quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Vida paralela

Hoje, se eu pudesse escolher um nome, ou alguns nomes, eu só toparia a brincadeira se, junto à minha escolha, pudesse vir atrelado um sobrenome. E então, para nome, eu quereria Paris. E, naturalmente, para sobrenome, Hilton.

Se Paris Hilton eu fosse, herdeira eu seria. Não precisaria acordar cedo e nem ter hora pra dormir, podia circular entre grandes coquetéis organizados por magnatas gregos e assim, só pra passar o tempo, pegaria um herdeiro de nome bem complicado. Eu seria convidada para o tapete vermelho do Oscar e editoriais em revistas, tudo isso sem precisar demonstrar absolutamente nenhuma habilidade. Eu chegaria com Tinkerbell, minha cachorrinha, de vestido deixando a calcinha meio de fora. Me faria de vítima só porque a Britney me roubou o namorado, logo eu, a única a demonstrar apoio e amizade depois que ela saiu da rehab. Eu faria grandes statements dizendo o que eu penso sobre a morte de golfinhos e a venda de casacos de pele. Faria festas e mais festas, daquelas dignas de neguinho pendurado no lustre. Usaria botas brancas e óculos gigantes, e ninguém teria o topete de me dizer, com sinceridade, que meu nariz toparia feliz uma plastiquinha. Uma semana o cabelo seria curto, na outra, preto e longo. Eu dirigiria bêbada em zigue-zague, e seria presa. Mas, tipo, alguém seria bonzinho e transformaria a minha pena, originalmente de 40 dias, em pouco menos de uma semana. Eu teria aprendido a lição, praticado amizade com as outras presas, prometido emprego de camareira na minha rede de hotéis depois que elas estivessem em acordo com a lei. Eu acordaria entediada numa terça feira às três da tarde, sintonizaria a tv no E! Entertainment Television e assistiria a um E! True Hollywood Story sobre a minha pessoa. Daria gritinhos discordando das fofocas, imaginem, mas depois desistiria deles e deixaria escapar um risinho de canto de boca. 1 a 0, Nicole. Ganhei de novo. Eu soltaria na imprensa notinhas que dissessem que eu estou pensando em adorar gêmeas chinesas. E iria fazer pedicure.

E daí que a minha irmãzinha quer provar que é mais do que uma herdeira e tentar a carreira de estilista? E daí que Britney, mesmo perdida, consiga um momento de consciência e lance mais um álbum, com umas musiquinhas bem divertidas? E daí que a Nicole tenha resolvido virar garota direita e engravidado do namorado, e agora desfile toda cheia de pose e com um barrigão que só perde para o tamanho dos óculos? Eu, Paris, pediria uma limonada suíça, desceria da minha suíte presidencial de um Hilton qualquer espalhado pelo planeta, Tinkerbell a tiracolo. Flertaria com cada um dos empregados e me colocaria ao sol, na beira da piscina.

sábado, 10 de novembro de 2007

tédio

abre parênteses
Meu tédio daria um livro. Porque todo o tempo demora a passar, cada minuto, cada segundo. A semana demora, tudo é lento, a minha cabeça ferve, mas eu não faço nada. Observo, apenas. Cada pessoa ocupada, cada detalhe de cada rosto, a expressão, um franzir de testa, um riso escondido no canto da boca. Acho que não trabalham. Não sei. Queria saber o que vai dentro de cada um, pra quem sabe me sentir menos só. Achar alguém com as mesmas questões, as mesmas angústias, o mesmo lento passar das horas. Não há. Sou só eu aqui. Me guiando por feriados e fins de semana. Passando pelas segundas, terças e quartas, me distraindo das quintas e sextas. Tentando não sentir aos sábados e domingos, torcendo para o telefone não tocar, para ninguém lembrar de mim. Queria fechar a casa, deitar no sofá embaixo do edredom e dormir. Eu poderia dormir por dias. Até passar.
fecha parênteses

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

i'm a people person. NOT!

Quando eu cheguei aqui no trabalho, tinha menos gente do que tem hoje. Não sei exatamente quanto a menos, mas menos, bem menos. O negócio é que eu me sentava tipo no fim da sala, mais perto dos nerds que trabalham num aquário. Era bem longe do pessoal do atendimento ao cliente. E eu gostava disso. Porque eles trabalham em turnos, fazem umas reuniões de motivação, são bem agitados e irritantes. E eles ficam colocando papéis de parede horríveis nos computadores. Ou é foto do último churrasco “na laje”, ou é foto cafona de namorado (a), ou então caricatura. Pra ser mais clara um pouquinho, eu gosto de não interagir com eles. Eu gostava.

Daí começaram a contratar mais gente. Todo dia aparecia um novo. O lugar foi enchendo, ninguém pareceu se importar com a cozinha lotada ou os banheiros sempre ocupados. E o barulho, ah, o barulho. Eu não tenho foco, já contei isso aqui. O barulho me distrai. Eles estão everywhere, os malditos do atendimento ao cliente. Todos crentes, importante mencionar. De vez em quando a gente escuta alguma palavrinha de disus, assim, meio perdida entre as ocorrências do dia. E agora, justamente porque são tantos, precisaram reorganizar a disposição dos lugares. E eu venho há tempos pedindo 1) pra ir prum lugar menos frio, sem saídas de ar condicionado; 2) pra ir prum lugar mais quieto, sem perturbação, sem barulho, onde eu possa tentar ter foco sem tamanho esforço. Ninguém me ouve.

Com a reorganização, a minha mesa, que antes era no fundo da sala, ficou mais centralizada. E eles foram espalhados em pontos distintos da empresa, em pequenos núcleos de atendimento. E um desses grupos está depois de mim, no que antes era o meu querido e calmo fundo da sala, só meu. Agora eu tenho companheiros à direita, à esquerda e atrás. Estou cercada, eles estão por toda parte. Um deles tem a mania de falar imitando o Sílvio Santos. Parece um cobrador de ônibus e vai de 15 em 15 minutos ao banheiro, pra molhar os cachos mal cortados. E tem umas duas com um cabelo tão descolorido que faria Anna Nicole Smith corar. Britney é chique perto dessa turma. Muito elegante. E agora, na hora de eles irem embora, na troca de turnos, nas idas pro almoço, eles passam aqui, atrás de mim. E ficam falando tchau, se despedindo DE MIM. Todo dia. Até amanhã, eles dizem.

I’m so NOT a people person quando se trata desse pessoal.

sábado, 20 de outubro de 2007

Birthday girl

Enquanto isso, no trabalho, em uma janela de msn alheia...

Co-worker A diz:
já desejou feliz aniversário para a Madame Ç?
Co-worker B, que também é amiga, diz:
claro

Co-worker B, que também é amiga, diz:
e vc?
Co-worker A diz:
não
Co-worker A diz:
ela não gosta
Co-worker A diz:
tenho medo
Co-worker B, que também é amiga, diz:
ela gosta sim, é só não abraçar
Co-worker A diz:
melhor não arriscar

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Gossip Girl

Eu preciso falar Gossip Girl. Foi assim. O garoto me disse para baixar, porque era da mesma criadora de Sex and The City, etc. E eu confio no garoto, e gostava bastante de Carrie e companhia. E baixei. Série estranha, com gente esquisita. Todo mundo eu conhecia de algum lugar, mas não sabia de onde. Daí, imdb, óbvio. E eu descobri várias coisas. Primeiro que todos os atores são novinhos, apesar de aparentarem, no mínimo, uns dez anos a mais. A protagonista é a jogadora de futebol de “Quatro Amigas e um Jeans Viajante”, e o protagonista fazia The Bedford Diaries. Eu não via The Bedford Diaries. Eu via Milo Ventimiglia em The Bedford Diaries. Ponto. Mas aí tinha esse garoto, que tinha um cabelo bem mais rebelde, com uns cachos inadmissíveis, e ficava pegando as menininhas e gravando depoimentos em vídeo. E em Gossip Girl ele teve o bom senso de raspar a cabeça.

A série é basicamente sobre meninos ricos de Manhattan, os Upper East Siders da saudação inicial. Rola uma gravaçãozinha em off com uma voz de personagem desconhecida, a tal Gossip Girl do título. Ela atualiza todo mundo na escola sobre as últimas fofocas através dos telefones celulares de última geração. E termina cada notícia com “You know you love me. I’m Gossip Girl”. Ninguém sabe que é a tal garota fofoqueira e tão bem informada. Eu sei. Li no imdb. É a Veronica Mars. Pronto, contei.

Daí que tem duas melhores amigas. Ou ex-melhores amigas. Serena e Blair. A Serena, até onde eu entendi, é a mocinha. A Blair é a antagonista. Elas eram melhores amigas, mas aí a Serena dormiu com o namorado de anos da Blair e – cheia de remorso – saiu da cidade sem nem se despedir. E então o primeiro episódio começa com ela voltando, aparentemente por causa de um segredo. Ela volta, eu conto de novo, porque o irmão dela tentou suicídio cortando os pulsos, e agora está numa clínica de repouso de alto luxo. A mãe dela era a 4ª mulher do Michael de Melrose, ex puta, que agora é apenas uma ricaça morando num hotel enquanto a 14ª reforma no apartamento da família não fica pronta. Serena volta e começa o conflito.

Daí vem o festival de clichês. A Serena conhece o garoto pobre da escola e meio que se interessa. Ele já era apaixonado há séculos. Ele é filho de um músico/artista que é dono de uma galeria, tem uma irmã de 13 anos que quer fazer parte da turma e que daria uma unha pra ficar amiguinha da Blair. Moram numa espécie de Loft atolado de livros e móveis (sacou a parte intelectual?) e a casa tem umas paredes esquisitas, que se movem e descem do teto. A mãe acaba de abandonar a família e – pasmem – rola algum conflito do passado entre o pai do moleque pobre e a mãe rica da Serena. Ok.
Blair. A Blair é filha de uma estilista mega famosa. Aparentemente todo mundo acha a Serena incrível, e a Blair tem que viver meio que à sombra da ex melhor amiga. A Blair é bem mais bonita, mas é meio que um híbrido entre várias atrizes bonitinhas. O tipo de pessoa absurdamente bonita e magra, mas se você olhar bem para a cara dela, vai perceber que tem algo absurdamente errado. Ela é amiga de um outro riquinho de 17 anos, que mora num hotel e costuma ter duas ou mais camareiras seminuas em sua cama, enquanto o melhor amigo – o tal que chifrou a Blair com a Serena – dorme no sofá a apenas alguns metros. Esse riquinho é mau caráter e tenta agarrar a Serena quando ela está bêbada. E ela bebe pra caramba. Ele usa uma echarpe e diz que essa é a sua marca registrada. Me lembrou o Pierce, o riquinho de Turma da Pesada, um desenho que eu via há séculos atrás. Aliás, a série parece muito o desenho, com a vilã morena e a mocinha loura.

O que mais me intriga em Gossip Girl é a definição de bom e ruim. Serena é a boazinha, fato. Blair é a vilã. Mas foi a Serena que roubou o namorado da amiga e depois nem se despediu quando resolveu ir embora. A Blair ficou sozinha, traída pela melhor amiga e pelo namorado, sendo constantemente comparada com a Serena por todo mundo, inclusive pela mãe. E a Blair é vilã porque resolve tratar a Serena mal quando ela finalmente volta. Eu acho que a Serena merece. Pronto, falei.

