domingo, 25 de julho de 2010

o menino de olhos azuis - parte 2

"você vai se vingar de todos os (inserir nome do covinhas) do mundo?", perguntou a roomate amigue. eu disse que ia. depois corrigi. eu só quero ver como é o outro lado, esse em que a gente não se envolve.

nem é tão difícil não se envolver, vejam só. dentre as qualidades do rapazinho, consta aquele je ne sais quoi que deixa qualquer menina maluca. ele não é carinhoso, tem um ar levemente blasé, e aquela qualidade meio vitor fasano de twitter de quem se curte muito. traduzindo: ele se acha.

adora discorrer sobre carros, sobre câmeras e fotografia, sobre  fortuna que gasta em lentes. sobre como ele é foda, e faz e acontece. e eu. não me ligo em carros. não me ligo em cameras. a parte das cameras nem é tão verdade, mas eu estou brincando, também. não cabe ficar encantadinha. celebridadezinha de twitter? couldn't care less. a ele faltam os pré-requisitos mais básicos que me encantariam. tipo sensibilidade e interesse no que eu tenho a dizer. ele está tão preocupado com ele mesmo. em como ele é genial. mas aí tem o olho azul, e as mãos que se multiplicam, e o piercing, e a falta de preocupação com o "e se alguém parar a gente?". ele não liga, e eu me surpreendo não me importando, também.

saímos pra jantar e eu venho experimentando toda uma nova abordagem. minha criação feminista nunca permitiu deixar que ninguém pagasse a conta. eu não sei ser conquistada. eu preciso mandar, de alguma forma. com ele, eu faço uma cara blasé e não me importo. e ele vem fazendo toda a dancinha, tentando me ganhar. por me ganhar, leia-se. me levar pra cama, pra me abandonar quinze-vinte minutos depois. sei bem. caio nessa não.

óbvio que tudo pode dar errado. ele é profissional na filhadaputisse, estou avisada. a qualquer momento ele se desinteressa. a cada vez que a gente se despede e ele me deixa em casa sem conseguir o que quer, eu sei que pode ser a última vez. que ele pode achar uma menina desavisada logo ali na esquina e dirigir seus esforços a ela. that's how he rolls.

eu to na minha, como diria velma. ontem ele me embebedou com vinho, e eu estou aqui, jogada na cama, estômago embrulhado, morrendo de dor de cabeça. mas absolutamente master of my domain. velma deve estar orgulhosa. eu sei que eu estou.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

o menino de olhos azuis - parte 1


ela postou postou a parte dela. minha vez.

vamos deixar bem claro. eu não estava interessada mesmo. o menino de camisa xadrez e olhos azuis rondou, rondou, me imprensou na parede quando a conversa era ainda sobre pequenezas. dispensei lindamente. porque esse tipinho com barba e olhos claros já me deu nos nervos por três gerações, e eu não tenho estrutura pra passar por outra explosão de cacos de cedilha all over the place. to colando, ainda. to de um jeito que se bater com um tico mais de força, desmonta e machuca.

e aí eu tava na festa e o menino rondando. e eu não dei trela. e ele foi embora e eu fui crucificada por ter dito não. porque todo mundo acha ele legal, e incrivel, e etc. os olhos azuis, o cabelo bagunçado, a atitude rock and roll, como bem disse a outra garota, por motivos que se explicarão mais tarde. tatuagens, piercing na língua. quem não tem curiosidade, não é mesmo?

sim, esse post é grande. se segurem. mais um capítulo na novela mexicana da dona cedilha, só que dessa vez com uma pegada aaron spelling, com tramas, vinganças e joguinhos. valerie malone vai mandar lembranças, anotem aí.

dia seguinte, janelinha de msn piscando. eu, entre o ocupada e o entediada, meio que dei corda. em paralelo, descobri que velminha, uma das minhas pessoas favoritas, teve uma historinha com ele. chamei no gtalk e avisei a ela que estávamos prestes a ter uma conversa estranha. pedi referências. e ela me disse.

ele não vale um tostão furado.

