quinta-feira, 30 de setembro de 2010

eu ainda trabalho com a equipe do japonês querido. só que agora eu estou em outra área, e a gente não funciona tanto como se estivesse no mesmo time. então, de vez em quando, rola uma coisa meio passive agressive, tipo a gente é de áreas inimigas, e tal.

eu acho bullshit. o projeto é o mesmo. eu sou a mesma. ele é o mesmo. das pessoas com as quais eu convivi no ano passado, sobraram dois. os outros já trocaram de área, ou de empresa. tem gente nova, ali no meio, agora. de japonês, só sobrou esse. que tem covinhas e eu gosto muito, apesar dessa cisma dele por eu estar em outra área, respondendo a outros gestores.

aos poucos, eu vou quebrando ele. brinco com a história do sotaque. ele sempre implicou com o meu sotaque carioca, e se hoje eu falo bOtão ao invés de butão, tem dedo dele. aos poucos, ele cai nas brincadeiras e desarma. e esquece a implicancia. o mais importante, aqui, senhoras e senhores, é o menino que entrou no lugar do japonês que eu descobri que era coreano, e que já saiu da firma há alguns meses.

o menino desenvolvedor é alto, branquinho e um pouco mais forte do que o que eu costumo gostar. não é musculoso, mas definitivamente não é magrelo. não tem nada de indie, não usa allstar, não usa camisetas engraçadinhas. tem esse ar meio nerd, meio tímido. é tão bonito. muito de vez em quando a gente troca olhares, nas reuniões que estão se tornando cada vez mais frequentes. eu confesso que acho ele bem incrivel.

o problema é justamente esse. eu sou stalker. sempre que eu acho alguém interessante, eu vou atrás de links. e eu fui. e ele é meio boring no facebook. daí eu cometi o erro mais básico. fui pro orkut. digitei nome, sobrenome, cliquei pra ver as comunidades. comunidade de academia. ew. comunidade de uma ou outra bandinha meia boca.

e pasme.

comunidade: lindos e com conteúdo.

morri de desgosto.

primeiro porque eu acho super ok a pessoa se achar bonita. acho que é toda uma conquista essa consciencia, e coisa e tal. mas MERMÃO, não se gabe numa comunidade de orkut. tipo essas sou legal, não to te dando mole. tipo essas: fale mal, mas fale de mim. comunidade lindos e com conteúdo, não dá. outra comunidade do espertinho: homens inteligentes.

eu sou inteligente. sou mesmo, acima da média. nada acima de nenhuma pessoa que convive comigo, inteligencia não é algo do qual eu possa ficar me gabando. ah, inteligente? e daí? mais o que?

eu fiquei obviamente desconcertada com a ideia de que o lindo com conteúdo realmente se ache lindo e com conteúdo. ok ele ser lindo. ok ele ter conteúdo. mas a partir da hora que ele registra isso na rede social, eu começo a questionar sinceramente o senso de ridículo da criatura.

daí a gente tem outra reunião. e ele é tão bonito. e eu me pego trocando olhares all over again. e debochando, junto com as coworkers queridas. vou ali dar mole pro lindo com conteúdo, dá licença.

tem uma partezinha de mim torcendo demais pra que isso tenha sido uma aposta que ele perdeu, ou que tenha sido alguma informação que ele registrou lá em 2004, quando o orkut começou, e nunca tenha se lembrado de ir lá apagar.

porque, né? precisa.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

o fotógrafo



foi nos idos de 2004, quando o orkut ainda era aquilo tudo. eu entrava em comunidades de cinema, e me metia em discussões acaloradas com desconhecidos, sobre os filmes todos que existiam. e eu estava ainda tão impactada com brilho eterno de uma mente sem lembranças. eu nunca deixei de ficar. e ele também fazia isso. e a gente entrou numa discussão eterna sobre os personagens. e antes que eu me desse conta estávamos nos indicando filmes, músicas. até poesia ele me mandou, uma vez.

