segunda-feira, 25 de abril de 2011

TDAH: não, obrigada. :)

eu sempre fui agitada. sempre. tem esse video feito no aniversário de 1 ano do meu irmão, e eu tinha, sei lá, 8 anos. e eu passei o vídeo todo surgindo e sumindo da imagem, porque o amigo do meu pai que resolveu registrar a festinha teve que lidar comigo o.tempo.inteiro pulando na frente dele.

meu irmão também sempre foi agitado. de um jeito pior, acho que por ser menino. quando ele tinha uns 15 anos, e levar pessoas pra serem diagnosticadas com tdah (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) era o último grito da moda, minha mãe não fez diferente. e lá estava o meu irmão sendo medicado com ritalina.
 
eu nunca tive problemas na escola. mentira. eu nunca fui boa aluna em matemática, física e química. nunca mesmo. dificuldade de assimilar aquelas informações, profundo desinteresse no que aquilo tudo queria dizer. eu já sabia que, fosse lá o que eu decidisse fazer com a minha vida, eu não precisaria saber como os carbonos se ligam ou coisa que o valha.
 
meu irmão tomando ritalina, minha mãe absolutamente encantada, gritando pra todos que o joão estava incrivelmente melhor, que o rendimento na escola melhorou, que se ela soubesse que era tão simples resolver o problema, ela teria investigado toda aquela agitação antes. e que, por que não, eu deveria ser avaliada.
 
por que não? eu topei. levemente motivada por um dos efeitos colaterais da ritalina - o emagrecimento. passei por uma junta de especialistas, psiquiatra especializado, psicóloga, psicopedagoga. fui diagnosticada e medicada.
 
realmente a concentração melhorou. eu fiquei mais focada, menos agitada, encadeava melhor os assuntos. parei de interromper as pessoas e seguia uma linha de raciocínio, sem me distrair ou me perder no meio. tomei ritalina por uns 4 anos. um belo dia, resolvi parar. experimentar a vida sem a "cápsula de inteligência".
 
para minha surpresa, eu não fiquei dispersa. continuei concentrada no trabalho, meu rendimento não caiu nada. eu voltei a interromper as pessoas, a falar desenfreadamente, e me atropelar com as minhas próprias ideias. aliás, eu parecia ter muito mais ideias do que quando estava tomando o remédio.
 
um efeito colateral interessante do final do tratamento foi o feedback das pessoas. não foi um bom feedback, eu já adianto. comecei e ouvir de amigos a palavra foco. como se o meu excesso de assuntos ao mesmo tempo significasse falta de concentração em um só tópico. na verdade, eu não perdi o foco em um assunto específico. eu ganhei foco em mais de um assunto ao mesmo tempo.
 
comecei a tomar broncas a cada vez que eu interrompia. você não escuta, você não tem foco. escuto essas frases com uma frequencia quase que insuportável. como se eu precisasse ser moldada, adequada, corrigida. a sociedade me enquadrando, já que o remédio não pode mais fazer isso. por eles. não por mim.
 
eu comecei a tomar consciencia de que a agitação, os múltiplos assuntos, as interrupções, a falta de atenção a assuntos que obviamente não me interessam não eram fruto de um transtorno de tdah. eram traços de personalidade. oi, eu sou a madame cedilha. eu vou te interromper, te atordoar, mudar de assunto sem que você perceba. se eu estiver concentrada, não vai adiantar você falar comigo. eu não vou ouvir. mesmo. give up.
 
não é transtorno. é assim que eu sou. isso é traço de personalidade, e traço de personalidade não se medica. eu não tento te enquadrar se você é grosseiro, mal educado, se está sempre reclamando da vida ou gasta demais quando vai ao shopping. não trato como doença você se achar gordo quando não é, ou a sua estranha fixação em bolinhos. ou whatever. pessoas são pacotes. meu pacote é agitado. meu pacote recusa ritalina, desculpaê.
 
tem essa tirinha do calvin, e o nome dela é algo como a tirinha mais triste do mundo. não foi feita pelo Bill Watterson, mas por um fã. calvin on ritalin, amigos. not pretty.


sábado, 23 de abril de 2011

sobre o lugar de cada coisa

muito de vez em quando, acontece de eu ter umas epifanias na terapia. quando isso acontece, dra freud para a sessão imediatamente e me manda pra casa. pra pensar. pra que a gente parta desse ponto na sessão seguinte. outro dia foi assim.