Gossip Girl é o mais puro clichê. Tem características de Beverly Hills 90210, Turma da Pesada, Melrose Place, The OC e tudo o que a gente pensa que está cansado de ver por aí. Mas não está.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

drops

Experimentei o milkshake de banana do bob’s e fiquei pensando só nisso. Eu me entreguei de vez. Fazer isso numa segunda feira representa assumir para mim e para os outros que não, essa não será a semana do início da dieta. Mas deveria. Tomei cappuccino da kopenhagen, milkshake, comi bombons, coca cola. Muita alegria de viver que resultará no martírio da balança. Precisava parar. Não leio mais nada que não seja revista de moda. Blogs. Descobri uns ótimos ultimamente, li até histórico, e tenho a impressão de que este recadinho se dirigia mesmo à minha pessoa. Sei não. Tal qual a dona do recadinho, andei vendo Gossip Girl. Que é bem porcaria mesmo, mas foi indicado pelo garoto querido. Tá no terceiro episódio, os personagens parecem tão velhos que eu fui atrás das datas de nascimento no imdb, juro. E são todos realmente novos. Mas a protagonista tem marcas no rosto. Mais que eu, que tenho pelo menos 10 anos a mais que ela. Deve ser genética, essa coisa de pele clarinha e fininha, sensível, mais cedo ou mais tarde teria o seu preço. Mais cedo, no caso dela. Poor girl. Daí recomeçou Heroes e eu nem mesmo assisti ao ultimo episódio da primeira temporada. Porque eu estava economizando, pra não sofrer como a comedora de granola esperando a volta dos inéditos. Resolvi me dar o direito de escolha e NÃO assisti ao último, pra ver quase na véspera da segunda temporada estrear e não ter que esperar nada nada pelos novos acontecimentos. Enquanto isso comecei a ver Jericho. Jericho parecia até legal, tinha o Skeet Ulrich, que fez Jovens Bruxas e era uma espécie de Johnny Depp new generation quando surgiu. Agora ele está mais velho, tem os olhos bem vermelhos e perdeu um pouco da graça. E Johnny Depp continua aí, inteiro. Vi uns cinco ou seis episódios, baixei todos os outros e foi realmente libertador quando eu aceitei que não tinha gostado da série e decidi deletar tudo. Abriu espaço para baixar Dexter. Respingos de sangue, hello. A-do-ro. Adoro psicopatas. Adorava Six Feet Under, adoro ver que os meus atores arrumam novos empregos quando suas séries de origem são canceladas. O engraçado é que, após tantos anos refém, Sony, Warner e companhia me deram uma espécie de histórico. Bree Van DeCamp, pra mim, sempre será Kimberly Shaw, de Melrose. E daí a mãe da menina velha de Gossip Girls era a quarta mulher do Michael, ex prostituta, também em Melrose. Como eu sinto falta do Aaron Spelling. Ele foi, junto com Ana Nicole Smith, a minha maior perda. Adorava os E! True Hollywood Story com o caso dela. Como ela era louca. Engordava e emagrecia num passe de mágica.

E Heroes recomeçou, já está no terceiro episódio, Peter Petrelli já está causando e eu nem vi nada. Não vi Greys, não vi House, que vergonha.
Em tempo: rezem pela Britney. Sem mais.

domingo, 9 de setembro de 2007

It's britney, bitch.

Pois ontem eu tinha uma tarefa, uma só, uminha. Eu tinha que me postar em frente à televisão às 22h em ponto, pra ver a volta triunfal de Britney ao showbizz. Algo aconteceu, talvez a minha distração com a TV quando acabou Studio 60, e então eu passei pelo Fantástico, assim, só por passar mesmo. Nada no Fantástico me interessa, e tinha a Britney na MTV. E quando de fato eu me dei conta, às 22h06 exatamente, já era tarde demais. Não vi. Vi alguma coisa desinteressante, a performance do Chris Brown com a tal de Rihana, identifiquei finalmente que aquela era a tão falada música “Umbrella” e que não era nada de mais. Descobri, no EuroChannel, um show da Madonna, divino, esplêndido, maravilhoso. Ela cantava “Live to Tell” pregada em uma cruz com uma coroa de espinhos. Madonna sabe tudo.

E eu não vi a Britney. Li em tudo quanto é site agora de manhã que ela decepcionou. O PapelPop diz que ela fez exatamente o que esperavam dela, e que portanto a apresentação foi um sucesso: um vexame. Falam que ela anda gorda, largada, esbaforida. Li no Lixomania uma defesa ferrenha do Klein, dizendo que a culpa do fiasco da Britney era nossa, dos seres humanos. Mas a Britney é humana, pensei. E eu fiquei aqui tentando pensar em como o dia de ontem deve ter sido duro pra ela. Porque se tem uma coisa que eu acho, que eu tenho certeza nessa vida, é que foi o tal término de namoro dela com o Justin Timberlake o início do fim. E essa semana inteira tocou no rádio do meu carro um cd com os sucessos da Britney, sim, porque eu gosto, sim, eu assumo. Britney é brilho.

Ela cantava inocentemente com umas roupas de cheerleader e marias chiquinhas músicas como “Hit me baby one more time” ou “Sometimes”. E aí ela apareceu com o astronauta em “Ooops I did it again”, cantando i’m not that innocent, e eu sei que bem pouco tempo depois o namoro terminou. Rumores davam conta de que ela o tinha traído com um arremedo de dançarino qualquer, e ele, brokenhearted, engatou um namoro longo com a Cameron Díaz, fez uma música cheia de ressentimentos e etc. E então ela se perdeu. Casou em Las Vegas com um amigo de infância, anulou o casamento e lançou “Toxic”, uma das melhores músicas ever*. Continuou fazendo sucesso com “I’m a slave for you” e lembro de ler em algum lugar que ela havia pedido para voltar, mas que Justin não quis. E que ela dessa vez havia sido a brokenhearted. Achou o Kevin Federline e as coisas desandaram de vez. Pra começar ele largou a mulher grávida pra ficar com a Britney. Ela engravidou também e Sean Preston tem apenas alguns meses a menos do que seu irmãozinho por parte de pai. Fez um reality cancelado antes mesmo da estréia, brigou com o marido em um cassino, largou ele, voltou, engravidou de Jayden James. Quase deixou Sean Preston cair enquanto a outra mão, com alguma bebidinha esperta, não derramou uma gota sequer. Chorou na frente dos paparazzi, dirigiu com Sean Preston no colo, deixou ele cair da cadeirinha de alimentação e teve que lidar com o juizado de menores. Eu sou uma boa mãe, dizia, com as crianças apresentando queimaduras de sol. Engordou, perdeu o já quase inexistente senso de estilo. Separou de vez do dançarino/rapper/gold digger e foi vista em companhia de Paris, bêbada e sem calcinha. Roubou o namorado de Paris e brigou para sempre com sua ex-melhor amiga de infância. Brigou com a mãe, fez um testamento deixando tudo para a irmã, inclusive os filhos, e acho até que numa dessas brigas, ela e a mãe se pegaram na porrada mesmo. So low. Baixaria.

Como se não bastasse, bateu em um paparazzi com um guarda chuva e, um ou dois dias depois, entrou em um salão de beleza falando coisas meio sem sentido, pegou uma maquininha perdida por ali e raspou a própria cabeça. Foi parar na rehab. Kevin ficou com os filhos e – pasmem – começou a ser considerado um pai exemplar. O que é um bom referencial nessa vida, né, gente? Perto de uma Britney perdida, até o Marilyn Manson seria um bom role model para as crianças.

E então, Britney precisa de um hit. Precisa de mais do que isso. Precisa de um Extreme Makeover, com direito a What Not to Wear e Supernanny. Cantinho da disciplina pra ela. This is not acceptable, Jojo diria. E ela ficaria ali, sentadinha, durante 25 minutos, um minuto para cada ano de idade dela. Podia tomar umas aulinhas com Katie Holmes sobre estilo e vestir os meninos de marinheiros, para passear pelas ruas de L.A. Podia emagrecer uns quilinhos, mas só porque televisão engorda mesmo. Porque, cá entre nós, ela não está gorda. Ela está assim com eu, assim como você, como uma pessoa normal. Podia cortar os cabelos, ou adotar os dela mesmo, crescendo, curtinhos e bem cortados. Cabelo cresce, hello! Tem é que tratar da pele, porque aquilo ali, sim, é grave, gravíssimo. Abandonar de vez a meia arrastão e as botas de cowboy. Lembrar de usar calcinha, básico. Vestidos abaixo da polpa da bunda, please. Esse comprimento não favorece ninguém, honey. E você ainda tem conserto. Corte o playback da sua vida. Madonna deu banho no show que eu vi ontem, e cantou tudinho. Lance novas músicas, porque eu ainda garanto os downloads. Eu realmente queria ter visto a apresentação.

E então, pensando na Britney, ontem deve ter sido especialmente difícil. Porque o show dela foi alterado no último minuto e ela perdeu os efeitos especiais, que seriam feitos pelo ilusionista Criss Angel, que meu irmão adora. Será que ele faria a memória das pessoas simplesmente se apagar? E ela estava lá, playback fora de sincronia, dançando cansada, seminua, maltrapilha. Levemente gordinha, mas só por causa da televisão. Pra quem pariu duas vezes, sei lá, aquilo ali deve ser a média. O cabelo estava um horror e ela queria, tenho certeza, desesperadamente, agradar. Ser aceita, ser aplaudida, como ela já foi um dia. Mas as pessoas estavam constrangidas, arquiinimiga Paris, mesmo recém saída da cadeia, cheia de brilho, com vestido de oncinha. E o Justin, aquele um, o ex, estava ali, ganhando prêmios. Achei que Britney tomaria um porre pra esquecer, rasparia o cabelo de novo, sei lá. Quão ingênua eu fui. O que ela fez? Saiu sem calcinha. Again. Ooops.

*Na minha modesta opinião. Mas eu também adoro algumas coisinhas de Backstreet Boys e Hanson, desconsiderem.

sábado, 25 de agosto de 2007

checklist

Se a minha cabeça funcionasse de forma mais simples, ah, seria tão melhor. Porque eu deveria agora, enquanto escrevo, estar arrumando a gaveta aqui ao meu lado, com papéis, documentos, caixinhas e fotos. Porque tem coisas ali que precisam ir comigo em viagem amanhã. Coisas que eu não sei onde estão e que, se estivesse arrumando a gaveta, como eu deveria, eu saberia. Eu tenho que tirar do chaveiro a chave do porta-correspondência, que fica na portaria, para o meu irmão poder pegar a conta da internet e a mensalidade do francês enquanto eu não estiver por aqui. Deveria recolher o material do francês, meus dicionários todos, pegar os cds que eu quero comigo, os dvds com seriados gravados, essas coisas. É muito tempo fora, penso. E se eu não levar alguma roupa que eu decida usar, tipo, na quarta feira? Mas como é que eu posso saber hoje, sábado, que roupa eu vou querer usar na quarta feira? Será que vai estar frio? A cidade siderúrgica é mais fria, e também mais poluída. Hum, preciso levar meu shampoo, o de pitanga. Secador de cabelo, vai que eu tenho um bad hair day? Maquiagem, casaquinhos, quero as minhas bolsas comigo, mesmo que lá eu decida passar a semana inteira usando só uma. Pijama. O pior é que é de lá que eu vou sair, na sexta feira que vem, pra visitar Madame T na selva de Pedra. Lá é mais frio ainda. Então, preciso levar um pijama menos quente para minha primeira parada, e um mais quente para a segunda. E se São Paulo for quente no verão? Não vou a SP há mais de 10 anos, minha memória só me traz a idéia de lugar frio, e com garoa, sei lá. Meu guarda chuva está na casa da Frá, há meses, porque aqui eu tenho carro e de carro eu não tomo chuva. Mas lá em SP pode ser que chova, e então eu estarei despreparada. E se fizer sol? Será que é um sol desses que deixa frio onde está sombra ou é tipo esse aqui do Rio, que queima a mufa em pleno inverno, hoje? Estou de camiseta, e agosto ainda nem terminou. Eu gosto de inverno, gosto de frio, andei comprando uns casaquinhos tão fofos, nem seria justo não poder usá-los na minha primeira ida a São Paulo depois de tanto tempo. Da última vez que eu estive em São Paulo, vejam só, ganhei do meu pai uma barbie, um livro dos contos de grimm, que tenho e adoro até hoje, e uma borracha amarela que virou de estimação, e que está, agora, no meu estojo do francês. Não sei bem como vou encarar a selva de pedra. Faz tanto tempo. Preciso levar calças e quero MUITO levar as botas novas. Uma marrom e uma preta. Não vão caber na mala, fato. E se estiver quente, com sol? Eu tenho que, para essa possibilidade, estar munida com sapatinhos fofos, sandálias, sei lá. Meus casacos amassam na mala. This sucks. Não tenho pijamas suficientemente quentes pra um frio desses. E são dois. Meias. Saias seriam uma opção. Mas aí eu precisaria levar sandálias que pudessem ser usadas com calças ou saias. Eu fico irritada porque ligo para a Madame e ela não atende. Deve estar na academia, a louca. Malhando num sábado. A Louca. Preciso saber do tempo, da previsão, do tipo de programa que ela planejou, pra saber o que eu levo, porque a mala tem que ser feita ainda hoje, e tem que servir para meus dois destinos, a cidade siderúrgica e São Paulo. E eu não sei o que levar. Que tipo de mala, se de rodinhas, se não. Levo toalhas? Toalhas ocupam TANTO espaço na mala. Preciso levar roupa de sair à noite? Existe roupa apropriada para HH em São Paulo? HH é happy hour, um apelido carinhoso que no rio não diz absolutamente nada. Saídas de fim de semana configuram hh, ou só quando é durante a semana, pra fugir do trânsito? Eu moro a 15 minutos do trabalho, nem sei o que é trânsito. Na cidade siderúrgica, 15 minutos é o que uma pessoa leva para ir de um extremo a outro, passando pelo centro, com todos os sinais fechados. Ou era. Faz tanto tempo. Nem sei.