e antes que alguém confunda, eu estou falando de amizade. depois eu descobri que ele era fotógrafo, desses conhecidos e premiados internacionalmente. e então eu vi as fotos que ele fez de guerras, e dos ensaios que ele fez com gente muito, muito famosa. ele gosta de fotografar pessoas atravessando as ruas, do alto. isso eu sei porque passei muito tempo olhando as fotos que ele fez. ele brinca com sombras. já tivemos conversas sobre melrose place e suco de tangerina. uma vez ele me ligou, porque o filho dele, também fotógrafo, ia fazer uma exposição, no rio. e ele tinha colocado o meu nome na lista de convidados, porque seria uma boa oportunidade de a gente se conhecer pessoalmente. ele disse. você tem voz. você é uma pessoa. e riu, do outro lado da linha. porque todas as nossas conversas sempre foram assim, escritas, as palavras se formando nas janelinhas de conversa.

eu tentei ir, mas bateram no meu carro, e eu acabei ficando sem conhecer pessoalmente o fotógrafo. o filho dele tem quase a minha idade, pouca coisa mais novo. eu acompanho de leve o que ele anda fazendo, e aparentemente ele é uma das novas promessas da fotografia brasileira. assim que se diz, não é? uma vez ele me contou que parou de registrar guerras quando o filho nasceu. por segurança. porque agora ele tinha algo maior, e tinha que ser responsável. ele me contou que quando o filho dele disse pra ele que seria fotógrafo, disse que queria fotografar as guerras. as mesmas guerras que ele parou de registrar. e ele entendeu. os dois eram feitos mais ou menos da mesma coisa.

há alguns meses chovia torrencialmente em são paulo, e eu estava em casa, escondida. era domingo, de tarde. ele apareceu online e me chamou. ele também me chama de cons. ele estava preso num hotel na avenida paulista, também por causa da chuva. tinha vindo dar um workshop de fotografia. conversamos sobre o tempo, sobre filmes, sobre câmeras. eu contei pra ele da minha camera nova, e ele disse que tinha uma igual, e que ela era a camera que ele usava no dia a dia, quando não carregava consigo o equipamento todo, as lentes todas. eu falei pra ele assistir "Deixe ela entrar", e ele me disse que não gostava de filmes de vampiros. é um filme sobre amizade, eu retruquei.

ele é mais velho que o meu pai, eu acho. eu tenho a idade do filho dele. e a gente se entende de um jeito engraçado. semana passada, ele me chamou no gtalk, antes de 8h da manhã. ia até a cidade siderúrgica fazer um trabalho, e queria indicação sobre hotéis. eu fiquei pensando que a gente quase se esbarra, toda vez. e que se eu estivesse por lá, eu chamaria ele pra um café. e mostraria o céu cor de rosa. o céu cor de rosa que eu fotografo sempre, porque é o mais bonito, e eu não me acostumo.

ele brincou. você já percebeu que faz seis anos que a gente não se conhece? eu falei que sim, que percebia. e ele continuou. apesar de eu ter certeza de que era você naquele restaurante, em bruxelas, em 1963. eu brinquei de volta. talvez tenhamos nos visto, de relance. foi a vez dele, de novo. mas como eu nunca fui a bruxelas, imagino que tenham sido dois nós outros.

num universo paralelo. eu gosto de pensar que uma hora dessas, andando pela rua, eu vou reconhecer a barba branca, a camera pendurada a tiracolo. e eu vou caminhar até ele e me apresentar. ou o contrário. ele vai me ver, distraída, andando pela rua. e vai se apresentar. e a gente vai se reconhecer. das longas conversas, dos seis anos de afinidade.

é boa a vida, de vez em quando. :)

domingo, 26 de setembro de 2010

2010

eu não consigo me lembrar de um ano em que eu tenha me decepcionado mais com amigos do que esse.

vai ver que a culpa é minha. porque eu sou uma pessoa difícil. 

talvez eu mereça, mesmo, todo esse isolamento. 

talvez seja preciso aprender algum jeito de não me importar.

o dia em que eu emputeci o porteiro

meu pai costuma dizer que eu sofro de faniquitos. esse é o nome que ele dá para todas as vezes que eu surto de leve e ajo sem pensar. isso acontece com alguma frequência. eu sempre gostei de achar que era racional. não. não sou. se tem uma coisa que eu sou, a característica que vem ali, logo atrás do dramática, é impulsiva.