eu me dei conta de que falho miseravelmente em algo que eu deveria saber, até porque deveria ser um skill utilizado no trabalho. eu tenho problemas em rotular corretamente as coisas, as pessoas. é pesado pra mim, é pesado pros outros. acontece com frequencia de eu cair de amores por uma pessoa, porque ela é legal, e ela é incrível, e ela pode ser minha amiga, e ela é tipo o ser humano mais legal do mundo. eu taco ali, na pastinha amigo. eu não me dou conta de que pessoas muito incríveis, e legais, e que podem ser minhas amigas *nem sempre* viram minhas amigas. e a relação vira meio mão única, quase que de amor não correspondido. e quando a atenção diminui, ou a vida distancia, meu coração é partido. porque eu não soube, ainda lá no início, encaixar essa pessoa na pasta pessoa incrível que é legal mas não necessariamente vai ser tornar meu amigo. eu vivo nessa montanha russa de - usando termos de freud - apaixonamento e desapaixonamento por pessoas. e sofrendo a dor de fim de amizade quando a vida leva a gente por caminhos diferentes.
 
aconteceu com o ex amigo, quando o fim daquilo que eu tratava como amizade profunda teve contornos de fim de relacionamento amoroso, com mensagens desconexas e gritos no meio da rua. wrong. amizade não é passional. amizade é calma, é tranquila, é poder contar com a pessoa. amizade vem com o tempo, com os anos, com o conhecer profundo do que move o outro. ou a tentativa genuina de entender os motivos quando o outro nos surpreende, ou mesmo choca. aconteceu de novo, e de novo. e eu, de novo, sofri. e me senti abandonada, e deixada pra trás. e fiquei tentando buscar em algum lugar onde foi que eu errei, e onde foi que eu aborreci. porque eu estava aborrecida.
 
e não havia nada. nem que eu tivesse feito de errado, nem que os outros tivessem. alanis cantou, eu repito, repito, e repito. you will learn to lose everything, we are temporary arrangements. assim. vamos dar o peso necessário. nem sempre a gente aprende a perder as coisas. mas nem sempre a gente perdeu, porque nem sempre houve algo a ser perdido. parece confuso, é confuso, dói de verdade, dor física, dor de rejeição.
 
daí eu respiro fundo e penso. existem pessoas e pessoas. existem amigos e amigos.
 
existem aqueles que vão comigo pela vida. que eu grito, que eu ouço, que eu brigo, que eu engulo o choro e entendo. que eu vou brigar pela vida, e que vão comigo, ainda assim. quando a gente vai colocar na ponta do lápis, é triste, acabam sendo bem poucos. mas são bons, e firmes. isso não desmerece os outros. eu tenho histórias felizes pra contar de cada pessoa por quem eu caio de amores. mas eu preciso parar com essa mania estúpida de colocar amigo no lugar de amor. e gente legal no lugar de amigo.
 
e precisou aparecer um menino bonito, dizendo que o lugar era dele - e era - pra eu entender que todos os outros estavam, e sempre estiveram, nos lugares errados. e para que eu precisasse olhar pra esse grande emaranhado de pessoas e entender, caso a caso, a pastinha a qual elas pertenciam.
 
foi bom, sabe? foi sofrido, porque sempre é. tem que desacostumar, tem que entender que cobrar não cabe, chorar não cabe. que a boniteza disso tudo é que elas fiquem ali, guardadas, com cuidado e carinho (por que não?) na pasta de pessoas incriveis que me fazem feliz, e me divertem. a pasta amigos precisa ser ocupada com aqueles que conhecem profundamente o que me move, que tentarão genuinamente entender os meus motivos a cada vez que eu surpreender, ou mesmo chocar. que, estando em dúvida, não se afastarão sem antes conversar comigo. que não se afastarão, at all.
 
desde esse dia, que eu me dei conta disso, do meu erro, o mesmo que exime a todos da responsabilidade, eu posso dizer que dormi tranquila. faz uns dias, isso. umas semanas. que eu atribuo o valor correto às coisas.  que o mimimi deu lugar a uma tranquilidade e leveza absurda. que eu estou feliz.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