Preciso saber o que vestir, o que levar. Preciso salvar os meus favoritos pra ter acesso aos blogs de outros computadores. Meu delicio.us está mais bagunçado que essa gaveta fechada aqui do lado, a que eu precisava arrumar. Tenho malas pra fazer, odeio tanto isso. Odeio fazer malas, pagaria alguém pra fazer por mim, juro. Quero ver televisão, comer pipoca e dormir um pouco. Mas tem as malas, e a bendita gaveta, céus.


Se a minha cabeça funcionasse de forma mais simples, seria tão melhor.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Eu preciso dizer que, nesses últimos dias antes das tão sonhadas férias, eu operei a 17% da minha capacidade. É verdade. Um sono absurdo tomou conta da minha pessoa, os dias foram longas esperas pelo passar das horas. E eu produzi pouco, quase nada. Tem dias que eu faço mais, tem dias que eu faço menos. Eu tenho feito menos, ultimamente, muito menos do que eu poderia. A verdade é que eu estou bem cansada mesmo, um cansaço estranho, que nem é por falta de sono não, é falta de, sei lá, brilho. A gente tem uma brincadeira no trabalho que imita uma propaganda, de algum carro offroad, onde as pessoas precisam ter mais contato com a natureza. E tem uma planta num canto, e as pessoas passam e ficam muito impressionadas com a planta. E o comercial termina com a fala de alguma pessoa, quase que em choque, exclamando “Há vida neste vaso!”. E sempre que alguém está animado com algum projeto, rola a mesma brincadeira, do “Há vida neste vaso!”. E não há vida neste vaso, no meu. Eu sou uma espécie da planta, seca, no canto da parede, desmaiada, aborrecida, contando o passar do tempo e fingindo que não estou ali. Isso me deixa um pouco frustrada, porque afinal de contas, eu tenho tanto a oferecer, e sou tão absurdamente cheia de idéias, e até mesmo acima da média, sem falsa modéstia. Mas eu fico ali, operando a 17% da minha capacidade, porque só me exigem mais ou menos 20%. E esses 17% são a minha forma de me rebelar contra o sistema, dizendo que se é pouco o que querem, então eu faço menos ainda. Rá. Quero ver quem ganha esse joguinho.

Se me quisessem a 100%, eu daria 110%. Mas é assim mesmo. As pessoas têm o que merecem. Não mais do que isso.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Esta semana, especialmente essa semana, eu perdi a minha paciência com telemarketing. Eu até vinha tentando lançar a personalidade fofa, entender que aquelas pessoas são realmente muito fudidas por trabalharem em cabines apertadas e terem pouco mais de 5 minutos por dia para comer/ir ao banheiro, e que não é à toa que uma empresa precisa criar estratégias pra motivação de equipes. Eles recebem um zilhão de “nãos” na cara, todos os dias, e ainda assim te ligam com a maior paciência, torcendo mais que tudo pra ticar o quadradinho ao lado do nome de cada cliente com uma marquinha positiva. Não sei se eles ganham por hora, imagino que por produtividade não seja, mas tenho que conter os bocejos ao pensar nas aspirações de uma pessoa que fale o dia inteiro com estranhos predispostos a tratarem-na como lixo.

No início eu dizia “não”, e desligava. Me aconselharam aqui no trabalho a desligar sem nem mesmo dizer não, assim, na cara da pessoa. Mas a outra Madame havia me dito que, até que eu diga não efetivamente, fica rolando um “pending” ao lado do meu nome, e eles vão me ligar de novo. Eles sempre ligam nas horas mais inoportunas mas, cá entre nós, existiria algum horário que fosse oportuno para atender telemarketing? Sempre digo que estou no transito, ou no almoço, ou no trabalho, que não posso falar, que estou no enterro da minha tia-avó, qualquer coisa que faça com que o infeliz se sinta mal, muito mal mesmo. Mas aí eu fico pending, e eles sempre ligam de novo. Não tenho interesse em promoções para celular, nem em saber como aproveitar os descontos da Embratel. Daí o espertinho surge com a seguinte pérola: “Você não gosta de economizar dinheiro?” Minha chefe outro dia disse que respondeu que não, que era louca e rasgava dinheiro mesmo. Quero até copiar essa idéia, é realmente bem boa. Eles sempre fazem perguntas que te obrigam a concordar, mas isso aí é técnica, e eu tenho preguiça, e caio para a grosseria mesmo.

Me ligaram do Credicard, há coisa de 3 ou 4 semanas atrás. Sempre a mesma ladainha. Por favor, eu gostaria de falar com a Madame Ç. É ela, respondo, tomando fôlego para o fora que vou dar. Olá, Madame Ç, primeiramente bom dia, aqui quem fala é a Zuneide da Credicard, como vai a senhora? – Me ofende me chamando de senhora, me diz um nome que me obrigaria a perguntar de novo. Ela não está interessada em saber como eu vou. Prossegue: A senhora utiliza cartões de crédito no dia a dia? Não, respondo, odeio cartão, odeio dívidas, tenho pra mim que isso é coisa do Demo. Ela continua a conversa e, só porque ainda estou zonza de sono, eu a deixo continuar, esperando a próxima chance de dizer não. OBVIO que eu me contradigo, e falo que tenho, sim, cartões, e que apenas não estou interessada em adquirir outro. Zuneide se ofende, vejam só, e tenta me pregar uma peça: Mas a senhora disse que não usava cartões! Essa é a hora que eu digo que não, e acredito sinceramente que saí da listinha de pending e que estou livre da Credicard. Ledo engano.

Recebo uma carta anunciando o cartão, rasgo e jogo no lixo. Recebo outra, agora com prazo, dizendo que eu vou perder a super mega hiper promoção incrível feita exclusivamente pra mim. Dane-se. Rasgo. E aí, sábado passado, matando aula de francês porque cheguei em casa de madrugada, toca o telefone. Me acorda. O relógio marca 8h03 da manhã. Reúno algum bom humor, achando que seria minha pobre mãe preocupada, querendo saber se eu cheguei inteira em casa. Não. Era a Zuneide, do Credicard. Olá, dona Madame Ç, primeiramente bom-dia, nós estamos efetuando essa ligação para apresentar à senh..... – Soltei um berro no telefone, JURO. Falei: Sábado, 8h03 da manhã. Vocês estão malucos? Vocês, de telemarketing, estão loucos? Sábado, 8h03 da manhã! Zuneide percebe a grande falha e pede desculpas, e pergunta, assim como quem não quer nada, quando seria um BOM HORÁRIO pra falar comigo sobre o cartão CREDICARD. Nunca, não me liguem mais. Vocês perderam a noção de limites!

E, resignada, tenho certeza de que Zuneide ainda não desistiu da minha pessoa. E hoje, nesse momento, eu digo que nunca, em hipótese alguma, eu terei um cartão Credicard. Por causa dela. Da Zuneide.
Hoje, só hoje, eu gostaria que as horas voassem. Hoje não, amanhã e depois de amanhã também. E aí, segunda, terça e quarta. Porque quinta é o meu primeiro dia das minhas primeiras férias, as primeiras merecidas com o trabalho, as primeiras depois de um ano e meio muito cheio de informação, as primeiras depois que o MBA dos infernos acabou e as primeiras que eu realmente quero e preciso. E eu fiz milhões de planos, dos mais divertidos aos menos, com passagens por dentistas, oftalmologistas e afins, com extreme makeover agendado no salão, dietas programadas. Estou baixando todas as séries que o tempo me negou nesse período, a última temporada de ER, House, Greys Anatomy e tantas outras. Não vou conseguir ver nem metade, mas eu quero, quero mesmo, preciso.

Vou me aboletar na casa dos meus pais, onde as refeições seguem horários e são equilibradas. Onde eu até encontro chocolates, onde é mais frio, e há quem lave/passe minhas roupas. Vou cortar a comunicação com os demais, nada de MSN, nada de Orkut. Mentira. Mas seria bem bom. Vou esquecer da existência de alguns infelizes que só fazem me dar nos nervos ultimamente. Pensar na vida e assistir temporadas antigas de Seinfeld e Friends. Colocar a locadora em dia, assistir Marcia Goldschmith (ou whatever), Gaspareto e novelas mexicanas no meio da tarde. Malhação. Vou ver quem diabos é Romulo Arantes Junior, ou filho, ou sobrinho, o tal do moleque que pegou os travestis há um tempo atrás. Vou rever meus escritos do francês, assistir filmes sem legenda, retomar contatos importantes, por assim dizer. Atualizar meu currículo porque, sabe como é, nunca se sabe. E eu ando bem cansada mesmo. Das pessoas, em geral, de uma boa parte delas.

Vou visitar a Madame na selva de pedra e fazer um esforço sobre-humano pra não reclamar da vida. Vou tentar não gastar dinheiros, mas vou trocar o som do carro. Gravar CDs novos, essas coisas. Reassistir Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças. Adoro tanto esse filme. Talvez eu pare pra ver uns clássicos, mas eu nem acho que vai dar tempo. Eu podia fazer sabe o que? Ir numa vidente, ou coisa que o valha. Saber um pouco do futuro, acreditar em previsões felizes, fazer as unhas. Tomar banhos de espuma, assistir um pouco mais de televisão, descobrir mais alguns blogs legais pra ler. Ler os históricos de blogs recém descobertos. Ler no sol. Comprar bombons de banana que só vendem no shopping da cidade siderúrgica. Pra depois morrer de culpa por ter comido tantos, e em seguida me desculpar porque eu estou de férias, e eu mereço esses mimos. Eu realmente mereço.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Sonhei com o meu quarto, não esse, o lá da cidade siderúrgica, onde cresci, onde moram os meus pais, a minha avó, e onde está enterrado o meu cachorro. Estava em um grupo, fazendo um trabalho, desses bem de colégio, com papéis coloridos e gente reunida, sentada no chão, fazendo da cama uma mesa, a mesa de trabalho. Olhei pela sacada e vi o céu. Estava estrelado, e eu quase podia identificar pelo nome as constelações que nem conheço. As estrelas faziam desenhos, e um desses desenhos se moveu formando a figura de um homem, um esqueleto. O esqueleto desceu do céu, e eu pude ver que ele era suspenso por cordas, daquelas que suspendiam Ethan Hunt em Missão Impossível, o primeiro dos filmes. Ele vinha descendo e de repente parou na sacada do meu quarto. A essa altura, nem era mais um esqueleto, era um homem coberto com um uniforme branco, igualzinho a um power ranger. Estava filmando um comercial para a televisão e entrou filmando no meu quarto, e de repente eu era parte do comercial. Eu ficava constrangida, mas participava meio fingindo não ligar, assim, meio blasé. Me assisti na televisão e fiquei satisfeita com o resultado, me achei bem natural, bonita, até. No comercial que o power ranger que desceu das estrelas ia filmando. E então eu saí de casa com os meus papéis coloridos, em direção a uma rua bem conhecida lá na cidade e, ao tentar tirar minha câmera da bolsa pra fotografar a lua, que estava linda, deixei os papéis caírem. O Lázaro Ramos, que vinha passando, me ajudou a recolher os papéis. Eu agradeci, porque sou moça bem educada.

Pedi férias no trabalho.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

E então, no fim de semana, estava passando a maratona Friends. Eu adoro Friends, muito, tenho todos os box de todas as temporadas, fiz até uma super caixa handmade super linda, com fotos dos episódios mais marcantes, e etc. Era uma maratona, e era mais que óbvio que eu devia estar com a tv desligada, fazendo o projeto do MBA-que-não-acaba-nunca (mas que está acabando, acreditem!). E tinha um episódio em que o Joey e a Phoebe discutem sobre a existência ou não de altruísmo no mundo.

A Phoebe dizia que altruísmo existia, sim, que era perfeitamente possível você desejar algo bom para os outros sem obter qualquer ganho ou satisfação com isso. O Joey discordava, dizendo que a pessoa está SEMPRE pensando nela mesma, mesmo quando parece estar interessada somente no bem do próximo. E é mais óbvio ainda que eu concordo com o Joey. Eu já concordava antes, concordei durante e, no fim do episódio, quando a Phoebe se dá conta que ele está mesmo certo, eu concordei mais ainda. E a questão é que eu adoro ser legal com os outros. Adoro comprar presentes, adoro ter cuidado com as pessoas. Adoro. Mas a satisfação é minha, sempre, porque eu fico me achando a pessoa mais legal de todo o mundo. E adoro quando os presenteados concordam.

