quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Crime no Edifício Vanessa

É fato conhecido para os meus amigos mais próximos que uma fofura estranha tomou conta de mim nos últimos tempos. Virei pessoa boa, feliz, gentil, essas coisas todas que eu desprezava num passado ainda recente. Passei a esperar o melhor das pessoas, acreditar na bondade e nas boas intenções. Well, me ferrei.

Chegava eu de viagem no último sábado. Tirei as bagagens do carro, deixei no cantinho do hall do elevador do novo prédio, aquele que fica na rua fofa e tem velhinhos fofos. Não levaria mais de 5 minutos pra colocar o carro na vaga e voltar, pegar as coisas ali, empilhadinhas no chão e subir. Burra. Tirei a bolsa do carro e coloquei junto. Minha bolsa listrada, estruturada, que fica em pé e não tomba nunca. Bolsa com carteira, carteira com dinheiro. Câmera digital, ipod, essas coisinhas todas que deixam a gente feliz, né? Deixei a bolsa ali, 5 minutos. Burra. Quando voltei do carro, encontrei seu Zé, porteiro de bigode e aparentemente muito solícito, agachado em cima da bolsa, que estava aberta. Nas mãos, minha carteira laranja e a bolsinha da câmera digital, aberta. O fio do carregador do ipod enrolado nos dedos. Foi tudo tão rápido. Cheguei, olhei pra ele, ele sorriu e disse que a bolsa estava caída e as coisas se espalharam. Pensei. Que senhor gentil de me ajudar com as bagagens, e guardar as minhas coisas caídas de volta na bolsa. Agradeci, sorri, conversamos sobre o calor louco que faz em São Paulo esses dias e sobre o portão, cujo acionamento automático anda temperamental e quase pegou o carro da vizinha. Ele me ajudou a guardar tudo no elevador e apertou o botão do meu andar, já que eu tinha as mãos ocupadas. Que senhor bonzinho, eu pensava. Tão solícito. Cheguei em casa, arrumei as coisas e fui pra uma festa. Eis que, chegando na festa, percebo a ausência de uma nota de R$ 50,00. Eu sempre sei o que está na minha carteira, nunca foi roubada, nunca perdi nada, nem celular, nada. Burra. Achei que tinha deixado em casa, usei o cartão de débito, beleza. Mas o dinheiro não estava em casa, não estava em lugar nenhum. Virei o carro de cabeça pra baixo, achando que a nota podia ter caído por lá, ignorando o fato de que eu mesma me lembrava muito bem de tê-la guardado na carteira laranja, aquela que horas antes passeava nas mão do solícito porteiro bonzinho, aquele que me ajudou com as malas.

E essa fofura toda, essa bondade no coração que se abateu sobre a minha pessoa, pesou na consciência. Fiquei ingênua, passei a acreditar que as pessoas são legais e que estão sempre com as melhores intenções. Fiquei ingênua aos 29 anos. Shame on me. Foda-se o dinheiro, sabe? Óbvio que ele era meu, e que esse não é exatamente um momento na minha vida em que eu posso sair abrindo mão de notas de R$ 50,00. Tô puta com o larápio, obviamente, mas estou mais puta ainda comigo. Como assim eu deixei a bolsa sozinha no corredor? Eu peguei o maldito em flagrante, a bolsa da câmera aberta, mais dois segundos e eu ficava, inclusive, sem o ipod. E eu agradeci, sorridente, a ajuda oferecida, e eu fui gentil, e desejei boa tarde, essas coisas todas que uma moça bem educada faz. E eu fui roubada. Burra.

E agora me vejo num impasse. Eu sou a moradora nova, dois meses no prédio. Seu Zé tem mais tempo que eu, sabe-se lá quantos anos. Pode ter uma mulher que faz faxina, pode ter filhos que vem visitá-lo na portaria e ganham doces dos moradores, pode ser querido por todos. Eu sou a nova moradora, que vai acusá-lo de algo grave, que não tem prova nenhuma de que ele pegou o dinheiro, mas que viu quando ele estava debruçado sobre a minha bolsa. Eu sou a pessoa que vai provocar a sua provável demissão, e vai ficar culpada. Nunca acusei ninguém de roubo. Sou a moradora encrenqueira, que traz pânico à calma aparente dos outros moradores, dizendo que eles não estão a salvo nem mesmo na portaria do próprio prédio. Sou má. E burra.

sábado, 11 de outubro de 2008

Eu preciso começar esse post dizendo que eu não sou exatamente bonita. Não sou feia, isso de jeito nenhum, mas nunca fui de despertar paixões avassaladoras ou de parar o trânsito. Naqueles filmes anos 80 que a gente via na Sessão da Tarde, eu seria, talvez, a melhor amiga, engraçada, espirituosa, whatever. Melhor amiga não ganha final feliz em sessão da tarde, convenhamos. Eu era a garota que saia das festas sozinha e que via os meninos que eu gostava ficarem com as minhas amigas. Isso já foi motivo de sofrimento, mas depois de alguma terapia, eu simplesmente got over myself and moved on.

Eu sempre compensei na personalidade. Sempre fui mais inteligente que as minhas amigas que pegavam os meninos que eu gostava, sempre fui mais engraçada. Talvez por isso eu ache muito mais interessantes, hoje em dia, caras que não sejam exatamente modelos de beleza. Eu me prendo em personalidade, em inteligência, senso de humor, coisinhas outras. E, naturalmente, gosto de achar que é isso que deve chamar a atenção em mim.