listas

então eu sou meio maníaca com listas. vinha quebrando a cabeça com aplicativos no iphone. baixei um super bonitinho, chamado awesome note. colorido, pastas, localização no mapa, alertas. quando eu comprei o ipad, corri pra instalar, e qual não foi a minha surpresa quando eu descobri que ele até tinha uma versão ainda mais bonitinha e adequada para a tela maior, mas não integrava os aparelhos. tipo. vc tem lá uma lista, e tem que escrever ela de novo no outro app. não tem login. eu queria um aplicativo que me permitisse deletar, ticar ou acrescentar itens a partir de qualquer lugar, fosse o iphone, o ipad ou a web, mesmo. e que os outros sincronizassem. porque é mais confortável escrever a lista na web, ou no ipad, mas o aparelho que está comigo o tempo todo, e onde eu vou cortando itens da lista é o iphone. nada mais lógico do que o iphone apitar, o iphone sincronizar. awesome note falhou miseravelmente na tarefa, e eu parti pro meu segundo teste, outro aplicativo pago, dessa vez chamado toodledo. menos bonitinho, mas com integração e sincronização. usei por umas duas semanas, mas ele falhava miseravelmente na parte dos alertas. e na parte de organização das listas, das pastas. os mapas eram uma vergonha. não serviu. comecei, essa semana, a testar um terceiro aplicativo, o wunderlist. de graça, tem web, ipad, iphone e você ainda pode acrescentar itens por email. não tem mapa, falta segmentação dos itens por cor, mas aparentemente, esse é um bom aplicativo. eu já fico aqui cheia de ideias de como conserta-lo, ou como desenhar um aplicativo perfeito, que una o melhor dos que eu já testei, e inclua coisinhas que nenhum desenvolvedor/arquiteto tenha pensado antes. 

e essa sou eu falando coisas aleatórias que possivelmente não interessam ninguém além de mim mesma. ou os nerds queridos que me rodeiam. :)

***

fiz pastas de médicos, pra listar as consultas da semana, os retornos, os exames. fiz pasta de carro, pra listar a to do list do carro atual, e a to do list de pesquisa, escolha e compra do carro novo. fiz uma lista de compras, uma lista de coisinhas a serem organizadas em casa, uma de coisas de trabalho, outra só de organizações de internet. delicious, flickr, botar ordem na bagunça que eu faço há meses.

a lista mais legal eu chamo de coleta. como coleta, eu defino itens que eu não vou comprar, mas que eu vou buscar na casa dos meus pais, de onde eu escrevo agora. a lista inclui coisinhas da despensa, tipo azeites caros e legais (hoho), temperos que só meu pai inventa de comprar e nunca usa, travessas. joguinho americano, toalha de mesa. potinhos de enfeite, eletrodomésticos que não estejam sendo usados. 

e antes que alguém pense que eu sou uma aproveitadora, eu me defendo. meu pai é uma das pessoas mais consumistas que eu conheço. ele compra uma torradeira, enjoa, dali seis meses compra outra. existe, na cozinha aqui de casa, uma máquina de fazer pão que foi usada só quando chegou pelo correio, e cumpre hoje, feliz, a tarefa de armazenar todos os manuais de instruções de todos os outros eletrodomésticos comprados e subutilizados da residência. vale para os eletrodomésticos, vale pra computador. meu pai tem uns 2 ou 3 notebooks, e tem um que eu to de olho há meses. pra que eu vou comprar um note novo? eu posso muito bem esperar ele cansar, comprar outro e eu fico com o "velho".

cheguei com uma mala, de roupas. saio com ela, e mais umas duas de itens novos, a custo zero, e perfeito estado de conservação.

terça-feira, 19 de abril de 2011

engraçado como mudam as prioridades. veio a minha folha de ponto de fevereiro, lá da firma colorida. eu contei 25 horas extras. vinte e cinco. em fevereiro. pra somar às outras tantas ali, acumuladas há meses. não foi a primeira vez que eu trabalhei mais do que devia, mas foi a primeira vez que me doeu ver aquilo. eu amo o meu trabalho. mas eu não preciso que cada hora minha seja gasta com isso. as minhas horas livres são minhas, e eu resolvi pegar de volta, uma por uma. pra gastar decorando o apartamento,  cuidando da saúde, folheando revistas de coisas bonitas, namorando o menino de olhos verdes.