tivemos mais um exemplo disso, essa semana.

cheguei em casa tarde, roomie dormindo. essa semana ela apareceu com um jump, e a gente deixou no meio da sala, sem os pés, pra montar depois. quando eu cheguei em casa, o jump estava montado. pensei. ana montou o jump.

no dia seguinte, de manhã, nos esbarramos na cozinha. ela olhou pra mim, toda sorridente, e disse. você montou o jump, né?

e eu. não. você montou o jump. e ela. não! e tem um papel de picolé de fruta na lixeira. vc comeu picolé?

eu não tinha comido picolé. e nem montado o jump. ela não tinha comido picolé. e nem montado o jump.

nós duas arregalamos os olhos e chegamos à conclusão mais óbvia. INVADIRAM O APARTAMENTO. fizemos planos de trocar as chaves, e eu imediatamente liguei para a portaria, pra dizer que tinham entrado aqui. algum meliante entrou na minha casa sem permissão, chupou um picolé de fruta e montou o jump.

o porteiro, assustado, chamou o zelador e eles começaram a procurar as fitas do dia anterior, tanto da portaria quanto do corredor. meu prédio é um big brother.

enquanto isso, eu e ana, assustadíssimas, pensávamos no risco que corríamos, sozinhas, na cidade grande, com psicopatas que invadem casa e montam jumps, tomando picolé.

eis que. eu me lembro.

no dia anterior, o coworker passou aqui, pra aproveitar a carona pra firma colorida. eu estava atrasada, dealing com uma rímel situation. ele ficou esperando na sala. me lembro de ele falar que aquele jump era fácil de montar, e eu dizer que tínhamos deixado pra fazer isso depois. saímos para o trabalho e nada mais me lembro.

dei um pulo, soltei uma gargalhada, tranquilizei a garota. liguei pro porteiro, pra pedir desculpas e abortar o plano de varrer as fitas, uma por uma.

tomei. um. senhor. esporro.

vocês faz as coisa, depois num lembra, e a gente é que paga o pato, disse taciano, o porteiro mal humorado. e eu ali, você tá certo, mas eu tomei um susto, agora eu já lembro, foi o coworker. e ele. seu amigo entrou aqui 11h02, tá nas fita. com a sua autorização. aí ele mexe nas suas coisa, vc num lembra, e bota a culpa ni nóis, que ficamo na portaria.

e eu. tá certo, taciano. desculpa. desculpa. enough, taciano, já entendi. desculpa.

 
minha sorte é que eu passo direto pela garagem, escapo da portaria quando saio. 

roomate não teve a mesma sorte.


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

busted :)

Foi a menina de recife. Estávamos almoçando. Não sei bem por que o assunto blog surgiu, e o coworker brincou que esse tal de meu blog era lenda, que nem devia existir. 

Ela sorriu.

Sempre que ela sorri, os olhos apertam. Parecem dois acentos circunflexos. ^^

E ela disse. Eu achei o teu blog.

Eu sabia que isso podia acontecer, quando fiz aquele post sobre amores, que foi twitado, e trouxe um montão de gente pra cá. A pessoa que twitou meu post não me conhece, mas é seguida por ela. Ela clicou no link, leu o texto e soube. Porque aquele post saiu de uma conversa nossa, de uma conversa que eu classifico como uma das melhores conversas que eu tive em muito, muito tempo.

Bateu medo, na hora. Eu perguntei. Por que você não me disse? Ela respondeu. É a sua vida. Sua intimidade. Se você quisesse, você mesma teria divulgado. Eu respeito.

Gente que tem blog entende. Ela escreve, também.

***

Os meus posts que mais trouxeram gente nova para o blog foram os mesmos que mais me doeram pra escrever. E os que, prontos, eu mais me orgulhei de ter escrito. Os que me arrancaram lágrimas, os que precisaram descansar antes que o botão publicar pudesse ser clicado. Porque eu não estava pronta pra falar em voz alta.