E aí ontem eu encontrei uma amiga, e eu estava devendo o presente de aniversário dela. E eu fiz questão de dar o cd que faltava pra ela completar a coleção do Placebo. E ainda gravei Hedwig, um filme que ela ama e que nunca saiu em DVD. Eu baixei, achei legendas e gravei, porque sabia que ela gostava. Coloquei no DVD, ainda por cima, outro filme, The Science of Sleep, do Michel Gondry, que nós duas adoramos, que fez Brilho Eterno, o filme mais legal de todos os tempos. Juntei com uma dieta maluca que ela queria, com alimentos com baixo índice glicêmico. Embrulhei com um papel de presente vermelho, de natal, com inscrições hohoho em prata. E entreguei, desejando, pra completar a gracinha, um feliz natal. E ela adorou, óbvio. E disse que foi o melhor presente de desaniversário* ever. E até deu um certo trabalho, mas valeu. Porque eu fiquei me achando mais legal ainda. E ela também.

*Sempre que a gente se encontra, há troca de presentes. Pode ser um adesivo, uma bobagem. Como na história da Alice, com o Chapeleiro Louco e a Lebre. E que de repente é desaniversário de todo mundo.
Há dois anos eu dormi com a TV ligada, um dia. Fiquei vendo um desses concursos de miss Brasil, de gosto mais do que duvidoso, exibido pela Band. Dormi, óbvio, porque naquela época as misses (será esse o plural para miss?) continuavam chatas, como sempre foram, como ainda o são, até hoje. Estava vendo esse troço machista, onde todas as garotas bonitas choram emocionadas, com seus cabelos cuidadosamente esculpidos em laquê, seus sapatos do Fernando Pires e suas faixas medonhas. Se o clichê há alguns anos para livro preferido era “O Pequeno Príncipe”, naquele ano, me lembro bem, livro de miss era “O Código da Vinci”. Nojo.

Mas é aquela coisa. O sono ia me vencendo, a opção na Globo era algo como Linha Direta, naqueles causos em que espíritos surgem em edifícios incendiados, e eu tenho medo de alma penada, hoho. Sintonizei na Band, concurso de miss. Não devo ter resistido 15 minutos acordada, não pus a TV no timer e dormi como um anjinho, enquanto Astrid Fontenelle dizia seus achismos sobre as belezas típicas dos estados do Brasil.

Dormi com a TV ligada, volume alto. Devo ter me dado conta disso por volta das 4 da manhã, quando acordei e finalmente desliguei a TV, onde algo de teor evangélico ocupava a grade. No dia seguinte, fui para o trabalho, vida que segue. E, à noite, ao retornar, recado do porteiro. “A dona Lourdes, do 310, está atrás de você.” Fiquei curiosa, a única Dona Lourdes que eu conheci era a minha tia avó, e ela tinha morrido há anos. Não tenho amigos no meu prédio. Não paro em casa, me reservo aos “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” típicos de uma moça bem educada no elevador. Seguro a porta quando alguém está carregando sacolas, sorrio para os cachorros e para algumas crianças que não me sejam ameaçadoras. Meu prédio tem muitos velhinhos, e eu até que acho isso bonitinho. E tinha uma tal de Dona Lourdes atrás de mim.

Liguei para o apartamento da senhora, atendeu uma velhinha e me passou um senhor esporro, dizendo que a minha tv ligada no silêncio da noite subiu o andar que nos separa e prejudicou seu sono. “Velhos sofrem de insônia, minha filha, e eu não consegui dormir por sua causa.” Concordei totalmente com ela, pedi milhões de desculpas, falei que ia tomar mais cuidado, e expliquei pra ela que era um concurso de miss, mas que ela devia concordar que eu não tinha como permanecer acordada assistindo. Dona Lourdes foi compreensiva, e desde aquele dia eu tomo cuidado com o volume, não por causa dos vizinhos deste andar, ou por causa do apartamento de cima, mas por causa da velhinha com insônia do terceiro andar. Nunca vi Dona Lourdes. Toda velhinha no elevador podia ser ela, não sabia. Até hoje.

Supermercado. Uma velhinha comprando queijo, pão, ovos e frutas. Fofa, baixinha, levemente acima do peso, com uma meia daquelas compressoras pra varizes, eu acho, cabelo branquinho, óculos escorregando por cima do nariz. Andava devagar, escolhia latas de conservas, checava preços e datas de validade. Não sei por que me chamou a atenção. Bonitinha, me lembrou tia Dadá, a tia avó mais querida que eu tive, e que morreu jovem, com 93 anos, um choque para a família. Na hora de pagar a conta, essa velhinha pediu que o supermercado levasse as compras pra ela, e deixou nome e apartamento: Bloco 5, apto 310. Nem precisei ouvir o nome. Eu sabia que era a Dona Lourdes. Pensei em me apresentar, saber mais sobre ela, dizer que eu sempre tomo cuidado com a tv pra não acordá-la, etc. Não fiz nada disso. Quem sabe, uma hora dessas, eu subo dois andares e me apresento?

terça-feira, 10 de julho de 2007

Madame Ç e os pequenos animais

Cheguei em casa, depois de um fim de semana fora. Encontrei um pernilongo, se bobear o mesmo que estava lá na sexta, enchendo de calombos meus pés e pernas, antes de eu viajar. Ele zunia desesperado, e eu fiquei com certa pena. Devia estar com fome, o pobrezinho.

Lembrei que quando eu era pequena, matava lagartas, lesmas e cigarras com requintes de crueldade. Uma vez, matei todos os filhotes de um ninho de passarinhos da rua. Minha avó chorou e eu prometi nunca mais fazer isso.

Eu congelava formigas, e elas voltavam a viver. Colocava no microondas e elas não morriam.

Arrancava as asas das joaninhas, para que elas nunca voassem. Tinha, dentro de um vidro, a segunda maior coleção de joaninhas da rua.

Meu avô cortava rabos das lagartixas, pra que eu me divertisse enquanto eles ficassem pulando desconectados do corpo delas. Ontem, tinha uma lagartixa no meu quarto. Tirei ela de lá com cuidado pra não machucar. Outro dia tinha outra, gigante, perto da minha cama. Fiquei horas com o cabo de uma vassoura, dando batidinhas na parede, pra que ela tomasse de volta o rumo da janela.

Uma vez entrou um daqueles grilos bem grandes e verdes, que as pessoas chamam de esperança, lá no meu quarto. O problema é que eu moro no primeiro andar, que é exatamente a altura que esses bichos alcançam pra entrar. Pois bem. Isso foi antes, bem antes de eu ficar fofa. Entrei no quarto e a bicha estava lá, no alto da parede, verde, fluorescente, radioativa quase. Óbvio que eu não iria lidar com um inseto gigante, então achei melhor abater o inimigo. Raid. Se mata barata, pensei, mata esperança. Comecei a espirrar o conteúdo do vidro sem dó. A esperança se contorcia, e eu continuava espirrando. Uma água verde, com toda a clorofila de todas as plantas que ela já tinha comido, começou a sair dela e escorrer pela parede. Mas ela não se rendia. Resistiu durante muitos minutos, até que o meu Raid acabou e eu peguei um outro, que trazia no rótulo a inscrição Mata Tudo. E a esperança não morria. Enquanto eu espirrava o líquido nela, fazia piadinhas com a idéia de que a esperança é a última que morre. E ela lá, na parede, se agüentando. Ao final do segundo vidro, eu me rendi. Pequei um jornal, transferi a guerreira combalida pra ele e joguei pela janela, na jardineira do prédio. Tenho pra mim que ela não morreu até hoje, mesmo depois das atrocidades que eu fiz. E torço, secretamente, para que ela realmente tenha sobrevivido. E que tenha me perdoado.

Barata eu mato mesmo. Sem pena, com muito nojo e os gritos de sempre. Mas mato.
Sempre de acordo com o meu manual.

Sem mais.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Carta aberta: Excelentíssima senhora J. K. Rowling.

Antes de começar essa carta, preciso informá-la: não li Harry Potter. Não li nem o livro um, nem o dois, nem o terceiro e nem nenhum dos outros. Claro que tem exemplares na minha casa, e confesso que nem é por implicância, é mais desinteresse mesmo. Tipo, o livro ta lá, uma hora dessas eu até podia escolhê-lo no meio dos outros. Cheguei a pensar em comprar os exemplares em inglês, pra treinar, não perder vocabulário, essas coisas. Mas acabei escolhendo os do Nick Hornby, muito legais, a senhora entende, né?

Bem, voltando ao Harry, eu levei a minha prima pra assistir o primeiro filme, e achei até bem engraçadinho. Tentei alugar o segundo em DVD, mas acabei dormindo naquela parte do carro que voa, chatérrima. Não me interessei pelos outros. Sei pela imprensa quando são lançados, esbarro em garotas de treze anos vestindo capas pelos corredores da Fnac. Tipo, eu até que não me incomodo com o fato de Harry Potter existir. Fico feliz que as pessoas fiquem felizes ao ler suas aventuras junto com a Hermione e o menino ruivinho que eu não lembro o nome, mas que parece bem legal.
Acontece que acabo de ficar sabendo de uma coisa e isso muito me preocupa. Como assim Harry vai morrer no próximo livro? Tipo, eu acreditava na senhora enquanto pessoa que só ganhava dinheiro como conseqüência pela boa ação de rechear o imaginário infantil (e, bem, alguns nem tão infantis assim) com histórias maravilhosas sobre um mundo de mágicas, feitiços e amizade verdadeira sobrepondo obstáculos. Pensava, essa senhora é legal, ela escreve bem, pensa com carinho em detalhes e aventuras e diverte criancinhas. Mas qual não foi a minha surpresa ao ver que o livro que está pra ser lançado, e que será o último da série, o oitavo, o nono, nem sei, vai matar o bruxinho com cicatriz na testa.

Sinto-me na obrigação de orientá-la, não como fã, mas como alguém que ama contos de fadas e histórias ditas infantis acima de muita coisa. Eu cresci com um livro de capa dura com todos, repito, TODOS, caixa alta, os Contos de Grimm embaixo do braço. Lia uma história por dia, duas. Explicava que a Madrasta tentou matar a Branca de Neve não uma, mas três vezes, e que a maçã foi apenas a tentativa que deu certo. Desfiava em detalhes as passagens onde as irmãs más da Cinderella decepam dedos do pé e partes do calcanhar para colocar seus pés no sapatinho de cristal. Mas NUNCA, em momento algum, os irmãos Grimm mataram uma princesa. Elas sempre viviam felizes para sempre, aprendiam com seus erros e encontravam os príncipes. O próprio Rumpelstiltskin só morreu porque se rasgou ao meio, porque ficou puto da princesa acertar o nome dele. Um suicídio, por assim dizer. E mesmo nesse momento, hum, dramático, os irmãos queridos Grimm arrumaram um jeito de fazer a morte ficar engraçadinha, já que a princesa ia ficar feliz para sempre.


Mas eu queria entender de onde foi que a senhora tirou a idéia insana de que matar o pobre Harry, já tão sofrido, órfão, com tios malvados e que finalmente está “se encontrando” na vida, pode ser legal. E as criancinhas, como ficam?

Eu sei que você, J.K., vai vir com aquela clássica desculpa de que é importante ensinar sobre morte and stuff aos pequenos. Que é superimportante aprender a lidar com perdas. Mas isso, dona Rowling, serve pra quando morre o vovô, a vovó, que ficaram velhinhos e foram morar lá no céu junto com o senhor Disus. Tudo bem. E, caso a senhora ainda não tenha notado, a parte da explicação cabe aos livros de auto-ajuda para pais. Nenhuma história infantil explica às crianças como lidar com o amiguinho que morreu porque fez uma travessura, ou ficou doente. Crianças não devem ser preparadas para a morte de outras crianças. Isso vai contra o natural, sei lá, aposto que um psicólogo vai saber te explicar isso melhor que eu. Deixa os pobrezinhos acreditando que o Harry existe, e que vai crescer, e que é feliz, ainda que não tenha mais livros continuando essa história. Como assim matar o Harry, dona escritora? Tudo bem que a história é sua, mas isso não é coisa que se faça, não senhora.

Os irmãos Grimm deixaram as princesas serem felizes para sempre, não deixaram? O Lewis Carrol botou a Alice nas maiores enrascadas, mas me diz se a rainha de copas cortou a cabeça dela no final, hein? Me diz? O Mowgli voltou para a cidade. Tistu, o menino do dedo verde também transformou Mirapólvora em Miraflores, e viveu feliz. A Rapunzel foi feliz, o Nemo foi feliz, Lilo e Stitch, felizes. Pegou?

Então, seja coerente com aquela senhora que se solidarizou com os pais de Madeleine ainda outro dia, e deixe o pobre Harry feliz, e vivo. Não tem sentido ser legal com os filhos desaparecidos dos outros e usar o seu próprio de mártir.

Sinceramente,
Madame Ç.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Prestem muita atenção na história que eu vou contar. É história triste, já adianto. Não que ela faça alguma diferença na vida de qualquer um que se disponha a ler este post, mas ela afeta a mim, sempre, pobrezinha, há, deixa ver, hum, 24 anos, com uma piora significativa há 21 anos.

