quinta-feira, 2 de setembro de 2010

o menino hipster

o hipster começou a ganhar pontos comigo quando me mandou sms, perguntando se eu tinha chegado bem em casa, depois da festa de blues. eu me derreto com essas bobagenzinhas. me adicionou no msn e conversas aleatórias se estabeleram. me chamou pra sair, topei.

nosso date foi um fiasco. pelo menos a primeira parte. aquela em que as duas pessoas se sentam uma em frente da outra e estabelecem alguma conversa minimamente normal, enquanto comem, bebem e jogam charminho. a conversa não fluía, todos os assuntos morriam. eu cheguei a pensar que tinha sido um erro, a coisa toda. antes mesmo de eu chegar, ele brigou comigo por causa do atraso. e eu briguei com ele, porque ele não tinha o direito de me cobrar pontualidade. ficou um clima estranho. silencio. longas pausas. fiasco.

a segunda parte, well, foi legal. ele recuperou os pontos perdidos. me chamou pra sair de novo. de novo, eu topei. filme e vinho. sabemos bem.

o segundo date foi incrível. assistimos Gilda, ele é viciado em cinema antigo, filmes noir. as conversas fluíram. o hipster tem tatuagens cobrindo os dois braços, e uma parte do peito. eu acho bonito. pessoa colorida, na mais perfeita expressão. ele ficou tentando me convencer a assistir filmes de zumbi, eu fiquei falando da vida em geral. tudo isso com beatles ao fundo. discutimos kubrick, femmes fatales e o fato da rita hayworth ter tanto ombro e tão pouco quadril. eu finalmente pude assistir a cena dela tirando as luvas, supostamente uma das mais sexies da história do cinema. achei médio. eu tiro luvas com mais graça que ela. estou com "put the blame on mame, boys" em looping na cabeça. desde sábado à noite.

eu reclamei da falta de colaboração dele no dia em que jantamos. dos silêncios desconfortáveis. eu disse, de brincadeira, que ele parecia autista. ele olhou pra baixo, esboçou um sorriso, e disse. eu tenho síndrome de asperger. antes que eu perguntasse what the hell is that, ele continuou. é um tipo leve de autismo. afeta a minha interação social. eu não sei quebrar silêncios. e foi assim que o hipster me quebrou. sorrindo timidamente e justificando que aquela era a doença dos gênios. que einstein tinha, mozart, michelângelo. andy warhol. e eu ali. shut up. you had me at hello. kind of.

ali eu permaneci. bebendo vinho, discutindo cinema, perdida num apartamento antigo no centro de são paulo. decifrando as tatuagens, uma a uma. vestindo uma camiseta surrada de scarface. todo o clichê disponível.

chegando em casa, corri pra wikipedia. isso que eu faço. ele, no msn, perguntando se eu tinha chegado bem, sem me perder no caminho. eu, do outro lado,  comecei a brincar de lançar nomes de gênios que tinham a mesma, hum, condição. ele ria, e mandava mais alguns nomes.

de repente, um estalo. sheldon cooper. sheldon cooper é o retrato dos sintomas. eu fiz piada com isso. ele disse bazinga.

he had me at bazinga.

7 comentários:

Leiliane Fontenele disse...

Hoje lendo teu post de me deu vontade de ficar solteira. Meu namoro é sem garantias mesmo. Pelo menos solteira eu teria coisas novas que não fosse briguei com meu amor ou hoje estamos bem. SEi lá pode ser noia, sei que vai passar, mas estou com o pensamento, pensamento que não me vinha ha muito tempo.

fico por aqui!

Anônimo disse...

Acabo de me tornar a maior fã do hipster e tô torcendo para ele. Ou melhor, por vocês!

Ana Martins disse...

Finalmente alguém que me entende. bjomeliga, também pertenço ao team hipster.

Caru disse...

cheiro de pipoca no ar.

Luiz com Z disse...

Conheci a Síndrome de Asperger nesse filminho hollywoodiano acima da média:
http://www.imdb.com/title/tt1185836

Mas foi esse longa de stop motion australiano que comunicou com mais intensidade, carisma e alívios cômicos o que pode sair da mente de um aspie:
http://www.imdb.com/title/tt0978762

Não deixe de ver ambos. :)

tippi hedren disse...

queria o botão de like.

Unknown disse...

esse post tá incrível, ç. thiago landi