terça-feira, 29 de junho de 2010

sobre transparência

podem me chamar de ingênua. minha referência de convivência com gente mentirosa vinha dos anos 80, quando era amiga de uma menina chamada carla, e ela inventava todas as histórias do mundo. passei o resto da minha vida ilesa. obviamente eu posso ter convivido com gente mentirosa desde então, mas nunca foi algo direcionado, e talvez eu nunca tenha descoberto o que era, de fato, mentira ou verdade.

e aí teve a carta. uma carta da minha mãe, pra mim. papel pardo, letra de mão. de um lado, o nome dela, remetente. do outro, o meu, destinatária. a carta chegou aberta, e me foi dito que foi entregue assim, pelo porteiro. um vizinho teria levado pra casa por engano e aberto sem perceber. teria pedido desculpas e devolvido. na hora, distraída, não me liguei. depois, olhando a carta, a ficha caiu. não se confunde um envelope pardo escrito à mão. não se abre esse tipo de correspondência por engano. se fosse uma conta, ok. não era. era um envelope pardo, escrito à mão, letra redondinha da minha mãe. e veio aberto.

resolvi investigar, fui falar com o porteiro. e ele me garantiu que a carta foi entregue fechada, nas mãos de quem me entregou. de alguma forma, no trajeto, a carta foi aberta. não teve vizinho, não teve engano. teve mentira. e violação de correspondência. resolvi confrontar, e obviamente a história foi negada. porque é assim desde o caso da superbonder espalhada pela cozinha e que me colou os dedos. de autoria desconhecida. moravam duas pessoas na casa, eu sou a que colou os dedos. obviamente, eu não sou a que deixou a cola espalhada. muitos mistérios no apartamento treze.

porteiros mentem. sabe como é. essa foi a resposta que eu tive. e que, naturalmente, interrompi. PESSOAS mentem. eu tenho tido exemplos disso, um em cima do outro. são tantos, que eu começo a me perguntar como uma pessoa pode ser capaz de tamanha fantasia. mas nem cabe, nem vem ao caso. o que eu tinha em mãos é uma carta aberta, uma carta que eu não abri.

a carta nem era nada de mais. falava sobre família, sobre estrutura, sobre amor. que é o que eu tenho desde criança. espero que quem tenha lido, tenha aprendido alguma coisa.

e junho foi mais comprido do que eu podia imaginar, mais comprido do que eu podia suportar. e eu me concentrei no dia 30, o dia que marcaria o fim de uma série de histórias dignas de filme de terror. desses com roteiro pobre, mexicano, personagens rasos e vilões caricatos.

é isso que eu faço. quando as coisas ficam estranhas, eu fixo um ponto no futuro e tento não me distrair com o resto.

dia 30 chegou e a porta finalmente se fechou. e eu pude excluir pra sempre da minha vida toda uma leva de gente que, não bastando não ter me acrescentado nada, só me trouxe aborrecimento.

em volta de mim, gente como eu. transparente. como deve ser.

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