu. Paris e Nicole romperam, é possível que a loura bêbada até tenha vertido algumas lágrimas de decepção, mas logo logo, ao pipocarem na mídia especializada (?) as notícias de que a pobre filha de Lionel Ritchie padecia com a anorexia, Paris não se fez de rogada. Pegou seus muitos dinheiros e destinou-os à amiga em apuros, em forma de pizzas, grandes, gordurosas e suculentas, que chegavam à casa da enferma, diariamente, no mesmo horário. Paris é brilho, eu pensava. A garota concordava.

E quando Britney se viu só, recém-separada, gordinha, com dois filhos pra criar, Paris disse: I’ll be there for you, honey. E esteve lá, e levou-a de limusine nas baladas todas dos Estados Unidos, e deu bebida pra ela, e apresentou seus amigos maluquinhos, e disse que a vida continuava, e que ela precisava “move on”. E a Britney pegou o então namorado da loura com nome de cidade, um grego maluco que parece que também é podre de rico. Eu lembro da Britney que queria casar com o príncipe William, que cantava “i’m not a girl, not yet a woman”, mas essa que Paris, querida, recolheu da sarjeta, se muito, cantava que era escrava de alguém em um clipe meio cheio de lama. E Paris não se importou, e disse que tudo ia ficar bem. E Paris perdeu o namorado. E aí a Nicole pediu perdão pelas maledicências todas, Paris chorou e perdoou, criatura nobre que é.

E elas comemoraram, e beberam champanhe, vodka, whisky, latinhas de energético. E Paris pegou o carro e foi presa. E saiu em condicional, bebeu, pegou o carro e foi presa, e perdeu a habilitação. E pegou o carro de novo, e agora terá de ficar atrás das grades mais de um mês. Grounded, de castigo, whatever. E papai Hilton inventou de deserdá-la, como se as coisas já não estivessem feias o suficiente. Eu tenho pena de Paris, sim senhor. Muita pena de Paris.

Por isso eu queria uma camiseta “Free Paris”, pra usar agora, nesse exato momento. E eu queria fazer um abaixo-assinado pra que o pai dela tivesse compaixão, e continuasse soltando seus dinheiros na mão da pobre loura. E que a polícia lá dos estados unidos não prendesse a pobrezinha, e que ninguém mais fizesse vídeos de momentos íntimos para conseguir dinheiros depois, e que nenhuma amiga nunca mais colocasse as mesmas cenas no telão para divertir seus convidados. E que nenhuma amiga, e nem muito menos a Britney, voltasse a roubar seus namorados, que a Cameron Diaz parasse de dizer que está feliz que ela vá para a cadeia, e que todo mundo continuasse dando bebida pra ela. Porque Paris é café-com-leite, Paris é brilho.
E se eu resolvesse, hoje, durante a pós graduação que não acaba nunca, me mudar do lugar que eu sempre me sento e sentar ali, na outra fileira, bem no lugar da loura frequentadora de academia? Sim, aquela da briga, do mega barraco inexistente no elevador, quando eu resolvi expor meus profundos conhecimentos sobre frequentadores das academias do bairro, para a audiência errada? Eu podia me esforçar para sair do trabalho na hora, e chegar antes da aula um pouquinho, e escolher aquele lugar. Bem na quina da fileira, do lado oposto ao que eu sento. O lugar dela. As pessoas escolhem sempre os mesmos lugares, fato, desde o colégio. Eu sempre escolhia me sentar lá atrás, e depois, lá pelo segundo semestre, era categoricamente convidada pela professora a me sentar lá na frente, lugar fixo, para diminuir a conversa. Isso me lembra o bordão dos dias atuais, dito sem a menor cerimônia, para os, agora, adultos da equipe: foco, galera, foco. Minha vida inteira me mandaram ter foco. Será que ninguém entende que, se a necessidade é alguém com foco, eu não sou a pessoa certa? Fui expulsa da sala do balé, já disse, aos seis anos. Uma pessoa que não tem foco aos 27, e que já não tinha foco aos seis, deve escarar isso não como um defeito, mas como um traço de personalidade. Olá, eu sou Madame Ç, eu não tenho foco.