Não sou boa em fazer charme, mexer no cabelo e achar que as pessoas simplesmente se encantarão comigo. Não consigo fazer charminho no trânsito, por exemplo, pra conseguir a vez. Não consigo, acho até meio ridículo. Não espero qualquer facilidade por ser mulher. Não espero que me dêem a vez, não conto com favores. Funciono bem dessa forma, resolvendo os meus perrengues eu mesma.

Não dou mole pra caras que eu não esteja a fim, não encorajo caras que não têm chance comigo. Não brinco com sentimentos alheios, tenho horror a assistir gente apaixonada sendo feita de boba. Dói o meu coração assistir a esse tipo de espetáculo. Eu já fui personagem principal de espetáculos públicos de coração partido, o meu. Isso é algo que ensina, você se protege e aprende a não expôr terceiros. Eu não acho que isso é bobagem. Tem gente que fica fudido pelo resto da vida depois de um pé na bunda mal dado. Cuidado nunca é demais.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

old news.

Eu fico olhando, lá, pro outro blog. Abandonado, largado. Eu volto lá de vez em quando, leio os posts antigos, textos meus e da outra garota, em um tempo em que as coisas pareciam simples. Não acho que ele vá fazer sentido novamente. Nada, ali, faz sentido, não mais. Então eu olho pra alguns posts que eu gosto, alguns textos que eu gostei de escrever, e que gosto de reler, e não acho justo que eles fiquem lá, esquecidos, naquele universo sem sentido. Trago pra cá. Aos poucos, um a um.

Ainda o frio. Mas nem tanto, não mais.

Eu costumava pensar que jamais me acostumaria ao frio. Sempre fui reconhecidamente friorenta. A Fê me ligou uma vez, de Londres, só pra me dizer que naquela hora e naquela temperatura, -5º, eu estaria morta e congelada. Era a associação imediata, sempre foi, a minha tag. Madame Ç = frio. Agora estou aqui, nariz vermelho, três blusas e um casacão de lã. Estou bem. No Rio, bastavam 22º marcando no ar condicionado do trabalho para que eu reclamasse, e tivesse as extremidades dos dedos - mãos e pés - roxos. Aqui não. Eu brinco dizendo que o meu problema no Rio era frio na alma. O corpo reclamava mudando de cor, mas o frio era interno, vinha de dentro. Esse frio daqui é diferente. Ele vem de fora e, apesar de ser muito mais intenso, muito mais real, não deixa nem registro nas pontas dos dedos. Esse frio vem só de fora, arrepia o braço, causa um ou outro calafrio, e só. A alma aqueceu. Finalmente.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Reforma ortográfica é o c******

Às vezes, a minha mãe escorrega e escreve um êle, assim com acento circunflexo. Minha mãe escreve super bem, mas escorrega com esses acentos que mandavam ela colocar na escola, e que depois disseram que não precisava mais. Minha vó escreve flôr até hoje. E eu ficava achando as duas super desatualizadas, que vergonha, não se reciclam, etc. E, sinto informar: estou em vias de me tornar a minha mãe, ou mesmo a minha avó. Logo eu, que sempre levei 10 em redação, que sempre fui reconhecida como alguém que escreve bem, e que conhece as regras gramaticais, e que pode ensinar por qual motivo cada palavra é escrita daquela maneira. Well, não mais.

Porque eu me recuso, simplesmente me recuso, a adotar uma reforma ortográfica assinada por um presidente que mal sabe falar o português. E não, eu não sou dessas pessoas preconceituosas que ficam atacando o Lula por ele não ter muito estudo, etc. Eu gosto dele. Votei nele da primeira vez, ajudei a colocar Lula lá, etc. Mas a partir do momento em que ele, com aquela carinha simpática e discursos pouco convencionais, acostumado a amolecer corações com aquelas covinhas*, resolve que o meu português correto passará a ser um português torto e errado a partir de 1º de janeiro do ano que vem, eu preciso me colocar. Porque eu não vou começar a escrever micro-ondas no lugar de microondas, e nem vou parar de acentuar a palavra idéia. Como assim idéia perde o acento mas continua com um "e" de som aberto e aldeia, que nunca teve som aberto, continua do jeito que era? Aldeia e idéia têm sons diferentes, o acento tá ali pra justificar. Como explicar isso pra uma criancinha em fase de alfabetização, que já esteja aprendendo a pensar sozinha e formular perguntas minimamente coerentes? Como arrumar alguma coerência pra explicar esse desarranjo?

Ah. Então entraram no nosso alfabeto o K, o Y e o W? Parabéns, senhor presidente. Num país de Kellys, Washingtons e Luciellys, isso já estava mais do que atrasado. Ninguém nem se ligava pelo fato de não estarem no alfabeto. E o Ç, eu me pergunto. Cadê? Daqui a pouco resolvem substituir ele pelo S e meu nome nunca mais vai fazer nenhum sentido. E eu vou ser obrigada a trocar de nome. E como assim Júlia perde o acento? Fica Julia, com o i de vogal forte. Oi? Júlia e Julia são diferentes. Não me conformo. Não aceito e não adoto.

* Eu tenho pra mim que pessoas com covinhas são geneticamente favorecidas. Porque elas têm um artifício que costuma ser meigo, e não encontram maiores dificuldades em convencer qualquer um de qualquer coisa. Digo mais. Não ter covinhas me fez ser muito mais habilidosa para fins de persuasão. Porque eu preciso vencer no argumento. Não tenho esse artifício de fofura meiguice impresso na bochecha.