ele chegou assustado. quando me disseram que vinha outro carioca pra equipe, eu pensei que era legal, que eu ia poder tornar a adaptação dele um pouco mais fácil do que foi a minha, há mais de um ano atrás. e eu chamei ele pros almoços, insisti que aparecesse nos happy hours, essas coisas que as pessoas precisam fazer quando são um corpo estranho em qualquer estrutura já formada.
a verdade é que eu achei ele chato. carioca tem essa coisa meio marrenta, e eu sempre me lembro da fernanda falando "prego" pra denominar gente chata. well, o garoto era um prego. mas é aquela coisa, primeiros dias, primeiro mês, a pessoa se adapta, relaxa. ao invés de relaxar, ele começou a se achar. oi, eu vim da concorrência, eu sou muito genial. ele é bom, eu já tive a oportunidade de ver o trabalho dele, boas ideias, boa execução. um certo preciosismo, coisa que a chefa colorida vive dizendo que não gosta, mas nada que não se conserte em algum tempo de trabalho.
o problema é que ele, além de ser chato, é carioca. e carioca, em são paulo, tem tintas fortes demais. o sotaque carregado, o s chiado, o jeito meio cantado de terminar cada palavra. assiãm. meio chatoam. e, se tem coisa que paulistano tem reserva nessa vida, é carioca. isso eu aprendi sozinha. eu não puxo o s, cresci no interior, e nunca, repito, nunca, escapei das piadas. imagina o garoto que, além de carioquíssimo, ainda faz o favor de ser arrogante, se achar superior a todos os outros?
quando eu me dei conta, ele estava isolado. e, sim, eu ajudei bastante no processo. começou quando ele foi indelicado com a menina de aracaju, querida minha. tomei as dores. continuou com a insistência dele em se aproximar de qualquer grupo que esteja conversando em tom mais baixo. a gente vai tomar chocolate quente na cozinha, dá dois segundos, ele aparece. o papo geralmente é mulherzinha, não cabe ele participar. e ele fica ali, parado, rindo, acenando com a cabeça de forma caricata, parecendo participar. mas não fala um A. incomoda. inibe.
ele faz isso com todo mundo, não só com a equipe. se mete nas rodinhas e fica prestando atenção, sem dizer nada, rindo, balançando a cabeça. eu sempre me meto nas conversas. sempre acontece dos designers estarem discutindo jogos ou cinema e eu me meter. mas eu sempre me meto falando alguma coisa, participando da discussão. ele não.
ele se convida para os almoços. estávamos combinando de ir num restaurante, só as meninas, pra falar essas bobagens que só a gente gosta. ele chegou, se meteu, e falou: se vocês forem em tal lugar, vou também. nos entreolhamos, meio sem acreditar na falta de noção. a japa falou. vamos continuar a conversa no msn? ele me cutucou e disse. e vocês podem ir me incluindo nessas conversas de msn aí.
o.O
olhei pra ele. pensei em não responder. pensei melhor. respondi. garoto, você não possui privilégios para acessar essa conta. você sabe o que a gente conversa? a nossa conversa é nossa. ele riu, sem nem perceber o quanto estava incomodando. fugimos dele no almoço desde então.
as grosserias com a menina fofa continuaram, e ela chegou a chorar umas duas vezes. ele apresenta o trabalho dela como se fosse dele, marca reuniões e nem avisa. uma coisa deplorável. interrompe todo mundo nas reuniões. parece um retardado. aos poucos, eu percebi que ele não incomodava só a equipe. os designers tomaram horror a ele, os meninos dos códigos torcem a cara toda vez que ele passa. já fizeram reclamações formais. a coisa só piora. e tem pouco mais de dois meses que ele chegou.
e, de novo, quando eu me dei conta, eu fazia parte dos paulistanos, odiando um carioca. irritada com as mesmas coisas, o sotaque, a arrogância. tive uma crise de identidade e me perguntei se não devia ser eu a chamar a atenção do garoto. porque EU SEI como é difícil se adaptar, eu sei como é difícil fazer parte. e, cá entre nós, ninguém estava tornando as coisas mais fáceis pra ele, também.
tô aqui nesse impasse. porque mesmo que eu saiba o quão difícil é se adaptar a uma outra cultura, a gente diferente, eu também sei que relationship skills é coisa que se começa a aprender no jardim de infância. algo como não estrague tudo sendo você mesmo. e o garoto também não se esforça. chegou rasgando, fazendo inimigos, despertando antipatia. absolutamente sem noção de como é percebido.
eu estava conversando sobre cinema com o designer bonitinho que tem namorada. a conversa estava animada, e de repente, surge o carioca, ali do lado, prestando atenção, rindo e balançando a cabeça. eu e DBQTN apertamos os olhos, meio que nos comunicando em silêncio, concordando que ele estava incomodando. o carioca estava mastigando balas, e fazia MUITO barulho. sabe aquele barulho insuportável de quem mastiga com a boca aberta? pois então. imaginem duas pessoas tentando conversar com uma terceira no meio, mastigando desenfreadamente e sem dizer uma palavra? começou a ficar difícil se concentrar na conversa, e passou a ser uma coisa meio a gente se encarando e tentando não rir. óbvio que eu não aguentei. caímos na gargalhada. o carioca riu junto, sem saber que era ele o motivo.
