terça-feira, 27 de setembro de 2011

não sei dar outro nome pra nova firma que não seja a grande corporação. porque eu acho que só isso pode dar alguma ideia do mundo que eu ando vivendo, hoje, há 3 meses. antes mesmo de assinar um contrato, me chamaram lá para uma integração. imaginei que era coisa de uma hora, uma hora e meia, no máximo. pulei o almoço e deixei pra fazer tudo depois de sair de lá. comprar o vestido do casamento do pai do namorado, abastecer o carro. comer alguma coisa. permaneci na grande corporação durante 4 horas entre aulas sobre o funcionamento da vida, regras de conduta e formulários a serem preenchidos e assinados, cada um a seu tempo, e na ordem correta.

tem porta giratória pra eu me embananar na entrada e na saída. tem mais andares e mais imponência do que a firma colorida. tem gente de todo tipo passando apressada, muito, mas muito mais gente mesmo. gente séria, colorida, moderninha, metida a grunge, metida a hipster, metida a coxinha. todos os tipos de gentes. tem elevadores gigantes que passam lentamente por entre os andares, parando em cada um deles, deixando gente entrar e sair. e eu ali, morrendo. porque leva uma vida pra chegar aos lugares, o elevador. tem burocracia, e um helpdesk que leva dias, DIAS pra atender seu chamado. eu, mal acostumada com o atendimento ultra super mega rápido da firma colorida, tenho feito muita meditação em cima desse assunto. bem na hora que você está disposto a brigar pela lentidão de atendimento, aparece um moço simpático, mas muito simpático mesmo, pra ajudar. e ele é tão querido que você fica sem graça de brigar. porque, gente. povo feliz, aquele. tem restaurante gigante meio estilo refeitório com comidas gostosas. dá pra fazer dieta e se manter, porque as saladas são incríveis. tem academia, pra eu parar de ser besta e de arranjar desculpas. tem café e lanchonete, e lavanderia, e sapataria, e serviço de lavagem de carro, e salão pra fazer as unhas. toda uma vida de facilidades que me oprimem e eu não sei nem por onde começar. tem o projeto legal com equipe fofa, e todos olhando pra mim como se eu devesse ditar o caminho. peralá, vamos com calma. tem mesas amarelas e eu acho isso muito feliz. tem amigos espalhados por cantinhos, gente querida mesmo, desses que já povoavam o meu final de semana, e que agora estão ali, e são coworkers. a vista é linda. as cozinhas têm máquinas de salgadinhos e chocolates, e uma moça uniformizada pronta a servir café sempre que pedimos. tem esse mundo de gente que a gente conhece de mercado, da tv, e que agora trabalha ali, a poucos andares.

ando sobrecarregada com tanta informação, com tanta novidade, com tanto trabalho e, ao mesmo tempo, tanto caminho a seguir.
é tanta mudança, tanta coisa acontecendo. ando meio atropelada pela vida. 

a diferença é que esse atropelo é bom. tem gosto de escolha, de condução dos próprios passos num caminho não necessariamente fácil, mas pensado, cuidado. quase merecido.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

sobre últimos dias

meu primeiro último dia de firma colorida foi numa quinta-feira. chovia. eu coloquei meu casaco de tweed e sapatilhas verdes, e tomei um taxi, porque era doído caminhar aquelas quadras. eu me lembro da data se aproximando, a saída chegando, e eu não queria nem me levantar da cama de manhã. o choro ficava engasgado na garganta. eu só pensava na vida que eu tinha escolhido escorrendo pelos dedos, e eu não podia fazer nada. não era a minha hora. eu estava interrompida.

meu segundo último dia de firma colorida foi numa terça-feira. um dia lindo, véspera de feriado. frio com sol, meu favorito. coloquei meu oxford dourado, pra pisar ali da última vez. almocei com queridos, mandei e-mail piegas agradecendo e dizendo o quanto eu tinha sido feliz. não chorei, não senti vontade. limpei as gavetas, distribuí umas coisinhas entre os que ficavam. almoçamos juntos. em silêncio, eu me pus a observar aquelas pessoas que fizeram parte da minha vida nos últimos quase dois anos. doeu um tiquinho. mas era uma dorzinha boa, de passo necessário. e eu fui de mesa em mesa me despedir, e abracei apertado os amigos que eu sei que vão comigo. ouvi  da coordenadora fofa que se a firma nova não me tratasse bem, eu podia voltar. portas abertas. amor em seu estado mais puro.

saindo do prédio, esbarrei no diretor que foi chefe da primeira vez, em 2009. naquela quinta-feira triste e chuvosa em que eu saia da firma contra a minha vontade, ele me abraçou e disse. "você vai, mas você volta." eu me agarrei àquilo que, de fato, aconteceu. voltei depois de seis meses, e ali permaneci mais quase dois anos. chegou minha hora de sair, de novo, e dessa vez a escolha era minha. quando eu estava saindo da firma pela última vez, todos os cacarecos dentro da sacola pink emprestada pela roomie fofa, esbarrei nele, bem na catraca. sorri e disse que ele tinha aparecido bem a tempo de me dar um abraço de despedida. ele sorriu, me abraçou e disse. "eu te disse isso da primeira vez, e te repito a segunda. você vai, mas você volta."