óbvio que não. nem podia. ando naquela vibe que meninos com essa cara não prestam. todo um dejá vu. ela me contou o quão cretino ele foi e, senhoras e senhores, ele foi BEM cretino. daí a conversa foi caminhando para o lado engraçado, com ela me recomendando aproveitar, mas não me apegar. porque o menine é mesmo incrível. e eu fiquei levemente curiosa.

criamos um plano maligno. matarei dois coelhos com uma só estacada no coração. serve pra vingar velminha, serve pra me vingar pelos cacos deixados pelo outro menino de olhos claros. se o maluco acabar na terapia, well, eu vou chamar isso de epic win.

não sei se vai dar certo, é bom deixar claro. ele é profissional na arte da filhadaputisse, e eu nunca fui lá muito boa em brincar com pessoas. mas tamos aí. é hora de aprender. vou experimentar.

sábado, 17 de julho de 2010

Eu acho que tive a semana mais exausting da minha vida. Começou na semana passada, quando o tom dos e-mails ficou ríspido. Nem era comigo. A rixa, ali, é antiga, e envolve duas chefas. Eu fiquei no meio, no início, sem saber como agir, tomando porrada dos dois lados. Demorou uns dias até que ficasse nítido que a melhor coisa a fazer era vestir a capa da invisibilidade do harry potter. Ainda assim, respingou em mim. Me senti no meio de uma guerra, guerra grande, entre dois países cheios de munição. Eu era só o país pequenininho, devastado pela passagem das tropas. Trabalhei 12, 13h por dia, emagreci, cheguei a achar que ia ser demitida. Tão bobinha. Tem alguma coisa em mim que, quando tudo vai bem, fica só esperando desandar, dar errado.

Nada deu errado. Quando a vida acalmou, e isso só foi no finzinho da semana, eu resolvi cortar o cabelo. Pra mudar de ares, de cara. Me dei de presente. Agora eu tenho a franja mais curta do oeste. E o cabelo maluquinho. As unhas ainda estão roídas, o quarto bagunçado, as dúvidas de sempre permanecem aqui, comigo. Meu último post me rendeu os comentários mais queridos. Pra variar, vindos de pessoas que não me conhecem. Quem me conhece, well, continuou sem entender o mais básico. E fez graça num e-mail, que chegou até mim por descuido. As coisas sempre chegam até mim. E, vou dizer. Ignorância liberta. Preferia não saber.

Muito frio em São Paulo. E não. Eu não vou parar de escrever.




Bem no meio da reunião, janelas de msn piscando. Uma delas era o DBQTN. Foi a única que eu cliquei.

DBQTN: are you missing me?
mme cedilha, sem juizo: every single second.

óbvio que a conversa era num tom de brincadeira. mas super podia não ser.

sábado, 10 de julho de 2010

teatro

Eu ando me perguntando muito sobre a real função desse blog. Eu sei o que ele significa pra mim. Diarinho? Já ouvi isso em tom de pouco caso, como se fosse algo que me desabonasse. E daí? Cada um lida com as próprias questões como melhor lhe convém. Não lidar com as próprias questões também é escolha. Eu escolho lidar. Faço terapia. Faço um blog.

Podem me dizer que eu falo das pessoas. Pois é. Eu falo. Você fala. Seja por e-mail, seja na conversa de bar. Todo mundo fala. Ah, é diferente. Não. Não é. É igual. No fundo, é todo mundo lidando com as mesmas coisas. Eu sou uma pessoa, eu convivo com pessoas, não vivo sozinha isolada numa gruta no alto de uma montanha. Se eu vivesse assim, meus posts falariam dos passarinhos, do céu, do meu mundo interior. Eu não gosto de quem só vive pra dentro, só escreve pra dentro. Clarice Lispector, hello. Até respeito. Não  curto. Desculpaê.

Pois então eu falo das pessoas. Talvez eu fale. Eu convivo com as pessoas. Boa parte das minhas experiências se dá no meu contato diário com pessoas, iguais ou diferentes de mim. Sempre um aprendizado. Não vejo o que de leviano poderia haver nesse comportamento. Todo mundo fala de todo mundo. Todos os sites. Todos os blogs. É assim que a vida funciona.

E eu estou um pouco cansada de me defender. Eu posso parecer reativa. Eu estou reativa. Só eu sei o que me custa olhar no espelho todos os dias de manhã e continuar acreditando que eu não estou fazendo nada de grave. e que eu não preciso me explicar. Todo mundo age como se eu devesse explicações, justificativas. Vida bonita, essa, em que ninguém te questiona. Meu mundo não é assim. Eu sou questionada o tempo todo.