a verdade é que eu achei ele chato. carioca tem essa coisa meio marrenta, e eu sempre me lembro da fernanda falando "prego" pra denominar gente chata. well, o garoto era um prego. mas é aquela coisa, primeiros dias, primeiro mês, a pessoa se adapta, relaxa. ao invés de relaxar, ele começou a se achar. oi, eu vim da concorrência, eu sou muito genial. ele é bom, eu já tive a oportunidade de ver o trabalho dele, boas ideias, boa execução. um certo preciosismo, coisa que a chefa colorida vive dizendo que não gosta, mas nada que não se conserte em algum tempo de trabalho.
o problema é que ele, além de ser chato, é carioca. e carioca, em são paulo, tem tintas fortes demais. o sotaque carregado, o s chiado, o jeito meio cantado de terminar cada palavra. assiãm. meio chatoam. e, se tem coisa que paulistano tem reserva nessa vida, é carioca. isso eu aprendi sozinha. eu não puxo o s, cresci no interior, e nunca, repito, nunca, escapei das piadas. imagina o garoto que, além de carioquíssimo, ainda faz o favor de ser arrogante, se achar superior a todos os outros?
quando eu me dei conta, ele estava isolado. e, sim, eu ajudei bastante no processo. começou quando ele foi indelicado com a menina de aracaju, querida minha. tomei as dores. continuou com a insistência dele em se aproximar de qualquer grupo que esteja conversando em tom mais baixo. a gente vai tomar chocolate quente na cozinha, dá dois segundos, ele aparece. o papo geralmente é mulherzinha, não cabe ele participar. e ele fica ali, parado, rindo, acenando com a cabeça de forma caricata, parecendo participar. mas não fala um A. incomoda. inibe.
ele faz isso com todo mundo, não só com a equipe. se mete nas rodinhas e fica prestando atenção, sem dizer nada, rindo, balançando a cabeça. eu sempre me meto nas conversas. sempre acontece dos designers estarem discutindo jogos ou cinema e eu me meter. mas eu sempre me meto falando alguma coisa, participando da discussão. ele não.
ele se convida para os almoços. estávamos combinando de ir num restaurante, só as meninas, pra falar essas bobagens que só a gente gosta. ele chegou, se meteu, e falou: se vocês forem em tal lugar, vou também. nos entreolhamos, meio sem acreditar na falta de noção. a japa falou. vamos continuar a conversa no msn? ele me cutucou e disse. e vocês podem ir me incluindo nessas conversas de msn aí.
o.O
olhei pra ele. pensei em não responder. pensei melhor. respondi. garoto, você não possui privilégios para acessar essa conta. você sabe o que a gente conversa? a nossa conversa é nossa. ele riu, sem nem perceber o quanto estava incomodando. fugimos dele no almoço desde então.
as grosserias com a menina fofa continuaram, e ela chegou a chorar umas duas vezes. ele apresenta o trabalho dela como se fosse dele, marca reuniões e nem avisa. uma coisa deplorável. interrompe todo mundo nas reuniões. parece um retardado. aos poucos, eu percebi que ele não incomodava só a equipe. os designers tomaram horror a ele, os meninos dos códigos torcem a cara toda vez que ele passa. já fizeram reclamações formais. a coisa só piora. e tem pouco mais de dois meses que ele chegou.
e, de novo, quando eu me dei conta, eu fazia parte dos paulistanos, odiando um carioca. irritada com as mesmas coisas, o sotaque, a arrogância. tive uma crise de identidade e me perguntei se não devia ser eu a chamar a atenção do garoto. porque EU SEI como é difícil se adaptar, eu sei como é difícil fazer parte. e, cá entre nós, ninguém estava tornando as coisas mais fáceis pra ele, também.
tô aqui nesse impasse. porque mesmo que eu saiba o quão difícil é se adaptar a uma outra cultura, a gente diferente, eu também sei que relationship skills é coisa que se começa a aprender no jardim de infância. algo como não estrague tudo sendo você mesmo. e o garoto também não se esforça. chegou rasgando, fazendo inimigos, despertando antipatia. absolutamente sem noção de como é percebido.
eu estava conversando sobre cinema com o designer bonitinho que tem namorada. a conversa estava animada, e de repente, surge o carioca, ali do lado, prestando atenção, rindo e balançando a cabeça. eu e DBQTN apertamos os olhos, meio que nos comunicando em silêncio, concordando que ele estava incomodando. o carioca estava mastigando balas, e fazia MUITO barulho. sabe aquele barulho insuportável de quem mastiga com a boca aberta? pois então. imaginem duas pessoas tentando conversar com uma terceira no meio, mastigando desenfreadamente e sem dizer uma palavra? começou a ficar difícil se concentrar na conversa, e passou a ser uma coisa meio a gente se encarando e tentando não rir. óbvio que eu não aguentei. caímos na gargalhada. o carioca riu junto, sem saber que era ele o motivo.
Um comentário:
Eu sendo a pessoa que fica de fora da panelinha, posso dizer que adoraria que alguém me incluísse. É difícil de chegar chegando, dar opiniões e pitacos. Senti dó do carioca. Porque ele balança a cabeça, acho, porque não quer interferir demais, mas quer estar presente e, talvez, esteja esperando um convite mais explícito pra dizer alguma coisa que preste.
Acho que tem basicamente 2 tipos de pessoa que conta vantagem. Um é o cara que se acha mesmo e é arrogante por natureza. O outro é o inseguro que conta vantagem como forma de defesa. Talvez o carioca seja do segundo tipo? I hope.
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