para os novos lugares, viemos poucos. sete, ao todo. ontem, por acaso, só havia três. a sexta foi comprida, cheia. um resto de amargura pela desclassificação do brasil na copa, o ar condicionado gelado, o telefone que não parava de tocar. e, de repente parou. tudo ficou calmo, silencioso, e eu me sentei na mesa da co-worker querida. começamos a falar da vida, de amores. o menino, sentado longe, sentiu o chamado. era tarde, dez da noite, nós três ali, desfiando os corações partidos. ela, meio em estado de choque, se descobrindo ainda perdidamente apaixonada pela mesma pessoa, um ano e meio depois. eles devem se casar no ano que vem. eu acompanho via twitter os domingos felizes, acompanho no dia a dia a cara triste e emburrada depois de alguma briga sofrida e, ainda outro dia, um desses dias de briga, o vi esperando por ela na porta da firma colorida. sentadinho, cabeça baixa. me lembro de ter sorrido pra mim mesma, e escolhido não buzinar e dizer oi. aquele momento era deles. e ela contou de outros amores, do amigo especial que é a outra metade, e que o namorado entende que aquela ligação entre eles é deles, e de mais ninguém. contou do ex namorado que se vingou dela com um vídeo gravado dos dois, e que ela desconhecia. o olho apertado, a recusa em repetir o nome da pessoa que provocou tanta tristeza. o menino falou da sua loucura com o pequeno príncipe, uma história de amor. eu nunca tinha parado pra ver dessa forma. li quando criança, achei meio chato, mesmo fascinada com o principezinho pedindo que o moço lhe desenhasse umas cabras. que matariam as ervas daninhas. e o menino lembrou que o pequeno príncipe morre por amor. pela impossibilidade de reencontrar sua rosa, a rosa que ele protegeu em uma redoma de vidro. a rosa agora distante, estrela, perdida entre tantas outras. e ele se entrega à serpente, pra ser picado, e então morrer. a menina interrompeu dizendo que gostaria de morrer por uma boa causa. pra defender quem se ama, por exemplo. eu sempre achei que qualquer tipo de amor sacrifica mais do que consola. e ela ali, falando sobre o maior sacrifício de todos, morrer. o menino desfiou sua paixão por uma ex namorada, mesmo cinco anos depois. olho brilhando, dizendo que o coração acelera e ele estremece a cada vez que o nome dela é citado pelos amigos em comum. tanto tempo depois. disso eu entendo bem. amor guardado e sofrido, já tive alguns. e ele falava de como eles se perderam um do outro, dos desencontros. e de como ele começava a se dar conta de que tudo havia sido construção dele, e do quão injusto seria cobrar dela toda aquela perfeição que ela não tinha, e nunca teria. a gente sempre constroi. a gente sempre espera. eu me lembro bem de um dia olhar pra ele, dormindo ao meu lado, e me perguntar quanto tempo levaria. até que ele partisse meu coração. demorou pouco. bem pouco. a história que começou com uma brincadeira, eu fazendo pouco caso do coração partido dele. a história que terminou partindo o meu. que espalhou cacos e me levou bem mais do que algo que poderia ter sido legal. me levou o melhor amigo, o mundo como eu conhecia. as crenças, a ilusão de que a vida se acertaria, naquele caso específico. não se acertou. não sobrou nada.
eu olhei em volta, as mesas e cadeiras vazias, o andar inteiro em silêncio. e perguntei para os dois se eles se davam conta. de que cada lugar era ocupado por uma pessoa que trazia consigo um coração partido. e histórias que deram errado. todo mundo no andar, no prédio, no bairro, na cidade. acaba sendo pesado demais. sempre. trocamos sorrisos, em silêncio. ele, o menino de coração partido, disse. é como se nós nunca tivéssemos tido essa conversa. cúmplices, guardamos as histórias de volta, cada um onde conseguiu, eu acho. nos mesmos lugares onde todos os outros, em todos os lugares, guardam.
voltamos para as nossas mesas. ainda havia trabalho.
eu olhei em volta, as mesas e cadeiras vazias, o andar inteiro em silêncio. e perguntei para os dois se eles se davam conta. de que cada lugar era ocupado por uma pessoa que trazia consigo um coração partido. e histórias que deram errado. todo mundo no andar, no prédio, no bairro, na cidade. acaba sendo pesado demais. sempre. trocamos sorrisos, em silêncio. ele, o menino de coração partido, disse. é como se nós nunca tivéssemos tido essa conversa. cúmplices, guardamos as histórias de volta, cada um onde conseguiu, eu acho. nos mesmos lugares onde todos os outros, em todos os lugares, guardam.
voltamos para as nossas mesas. ainda havia trabalho.
5 comentários:
o melhor post da historia desse blog... ever!
eu queria muito uma firma colorida também. espero que a minha não demore a vir.
de que cada lugar era ocupado por uma pessoa que trazia consigo um coração partido. e histórias que deram errado(...)
Eu nunca pensei nisso. É, né? Cada cadeira, cada pessoa, muitas histórias.
Lindas palavras, tristes e um tanto pesadas, mas creio ser o post mais carregado de sentimento que já li.
Texto tão lindo, tão intenso e tão sublime que de nada adiantaria eu ficar tentando pôr em palavras o quanto ele me encantou. Nada estaria realmente à altura.
Então, digo apenas: meus parabéns e muito obrigado. Ler esse texto foi um presente inestimável.
Um beijo, çao.
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