Um risco que eu estou correndo. Um preço que eu pago. Feliz.

domingo, 12 de setembro de 2010

a teoria dos pacotes


Eu tenho pensado muito, muito nisso, esses dias. É engraçado como a cabeça dá voltas e para sempre em lugares parecidos. Ou tudo parece virar um sinal. Eu estava olhando o reader e essa imagem me apareceu. Quem postou não fui eu. Foi ela. Até pensei em deixar um comentário lá, mas me dei conta que meu comentário seria um post. O post que tem estado em looping dentro da minha cabeça, há mais tempo do que eu posso imaginar. O post que talvez não tenha, até agora, achado as palavras certas para me escorrer para os dedos. Ontem, pelo twitter, uma amiga querida disse que lembrou de mim e da minha teoria dos pacotes. Porque tinha lido um texto a respeito. Um texto que falava que um comerciante de pedras preciosas, ao comprar um lote, deveria se ater às gemas defeituosas. Porque as melhores gemas, essas serão sempre maravilhosas, e serão facilmente vendidas. Mas que a decisão de compra do lote deve ser tomada após cuidadosa análise das gemas ruins, feias. Deve-se pensar em como elas podem ser trabalhadas, o que de bonito pode ser extraído delas. The perfect gemstones are blinding. E eu já vinha pensando nisso. No quão sofrido é quando a gente acha gente que gosta da gente, ou que diz gostar, mas impõe condições, aponta os defeitos. E eu fico pensando que num mundo perfeito, esse tipo de coisa não existiria. Você se cerca de gemas perfeitas, ou do que enxerga de perfeito nas gemas, e passa a apontar o dedo, e empurrar pra longe tudo aquilo que não brilha, ou que você não vê brilhar.

Eu penso que o bonito é abraçar qualidades e defeitos, sempre. Aceitar, entender, trazer pra perto. Sabe amor incondicional? Amizade incondicional. Eu tenho essa ilusão. De que num mundo perfeito as pessoas se entendem, basta olhar. Não funciona assim. Eu sei. Viver nessa ilusão me arranca pedaços todos os dias. No final do brilho eterno de uma mente sem lembranças, por exemplo. Quando o Joel e a Clementine estão se dando conta de que os defeitos deles afastaram os dois. E ela fala que ele parece velho, e é rabugento, e que ele fez com que ela se achasse chata. E quando ele diz que acha ela ignorante, e que disfarça a falta de autoestima nas cores berrantes no cabelo, e que ela usa sexo pra fazer as pessoas gostarem dela. E os dois estão em silêncio, ouvindo as fitas, quase sem poder se encarar. Porque se machucaram demais, e não parece mesmo haver caminho de volta. E ela sai pelo corredor, e ele vai atrás, e pede que ela espere, e que fique ali com ele, um segundo. E estão os dois, cada um encostado numa parede, frente a frente. Um olhando para os defeitos do outro. Duas gemas estragadas, ruins, defeituosas. Ele diz que não vê nada que ele não goste nela, naquele instante. E ela diz que ele irá. Ele irá, eventualmente. Porque é isso que acontece. E ele diz okay. E ela diz okay. E eles riem.

Eu estou um pouco esgotada, sabe? Eu fico olhando de longe. Imaginando onde é que estão as pessoas que pensam assim como eu. Que toleram mais do que atacam. Que dizem okay, com lágrimas nos olhos, te aceitando do jeito que você é. No matter what. As gemas perfeitas cegam. E é fácil achar gemas perfeitas. Não há mérito nenhum nisso. Mérito está em aceitar as pessoas assim como elas são. Amor que impõe condições não é amor. Amizade que impõe condições não é amizade.


