sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Quente e frio

O clima nessa cidade é louco. Old news, alguns dirão. Dá licença, que essa é a minha experiência, e eu ando sofrendo bastante. Então, preciso me manifestar. Eu, pobre pessoa friorenta que sou, portadora da recém descoberta síndrome de raynaud - não no sentido de que a síndrome tenha sido descoberta por esses dias, mas no sentido de que eu descobri por esses dias que a síndrome existe e que ela explica as minhas unhas arroxeadas quando eu sinto frio - tenho sentido todos os efeitos da falta de constância da temperatura. Primeiro porque 70% das minhas roupas são de frio. Já eram lá no Rio, quando eu era submetida ao ar condicionado matador do trabalho antigo. Segundo, né, porque eu ESPERO frio em São Paulo, e quando ele vem - e isso, sim, tem hora marcada, por volta de 16h30, 17h, todo santo dia desde que eu botei meus sapatinhos boneca pretos nessa cidade, só resta me conformar, me agasalhar, e torcer pra me acostumar o mais rápido possível.

Um princípio de gripe já se manifestou, e eu tenho certeza de que é porque a minha cama fica embaixo da janela. Bobagem, gripe, comprarei cortinas fofas, de algum tecido de cor crua bem bonito e tudo há de se resolver. Meus casaquinhos estão bombando e eu fico super bonitinha mesmo dentro de casa. =]

E então, hoje de manhã eu saí. Olhei na janela, sol. Sol em São Paulo, rá rá, pensa que me engana, vou é colocar uma blusa de manga comprida. Aqui venta, bastante, minha mão fica gelada o tempo todo. E lá fui eu para a Vila Olímpia, que fica muito mais perto do que eu supunha. E de repente, não mais que de repente, começou a esquentar. A blusa estava ok quando eu saí, continuou ok dentro do ônibus, se manteve ok quando eu andei vários quarteirões até o meu destino. Foi na saída que tudo se perdeu. O sol estava mais forte e, olhando para o céu, eu podia ver um círculo escuro em volta. Poluição, foi o que meu pai me explicou mais tarde, rindo da minha curiosidade. Viver no Rio desacostuma a gente. O sol de lá não tem nada em volta não. E eu me vi na Faria Lima, onde um termômetro marcava - pasmem - 30º em São Paulo. 30 fucking degrees. E eu derreti, morri um pouquinho, a garganta seca mesmo com a garrafinha de água a postos. E voltei pra casa sofrida, suada, esbaforida. Agora, esfriou de novo.

Faith

E então, domingo passado, dirigindo na Dutra em direção a São Paulo, eu me dei conta de que algo grande estava acontecendo, ali, naquele momento. Eu estava finalmente colocando em prática algo que queria há mais de um ano, me mudando para o lugar onde, há muito tempo, eu tinha decidido que era onde eu deveria estar.

O carro abarrotado de coisas, caixas, roupas e livros, o som alto, um sol lindo de domingo à tarde. No banco do carona, umas anotações sobre as ruas que deveria pegar, umas impressões de mapas do google, um leve frio na espinha com medo de errar o caminho. Dirigir em São Paulo é diferente, meu pai não se cansa de repetir, você erra uma entrada e precisa fazer uma volta de 40 km pra voltar pro lugar. Pois bem. Pra quem aprendeu a dirigir em cidade pequena, dirigiu durante anos no Rio de Janeiro, errando muitos caminhos, mas depois dando um jeito e chegando onde pretendia, São Paulo não pode ser tão difícil assim. Eu vim cantando alto o caminho inteiro, george michael, veja bem. I've gotta have faith.

Marginal Tietê, frio na espinha, Marginal Pinheiros, saída correta, virar algumas ruas, fazer a volta numa praça grande, ler placas, olhar rapidamente o mapa. Cheguei certinho. O prédio é velhinho e o apartamento será dividido com uma roomie que parece ser absolutamente diferente de mim. Ok. Vai dar tudo certo.

Quatro viagens de elevador, porque o prédio não tem daqueles carrinhos de supermercado que ajudam na hora de descarregar bagagens, ou compras. Anoitecendo, músculos doloridos de tanto carregar caixas, geladeira vazia. Eu não posso morar numa casa que não tem café. E açúcar, pra adoçar. Fico sem cama hoje, sem problemas, mas sem café jamais. Esfriando. Caixas espalhadas, me jogo na aventura de ir ao supermercado. Que fica pra outro post, já que supermercado em São Paulo é uma experiência complexa. Comprei café, açúcar, pilhas e Coca-Cola. Pra me sentir em casa.