E eu volto naquela velha questão. Todas as pessoas que me conhecem e vêm aqui, receberam o endereço do blog através de mim. Eu dei. Eu peguei o endereço, meu coração aberto, numa bandeja, e entreguei. Dei acesso ao que há de mais puro em mim, ao que me é mais caro. E essas pessoas lêem. E não tem um dia em que eu não me questione se não fiz a coisa errada. Em alguns casos, isso se provou um grande erro, o erro maior de todos. O preço é alto. E eu fico me perguntando por que diabos eu continuei achando que não seria problema. É fácil acompanhar a vida de um desconhecido. Você apenas imagina. Experimenta ler um amigo? Você vai saber de tudo. Vai ter as suas opiniões. Eu conto aqui, em linhas gerais, o que me acontece. E eu me pego ouvindo da boca de alguns dos meus melhores amigos piadinhas do tipo "agora a gente vai tirar a prova se sou eu ou não o problema." Por causa das histórias com as roomates. Porque é óbvio, o raciocínio mais fácil. Se aconteceu duas vezes comigo, então eu devo ser a culpada. 


E, antes que eu perceba, eu estou chorando, pedindo que  acreditem em mim. Eu não devia pedir isso. Eu não devia precisar. Eu percebo nos olhos de um amigo quando o brilho aumenta e o assunto machuca. E eu paro. Eu sempre sei quando parar. Pra não machucar, e tals.

E é isso. Meu coração aberto, isso aqui. Fatiado, um banquete. Eu fico genuinamente feliz quando vejo um comentário de um desconhecido que chegou no blog por acaso dizendo que foi tocado por algo que eu escrevi. Porque eu acredito no que eu escrevo. E eu sei o tanto de verdade que existe em cada palavra que me escorre para os dedos. Mas eu não consigo evitar pensar que a minha vida virou um grande circo de horrores. Em que quem me conhece melhor, quem me conhece mais de perto, quem vem aqui porque eu trouxe, passa batido pelas coisas que eu escrevo, e se concentra no reality show. E busca novidades. Pra se atualizar sobre tudo, sobre as pessoas, a minha pequena novela. 


Vira um teatro. E a sacrificada sou eu.

sábado, 3 de julho de 2010

sobre amores

para os novos lugares, viemos poucos. sete, ao todo. ontem, por acaso, só havia três. a sexta foi comprida, cheia. um resto de amargura pela desclassificação do brasil na copa, o ar condicionado gelado, o telefone que não parava de tocar. e, de repente parou. tudo ficou calmo, silencioso, e eu me sentei na mesa da co-worker querida. começamos a falar da vida, de amores. o menino, sentado longe, sentiu o chamado. era tarde, dez da noite, nós três ali, desfiando os corações partidos. ela, meio em estado de choque, se descobrindo ainda perdidamente apaixonada pela mesma pessoa, um ano e meio depois. eles devem se casar no ano que vem. eu acompanho via twitter os domingos felizes, acompanho no dia a dia a cara triste e emburrada depois de alguma briga sofrida e, ainda outro dia, um desses dias de briga, o vi esperando por ela na porta da firma colorida. sentadinho, cabeça baixa. me lembro de ter sorrido pra mim mesma, e escolhido não buzinar e dizer oi. aquele momento era deles. e ela contou de outros amores, do amigo especial que é a outra metade, e que o namorado entende que aquela ligação entre eles é deles, e de mais ninguém. contou do ex namorado que se vingou dela com um vídeo gravado dos dois, e que ela desconhecia. o olho apertado, a recusa em repetir o nome da pessoa que provocou tanta tristeza. o menino falou da sua loucura com o pequeno príncipe, uma história de amor. eu nunca tinha parado pra ver dessa forma. li quando criança, achei meio chato, mesmo fascinada com o principezinho pedindo que o moço lhe desenhasse umas cabras. que matariam as ervas daninhas. e o menino lembrou que o pequeno príncipe morre por amor. pela impossibilidade de reencontrar sua rosa, a rosa que ele protegeu em uma redoma de vidro. a rosa agora distante, estrela, perdida entre tantas outras. e ele se entrega à serpente, pra ser picado, e então morrer. a menina interrompeu dizendo que gostaria de morrer por uma boa causa. pra defender quem se ama, por exemplo. eu sempre achei que qualquer tipo de amor sacrifica mais do que consola. e ela ali, falando sobre o maior sacrifício de todos, morrer. o menino desfiou sua paixão por uma ex namorada, mesmo cinco anos depois. olho brilhando, dizendo que o coração acelera e ele estremece a cada vez que o nome dela é citado pelos amigos em comum. tanto tempo depois. disso eu entendo bem. amor guardado e sofrido, já tive alguns. e ele falava de como eles se perderam um do outro, dos desencontros. e de como ele começava a se dar conta de que tudo havia sido construção dele, e do quão injusto seria cobrar dela toda aquela perfeição que ela não tinha, e nunca teria. a gente sempre constroi. a gente sempre espera. eu me lembro bem de um dia olhar pra ele, dormindo ao meu lado, e me perguntar quanto tempo levaria. até que ele partisse meu coração. demorou pouco. bem pouco. a história que começou com uma brincadeira, eu fazendo pouco caso do coração partido dele. a história que terminou partindo o meu. que espalhou cacos e me levou bem mais do que algo que poderia ter sido legal. me levou o melhor amigo, o mundo como eu conhecia. as crenças, a ilusão de que a vida se acertaria, naquele caso específico. não se acertou. não sobrou nada.