"I'm selfish, impatient and a little insecure. I make mistakes, I am out of control and at times hard to handle. But if you can't handle me at my worst, then you sure as hell don't deserve me at my best."
  Marilyn Monroe

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

happy september. sweet september.

sabe aquela coisa de você conseguir abstrair da vida em geral, se pegar em pequenos momentos distraída, e se dar conta de que aquele é um momento feliz?

tem acontecido bastante.

aconteceu no bar quinta feira com as gênias coloridas e mais algumas histórias de #timewilltell. aconteceu no segundo bar, desta vez com os amigos do trabalho, enquanto a gente inventava aplicativos e bebia cerveja.

aconteceu na festa de sexta, dentro do taxi, enquanto a japa querida berrava lady gaga com o rádio, e nós ficávamos corados de vergonha.

aconteceu quando a gente se arrasou na festa, aconteceu de leve quando o menino de olhos azuis surgiu do nada com champanhe e me beijou, pra sumir em seguida, e eu continuei ali, dançando. aconteceu quando na manhã seguinte chegou o carioca querido, e a gente almoçou, e eu colidi todos os universos e vi ele virar best friend forever de algumas das minhas pessoas favoritas no mundo. 

aconteceu quando a gente foi pra outra festa e eu esbarrei no menino amigo perdido, personagem da primeira temporada, que eu vejo tão pouco, mas que sempre me abraça apertado e me suspende do chão. aconteceu na segunda festa da noite, quando tocou hollaback girl, e eu pude esquecer a vergonha e berrar gwen stefani no meio da pista. e depois quando tocou funk e eu fui até o chão, e escutei os cochichos dos amigos. ah, ela é carioca. 

aconteceu quando a gente se deu conta que bebeu o dinheiro do taxi, e resolveu voltar a pé, pra casa. eu, o carioca, o amigo gay/hipster e a amiga louca. frio da madrugada, amanhecendo em pinheiros, e a gente andando pela teodoro sampaio, contando as quadras pra chegar logo. e eu daria minha vida por um missoshiro quentinho, naquele momento.

aconteceu quando a gente almoçou no mercadão e bateu umas fotos incríveis, onde todo mundo saiu bonito, e feliz. depois na sé, depois na estação da luz, depois na liberdade. aconteceu no jantar no árabe de madrugada, com gargalhadas e cada um narrando como cortaria os pulsos. hipoteticamente.

aconteceu agorinha, jantando na temakeria, com a japa colorida e a menina de aracaju. e o menino da menina de aracaju. aconteceu de novo quando eu vim pra casa e decidi, junto com a roomie querida, que as paredes da sala terão cor rosa chiclete.

i mean it. porque a gente merece.

aconteceu de novo, e de novo.

alguém me prenda, alguém me faça parar. eu ando muito, muito feliz.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010


passeei pelo centro.

fotografei a estação da luz.

:)

oi, são paulo.

a difícil arte de let go.

eventualmente eu vou falar disso. eventualmente isso vai voltar, cada vez com menos força, até que esmaeça, aquarele, seja sobreposto por novas coisas,  novas experiências. eu não tenho motivo pra não assumir. o quanto eu sou afetada por aqueles que, em algum momento, foram importantes na minha vida. e, sim. toda vez que isso voltar, vai virar texto. meu. minha vida. meu blog.

eu escrevi que as pontes estavam queimadas. e, de alguma forma, elas estão, mesmo. não sei por que, eu fico achando que já fui esquecida, deixada pra trás. foi o que me disseram que seria feito. eu esperei. 

de vez em quando, eu quase acredito que está acontecendo, que está ficando pra trás. que eu estou ficando pra trás. como deve ser.

daí eu vou lá na salinha guardada a chave. digito a url. pra saber como vai a múmia. se ela está bem. e a múmia está lá, fazendo referência ao que eu escrevi. dizendo que a ponte queimou mesmo, uhul, bla bla bla whiskas sachê.

queimou não, múmia. vou te contar um segredo. fica entre nós, como tantos outros, como aqueles que foram divididos quando a gente chamava o que a gente tinha de amizade. 

se você vem aqui saber de mim, você ainda não superou.

da mesma forma, se eu ainda vou aí saber de você, eu ainda não superei.

a diferença é que eu assumo.

