sábado, 23 de abril de 2011

sobre o lugar de cada coisa

muito de vez em quando, acontece de eu ter umas epifanias na terapia. quando isso acontece, dra freud para a sessão imediatamente e me manda pra casa. pra pensar. pra que a gente parta desse ponto na sessão seguinte. outro dia foi assim.

eu me dei conta de que falho miseravelmente em algo que eu deveria saber, até porque deveria ser um skill utilizado no trabalho. eu tenho problemas em rotular corretamente as coisas, as pessoas. é pesado pra mim, é pesado pros outros. acontece com frequencia de eu cair de amores por uma pessoa, porque ela é legal, e ela é incrível, e ela pode ser minha amiga, e ela é tipo o ser humano mais legal do mundo. eu taco ali, na pastinha amigo. eu não me dou conta de que pessoas muito incríveis, e legais, e que podem ser minhas amigas *nem sempre* viram minhas amigas. e a relação vira meio mão única, quase que de amor não correspondido. e quando a atenção diminui, ou a vida distancia, meu coração é partido. porque eu não soube, ainda lá no início, encaixar essa pessoa na pasta pessoa incrível que é legal mas não necessariamente vai ser tornar meu amigo. eu vivo nessa montanha russa de - usando termos de freud - apaixonamento e desapaixonamento por pessoas. e sofrendo a dor de fim de amizade quando a vida leva a gente por caminhos diferentes.
 
aconteceu com o ex amigo, quando o fim daquilo que eu tratava como amizade profunda teve contornos de fim de relacionamento amoroso, com mensagens desconexas e gritos no meio da rua. wrong. amizade não é passional. amizade é calma, é tranquila, é poder contar com a pessoa. amizade vem com o tempo, com os anos, com o conhecer profundo do que move o outro. ou a tentativa genuina de entender os motivos quando o outro nos surpreende, ou mesmo choca. aconteceu de novo, e de novo. e eu, de novo, sofri. e me senti abandonada, e deixada pra trás. e fiquei tentando buscar em algum lugar onde foi que eu errei, e onde foi que eu aborreci. porque eu estava aborrecida.
 
e não havia nada. nem que eu tivesse feito de errado, nem que os outros tivessem. alanis cantou, eu repito, repito, e repito. you will learn to lose everything, we are temporary arrangements. assim. vamos dar o peso necessário. nem sempre a gente aprende a perder as coisas. mas nem sempre a gente perdeu, porque nem sempre houve algo a ser perdido. parece confuso, é confuso, dói de verdade, dor física, dor de rejeição.
 
daí eu respiro fundo e penso. existem pessoas e pessoas. existem amigos e amigos.
 
existem aqueles que vão comigo pela vida. que eu grito, que eu ouço, que eu brigo, que eu engulo o choro e entendo. que eu vou brigar pela vida, e que vão comigo, ainda assim. quando a gente vai colocar na ponta do lápis, é triste, acabam sendo bem poucos. mas são bons, e firmes. isso não desmerece os outros. eu tenho histórias felizes pra contar de cada pessoa por quem eu caio de amores. mas eu preciso parar com essa mania estúpida de colocar amigo no lugar de amor. e gente legal no lugar de amigo.
 
e precisou aparecer um menino bonito, dizendo que o lugar era dele - e era - pra eu entender que todos os outros estavam, e sempre estiveram, nos lugares errados. e para que eu precisasse olhar pra esse grande emaranhado de pessoas e entender, caso a caso, a pastinha a qual elas pertenciam.
 
foi bom, sabe? foi sofrido, porque sempre é. tem que desacostumar, tem que entender que cobrar não cabe, chorar não cabe. que a boniteza disso tudo é que elas fiquem ali, guardadas, com cuidado e carinho (por que não?) na pasta de pessoas incriveis que me fazem feliz, e me divertem. a pasta amigos precisa ser ocupada com aqueles que conhecem profundamente o que me move, que tentarão genuinamente entender os meus motivos a cada vez que eu surpreender, ou mesmo chocar. que, estando em dúvida, não se afastarão sem antes conversar comigo. que não se afastarão, at all.
 
desde esse dia, que eu me dei conta disso, do meu erro, o mesmo que exime a todos da responsabilidade, eu posso dizer que dormi tranquila. faz uns dias, isso. umas semanas. que eu atribuo o valor correto às coisas.  que o mimimi deu lugar a uma tranquilidade e leveza absurda. que eu estou feliz.

3 comentários:

Renata disse...

hahahaha, será que posso levar a sua epifania pra minha próxima sessão?

eu também entendi há pouco tempo que meu sofrimento e o sentimento de decepção vinham de ter colocado etiquetas erradas nas pessoas.

Unknown disse...

chorei, chorei sentida. dói demais. são as palavras que não consigo deixar sair de mim. faço exatamente assim. eu não sei lidar com sentimentos. eu não sei lidar com pessoas. preciso aprender. não tô conseguindo. tá piorando a medida que beiro os 30. é só um desabafo.

stella disse...

ah, menina. caramba. been there, done that. e é isso. é a gente que insiste em colocar os quadradinhos nas formas redondas. e um dia a gente aprende. quadradinho no quadradinho, redondinho no redondinho. é a gente que coloca. é a gente que decide.

vontade de sentar com você numa mesa num lugar tranqüilo e conversar até o dia raiar.