sexta-feira, 2 de julho de 2010

tempo


ainda ontem, quando eu estava saindo do trabalho, parei pra esperar o elevador para o estacionamento e fiquei no telefone com um amigo. passou o gerente de covinhas, sorriu, daquele jeito que quebra as pernas de qualquer um, e me chamou pelo apelido fofo, forçando um sotaque carioca. eu sorri de volta. há um ano, eu olhava pra ele e engasgava o choro, porque era meu último dia e eu queria ficar. e não havia nada a ser feito.

dia 2 de julho de 2009 foi um dia frio. eu me lembro que estava chovendo, e eu coloquei as minhas sapatilhas verdes e o meu casaco de tweed, pra enfrentar as despedidas todas. àquela altura, eu já tinha parado de chorar. eu me vesti com um sorriso e tentei fazer com que tudo terminasse de um jeito bonito. hoje, 2 de julho de 2010, eu vesti meu vestido jeans que tem um laço atrás, e meia calça vermelha, e sapatilhas. e eu era só sorrisos, absolutamente dona daquele chão. o mesmo chão que me sumiu de debaixo dos pés um ano antes.

eu estava irritada com a menina do projeto do demo, aquela que conseguia concentrar em pouco mais de metro e meio toda a energia do mundo. eu não via a hora de não precisar olhar para a cara dela nunca mais. hoje, começando uma reorganização de lugares, eu fui transferida para o nono andar. mesmo andar da menina irritante de metro e meio. enquanto eu explorava o ambiente, a nova cozinha, o chocolate quente, me vi falando amenidades com ela, e sorrindo de forma despreocupada.

da primeira vez eu me preocupei em não me apegar. saí de lá com muitos queridos e dois bons amigos. hoje, eu tenho bem mais do que alguns queridos, e bem mais do que dois bons amigos. o gui pede a minha coca-cola comum, com gelo e sem limão, antes mesmo que eu me sente na mesa. eu recebi sms pra saber se a saída da roomate tinha sido sem maiores percalços. cuidado. amizade. tipo de coisa que eu adoro descobrir que existe. e que eu noto a cada detalhe bobo.

há um ano, a insegurança imperava. eu ia com pressa, tateando, com medo de segurar com força e acabar deixando escapar pelas mãos. hoje, a insegurança ainda toma conta em alguns momentos. algumas coisas não mudam. eu estou tão feliz. feliz com o espaço conquistado, com as pessoas incríveis com as quais eu troco experiência todos os dias, com o fim de tarde bonito da janela da cozinha, com os olhares que já começam a se entender sem precisar de palavras. com a chefa colorida que briga e cobra, mas que ensina e troca, e sugere. e guia. com a passadinha na mesa do designer que eu nem sei bem como virou amigo, e que estava comigo há algumas horas comendo cheddar no mcdonalds, falando dos meninos bonitos.

eu não tenho ideia, mesmo, de quanto tempo isso pode durar. pode ser que um belo dia eles mudem de ideia, pode ser que eu descubra alguma outra firma colorida que me faça brilhar mais os olhos e seja eu que queira sair. por enquanto, por agora, está tudo muito, muito genial. há um ano, eu não fazia ideia. quando eu saí de lá pela última vez, eu não sabia. hoje eu sei que foi aquele tempo que me trouxe pro agora. mas que o agora só é o que é por causa dos novos tropeços, do recomeço. dos erros que levaram aos acertos. dos erros que ainda estão lá, e que eu nem sei como consertar. mas que eu vou descobrir. porque há tempo.

Um comentário:

Fabricio Braga disse...

As palavras deste post poderiam se referir ao meu último ano.

Tirando os personagens que tornam o texto pessoal, claro.

A questão das mudanças, das incertezas e do ciclo começando novamente e tudo se estabilizando. Posso dizer que meus últimos meses foram idênticos.

Isso é pra nos lembrar que não importa o que aconteça, o mundo dá voltas. E muitas vezes é mais rápido que imaginamos.