quarta-feira, 30 de março de 2011

Sobre os caminhos novos.

"As pessoas ficam felizes e param de escrever. Fato. True story."

Quem disse isso não fui eu. Foi a Ana. Ela twitou, na verdade. Eu senti na pele a afirmação. Porque eu estou ausente dos meus textos, dos meus escritos. Eu não trato esse blog como um pequeno palanque em que eu escrevo para atender uma necessidade das pessoas. A necessidade é minha. E eu adoro muito quando eu vejo que alguma coisa que eu escrevi fez sentido pra alguém. Porque reforça o discurso. De que eu sou anônima, apenas uma pessoa aleatória, passando por situações aleatórias. Assim como a Ana, assim como você. Assim como cada pessoa fofa que me manda um e-mail, ou deixa um comentário dizendo que gostou do que eu escrevi, e que foi passear pelo histórico, e que se identificou com meus dramas. Eu sempre gostei de ler blogs autobiográficos. Chamemos de diarinhos. As pessoas adoram falar desse jeito. Soa levemente superior, crítico.

Sim, as coisas têm dado certo pra mim. Eu sou feliz no trabalho, eu faço o que eu gosto, num lugar que eu gosto, rodeada por pessoas legais, e inteligentes, e coloridas. Eu me lembro de quando não foi assim. Eu sorrio verdadeiramente quando eu me dou conta que fui eu, lá atrás, que larguei tudo o que eu tinha como certo e fui buscar o que me fizesse feliz. Se eu estou hoje onde eu estou, mérito meu. Não há porque não me orgulhar disso. E agora tem esse menino incrivelmente legal, e atencioso, e carinhoso. Eu me lembro de quando me doía perceber que alguns meninos não estavam genuinamente interessados em mim, no que eu pensava, no que eu queria. Quando eu era apenas um badge a ser conquistado, desses que você conta vantagem pros amigos e a vida segue. Tudo de legal que me acontece só é legal porque eu tenho memória de quando não havia coisas legais acontecendo. E eu escrevia sobre os dramas, e as crises de choro, e a sensação de fim de mundo.

Eu não estou escrevendo tanto, não porque eu esteja feliz e isso tenha cessado meus textos, mas porque junto com esse quebra-cabeças finalmente se encaixando, veio trabalho, muito trabalho. Veio responsabilidade, veio unha roída e ansiedade de que as coisas funcionem. Veio mais trabalho e me tirou das redes sociais, dos jantares dos amigos, dos cafés. Me tirou dos meus escritos.

Agora eu me dou conta. E voltar não costuma ser fácil. Algumas migalhas, dessas que a gente deixa no caminho, esperando a hora de voltar, foram pisoteadas, ou levadas embora, se perderam. Nem sempre há caminho de volta. Mas olha só, que legal. Sempre existem novos caminhos, aqueles que a gente até conhece, mas não dá tanta atenção. Talvez seja a hora de fixar os olhos nisso, no novo. No tempo gasto comigo. Com minhas horas de sono, com a decoração da minha casa, com meus amigos queridos, com o menino que agora é meu.

terça-feira, 22 de março de 2011

notícias do lado de cá

o menino jornalista de covinhas e olhos verdes virou namorado. namorado, essa figura estranha que eu ainda não havia conhecido, até hoje. toda uma vida de coisas pra aprender. pequenos detalhes, gostos. eu faço perguntas, observo. aprendo a andar do lado de outra pessoa, mãos dadas. aprendo o que ele gosta de comer, de ouvir, de falar. ele fala pouco, então cabe a mim preencher os silêncios. eu também tenho aprendido que nem todo silêncio precisa ser preenchido. que eu posso ficar quietinha, ouvindo apenas a respiração, o coração batendo.

e o mundo lá fora pode explodir. eu não ligo.

quarta-feira, 2 de março de 2011

pois então acorde, menina, e veja que os tempos são outros. é hora de andar pra frente, olhar pra frente, viver pra frente.

aceitar o que não pode ser, o que foi estragado, mudado, o que se partiu e não volta mais. aceitar que alguns arranhões doídos ficam ali. mas que ainda há espaço, há pele para novos arranhões. e que venham os próximos.

entender que quando você é a única a chorar o fim de algo, é porque não havia nada a ser chorado. lide com isso, aprenda com isso, de uma vez por todas.


aprenda a se desvencilhar dos olhares que não se sustentam. dos olhares que não te olham de volta. dos olhares que desviam. olhe pro lado, pros lados, olhe em volta. aprenda a encontrar os olhares que te fitam. não desvie você desses olhares. olhe de volta.

pessoas se perdem e pessoas se acham. todos os dias, em todos os lugares.
 

terça-feira, 1 de março de 2011

“Ma petite Amélie, vous n’avez pas des os en verre. Vous pouvez vous cogner à la vraie vie. Si vous laissez passer cette chance, alors avec le temps, c’est votre coeur qui va devenir aussi sec et cassant que mon squelette. Alors, allez-y, nom d’un chien!”  “Minha pequena Amélie, você não tem os ossos de vidro. Você pode bater na vida real. Se você deixar passar essa oportunidade, então ao longo do tempo seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto o meu esqueleto. Então, vá em frente, caramba!"

Essa foi possivelmente a coisa mais bonita que alguém me disse essa semana. Julinha, conhecedora profunda dos labirintos em que eu me perco, prevendo mais um escorregão, lança mão de Amélie Poulain e me acalma.

Eu sou a pessoa mais medrosa do mundo. Ninguém é mais medroso que eu.

Julinha sabe das coisas.