eu olhei em volta, as mesas e cadeiras vazias, o andar inteiro em silêncio. e perguntei para os dois se eles se davam conta. de que cada lugar era ocupado por uma pessoa que trazia consigo um coração partido. e histórias que deram errado. todo mundo no andar, no prédio, no bairro, na cidade. acaba sendo pesado demais. sempre. trocamos sorrisos, em silêncio. ele, o menino de coração partido, disse. é como se nós nunca tivéssemos tido essa conversa. cúmplices, guardamos as histórias de volta, cada um onde conseguiu, eu acho. nos mesmos lugares onde todos os outros, em todos os lugares, guardam.

voltamos para as nossas mesas. ainda havia trabalho.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

tempo


ainda ontem, quando eu estava saindo do trabalho, parei pra esperar o elevador para o estacionamento e fiquei no telefone com um amigo. passou o gerente de covinhas, sorriu, daquele jeito que quebra as pernas de qualquer um, e me chamou pelo apelido fofo, forçando um sotaque carioca. eu sorri de volta. há um ano, eu olhava pra ele e engasgava o choro, porque era meu último dia e eu queria ficar. e não havia nada a ser feito.

dia 2 de julho de 2009 foi um dia frio. eu me lembro que estava chovendo, e eu coloquei as minhas sapatilhas verdes e o meu casaco de tweed, pra enfrentar as despedidas todas. àquela altura, eu já tinha parado de chorar. eu me vesti com um sorriso e tentei fazer com que tudo terminasse de um jeito bonito. hoje, 2 de julho de 2010, eu vesti meu vestido jeans que tem um laço atrás, e meia calça vermelha, e sapatilhas. e eu era só sorrisos, absolutamente dona daquele chão. o mesmo chão que me sumiu de debaixo dos pés um ano antes.

eu estava irritada com a menina do projeto do demo, aquela que conseguia concentrar em pouco mais de metro e meio toda a energia do mundo. eu não via a hora de não precisar olhar para a cara dela nunca mais. hoje, começando uma reorganização de lugares, eu fui transferida para o nono andar. mesmo andar da menina irritante de metro e meio. enquanto eu explorava o ambiente, a nova cozinha, o chocolate quente, me vi falando amenidades com ela, e sorrindo de forma despreocupada.

da primeira vez eu me preocupei em não me apegar. saí de lá com muitos queridos e dois bons amigos. hoje, eu tenho bem mais do que alguns queridos, e bem mais do que dois bons amigos. o gui pede a minha coca-cola comum, com gelo e sem limão, antes mesmo que eu me sente na mesa. eu recebi sms pra saber se a saída da roomate tinha sido sem maiores percalços. cuidado. amizade. tipo de coisa que eu adoro descobrir que existe. e que eu noto a cada detalhe bobo.

há um ano, a insegurança imperava. eu ia com pressa, tateando, com medo de segurar com força e acabar deixando escapar pelas mãos. hoje, a insegurança ainda toma conta em alguns momentos. algumas coisas não mudam. eu estou tão feliz. feliz com o espaço conquistado, com as pessoas incríveis com as quais eu troco experiência todos os dias, com o fim de tarde bonito da janela da cozinha, com os olhares que já começam a se entender sem precisar de palavras. com a chefa colorida que briga e cobra, mas que ensina e troca, e sugere. e guia. com a passadinha na mesa do designer que eu nem sei bem como virou amigo, e que estava comigo há algumas horas comendo cheddar no mcdonalds, falando dos meninos bonitos.

eu não tenho ideia, mesmo, de quanto tempo isso pode durar. pode ser que um belo dia eles mudem de ideia, pode ser que eu descubra alguma outra firma colorida que me faça brilhar mais os olhos e seja eu que queira sair. por enquanto, por agora, está tudo muito, muito genial. há um ano, eu não fazia ideia. quando eu saí de lá pela última vez, eu não sabia. hoje eu sei que foi aquele tempo que me trouxe pro agora. mas que o agora só é o que é por causa dos novos tropeços, do recomeço. dos erros que levaram aos acertos. dos erros que ainda estão lá, e que eu nem sei como consertar. mas que eu vou descobrir. porque há tempo.