quarta-feira, 14 de setembro de 2011

sobre últimos dias

meu primeiro último dia de firma colorida foi numa quinta-feira. chovia. eu coloquei meu casaco de tweed e sapatilhas verdes, e tomei um taxi, porque era doído caminhar aquelas quadras. eu me lembro da data se aproximando, a saída chegando, e eu não queria nem me levantar da cama de manhã. o choro ficava engasgado na garganta. eu só pensava na vida que eu tinha escolhido escorrendo pelos dedos, e eu não podia fazer nada. não era a minha hora. eu estava interrompida.

meu segundo último dia de firma colorida foi numa terça-feira. um dia lindo, véspera de feriado. frio com sol, meu favorito. coloquei meu oxford dourado, pra pisar ali da última vez. almocei com queridos, mandei e-mail piegas agradecendo e dizendo o quanto eu tinha sido feliz. não chorei, não senti vontade. limpei as gavetas, distribuí umas coisinhas entre os que ficavam. almoçamos juntos. em silêncio, eu me pus a observar aquelas pessoas que fizeram parte da minha vida nos últimos quase dois anos. doeu um tiquinho. mas era uma dorzinha boa, de passo necessário. e eu fui de mesa em mesa me despedir, e abracei apertado os amigos que eu sei que vão comigo. ouvi  da coordenadora fofa que se a firma nova não me tratasse bem, eu podia voltar. portas abertas. amor em seu estado mais puro.

saindo do prédio, esbarrei no diretor que foi chefe da primeira vez, em 2009. naquela quinta-feira triste e chuvosa em que eu saia da firma contra a minha vontade, ele me abraçou e disse. "você vai, mas você volta." eu me agarrei àquilo que, de fato, aconteceu. voltei depois de seis meses, e ali permaneci mais quase dois anos. chegou minha hora de sair, de novo, e dessa vez a escolha era minha. quando eu estava saindo da firma pela última vez, todos os cacarecos dentro da sacola pink emprestada pela roomie fofa, esbarrei nele, bem na catraca. sorri e disse que ele tinha aparecido bem a tempo de me dar um abraço de despedida. ele sorriu, me abraçou e disse. "eu te disse isso da primeira vez, e te repito a segunda. você vai, mas você volta."


"dessa vez, acho que não." isso eu pensei, não disse. apenas sorri. é bom, é a coisa mais legal do mundo sair de um lugar, sabendo que você é querido, que tem portas abertas. é como se tudo aquilo que eu construí nesses 3 anos, todas as pessoas, todos os queridos, formassem uma rede de proteção, pra impulsionar um passo que é só meu.


tem mais de uma semana, isso. e eu ainda sorrio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o blog, a sinceridade, tudo!