quinta-feira, 10 de maio de 2007

E se eu resolvesse, hoje, durante a pós graduação que não acaba nunca, me mudar do lugar que eu sempre me sento e sentar ali, na outra fileira, bem no lugar da loura frequentadora de academia? Sim, aquela da briga, do mega barraco inexistente no elevador, quando eu resolvi expor meus profundos conhecimentos sobre frequentadores das academias do bairro, para a audiência errada? Eu podia me esforçar para sair do trabalho na hora, e chegar antes da aula um pouquinho, e escolher aquele lugar. Bem na quina da fileira, do lado oposto ao que eu sento. O lugar dela. As pessoas escolhem sempre os mesmos lugares, fato, desde o colégio. Eu sempre escolhia me sentar lá atrás, e depois, lá pelo segundo semestre, era categoricamente convidada pela professora a me sentar lá na frente, lugar fixo, para diminuir a conversa. Isso me lembra o bordão dos dias atuais, dito sem a menor cerimônia, para os, agora, adultos da equipe: foco, galera, foco. Minha vida inteira me mandaram ter foco. Será que ninguém entende que, se a necessidade é alguém com foco, eu não sou a pessoa certa? Fui expulsa da sala do balé, já disse, aos seis anos. Uma pessoa que não tem foco aos 27, e que já não tinha foco aos seis, deve escarar isso não como um defeito, mas como um traço de personalidade. Olá, eu sou Madame Ç, eu não tenho foco.

Mas então, tentando voltar ao assunto, eu queria me sentar lá. No lugar da loura envelhecida, com roupa de menininha, cabelos compridos no meio das costas, bíceps e tríceps em ordem. "Personal trainer", ela disse, acho que tentando se justificar pra uma pessoa que claramente despreza aquele universo. "Eu não vou para a academia.", disse também. Cara, é óbvio que ela vai. A ofensa toda do comentário infeliz no elevador da discórdia calou fundo em seu coração. E ela fica tentando se justificar, meio que fazendo graça, pra angariar simpatizantes à sua causa. E eu sou aquela que disse que só malha puta nas academias do bairro. A anticristo de uma turma de siliconadas, de chapinha, pingentes, bíceps e tríceps. Eu nunca tive tríceps, veja bem. Nem sei se tenho músculos. Acho que devo ter, porque é tipo default no ser humano, mas fato que eles nunca me serviram mesmo. Porque o meu negócio é cinema, controle remoto, computador. Pessoas sentadas, jogando conversa fora, boa música, boa comida. E eu - novamente correndo o risco de generalizar - acho que essas pessoas malham tanto porque não têm muito assunto mesmo, no sentido de algo que fuja à contagem básica de calorias ou quantas claras de ovo ainda precisam comer naquele dia. Eu tentei ir para a academia uma vez. Ou duas, ou três, não interessa. Pode até ser que eu volte a tentar. Mas fato é que eu queria entender o que acontece com essas pessoas, que a academia tem de tão legal.

E a loura do lugar fixo na sala de mba, que se justifica nas bobagens que fala com um "eu sou burra, gente, eu sou loura" continua a me dar nos nervos. E eu queria me sentar no lugar dela, assim, só pra provocar.

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