Toda a paz que eu tive na minha vida acabou ainda antes dos 4 anos de idade, quando nasceu minha irmã. Eu não tinha pedido irmãos. Eu gostava de ser filha única. E ela veio, e eu fui convencida de que dividir os meus brinquedos com a minha irmãzinha era legal. Não era.

Tentei barganhar, pedi que fosse um menino, ao menos. Tarde demais, o bebê era menina. Ganhei uma boneca, daquelas de corpo de pano e cabeça, braços e pernas de plástico, sem cabelo, vestida de azul. Uma boneca menino, prêmio de consolação. Dei a ela o nome de Eduardo, e a vida seguiu. O tempo passou e eu ainda queria um irmão. E eu pedi por aquilo que, hoje, viria a se tornar a razão do meu desassossego.

Ele veio morar comigo há coisa de seis meses. Dividam o espaço, meus pais disseram. Ele usa o meu computador, rouba as minhas meias e enche de músicas o meu HD. Tudo bem, imaginava, não posso ser babaca e tomar dele o acesso ao único computador da casa, que por acaso é meu. E ele espalhou fotos, baixou programas. Diz que a música que eu ouço é um lixo, pede carona e usa meu shampoo de pitanga. Desaparece com a caixinha de fio dental, come o meu queijo cottage e faz a barba na pia. Tudo bem. Irmão, se não atrapalhar a vida da gente, é porque veio com defeito de fabricação.

Eu comprei uma escova de dentes novinha, lilás, pra substituir a minha. E ele me acorda assim: “Tata, joguei a minha escova velha fora e peguei aquela nova que estava na sua gaveta.” A minha escova, cuidadosamente escolhida, pronta para a substituição de praxe de cada 3 meses, o que seria exatamente aquela manhã. A manhã em que ele resolveu trocar a dele. Ele me chama de Tata, o larápio insensível.

Mas o pior é uma fixação absurda e inexplicável que o indivíduo tem com pilhas. Desde pequeno, ele rouba pilhas das gavetas, dos aparelhinhos espalhados pela casa, dos controles remotos. Um dia, meses atrás, depois de uma semana cansativa, num sábado de tarde, eu me sento no sofá e pego um dos muitos controles da casa, o que comanda a net. Achei o controle remoto leve, estranhei, e qual não foi a minha surpresa ao descobrir que ele estava com um imenso vazio onde deveriam estar as pilhas A3, que eu mesma reponho sempre. Nada. Ele estava viajando. Comprei mais pilhas, passei um senhor esporro, reclamei com pai, mãe, toda e qualquer autoridade que me veio à mente no desespero, ameacei tirar a mesada, o acesso ao computador, etc. E ele jurou que não faria de novo, mas é que por coincidência as pilhas do mp3 player dele eram daquele tamanho e o aparelhinho consumia mais energia que qualquer outra coisa. Eu fico me perguntando que espécie de lógica é essa que leva um homem feito com 21 anos nas costas achar que as pilhas de um controle remoto não estão em uso. Elas não estavam na gaveta, pelamordedeus, estavam no controle. O controle com pilhas serve para passar comandos à televisão. Que serve, por sua vez, para ser assistida, e tem especial utilidade em casa de Madame Ç.

Achei que ele tinha aprendido a lição, relaxei. Comprei pilhas novas, repus. Dois meses depois foi o controle do DVD Player que ficou leve. Ele, o irmão mau-elemento, novamente em viagem. Repetiu-se o ritual com o telefonema, os gritos, as ameaças, as reclamações com a mãe, depois com o pai, que garantiram um outro esporro daqueles. Comprei pilhas, repus. Ele nega até a morte a autoria desse delito específico. Mas moramos eu e ele, e eu sei que eu não fui. Whatever. Larápio.

E então, neste último fim de semana, novamente no sábado, pego eu o controle remoto da net, aquele vítima do primeiro roubo. Aperto os botões e nada acontece. Ué?! Leve ele não está. Viro o controle, abro a tampinha do compartimento de pilhas. Há pilhas. Pilhas velhas, descombinadas, inseridas – PASMEM – ao contrário. Tipo o positivo com o negativo. Tem um desenhinho em alto relevo explicando a posição, e ainda assim ele recolocou as pilhas ao contrário. Óbvio que elas não funcionavam. As pilhas que EU tinha comprado e reposto eram iguais, tipo da mesma marca e, importante, estavam na posição correta. Essas pilhas foram para o mp3 player do maluco, e ele me garantiu que elas também já acabaram. Liguei para o meu pai, uma última esperança pra que um outro esporro viesse e eu pudesse me sentir, de alguma forma, vingada. Meu pai, tadinho, aproveitou que o assunto veio à tona e disse que era pra eu avisar ao ladrãozinho que ele devolvesse as pilhas recarregáveis roubadas lá de casa no último fim de semana. E eu me sinto absolutamente desamparada, helpless, nas mãos de um maníaco ladrão de pilhas.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Quarta feira. Há tempos atrás esse seria um dia normal, comum, apenas ali, recheando a semana. Um dia sem graça, simplório, tacanho, medíocre e sem personalidade. Acontece. Mas aí chegou o estagiário insolente por aqui, provando por A mais B sua teoria de que as quartas feiras são dias amaldiçoados, do demo, que apenas existem para ferrar com a vida dos desavisados. E ele começou a me mostrar que as coisas bizarras, chatas pra caramba, sempre dão um jeito de acontecer, não na terça, não na quinta, mas na quarta. Sempre na quarta.

Eu fiquei doente numa quarta. Meu MBA dos infernos é sempre quarta e hoje, especialmente, é dia de uma prova absolutamente imbecil. Alguns feriados acontecem na quarta, só para que não seja possível emendar. Eu acordo, me arrumo, ponho minha sapatilha de bolinhas e, ao escovar os dentes antes de sair, sinto o pé meio gelado. Olho para baixo, estranho, meu pés estão molhados. O chão está molhado. A água pingava de dentro do armarinho da pia, ok, abro a porta e uma pequena cachoeira se forma, límpida. A fonte? O cano da pia, que o zelador do prédio - claramente mais bem informado que eu – não tardou a me apresentar. “É o rabicho, dona madame Ç. Só comprar outro que nóis troca pra sinhora.” Rabicho. Ok. Rabicho pra mim é diminutivo de rabo, um fiapinho no fim da coluna dorsal dos mamíferos. Mas, aparentemente, também se trata do cano maldito que pinga sem parar, agora, nesse exato momento, lá na pia do meu banheiro. Quarta feira, senhores.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Madame Ç foi abatida por uma gripe monstra. Ela vinha se gabando há meses, debochando dos combalidos, dizendo que não tinha nada de gripe "pra mais de dois anos", vejam só. Via os narizes que escorriam e falava que tem que comer direito e todas as outras coisas que ela não faz. E o irmão de Madame Ç trouxe o vírus maligno para dentro do calor do lar doce lar e ela se viu, anos depois do último embate, frente a tão horroroso e maligno vírus. Não fez nada, pra que fazer alguma coisa, dizem por aí que gripe com remédio cura em sete dias e sem remédio cura em uma semana. Confiou no sistema imunológico, em seu pequeno exército que não tardaria a rumar para, sei lá, os gânglios / QG principais, que se organizariam e resolveriam o "incômodo". Isso foi num domingo. Segunda passou, terça veio, quarta foi e quinta ela piorou. Providencialmente era dia do mba que não acaba nunca. Não vou, hehe, estou doente, boa desculpa, iaê. Foi pra casa, viu seriados, fez downloads, comeu frango agridoce e coca-cola de um suspeito China in Box. O irmão melhorou, viajou. Madame Ç piorou, mas foi trabalhar bonitinha. Chegou no ambiente gelado e avisou que estava morrendo. Ninguém acreditou. Ela queria mesmo era ser mandada pra casa pela chefa. Mas ela não se apiedou, e Madame Ç fungou, tossiu, espirrou, reclamou, chiou, tossiu mais um pouco. E foi pra casa no fim do dia. E matou aula de francês, e se entupiu - finalmente - com um naldecon noite. Arrastou-se pela casa com o edredon nas costas durante todo o sábado, tomou um daqueles banhos bem quentes de horas, achando que ajudava. Domingo parecia melhor, mas a outra segunda veio, e a garota estava - ainda - sem sinais de melhora. A cabeça latejante se juntou aos sintomas iniciais, a pele ficou mais quente que o normal. Toda a equipe havia sido contaminada na sexta feira última, aquela da piora. Todos tossiam e espirravam, e assoavam os narizes cheios de muco, e tossiam. Madame Ç ficou meio puta, porque os holofotes se dividiram e todos, agora, estavam sofrendo. Mas não pôde evitar um sorrisinho, daqueles de canto de boca, e dizer para a chefa que se ela tivesse tido a *decência* de me mandar pra casa naquela sexta feira fatídica, teria na segunda feira pessoas saudáveis na equipe. A culpa não era minha, vejam bem, era dela. Da chefa maligna, capitalista, que grita "foco" como chibatadas, mandando que as pessoas produzam. Que também estava gripada, hehe. E a garota tomou mais remédios, e dividiu suas vitaminas C efervescentes com seus co-workers. Na terça feira, o estagiário insolente sucumbiu. Todos os outros se mantiveram firmes em suas funções. E Madame chiava, e tossia, e espirrava, e maldizia o ar condicionado que até, em sinal de piedade, abrandou a geleira habitual. A quarta feira veio, e a garota resiste, combalida, meio morta meio viva, tentando obedecer a outra garota, que falou que é muita vergonha demais mesmo que ela deixe o blog assim, às moscas. Essa foi a gripe mais longa de todos os tempos. Está sendo.

Virá o feriado de corpus christi e eu só penso no meu corpus, dolorido, ferrado, sofrido.

Peço que elevem suas mentes e seus corações ao tal de Disus e façam uma prece por minha saúde. A física. A mental, não tem reza que conserte. Perguntem à outra Madame. Ela sabe.

(Se sobrar um restinho de tempo na prece, peçam por Paris, enjaulada, sofrida, sem Tinkerbell para praticar amizade e sem paparazzi. Paris precisa de nós.)

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Eu tento pensar em pessoas feias e me lembro que, depois de cinco minutos, quando elas ganham três dimensões, voz, personalidade, movimentos, ninguém é mais tão feio assim. Isso acontece, pra mim, com qualquer caso de extremos. Se a pessoa for muito bonita, cinco minutos depois ela vai ser normal, comum, bonitinha. Perde o brilho. Se a pessoa for muito feia, depois de cinco minutos vai ficar legal, normal, feinha. Ganha brilho. Todo mundo, na minha cabeça, depois daqueles cinco minutos de choque, está fadado ao equilíbrio. Os muito belos passam brilho para os muito feios e todos viram cor pastel.

O fato é que eu tentei definir a minha forma de classificar espécimes humanos que trombem comigo por aí. E, se há algum tempo, a parte estética até tinha alguma expressividade, hoje nem tem mais. Eu me guio por preceitos básicos de comportamento. Não gosto de gente mal educada. Não precisa ser simpático, não precisa saber se portar em frente a estranhos. Gosto de gente que diz bom dia, que segura a porta do elevador enquanto eu me enrolo passando o cartão na maldita da roleta. Gosto de quem dá a passagem, de quem se veste cobrindo partes do corpo que eu não me interesso em ver, como barriga e afins. Depilação em dia, por favor. Olheiras cobertas com base, corretivo, pancake, argamassa. Se eu faço, não me digam que não dá. Cabelos domados, primordial. Pomada, leave in, produto é o que não falta. Odeio quem se veste de forma vulgar, chamativa. Sempre fui adepta da teoria de que menos é mais. Não gosto de quem invade espaço dos outros. Mas, em geral, o que mais me emputece é falta de educação mesmo. Não segurar a porta do elevador é muito ruim. Há algum tempo, um dos diretores da empresa em que eu trabalho, mesmo tendo me visto logo atrás dele, entrou no elevador e foi embora. Sem mim. Achei tão horrível isso. No dia seguinte, a mesma coisa aconteceu, só que eu era a privilegiada, perto do elevador. Fiz questão de segurar a porta. E de dizer bom dia.

Atualmente, essa pessoa é uma das mais feias que eu conheço.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

O fantástico (?) mundo dos sonhos de Madame Ç.

Sonhei que a professora do curso de MBA que nunca acaba me ligava, pra dizer que eu tinha colado na prova. Ela ligava anonimamente, e eu descobria que era ela me ameaçando por causa da gargalhada de vilã de história infantil. Ela não tem nada de vilã. É meio afetada, aliás muito. É ex mulher do coordenador, algo assim. Tem franjinha, e isso seria uma coisa que eu criticaria, se não tivesse adotado uma na minha própria testa.