então veio a folha de março. 26 horas a menos. sinal de que eu comecei mesmo a levar a sério isso de dosar as coisas.  tenho caminhado pelo bairro, ido visitar os amigos, colocado em dia os meus seriados. parei de achar que tudo precisa de mim pra andar. não precisa. é óbvio que a vida ficou fácil depois que a coworker fofa veio trabalhar junto, coordenar os prazos e ajudar a dividir as responsabilidades. deu pra agendar uma folga, vejam só. vim ver meus pais, consultar o ortopedista e finalmente marcar a bendita cirurgia nos pés. a mesma que vai me obrigar a parar mais ainda, com duas semanas inteiras de absoluto repouso. mas que vai alinhar os ossinhos tortos, e deixar  tudo mais bonitinho. e me livrar das caimbras e da baixa resistencia aos saltos. depois disso, baby steps. em um mês eu tô boa, tô ótima. tenho planos pra esse período de pausa forçada. descanso. olhos fechados e cabeça vazia. reader em dia. comida de pai. arroz doce. calopsita. flickr organizado, delicious. músicas novas.  sol da manhã. uma golfada de ar fresco e puro.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

silencio

eu perguntei pra ela como ela fazia pra desligar. ela suspirou fundo, e disse que às vezes é preciso. que não dá pra respirar trabalho, porque trabalho machuca, porque pessoas machucam. não se alongou. eu estava realmente interessada. em entender, em aprender. porque há meses eu vejo ela desligando, pouco a pouco. cumprindo o horário, recusando os almoços. eu costumava gostar TANTO da companhia dela. das respostas atravessadas, do mau humor, até. gostava mesmo. pacote. a gente compra, tem jeito não. e ela ali. me chamando de flor e dizendo que não podia me ensinar. porque agora tudo era tabu. e ela estava se desligando. eu, ainda sem entender, insistia. e dizia que precisava desligar. e me concentrar em coisas bonitas, no tempo livre, em coisinhas que a gente faz pela gente, e por mais ninguém. assim como eu vejo ela fazendo. há meses.

isso foi uns dias antes. de eu entender.

ela estava desligada de mim.

não houve conversa, não houve pergunta, não houve nada. houve o recuar dos passos, o recusar dos almoços. eu tentei explicar o que ela não quis, em momento algum, entender. às vezes a gente não sabe o que fazer com uma coisa que sabe que vai machucar, e guarda pra si. pra proteger. pra não provocar dor. às vezes, a decisão de proteger não serve de nada, porque não protege. machuca do mesmo jeito. afasta.

desliga.

ensaio sobre a (minha) cegueira

depois de uma semana com uma enxaqueca insistente, numa quarta-feira o olho esquerdo amanheceu embaçado. fiquei preocupada. vista embaçada é coisa preocupante. comecei a achar o básico, que eu ia morrer.

nem ia.

a médica, uma oftalmo muito fofa e sorridente, que nem reclamou do meu atraso de 15 minutos, aceitando minha desculpa do transito (mas eu estava mesmo era distraída nos braços do namorado), me passou no primeiro aparelho, no segundo aparelho. olhava os papéis e me passava de novo. me mostrava ao longe as letrinhas diminuindo na projeção da parede. primeiro o olho esquerdo, já desembaçado, depois o direito. e eu lá. confundindo de leve Ds e Os, mas seguindo em frente, confiante.

e ela. você já passou no túnel? não, nem sei o que é isso. ah, mais um aparelho. mais um papelzinho para o qual ela olhava incrédula. e ela dizia. nenhum oftalmologista poderia errar tanto. contei a ela do meu abandono recente dos óculos, do incômodo em ajustar longe e perto. e ela conferindo papéis.

aparentemente, minha visão foi corrigida em mais de um grau no último ano. nos dois olhos. e toda a nitidez dos últimos tempos fez sentido. todo o incômodo e recusa em colocar os óculos. e ela lá. fofa e incrédula. me fazendo perguntas, examinando as lentes dos meus óculos. examinando meus olhos, again and again.

no fim, diagnóstico. eu preciso consultar um endócrino. porque nada na vida justifica tamanha correção de visão. aliás, uma coisa justifica. hormônio. tireóide. pescaram?

e eu me lembrei de todos os filmes assistidos pela metade nos últimos tempos, trocados por uma soneca comprida. me lembrei do frio que venho sentindo, do 1kg extra que eu vinha atribuindo ao namorado me obrigando a comer em horários normais, a toda a preguiça, cansaço, o sono. os olhos secos.

sim, sim. é possível que minha tireóide tenha resolvido mostrar personalidade, de novo. e eu estou aqui, analisando a vida.

acho curioso que a tireóide tenha me corrigido a visão, me feito enxergar tudo tão bem, tão nítido. tão dolorosamente nítido. e, ao mesmo tempo, tenha me colocado pra dormir, pra descansar, pra não querer sair de casa, encontrar pessoas, gastar energia.

enxergar muito nitidamente dá preguiça. preguiça do que se vê.