(eu espero que você supere. eu espero que eu supere. de verdade.)

domingo, 5 de setembro de 2010

martim

não é de hoje, a gente se esbarra. antes era às terças. eu chegava meio na correria, nós dois nos cumprimentávamos, tímidos, sentados lado a lado por alguns minutos. o analista dele chamava, ele subia as escadas. a minha chamava, e era minha vez de entrar.

depois ele sumiu. eu ouvi por alto ele falando sobre uma troca de dia, numa dessas subidas de escada. agora, depois de três multas por furar o rodízio, foi minha vez de trocar. das terças, passei para as segundas. mesmo horário. chego correndo, abro a porta, ele ali. sentado, esperando a sessão. novamente o cumprimento tímido de quem está esperando pra entrar numa sala e desfiar as fragilidades. então ficamos os dois. ele, o iphone dele, o meu iphone, eu. nessa ordem. sentados.

então o analista dele chamou para entrar. martim, vamos? o menino, que agora tem nome, se levantou e entrou na salinha.

eu poderia me casar com um martim. eu poderia escrever textos incríveis para um martim.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

o menino hipster

o hipster começou a ganhar pontos comigo quando me mandou sms, perguntando se eu tinha chegado bem em casa, depois da festa de blues. eu me derreto com essas bobagenzinhas. me adicionou no msn e conversas aleatórias se estabeleram. me chamou pra sair, topei.

nosso date foi um fiasco. pelo menos a primeira parte. aquela em que as duas pessoas se sentam uma em frente da outra e estabelecem alguma conversa minimamente normal, enquanto comem, bebem e jogam charminho. a conversa não fluía, todos os assuntos morriam. eu cheguei a pensar que tinha sido um erro, a coisa toda. antes mesmo de eu chegar, ele brigou comigo por causa do atraso. e eu briguei com ele, porque ele não tinha o direito de me cobrar pontualidade. ficou um clima estranho. silencio. longas pausas. fiasco.

a segunda parte, well, foi legal. ele recuperou os pontos perdidos. me chamou pra sair de novo. de novo, eu topei. filme e vinho. sabemos bem.

o segundo date foi incrível. assistimos Gilda, ele é viciado em cinema antigo, filmes noir. as conversas fluíram. o hipster tem tatuagens cobrindo os dois braços, e uma parte do peito. eu acho bonito. pessoa colorida, na mais perfeita expressão. ele ficou tentando me convencer a assistir filmes de zumbi, eu fiquei falando da vida em geral. tudo isso com beatles ao fundo. discutimos kubrick, femmes fatales e o fato da rita hayworth ter tanto ombro e tão pouco quadril. eu finalmente pude assistir a cena dela tirando as luvas, supostamente uma das mais sexies da história do cinema. achei médio. eu tiro luvas com mais graça que ela. estou com "put the blame on mame, boys" em looping na cabeça. desde sábado à noite.

eu reclamei da falta de colaboração dele no dia em que jantamos. dos silêncios desconfortáveis. eu disse, de brincadeira, que ele parecia autista. ele olhou pra baixo, esboçou um sorriso, e disse. eu tenho síndrome de asperger. antes que eu perguntasse what the hell is that, ele continuou. é um tipo leve de autismo. afeta a minha interação social. eu não sei quebrar silêncios. e foi assim que o hipster me quebrou. sorrindo timidamente e justificando que aquela era a doença dos gênios. que einstein tinha, mozart, michelângelo. andy warhol. e eu ali. shut up. you had me at hello. kind of.

ali eu permaneci. bebendo vinho, discutindo cinema, perdida num apartamento antigo no centro de são paulo. decifrando as tatuagens, uma a uma. vestindo uma camiseta surrada de scarface. todo o clichê disponível.

chegando em casa, corri pra wikipedia. isso que eu faço. ele, no msn, perguntando se eu tinha chegado bem, sem me perder no caminho. eu, do outro lado,  comecei a brincar de lançar nomes de gênios que tinham a mesma, hum, condição. ele ria, e mandava mais alguns nomes.

de repente, um estalo. sheldon cooper. sheldon cooper é o retrato dos sintomas. eu fiz piada com isso. ele disse bazinga.

he had me at bazinga.

alô você

que todo dia chega aqui digitando madame ç twitter. tá vendo esse e-mail aqui do lado? me manda mensagem, e eu te digo qual é. 

;-)

ele só não tá no blog porque me expõe. e, sabe como é. o mundo é perigoso. muito psicopata solto por aí.