Fato é que ela me ligava, e eu estava na ilha do lost, tomando sol ao lado do Jack. Eu, que odeio sol, no sonho, estava com um biquíni pequeno, e eu olhava pra mim mesma e até me achava digna daquele biquíni. E era o Jack sentado do meu lado, caramba. Não era o Sawyer. O lance é que eu acho o Jack* mais interessante MESMO, mas em personalidade o Sawyer dá banho. Lost, série que eu não assisto desde o episódio 6 dessa temporada, a 3ª. Até andei ouvindo que depois de uns episódios bem mornos, da saída patética do Rodrigo Santoro, a história está ficando legal de novo. Mas eu estou numa fase Heroes, e não sobra tempo pra ver outras coisas. E, no sonho, eu estava sentada no sol, e o mar estava agitado, e as pessoas passavam nadando, como se tudo fosse um grande clube, daqueles bem cafonas. E eu estava na praia, ao lado do Jack, e a professora de franjinha ligava, pra dizer que eu tinha colado. Na prova do MBA. Que é mais pesadelo que qualquer outra coisa.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Às vezes, a vontade é gritar. Um grito único, isolado, pra quebrar o marasmo dos que fingem trabalhar tranquilamente. Um grito que sacuda tudo. Que assuste, que faça o coração disparar. Que dê medo, que provoque risos, ainda que contidos. Que provoque perguntas, mas não aquelas clássicas, do tipo “por que ela gritou?”. Que provoque engulhos, que todos se dêem conta de que estão quietos, e que deveriam gritar. Pra assustar, pra sacudir, tirar as coisas do estado normal. Os gritos deveriam ser todos no sentido “Por que eu não gritei antes?”. Todos deveriam gritar, mas ninguém parece se dar conta disso. Será que essas pessoas são felizes? Será que não querem chutar tudo para o alto, ou pelo menos gritar? De dor, de tédio, de desespero mesmo. Um grito daqueles, meio chorando, com força. Só pra mostrar que estão vivos, meu deus. Será que estão vivos? Se estão, por que não gritam? Será que essas pessoas todas são felizes? Fazendo o que fazem, dia após dia? Eu, definitivamente, quero gritar.

E permaneço calada, e finjo trabalhar tranquilamente.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Free Paris

Enquanto a garota de lá suspira com idéias de voltar a Paris, e a garota de cá surta com idéias vindas de Paris, traduzidas para um inglês macarrônico em uma conference Call, dos franceses meio loucos que agora mandam em tudo. Paris. Pra uma, sonho. Pra outra, pesadelo.

A Paris que merece atenção agora, no entanto, é outra. Loura, magra, bêbada, ex-amiga de Britney, ex-amiga de Nicole Ritchie, inimiga declarada de Lindsay Lohan e aquela uma que fazia a Marissa, do The OC. Paris andou fazendo bagunça, bebendo em excesso, dirigindo sem habilitação. Paris precisa de amigos. Suas amigas estão ocupadas demais vomitando, ou entre idas e vindas da reabilitação, entre cabeças raspadas e gritos de “eu sou o anticristo”. Paris está só.

Eu já ia com a cara de Paris há tempos. Nada melhor nesse mundo do que não ter o que fazer, e ter dinheiro. Ela mora em um hotel, eu assisti ao seu E! True Hollywood Story, com depoimentos da tia, da mãe e de amigas. Não precisa trabalhar, pode apenas dilapidar o patrimônio dos Hilton. Ela pode dilapidar o patrimônio durante toda a sua vida, full time, e ainda assim passará seus últimos anos em um daqueles centros especializados em idosos, tomando champanhe e aguardando sua hora. Paris conseguiu sair sem grandes arranhões do episódio do vídeo de sexo com o namorado oportunista. Guardou sua dor e seguiu em frente. O maligno deve lucrar com isso até hoje. Paris confiou em Nicole, sua amiga dos tempos de The Simple Life, aquele reality que eu nunca quis ver, e Nicole, provavelmente drogada em uma festinha em casa, achou que seria divertido exibir a amiga em um telão, novamente em vídeo. E a amizade se partiu. Paris e Nicole romperam, é possível que a loura bêbada até tenha vertido algumas lágrimas de decepção, mas logo logo, ao pipocarem na mídia especializada (?) as notícias de que a pobre filha de Lionel Ritchie padecia com a anorexia, Paris não se fez de rogada. Pegou seus muitos dinheiros e destinou-os à amiga em apuros, em forma de pizzas, grandes, gordurosas e suculentas, que chegavam à casa da enferma, diariamente, no mesmo horário. Paris é brilho, eu pensava. A garota concordava.

E quando Britney se viu só, recém-separada, gordinha, com dois filhos pra criar, Paris disse: I’ll be there for you, honey. E esteve lá, e levou-a de limusine nas baladas todas dos Estados Unidos, e deu bebida pra ela, e apresentou seus amigos maluquinhos, e disse que a vida continuava, e que ela precisava “move on”. E a Britney pegou o então namorado da loura com nome de cidade, um grego maluco que parece que também é podre de rico. Eu lembro da Britney que queria casar com o príncipe William, que cantava “i’m not a girl, not yet a woman”, mas essa que Paris, querida, recolheu da sarjeta, se muito, cantava que era escrava de alguém em um clipe meio cheio de lama. E Paris não se importou, e disse que tudo ia ficar bem. E Paris perdeu o namorado. E aí a Nicole pediu perdão pelas maledicências todas, Paris chorou e perdoou, criatura nobre que é.

E elas comemoraram, e beberam champanhe, vodka, whisky, latinhas de energético. E Paris pegou o carro e foi presa. E saiu em condicional, bebeu, pegou o carro e foi presa, e perdeu a habilitação. E pegou o carro de novo, e agora terá de ficar atrás das grades mais de um mês. Grounded, de castigo, whatever. E papai Hilton inventou de deserdá-la, como se as coisas já não estivessem feias o suficiente. Eu tenho pena de Paris, sim senhor. Muita pena de Paris.

Por isso eu queria uma camiseta “Free Paris”, pra usar agora, nesse exato momento. E eu queria fazer um abaixo-assinado pra que o pai dela tivesse compaixão, e continuasse soltando seus dinheiros na mão da pobre loura. E que a polícia lá dos estados unidos não prendesse a pobrezinha, e que ninguém mais fizesse vídeos de momentos íntimos para conseguir dinheiros depois, e que nenhuma amiga nunca mais colocasse as mesmas cenas no telão para divertir seus convidados. E que nenhuma amiga, e nem muito menos a Britney, voltasse a roubar seus namorados, que a Cameron Diaz parasse de dizer que está feliz que ela vá para a cadeia, e que todo mundo continuasse dando bebida pra ela. Porque Paris é café-com-leite, Paris é brilho.
E se eu resolvesse, hoje, durante a pós graduação que não acaba nunca, me mudar do lugar que eu sempre me sento e sentar ali, na outra fileira, bem no lugar da loura frequentadora de academia? Sim, aquela da briga, do mega barraco inexistente no elevador, quando eu resolvi expor meus profundos conhecimentos sobre frequentadores das academias do bairro, para a audiência errada? Eu podia me esforçar para sair do trabalho na hora, e chegar antes da aula um pouquinho, e escolher aquele lugar. Bem na quina da fileira, do lado oposto ao que eu sento. O lugar dela. As pessoas escolhem sempre os mesmos lugares, fato, desde o colégio. Eu sempre escolhia me sentar lá atrás, e depois, lá pelo segundo semestre, era categoricamente convidada pela professora a me sentar lá na frente, lugar fixo, para diminuir a conversa. Isso me lembra o bordão dos dias atuais, dito sem a menor cerimônia, para os, agora, adultos da equipe: foco, galera, foco. Minha vida inteira me mandaram ter foco. Será que ninguém entende que, se a necessidade é alguém com foco, eu não sou a pessoa certa? Fui expulsa da sala do balé, já disse, aos seis anos. Uma pessoa que não tem foco aos 27, e que já não tinha foco aos seis, deve escarar isso não como um defeito, mas como um traço de personalidade. Olá, eu sou Madame Ç, eu não tenho foco.

Mas então, tentando voltar ao assunto, eu queria me sentar lá. No lugar da loura envelhecida, com roupa de menininha, cabelos compridos no meio das costas, bíceps e tríceps em ordem. "Personal trainer", ela disse, acho que tentando se justificar pra uma pessoa que claramente despreza aquele universo. "Eu não vou para a academia.", disse também. Cara, é óbvio que ela vai. A ofensa toda do comentário infeliz no elevador da discórdia calou fundo em seu coração. E ela fica tentando se justificar, meio que fazendo graça, pra angariar simpatizantes à sua causa. E eu sou aquela que disse que só malha puta nas academias do bairro. A anticristo de uma turma de siliconadas, de chapinha, pingentes, bíceps e tríceps. Eu nunca tive tríceps, veja bem. Nem sei se tenho músculos. Acho que devo ter, porque é tipo default no ser humano, mas fato que eles nunca me serviram mesmo. Porque o meu negócio é cinema, controle remoto, computador. Pessoas sentadas, jogando conversa fora, boa música, boa comida. E eu - novamente correndo o risco de generalizar - acho que essas pessoas malham tanto porque não têm muito assunto mesmo, no sentido de algo que fuja à contagem básica de calorias ou quantas claras de ovo ainda precisam comer naquele dia. Eu tentei ir para a academia uma vez. Ou duas, ou três, não interessa. Pode até ser que eu volte a tentar. Mas fato é que eu queria entender o que acontece com essas pessoas, que a academia tem de tão legal.

E a loura do lugar fixo na sala de mba, que se justifica nas bobagens que fala com um "eu sou burra, gente, eu sou loura" continua a me dar nos nervos. E eu queria me sentar no lugar dela, assim, só pra provocar.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Episódio de hoje: Meu carro, filho meu. Ou Madame Ç anda de ônibus.

Impressionante como a gente se apega. A gente se apega às situações, às pessoas, à rotina. No meu caso, o apego atende pelo nome de tistu, um carro fofo e azul que me leva pra onde eu quero já há quase 4 anos. Já andei muito de ônibus, já fui de precisar pegar dois ônibus para ir e mais dois para voltar da faculdade. Saía de casa com uma antecedência absurda, pra não correr riscos de atrasos e etc. Fiquei cheia de manhas, do tipo não sentar na janela no verão, porque ônibus têm baratas – e meu manual serve muito pra uso em casa, mas nada pra uso na rua. Meus sapatos acabavam-se com uma rapidez incrível, e eu fui aos poucos abandonando aquelas frescuras fofas de ser menina, de usar sandalinhas e saias. Andar em ônibus não é para leigos, não senhor. Tem que ter as manhas de se equilibrar quando o motorista faz as curvas, se desviar dos engraçadinhos, saber o ponto exato de puxar a cordinha e torcer mesmo para que o motorista resolva parar no ponto e não te faça andar muito. Tem que ter a manha de passar protetor, porque sol em ponto de ônibus queima mesmo, e deixa a marquinha do relógio e da blusa, e dos óculos. Tem que sair de casa com uma antecedência maldita, porque ônibus pára de ponto em ponto, e leva o dobro de tempo pra completar o percurso.

Eu não me lembrava de nada disso e, hoje de manhã, ao sentar toda pimpona no banco do motorista, ao virar a chave e – horrorizada – descobrir que o carro não ligava, tive que me recolher à minha insignificância e andar até o ponto. Pensei que podia ser divertido, tentar lançar a pollyana e pensar em como foi mesmo maravilhoso que tistu tivesse dado zica dentro do prédio, em segurança, paradinho na vaga, e que mais maravilhoso ainda era que no meu prédio viva um dono de oficina, o senhor Teófilo, malandrão, a cara do pai da família buscapé, que se prontificou a mandar um bom mecânico à minha residência, e que fará, por muitos, MUITOS dinheiros, o carro funcionar ainda hoje. Always look on the bright side of life, Monty Python, isso tinha que servir uma hora. Senhor Teófilo, alguém que Ilminha se apressaria em chamar de fofo, prometeu resolver tudo por uma módica importância de algumas centenas de reais.

E eu fiquei meio pão-duro nesses últimos tempos, encasquetei com a idéia de guardar dinheiro, e venho operando em modo econômico, sem novos sapatinhos, sem novos casaquinhos, sem lançamentos em DVDs de seriados. E é óbvio que isso incluía a idéia de pegar um taxi até o trabalho. Não. Vou de ônibus, é tão pertinho, é bom mesmo para perder a frescura. Já peguei um milhão de ônibus na minha vida, já atravessei a cidade, já fui parar na ilha do governador, eu sempre me virava, pensei. E peguei o ônibus, dois reais, para o trabalho.

