quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Esta semana, especialmente essa semana, eu perdi a minha paciência com telemarketing. Eu até vinha tentando lançar a personalidade fofa, entender que aquelas pessoas são realmente muito fudidas por trabalharem em cabines apertadas e terem pouco mais de 5 minutos por dia para comer/ir ao banheiro, e que não é à toa que uma empresa precisa criar estratégias pra motivação de equipes. Eles recebem um zilhão de “nãos” na cara, todos os dias, e ainda assim te ligam com a maior paciência, torcendo mais que tudo pra ticar o quadradinho ao lado do nome de cada cliente com uma marquinha positiva. Não sei se eles ganham por hora, imagino que por produtividade não seja, mas tenho que conter os bocejos ao pensar nas aspirações de uma pessoa que fale o dia inteiro com estranhos predispostos a tratarem-na como lixo.

No início eu dizia “não”, e desligava. Me aconselharam aqui no trabalho a desligar sem nem mesmo dizer não, assim, na cara da pessoa. Mas a outra Madame havia me dito que, até que eu diga não efetivamente, fica rolando um “pending” ao lado do meu nome, e eles vão me ligar de novo. Eles sempre ligam nas horas mais inoportunas mas, cá entre nós, existiria algum horário que fosse oportuno para atender telemarketing? Sempre digo que estou no transito, ou no almoço, ou no trabalho, que não posso falar, que estou no enterro da minha tia-avó, qualquer coisa que faça com que o infeliz se sinta mal, muito mal mesmo. Mas aí eu fico pending, e eles sempre ligam de novo. Não tenho interesse em promoções para celular, nem em saber como aproveitar os descontos da Embratel. Daí o espertinho surge com a seguinte pérola: “Você não gosta de economizar dinheiro?” Minha chefe outro dia disse que respondeu que não, que era louca e rasgava dinheiro mesmo. Quero até copiar essa idéia, é realmente bem boa. Eles sempre fazem perguntas que te obrigam a concordar, mas isso aí é técnica, e eu tenho preguiça, e caio para a grosseria mesmo.

Me ligaram do Credicard, há coisa de 3 ou 4 semanas atrás. Sempre a mesma ladainha. Por favor, eu gostaria de falar com a Madame Ç. É ela, respondo, tomando fôlego para o fora que vou dar. Olá, Madame Ç, primeiramente bom dia, aqui quem fala é a Zuneide da Credicard, como vai a senhora? – Me ofende me chamando de senhora, me diz um nome que me obrigaria a perguntar de novo. Ela não está interessada em saber como eu vou. Prossegue: A senhora utiliza cartões de crédito no dia a dia? Não, respondo, odeio cartão, odeio dívidas, tenho pra mim que isso é coisa do Demo. Ela continua a conversa e, só porque ainda estou zonza de sono, eu a deixo continuar, esperando a próxima chance de dizer não. OBVIO que eu me contradigo, e falo que tenho, sim, cartões, e que apenas não estou interessada em adquirir outro. Zuneide se ofende, vejam só, e tenta me pregar uma peça: Mas a senhora disse que não usava cartões! Essa é a hora que eu digo que não, e acredito sinceramente que saí da listinha de pending e que estou livre da Credicard. Ledo engano.

Recebo uma carta anunciando o cartão, rasgo e jogo no lixo. Recebo outra, agora com prazo, dizendo que eu vou perder a super mega hiper promoção incrível feita exclusivamente pra mim. Dane-se. Rasgo. E aí, sábado passado, matando aula de francês porque cheguei em casa de madrugada, toca o telefone. Me acorda. O relógio marca 8h03 da manhã. Reúno algum bom humor, achando que seria minha pobre mãe preocupada, querendo saber se eu cheguei inteira em casa. Não. Era a Zuneide, do Credicard. Olá, dona Madame Ç, primeiramente bom-dia, nós estamos efetuando essa ligação para apresentar à senh..... – Soltei um berro no telefone, JURO. Falei: Sábado, 8h03 da manhã. Vocês estão malucos? Vocês, de telemarketing, estão loucos? Sábado, 8h03 da manhã! Zuneide percebe a grande falha e pede desculpas, e pergunta, assim como quem não quer nada, quando seria um BOM HORÁRIO pra falar comigo sobre o cartão CREDICARD. Nunca, não me liguem mais. Vocês perderam a noção de limites!

E, resignada, tenho certeza de que Zuneide ainda não desistiu da minha pessoa. E hoje, nesse momento, eu digo que nunca, em hipótese alguma, eu terei um cartão Credicard. Por causa dela. Da Zuneide.

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