quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Reforma ortográfica é o c******

Às vezes, a minha mãe escorrega e escreve um êle, assim com acento circunflexo. Minha mãe escreve super bem, mas escorrega com esses acentos que mandavam ela colocar na escola, e que depois disseram que não precisava mais. Minha vó escreve flôr até hoje. E eu ficava achando as duas super desatualizadas, que vergonha, não se reciclam, etc. E, sinto informar: estou em vias de me tornar a minha mãe, ou mesmo a minha avó. Logo eu, que sempre levei 10 em redação, que sempre fui reconhecida como alguém que escreve bem, e que conhece as regras gramaticais, e que pode ensinar por qual motivo cada palavra é escrita daquela maneira. Well, não mais.

Porque eu me recuso, simplesmente me recuso, a adotar uma reforma ortográfica assinada por um presidente que mal sabe falar o português. E não, eu não sou dessas pessoas preconceituosas que ficam atacando o Lula por ele não ter muito estudo, etc. Eu gosto dele. Votei nele da primeira vez, ajudei a colocar Lula lá, etc. Mas a partir do momento em que ele, com aquela carinha simpática e discursos pouco convencionais, acostumado a amolecer corações com aquelas covinhas*, resolve que o meu português correto passará a ser um português torto e errado a partir de 1º de janeiro do ano que vem, eu preciso me colocar. Porque eu não vou começar a escrever micro-ondas no lugar de microondas, e nem vou parar de acentuar a palavra idéia. Como assim idéia perde o acento mas continua com um "e" de som aberto e aldeia, que nunca teve som aberto, continua do jeito que era? Aldeia e idéia têm sons diferentes, o acento tá ali pra justificar. Como explicar isso pra uma criancinha em fase de alfabetização, que já esteja aprendendo a pensar sozinha e formular perguntas minimamente coerentes? Como arrumar alguma coerência pra explicar esse desarranjo?

Ah. Então entraram no nosso alfabeto o K, o Y e o W? Parabéns, senhor presidente. Num país de Kellys, Washingtons e Luciellys, isso já estava mais do que atrasado. Ninguém nem se ligava pelo fato de não estarem no alfabeto. E o Ç, eu me pergunto. Cadê? Daqui a pouco resolvem substituir ele pelo S e meu nome nunca mais vai fazer nenhum sentido. E eu vou ser obrigada a trocar de nome. E como assim Júlia perde o acento? Fica Julia, com o i de vogal forte. Oi? Júlia e Julia são diferentes. Não me conformo. Não aceito e não adoto.

* Eu tenho pra mim que pessoas com covinhas são geneticamente favorecidas. Porque elas têm um artifício que costuma ser meigo, e não encontram maiores dificuldades em convencer qualquer um de qualquer coisa. Digo mais. Não ter covinhas me fez ser muito mais habilidosa para fins de persuasão. Porque eu preciso vencer no argumento. Não tenho esse artifício de fofura meiguice impresso na bochecha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu sou Julia sem acento, nunca tive nem nunca vou ter. Minha mãe fez de propósito pra ficar internacional, mas todos insistem em colocar o maldito acento. Pelo menos essa reforma ortografica serviu pra isso. Também vou ser igual a sua avó e a sua mãe. Vou escrever "tem" e "têm", microondas. Q diabos! :)