Mas então, tentando voltar ao assunto, eu queria me sentar lá. No lugar da loura envelhecida, com roupa de menininha, cabelos compridos no meio das costas, bíceps e tríceps em ordem. "Personal trainer", ela disse, acho que tentando se justificar pra uma pessoa que claramente despreza aquele universo. "Eu não vou para a academia.", disse também. Cara, é óbvio que ela vai. A ofensa toda do comentário infeliz no elevador da discórdia calou fundo em seu coração. E ela fica tentando se justificar, meio que fazendo graça, pra angariar simpatizantes à sua causa. E eu sou aquela que disse que só malha puta nas academias do bairro. A anticristo de uma turma de siliconadas, de chapinha, pingentes, bíceps e tríceps. Eu nunca tive tríceps, veja bem. Nem sei se tenho músculos. Acho que devo ter, porque é tipo default no ser humano, mas fato que eles nunca me serviram mesmo. Porque o meu negócio é cinema, controle remoto, computador. Pessoas sentadas, jogando conversa fora, boa música, boa comida. E eu - novamente correndo o risco de generalizar - acho que essas pessoas malham tanto porque não têm muito assunto mesmo, no sentido de algo que fuja à contagem básica de calorias ou quantas claras de ovo ainda precisam comer naquele dia. Eu tentei ir para a academia uma vez. Ou duas, ou três, não interessa. Pode até ser que eu volte a tentar. Mas fato é que eu queria entender o que acontece com essas pessoas, que a academia tem de tão legal.

E a loura do lugar fixo na sala de mba, que se justifica nas bobagens que fala com um "eu sou burra, gente, eu sou loura" continua a me dar nos nervos. E eu queria me sentar no lugar dela, assim, só pra provocar.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Episódio de hoje: Meu carro, filho meu. Ou Madame Ç anda de ônibus.

Impressionante como a gente se apega. A gente se apega às situações, às pessoas, à rotina. No meu caso, o apego atende pelo nome de tistu, um carro fofo e azul que me leva pra onde eu quero já há quase 4 anos. Já andei muito de ônibus, já fui de precisar pegar dois ônibus para ir e mais dois para voltar da faculdade. Saía de casa com uma antecedência absurda, pra não correr riscos de atrasos e etc. Fiquei cheia de manhas, do tipo não sentar na janela no verão, porque ônibus têm baratas – e meu manual serve muito pra uso em casa, mas nada pra uso na rua. Meus sapatos acabavam-se com uma rapidez incrível, e eu fui aos poucos abandonando aquelas frescuras fofas de ser menina, de usar sandalinhas e saias. Andar em ônibus não é para leigos, não senhor. Tem que ter as manhas de se equilibrar quando o motorista faz as curvas, se desviar dos engraçadinhos, saber o ponto exato de puxar a cordinha e torcer mesmo para que o motorista resolva parar no ponto e não te faça andar muito. Tem que ter a manha de passar protetor, porque sol em ponto de ônibus queima mesmo, e deixa a marquinha do relógio e da blusa, e dos óculos. Tem que sair de casa com uma antecedência maldita, porque ônibus pára de ponto em ponto, e leva o dobro de tempo pra completar o percurso.

Eu não me lembrava de nada disso e, hoje de manhã, ao sentar toda pimpona no banco do motorista, ao virar a chave e – horrorizada – descobrir que o carro não ligava, tive que me recolher à minha insignificância e andar até o ponto. Pensei que podia ser divertido, tentar lançar a pollyana e pensar em como foi mesmo maravilhoso que tistu tivesse dado zica dentro do prédio, em segurança, paradinho na vaga, e que mais maravilhoso ainda era que no meu prédio viva um dono de oficina, o senhor Teófilo, malandrão, a cara do pai da família buscapé, que se prontificou a mandar um bom mecânico à minha residência, e que fará, por muitos, MUITOS dinheiros, o carro funcionar ainda hoje. Always look on the bright side of life, Monty Python, isso tinha que servir uma hora. Senhor Teófilo, alguém que Ilminha se apressaria em chamar de fofo, prometeu resolver tudo por uma módica importância de algumas centenas de reais.