"dessa vez, acho que não." isso eu pensei, não disse. apenas sorri. é bom, é a coisa mais legal do mundo sair de um lugar, sabendo que você é querido, que tem portas abertas. é como se tudo aquilo que eu construí nesses 3 anos, todas as pessoas, todos os queridos, formassem uma rede de proteção, pra impulsionar um passo que é só meu.


tem mais de uma semana, isso. e eu ainda sorrio.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

da outra vez que eu decidi pedir demissão eu sofri. me tranquei no banheiro e chorei. me despedi mentalmente de cada cantinho, do chocolate quente, das pessoas, mesmo aquelas com quem eu troco dois ou três olhares, quando muito, por dia.

era tão óbvio que eu não estava pronta. ainda.

quanto tempo se passou desde o dia em que eu achei que tinha jogado dinheiro pela janela? dez dias. tempo exato pra eu entender que eu não devia ter medo, que era hora de respirar fundo e pular. eu não me arrependi de não ter aceitado ir para a firma número 1. eu queria um projeto feliz, assim como o meu. algo que me desafiasse, que me fizesse ter ideias novas.

dez dias depois eu tinha certeza, ainda da minha decisão de ficar. o meu salto não era aquele. era outro.

era esse.

e quando eu decidi pedir demissão, de novo, foi estranhamente fácil. eu olhei pro projeto com uma sensação de tarefa cumprida. desapego. olhei para as pessoas com uma pontada sofrida no coração. porque sim, eu fiz amigos aqui. e mesmo os que não viraram amigos são pessoas que eu gosto de ter na paisagem. e eu vou sentir saudades deles.

mas o pedido de demissão veio com um sorriso e uma boa conversa. eu expliquei o que acontecia comigo, essa impossibilidade de ficar parada, eu precisava do movimento. recebi de volta um sorriso meio aborrecido, desconcertado, um abraço verdadeiro e elogios ao meu trabalho. foi uma das coisas que mais me aqueceram nos últimos dias, essa conversa. de término, de despedida, mas de certeza de que deu certo. e que sim, é a minha hora de ir.

e eu vou. 

a outra firma é incrível. parece um clube. anne louise chamava de centro de entretenimento, porque era divertido. ela trabalhou lá há muito, muito tempo, quando eu era a garota que trabalhava no rio e ela a garota que trabalhava em são paulo. agora ela trabalha na firma mais incrível do mundo (mesmo), e eu, dentro de alguns dias, na firma centro de entretenimento.

o mais engraçado é que eu pedi demissão numa sala de reunião que tinha vista para o prédio da firma nova. e foi pra ele que eu olhei durante a conversa.

tô feliz, sabe? 2011 toma disparado a dianteira na briga por melhor ano que essa cedilha aleatória aqui já viu. muito amor. muito mesmo.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

season finale

não existe salto sem vertigem, disse a doutora freud. deitada no divã, eu sabia. era hora de andar.


dois dias depois eu pedi demissão da firma colorida.

***

não porque eu não gostasse do que eu faço, mas porque eu já faço há um tempo e é hora. quando, há poucos dias, eu resolvi ficar, eu não sabia, mas já havia algo diferente acontecendo comigo. o let go.

***

a firma colorida tem disso. é meio mãe. te envolve numa névoa, te abraça quentinho, te serve chocolate quente e salada de frutas. zona de conforto. o maior conforto do mundo. o tipo de conforto que a gente sabe que deve escapar, porque distrai, seduz, confunde. e você se vê sentado por meses, por vezes anos, fazendo a mesma coisa, dia após dia. 

eu me prometi não deixar essa névoa me distrair. eu devia isso à garota que chegou com a vida empacotada no carro, ouvindo george michael cantar faith, se preparando para uma vida grandiosa. essa névoa gostosa e quentinha me deixaria no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa, sendo feliz, feliz pela vida.

mas vejam bem. no mesmo lugar.

***

outro sinal veio. outra vida me foi apresentada. de novo. uma vida ainda mais grandiosa. fora da zona de conforto. grandes desafios, grandes méritos. e eu devia àquela garota cheia de planos essa resposta. porque era isso que ela buscava quando largou tudo apostando todas as fichas no que ela sabia.

a resposta era sim.

então, bem no aniversário de três anos do meu caso de amor eterno com essa cidade cinzenta, eu rompo o meu relacionamento sério e estável com a firma colorida. e vou ali buscar um pouco mais do que eu mereço. 

dá licença.