sábado, 19 de junho de 2010

sobre ruivos

Eu sempre tive uma coisa com cabelos vermelhos. Deixa eu explicar. Não é qualquer cabelo. E eu não acho que tinta vermelha reproduz o que um cabelo naturalmente ruivo é. Eu tinha essa amiga no colégio, Patrícia. O pai dela era ruivo, ruivo, de cabelo crespo, o tipo clássico. Eu sempre ouvi falar, nem sei bem se foi nas aulas de genética, que o ruivo era o mais recessivo de todos. Azinho, azinho, bezinho, bezinho. Então eu fiquei com isso na cabeça. A Patrícia comprovava essa minha teoria. O pai era ruivo. A mãe, morena, normal. daí era ela e uma irmã. A Patrícia tinha o cabelo mais bonito que eu já vi em toda a minha vida. Liso, pesado, vermelho. Aquele ruivo que eu só vi tão bem reproduzido nos anúncios da Benneton. Até hoje, na falta de nome mais adequado, eu chamo de ruivo benneton. Patrícia tinha os olhos verdes e muitas, muitas sardas. Ela nem era exatamente bonita, mas o conjunto era um escândalo. Sim, ela era bonita. Exótica, como preferirem. A irmã mais nova dela era loura dos olhos azuis, muito bonita também. Menos que ela. Porque o cabelo não tinha aquele tom ferrugem que chamava atenção em qualquer lugar do pátio da escola.


E aí, bem aos treze anos, eu enfiei na cabeça que iria me casar com um ruivo. Pra ter filhinhos com olhos azuis. Uma coisa, assim, bem errada. Raciocinar que crianças bonitas obrigatoriamente têm olhos claros. Eu acho bebês negros e japoneses coisas dignas de pintura. Mas, naquela época, tudo que eu queria era minha sucessão com características nórdicas.


Desde então, não tem um ruivo, ou ruiva natural que não atraia minha atenção na rua. E não. Não há tinta que reproduza o tom de cabelo naturalmente ruivo. Tem que ser cobre, com brilho dourado, mechas fininhas, naturalmente criadas pela natureza.


O dono da temakeria aqui perto da firma colorida é ruivo benneton. Menino bonito, escandalosamente bonito. Do tipo que me transporta pra quando eu tinha 13 anos, me desconcerta, e tudo o que eu consigo fazer é abaixar a cabeça e exibir um sorriso tímido. Outro dia, no shopping, um molequinho, uns oito anos, cabelos vermelhos. E eu sei que esse menino, daqui dez anos, será um escândalo. Uma vez, no Rio, dois adolescentes gêmeos e ruivos entraram no ônibus que eu estava. Magros, esguios, pele quase transparente. Os cílios eram vermelhos. Eles tinham o que, uns quatorze, quinze anos. Eram tão bonitos. E eram dois.


Eric Stolz tem cabelos vermelhos. Desde os anos 80, os filmes dele exercem especial poder sobre mim. Eu aposto que são os cabelos. Julia Roberts é ruiva. Eu me lembro que quando li Entrevista com o Vampiro, da Anne Rice, fiquei revoltada com o filme. Anne Rice sempre gastou muitas e muitas linhas descrevendo minuciosamente seus personagens. O vampiro Armand é ruivo. Ela gastou muitas páginas se fazendo clara nesse aspecto. No filme, ele é o Antônio Banderas. E eu fico pensando why the hell não escalaram Eric Stolz para o personagem. Um outro personagem incrível da Anne Rice, mas que só aparece no segundo livro, O Vampiro Lestat, é Gabrielle. Gabrielle é a mãe do Lestat, e é mordida porque iria morrer de alguma doença muito grave. Depois de trasformada, Gabrielle recupera a cor e a força, e vira uma ruiva que vaga pelo mundo, sozinha. Aparece uma hora ou outra, na história. Uma figura fortíssima. Anne Rice ainda tem outros personagens de cabelos vermelhos, como as gêmeas que deram origem à lenda de como todos os vampiros começaram, contada em Rainha dos Condenados. Marion Zimmer Bradley, de Brumas de Avalon, também cria sua Igraine, mãe de Morgana e Arthur, ruiva. Não tem jeito. Eu me impressiono com personagens ruivos.



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