E eu fiquei meio pão-duro nesses últimos tempos, encasquetei com a idéia de guardar dinheiro, e venho operando em modo econômico, sem novos sapatinhos, sem novos casaquinhos, sem lançamentos em DVDs de seriados. E é óbvio que isso incluía a idéia de pegar um taxi até o trabalho. Não. Vou de ônibus, é tão pertinho, é bom mesmo para perder a frescura. Já peguei um milhão de ônibus na minha vida, já atravessei a cidade, já fui parar na ilha do governador, eu sempre me virava, pensei. E peguei o ônibus, dois reais, para o trabalho.

Não tinha lugar, modos que tive que ficar em pé. Aquelas barras são tão engorduradas, disso eu me lembrava muito bem. Se você ficar pensando em bactérias, não anda de ônibus nunca mais. As pessoas são todas estranhas, tem sempre alguém te encarando, olhando fixamente. Eu não me lembrava que tinha que prender o cabelo porque, principalmente quando você é um dos que está em pé à espera de uma vaga, as janelinhas superiores jogam toda a sorte de vento na sua cara e o cabelo voa para todos os lados, e se despenteiam mesmo. Tem que escolher ficar em pé em um lugar onde as pessoas tenham cara de não estar indo para o mesmo lugar que você, para que quando elas se levantem rumos aos seus destinos, você possa se sentar bonitinho e, quem sabe, tentar relaxar no resto do percurso.

Antigamente, eu era uma boa menina que andava de ônibus e chegava na hora nos lugares, porque me programava pra sobrar tempo. E enchia a cabeça do meu pai. Porque eu precisava muito de carro. E quando teve o troço com o 174, eu usei como argumento, e quando teve um engarrafamento que me fez levar 4 horas do flamengo para a barra, eu usei como argumento. Eu queria ar-condicionado, mais que isso, eu queria sapatinhos que não ficassem gastos tão rápido, e música de qualidade. E um dia, não mais que de repente, o carro veio. E eu abracei as frescuras todas, as sandálias de tirinhas finas, as saias de tecido, CDs e mais CDs. E comecei a chegar atrasada, porque de carro tudo é tão rápido, pra que tanta antecedência? Whatever.

E hoje o carro enguiçou. Depois de 4 anos quase inteiros, muita sorte essa ter sido a primeira. E eu fui de ônibus, e voltei também. E fiquei tentando entender por que diabos - hoje - eu olho para esse universo com tanta estranheza. Durante os 33 minutos de um trajeto que, de carro, eu faço em 13, eu olhava para a cara das pessoas, com seus MP3 e seu sono tranquilo, com a cabeça batendo nos vidros com o sacolejar da viagem, e pensava. Eu dormia em ônibus quando fazia o doce trajeto de volta ao mundo em 80 dias, ou nas duas horas e quinze que separavam a minha casa do estágio na agência de publicidade. Eu ouvia música e pensava na vida. Eu abstraía das barras engorduradas e das pessoas. E me dei conta de que a gente se apega. A conforto, a frescura, ao ar-condicionado e ao espelhinho no pára-brisa, tão bom pra conferir se o rímel está ok. E, quando o telefonema veio dizendo que o carro estava pronto, na garagem, esperando por mim, não contive a alegria. Porque a gente se apega. Ao carro, ao controle da própria velocidade média, à temperatura adequada para garantir o conforto no calor infernal de um rio de janeiro mais quente a cada dia. Ao carro, mesmo.