Não tinha lugar, modos que tive que ficar em pé. Aquelas barras são tão engorduradas, disso eu me lembrava muito bem. Se você ficar pensando em bactérias, não anda de ônibus nunca mais. As pessoas são todas estranhas, tem sempre alguém te encarando, olhando fixamente. Eu não me lembrava que tinha que prender o cabelo porque, principalmente quando você é um dos que está em pé à espera de uma vaga, as janelinhas superiores jogam toda a sorte de vento na sua cara e o cabelo voa para todos os lados, e se despenteiam mesmo. Tem que escolher ficar em pé em um lugar onde as pessoas tenham cara de não estar indo para o mesmo lugar que você, para que quando elas se levantem rumos aos seus destinos, você possa se sentar bonitinho e, quem sabe, tentar relaxar no resto do percurso.

Antigamente, eu era uma boa menina que andava de ônibus e chegava na hora nos lugares, porque me programava pra sobrar tempo. E enchia a cabeça do meu pai. Porque eu precisava muito de carro. E quando teve o troço com o 174, eu usei como argumento, e quando teve um engarrafamento que me fez levar 4 horas do flamengo para a barra, eu usei como argumento. Eu queria ar-condicionado, mais que isso, eu queria sapatinhos que não ficassem gastos tão rápido, e música de qualidade. E um dia, não mais que de repente, o carro veio. E eu abracei as frescuras todas, as sandálias de tirinhas finas, as saias de tecido, CDs e mais CDs. E comecei a chegar atrasada, porque de carro tudo é tão rápido, pra que tanta antecedência? Whatever.

E hoje o carro enguiçou. Depois de 4 anos quase inteiros, muita sorte essa ter sido a primeira. E eu fui de ônibus, e voltei também. E fiquei tentando entender por que diabos - hoje - eu olho para esse universo com tanta estranheza. Durante os 33 minutos de um trajeto que, de carro, eu faço em 13, eu olhava para a cara das pessoas, com seus MP3 e seu sono tranquilo, com a cabeça batendo nos vidros com o sacolejar da viagem, e pensava. Eu dormia em ônibus quando fazia o doce trajeto de volta ao mundo em 80 dias, ou nas duas horas e quinze que separavam a minha casa do estágio na agência de publicidade. Eu ouvia música e pensava na vida. Eu abstraía das barras engorduradas e das pessoas. E me dei conta de que a gente se apega. A conforto, a frescura, ao ar-condicionado e ao espelhinho no pára-brisa, tão bom pra conferir se o rímel está ok. E, quando o telefonema veio dizendo que o carro estava pronto, na garagem, esperando por mim, não contive a alegria. Porque a gente se apega. Ao carro, ao controle da própria velocidade média, à temperatura adequada para garantir o conforto no calor infernal de um rio de janeiro mais quente a cada dia. Ao carro, mesmo.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Espaço no cérebro.

Tudo o que eu quero fazer hoje em dia, paro antes e penso. Vai ter espaço? Espaço no cérebro, me refiro. Porque eu ando tão incrivelmente cheia de coisas na minha cabeça que as associações todas me trazem de volta para janeiro desse ano, quando o meu computador surtou e precisou ser literalmente apagado.

Não é que ele tenha precisado ser apagado porque ele surtou, mas ele já vinha tendo atitudes estranhas há tempos. Eu tentava descompactar o disco e ele se confundia, e ficaria preso pra sempre naquela tela de quadradinhos coloridos, sem nunca terminar a tarefa. Talvez ele seja como a dona, DDA, e ache essa história de descompactar meio chata, e prefira se distrair com coisas menos relevantes e mais divertidas. Porque eu funciono de forma relativamente simples. Se não for divertido, se eu achar que ver sessão da tarde da globo pode ser mais legal, não vai haver nada nesse mundo que me demova da idéia de não produzir. E eu não produzo.

Também não é tão sério assim, apesar de já ter me metido em várias situações bizarras. Eu já fui expulsa de uma aula de balé aos seis anos de idade, a gritos, por um professor espanhol louco, porque enquanto ele tentava explicar como deveria ser o exercício, eu gritava para as outras meninas que todas deveríamos ir para a janela e olhar a “princesa”, cachorra do vizinho. Se isso não for DDA, não sei o que é. Me rendeu uma humilhação terrível, expulsa de sala, da aula de balé. E eu tinha seis anos. Meu computador também não me obedece, e eu vinha atolando-o de assuntos, fotos, downloads, músicas, cookies, e ele não resistiu. Começou a mandar mensagens desconexas e eu achei que bastava instalar um Windows original que ele ficaria bem. E não ficou, e ele precisou ser formatado, e eu perdi todo o meu histórico de e-mails dos últimos 7 anos, e todos os gigas de séries recém baixadas e aguardando atenção.

E então isso me custou muitos dinheiros mesmo, trocamos placa mãe, processador, placa de som, reinstalamos tudo e ele veio assim pra mim, sem memória dos acontecimentos passados, como um bebê, pronto pra ser treinado e programado novamente. Eu exercito o desapego às coisas que se perderam todos os dias. Pra garantir, mandei o nerd da loja de computadores juntar mais 80 giga de memória aos 80 pré-existentes, pra que os novos 160 gigas de espaço me rendessem momentos de pura alegria atolando-o novamente com os arquivos todos. E isso é basicamente o que eu venho fazendo com a minha cabeça, só que sem formatar, sem descompactar, sem limpar a lixeira e sem reinstalar absolutamente nada, nos últimos 27 anos.

E ontem eu vi que o pobre do computador tem pouco mais que 5 gigas livres, e que nova faxina se faz necessária. E meu cérebro vem surtando nas últimas semanas. Eu misturo a matemática aplicada do MBA com episódios de Heroes, palavras e francês e termos técnicos de um monte de coisas. E não tem sobrado muito espaço não. Não tem espaço no cérebro pra, por exemplo, perguntar sobre nada da vida de ninguém. Eu penso assim: eu quero MESMO obter essa informação? O que eu faço com a informação depois que eu tiver ouvido a resposta? Guardo no cérebro? Porque o cérebro anda sobrecarregado, e eu acho que eventualmente ele vai mandar mensagens desconexas. E não vai ter reinstalação que dê jeito. Novas bandas, novos discos, novas séries, novos idiomas. Aniversários, telefones, eventualmente o meu próprio nome será esquecido e eu dependerei da boa vontade de estranhos.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Semana passada garota me chamou no msn, querendo praticar amizade. Disse que estava vendo "Medium". Tipo pra fazer uma média, já que a viciada em séries sou eu. Acontece que Medium é uma das séries mais chatas do mundo, e eu nem sei como ainda não foi cancelada. Falei pra assistir Ghost Whisperer, na mesma linha, só que mais "assistível", com histórias nem tão ruins assim, e ela pediu que eu fizesse uma listinha de séries legais pra ela assistir.

Madame T tocou em dois pontos fracos de Madame Ç. Adoro fazer listas, adoro séries. Fazer listas de séries, okay, adoro mais ainda. Tenho listas das séries que eu mais amo em todos os tempos, e que já foram canceladas, tipo Party of Five, Jack and Jill e Dawson’s Creek. Tenho séries que eu nem assisto a não ser de vez em quando mas que eu sei que vou amar cada minuto quando tiver a decência de assisti-las. Nunca segui Six Feet Under, não sigo Desperate Housewives, segui apenas duas temporadas de Alias. E são séries que, tão logo minha agenda permita, estarão me aguardando em torrents no computador. Adoro séries narradas em terceira pessoa, adoro séries de humor negro, adoro referências e personagens bem construídos. Uma série me ganha com um personagem que seja escroto, tipo o House, tipo o Brian Kinney de Queer as Folk. Mas, infelizmente, das séries que eu amo, poucas são as que continuam no ar hoje em dia.

Então, Madame T, vou tentar dizer o que você deve assistir, e já adianto os motivos. Na ordem.

Tem que ver House, que é um médico manco, malcriado, cínico e misantropo, que repete exaustivamente, entre outras frases geniais, uma espécie de mantra: "Everybody lies". Ainda na linha hospitais, que virou febre no momento, e que eu adoro mesmo, tem que ver Greys Anatomy, na sony, segunda à noite. Série narrada em terceira pessoa, sempre com um tema como viés para os acontecimentos. Meredith é uma residente em um grande hospital, envolvida com o médico chefe, que é casado com uma médica. É da Meredith uma das melhores frases que eu vi em seriados na temporada passada: "You don't get to call me a whore". Pergunta para as suas novas miguxas, essas aí de São Paulo, se Greys Anatomy não é brilho puro? E, clássica das clássicas, na quinta feira às 22h, ER, na warner. Dá pra combinar ER e House, uma seguida da outra, na quinta feira.

Pra atualizar, o House é aquele que também é pai do Stuart Little. O McDreamy, de Greys Anatomy, fazia todos os filmes da sessão da tarde nos anos 80. Era feio mas, incrivelmente, ficou bem interessante com rugas. O amigo do House, o Dr Wilson, explodiu os miolos em Sociedade dos Poetas Mortos, só porque o pai dele não quis deixar ele ser o Puck em Sonho de Uma Noite de Verão. Tudo gente conhecida, você se sentirá praticamente entre amigos.

É tarde pra te indicar Lost, mesmo porque a série perdeu espaço pra Heroes, que parece ser legal, e é basicamente pessoas com superpoderes espalhadas pelo mundo. Heroes, já adianto, não assisti ainda, mas tá na to do list. Corre que ainda está na primeira temporada, dá tempo de ver sem pegar a história muito pela metade. Das historinhas curtas, com meia horinha de duração, tem que ver Scrubs, sobre - again - uns residentes malucos em um hospital. Teve um episódio na temporada passada que foi todo inspirado em o mágico de Oz, com JD, o residente maluco número 1 de sapatos vermelhos de Dorothy. Bem bom mesmo. Ainda tem The New adventures of the old Christine, com a sua querida Elaine de Seinfeld. What about Brian até promete, mas não entrega. Nem perca seu tempo. Desperate Housewives vale à pena sempre. Também narrada em terceira pessoa. Tem a Lois Lane como Susan, uma das donas de casa deseperadas. E tem a Bree Van De Camp, que era a louca da Kimberly em Melrose Place, que depois de voltar da morte careca, explodiu o condomínio, deixou a Alisson cega e finalmente morreu, nem sei bem de que.

Seja lá o que você estiver pretendendo, não se aproxime de Medium. Pior escolha não há. E, pensando bem, fique longe de Ghost Whisperer também. Melinda não tem carisma, fica falando com fantasmas, e tem o péssimo hábito de ajudar as pessoas. Muito over.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Madame Ç sabe, Madame Ç explica

Então, outro dia, ali atrás, Disus olhou para a garota e ela pediu demissão. E hoje, que é o primeiro dia dela no novo mundo, ela desaparece. Não é um desaparece qualquer, do tipo cheguei atrasada no trabalho ou esqueci de ligar o msn, e por isso não estou online, so sorry. É um offline diferente, cheio de significados.

Então, Madame Ç sabe, Madame Ç explica.

Entrar em um novo trabalho é uma caixinha de surpresas. Sempre. Pode ser o melhor lugar do mundo, pode ser um lugar apenas ok, cheio de novidades por causa da mudança e de todas as coisas que ela traz consigo. Quando alguém entra em um lugar novo, antes mesmo de desejar boa sorte, eu desejo a essa pessoa que a semana dela passe rápido, beeeem rápido. Porque ela vai sentir cada segundo dessa semana, and not in a good way, if you know what i mean.

Em alguns, a sensação é potencializada por características como ansiedade, ambiente hostil ou severa inabilidade social (que é o meu caso, eu acho). Não é que eu não seja alguém sociável, veja bem. Eu sou. Mas eu estranho novos ambientes, novas funções, novas pessoas. Lidar com mudanças, se despedir do que quer que fosse e que viesse preenchendo os seus dias até então, fosse a Sonia Abrão na rede tv de tarde, fosse academia e idas ao shopping, fosse uma "firma" aparentemente maravilhosa e cheia de oportunidades, que te fizesse sentir num clube (como sócio VIP), ainda que o novo environment ofereça muito mais.

Daqui a exatos 22 dias eu completo um ano aqui no trabalho. E eu me lembro o terror que foi, um ano atrás, entrar aqui e me acostumar com todas as novas coisas. Eu tive insônia. Tentei culpar o excesso de cafeína, mas é certo que estava ansiosa. Porque os problemas são muitos. Vou enumerá-los, para facilitar a vida de quem se dispõe a ler esse texto, tão longo quanto os outros:

1) Na véspera, vem o primeiro dos seus martírios: outfit. Roupa, traje, vestimenta. Se você for observador, vai ter prestado atenção na forma como os seus futuros co-workers se vestem, pra entender se aquela é uma empresa formal, casual, desencanada ou whatever. Sua roupa da entrevista não serve, e explico o por que. Não é todo mundo, mas tem quem repare, sim senhor. Eu sei a roupa que eu fiz entrevista aqui há um ano atrás, e saberia caso tivesse me entrevistado. Porque tem dias que roupa é importante, sim, mais importante do que o normal, e é sempre divertido analisar a decisão que a pessoa tomou e as escolhas que ela fez para um dia desses. Você sempre estará correndo o risco de estar mais arrumado que os outros. Já vi terno e gravata em empresa ponto com, e disso a garota também deve se lembrar. No meu primeiro dia na empresa ponto com que eu trabalho hoje, deparei-me com um cidadão de bermuda. Madame T não tem esse problema. Ela lança a bolsa dourada, passa sombra e blush e tudo às mil maravilhas.

2) Você chega na hora no seu primeiro dia de trabalho, ainda que não pretenda repetir esse comportamento a partir da segunda ou terceira semana. Pois bem, chega na hora. Você se dirige à secretária, ou à pessoa que deverá encaminhá-lo à sua nova mesa, sua nova seção, whatever. Você diz: Bom dia, meu nome é fulano, eu começo aqui hoje como (digite a função). Só que muito provavelmente, a pessoa que deverá se encarregar de você nas suas primeiras horas de trabalho, e talvez até nas outras, ainda não chegou. Também, o que vc esperava? É segunda feira, caramba, quem é que chega às 9h em ponto para o trabalho, a não ser você, que começa hoje e quer causar uma boa impressão? E você tem que ficar esperando, ainda na recepção, até que fulano chegue para ser sua babá. E você ainda correrá o risco de que ele esteja sem paciência, já que sabe que precisa ser babá de uma pessoa que, até pra beber água, vai precisar de ajuda. Madame T não liga, acha isso uma bobagem. Ela chega, se apresenta, e arruma o que fazer.

3) Será que tem MSN? Será que é liberado? Seus amigos estarão todos absolutamente curiosos para saber os detalhes da nova empreitada. Será que posso checar meus e-mails pessoais do trabalho ou webmail é bloqueado? Será que dá pra ler blogs? Notícias? Mais tensão. Madame T checa isso tudo antes mesmo de entrar na empresa, pra evitar imprevistos.

4) Hora do almoço. Onde será que os seres humanos comem? Será que tem opções saudáveis? Será que vai dar pra manter a dieta? É caro? É barato? Será que ainda hoje eu ganharei os tickets ou terei de pagar o meu almoço e pedir reembolso depois? Quanto tempo é tolerado para o almoço? E se ninguém me convidar pra almoçar? E se me isolarem? E se, tendo que almoçar sozinho, eu esbarro nos co-workers no restaurante da esquina, e eles ficam jogando uns para os outros a tarefa de me convidar para me sentar em sua mesa? Muito high school, muito verdade. Na minha modesta opinião, o maior terror de um primeiro dia de trabalho é o almoço. Você fica esperando te convidarem, sem saber se irão ou não. Ninguém te conhece, você vira uma batata quente na mão de estranhos. Você pode deixar pré-agendado um almoço com algum amigo que trabalhe próximo ao seu novo trabalho, mas correrá o risco de parecer mal-educado se, no caso de um convite para a prática de amizade corporativa com co-workers, recusar tão gentil convite. Se eles chamarem para almoçar, beleza, seja simpático, engraçado, tente não assustar ninguém sendo você mesmo. Lance uma personalidade alegre, pareça legal. Nota: nesse momento, é mais importante parecer legal do que necessariamente sê-lo. Depois é outra história. Madame T não liga. Ela parece legal. Ela é phd nisso. Eu chamo de modo Madame T de funcionamento.

Esse é o momento em que todo mundo julga pelas aparências. Ninguém está preocupado se você é realmente legal, eles precisam te rotular, assim como você mesmo estará fazendo com os outros. É cruel, eu sei, mas caia na real. Se você está acima do peso, não peça sobremesa. Se estiver abaixo, não peça salada. Se fizer escova, faça uma das boas. Daquelas que nem parecem escova. Cabelos domados são importantíssimos quando te julgam pela aparência. Se vc falar demais, é exibido e forçado. Se falar de menos, é tímido e anti-social. Equilíbrio é a palavra-chave.

5) No primeiro dia, você vai ser atualizado. Vai participar de reuniões, vai ter que ler sobre a empresa, ver números, dados, whatever. Pareça interessado, mesmo que ainda não esteja. E você é, sim, o centro das atenções. Não se engane. Se te acharem bonito(a), se te acharem feio(a), desengonçado, elegante. As pessoas irão disfarçar, é claro, mas estarão olhando para você, e falando sobre você. Madame T faz notas mentais pra escrever e-mail detalhando tudo depois. Dela? Dela não falam, imagine!

6) Hora de ir embora. A partir de 18h, você vai começar a ficar tenso, e começar a prestar atenção em como as pessoas se portam. Se elas vão embora mais cedo, se pega mal sair APENAS 40 minutos depois do "final" do expediente. Espere seu chefe dar as coordenadas. E torça para que ele não seja do tipo que mora no trabalho. Se você for o chefe, exerça seu lado mais sádico: demore bastante, porque todos ficarão esperando você sair para irem embora. Madame T gosta de ficar na firrrrma, e é sádica.

Se você conseguir sobreviver à primeira semana, relaxe. Mas continue sendo legal. Ou fingindo ser. Deixe pra ser você mesmo depois de, vejamos, 3 semanas. Quando puder pegar a todos desprevenidos.

Todas as considerações acima não servem se a pessoa em questão for Madame T. Madame T é do tipo que chega dando bom dia a todos, usando uma mega bolsa dourada escandalosa (mesmo!), faz brincadeiras acertadas mesmo que seja com desconhecidos, almoça sozinha sem se sentir abandonada. E some do msn no primeiro dia, pra deixar na minha cabeça todas as preocupações que deveriam estar na cabeça dela.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Madame Ç sabe, Madame Ç explica - capítulo Baratas

Enquanto a outra garota via bbb, inocente, a barata se revelou e caminhou para o quarto. E a garota se deu conta de que às vezes, sim, faz falta um ser do gênero masculino pra dar o golpe certeiro, daquele que estoura as tripas e deixa aquela gosma nojenta à mostra. Na verdade, mais do que um "se ela dança eu danço", inauguro aqui uma nova seção: Madame Ç sabe, Madame Ç explica.

Eu fui obrigada a morar sozinha antes dela, e é por isso que tenho as manhas. É difícil lembrar de tudo quando a gente dá conselhos. Quando eu disse pra ela que arroz não ficava legal congelado, ou que não é bom congelar e descongelar carne mais de duas vezes, eu sabia o que eu estava falando. Sabia também o que dizia quando ensinei a fazer uma sopa que durasse a semana toda, ou quando providenciei que ela tivesse em casa um processador legal, daqueles coloridinhos de menina, para que a tarefa de picar as paradas de cozinha fosse menos disgusting. Pastinhas rules, eu disse.

Mas dei mole, não entrei no capítulo baratas e outros insetos. E, no meio do bbb, ela se viu desamparada, e cometeu uma série de erros.

Capítulo I - Dos dois tipos de baratas existentes
Primeiro, vamos começar explicando sobre as baratas. Não contem comigo para falar sobre o nome científico, porque pesquisar esses bichos nojentos no google já é um pouco demais. Tudo o que sei veio de observação cuidadosa. Ou umas olhadas rápidas em meio a gritos. Existem 2 tipos de baratas. Uma é cascuda, marrom claro, grandona e ágil. Pode voar, é capaz de avançar na sua direção se sentir cheiro de medo. Essa barata é capaz de olhar pra trás, experiência que eu mesma pude comprovar há cerca de 4 anos atrás, quando testava uma outra teoria: a de que baratas têm memória curta. Tentei acertar uma dessas criaturas na cozinha, e ela escapou. Pensei, se ela tiver memória curta, já já esquece o golpe anterior e eu posso tentar o próximo, certeiro. Ela estava de costas pra mim, e eu me encontrava em uma "confortável" situação de sensação de controle. E a bicha, ainda de costas, se inclinou, meio que olhando de costas. Viu que eu ainda estava ali e correu mais.
O segundo tipo de barata é marrom bem escura, mole, não tem asas ágeis, é mais lenta e mais gordinha. Em comparação com a voadora, é certamente menos atlética. Essa barata, quando explodida com o golpe, causa estrago maior. É mais fácil de ficar dopada com Raid, já que é tranquilo de ser alcançada. Os dois casos têm prós e contras. Eu, pessoalmente, tenho horror às voadoras, principalmente por causa de sua rapidez. É difícil acompanhá-las, geralmente elas desaparecem no espaço de tempo em que você conseguiu alcançar o chinelo ou a vassoura. O que nos leva ao próximo capítulo.

Capítulo II - dos instrumentos para o ataque
Raid, Baygon, SBG, Rodasol: bons instrumentos para deixarem as baratas "de barato", meio lerdas, em transe, grogues, prontas para a etapa dois do procedimento.
Chinelo: Um clássico, que executa bem o seu papel. Especialmente quando utilizado por um homem, uma vez que é preciso se aproximar bastante do inimigo para abatê-lo. Eu tenho nojo, porque meus sapatos são bonitinhos por demais para serem envolvidos pela gosma de tripas de baratas. Meus chinelos inclusive. Depois tem a clássica questão que deve ser lavar um chinelo desses, retirar os restos mortais. Não dá.
Vassoura: Melhor opção, já que garante a distância entre vítima e algoz. A vassoura tem um contra, já que tira um pouco da mobilidade de quem a opera em tão ilustre tarefa. Mas, mais uma vez, qualquer pessoa que tenha passado por aulas de física no colégio, estará apto a desenvolver uma fórmula muito simples, que otimizará as chances de êxito. Velocidade média = delta S sobre delta T. Basta calcular a velocidade média que a bicha se locomove, e qual o espaço que ela deverá percorrer no espaço de tempo que você leva pra erguer e baixar a vassoura, com toda a força. Com os cálculos bem feitos, é possível fechar os olhos e gritar enquanto é desferido o golpe fatal. Costuma ser tiro e queda, e não é recomendado quando existem mais pessoas na casa, e se for no meio da madrugada. Meu pai uma vez ficou muito puto quando foi acordado com o meu grito durante um golpe desses. E, minha gente, não foi legal.

Capítulo III - Das formas de evitar o confronto, ou mesmo minimizar os efeitos
Chão: Recomendo o liso e lavável. Matar barata no carpete exige coragem, falta de preocupação com higiene ou alguém que se disponha a esfregar o chão no seu lugar.
Tampas nos ralos: Pode-se usar filme plástico, envolvendo a tampa do ralo quando a mesma é removível. Funciona bem, e segundo aqueles caras que lutam contra a dengue, protege também do aedes aegypt. Outra opção é um disco de borracha pesado, pra tampar ralos mesmo, à venda em lojas especializadas.
Borracha na porta do apartamento: existe uma borracha, que parece um rodo, que é fixada no pé da porta de entrada dos apartamentos, e evita que tão monstruosas criaturas adentrem o seu lar pela porta da frente, sem serem convidadas.
Redes na janela: muito úteis no caso das voadoras, mas nunca experimentei.

Adendo:
Erros cometidos pela garota e que, se evitados, poderiam ter minimizado o estrago e a tensão.
Madame T, darling, não vou te enganar. Aquele baratão ainda está na sua casa. Você errou não tendo o spray e errou novamente não tampando os ralos. Mas o seu maior erro, anote aí, foi correr na direção contrária. Um especialista em baratas, quando em confronto com um exemplar - principalmente a cascuda, atlética e ágil, jamais deverá perdê-lo de vista, sob o risco de nunca mais encontrá-lo. Quando você correu para o corredor, desceu as escadas e procurou o porteiro, você estava dizendo para o baratão que ela podia se acomodar. E ela fez isso. A essa hora, está em um cantinho escuro, quente e úmido, se alimentando dos restos de comida da sua casa, botando ovos e povoando o lugar. Numa próxima oportundade, tome nota mais uma vez, olho na barata, olho na vassoura, raid, espirro, ela ficou lerda e você calcula a velocidade para o golpe com a vassoura. E faz um post sobre a sua vitória.


Em tempo: Informação importante, que precisa ser levada a sério. Baratas se fingem de mortas. Um golpe nunca é garantido. Tente mais de um, dois, três, até que ela esteja sem pernas, asa, as tripas expostas. Espirre mais Raid, pra garantir. Pegue e jogue no vaso. Se a bicha ficar no chão ou for jogada no lixo, ela revive. Fato.