sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Meme de fim de ano

1. Onde você estava quando 2010 começou?
Em casa, na cidade siderúrgica, com a família.
2. O que você fez em 2010 que você nunca tinha feito antes?
Perdi a vergonha de ir trabalhar de saia curta. 

Comecei a usar maquiagem colorida.
Beijei um menino ruivo. (badge conquistada, hoho)
One night stand. (porque já era hora)
3. Você manteve suas resoluções de fim de ano e fará novas para 2010?
Não mantive a principal, que era passar o ano sem brigar com ninguém. Repito, então, a resolução para 2011.

A nova resolução de fim de ano vai ser fazer menos drama, me rasgar menos, ser mais blasée.
4. Você foi a algum show em 2010?
Placebo, pela terceira vez. E só. Shame on me.
5. Você procurará um novo emprego em 2010?
Eu amo o meu trabalho. Mas, se precisar, se eu achar que é hora, sem dúvida nenhuma.
6. Você bebeu muito em 2010?
Porres históricos.A maioria causada por vodka. E um tiquinho de tequila.
7. Você viajou nas férias? Para onde?
Viagem agora de fim de ano, pra viisitar qiueridos do Rio, trazendo os queridos de São Paulo. Colisão de universos, trabalhamos.
8. Qual foi sua maior conquista em 2010?
Autoestima estampada no espelho. :)
9. Se você pudesse voltar no tempo, para qualquer momento de 2010, e mudar alguma coisa, o que seria?
Eu mudaria a briga com o ex melhor amigo. Apesar de saber que por causa dela eu sou uma pessoa infinitamente melhor.
10. Você ficou doente ou ferido?
Fiquei afônica umas quatro vezes. Ferida eu fiquei, de morte, com a briga com o ex-melhor amigo. Já estou melhorando.
11. Qual foi a melhor coisa que você comprou?
Outro iphone, depois do primeiro ter sido roubado. O Ipad, agora no finzinho do ano. Minha jaqueta bege da Zara.
12. Quais são as pessoas cujo comportamento mereceu aplausos?
Alguns amigos. Eu, pra algumas coisas.
13. E quais são as pessoas cujo comportamento você reprovou?
Alguns ex-amigos. Eu, pra algumas coisas.
14. Onde você investiu a maior parte do seu dinheiro?
Contas, vestidos, gadgets e festas.
15. O que te deixou muito, muito, muito feliz?
Minha festa de aniversário, juntando algumas das pessoas que eu mais amo no mundo.  Minha casa sempre cheia de gente querida. 

Alguns resultados no trabalho. 
A notícia de que Veneceous vem vindo morar em SP, agora no inicinho do ano. E que os nossos cafés da manhã de domingo, hoje via skype, poderão ser ao vivo.
16. Qual música sempre vai te lembrar de 2010?
The Suburbs, do Arcade Fire.
17. Comparando este momento com o que você viveu exatamente um ano atrás, você está mais feliz ou mais triste?
Absurdamente mais feliz. Nem se compara. \o/
>> mais magra ou mais gorda? Igual. O que é um excelente sinal, hoho. \o/
>> mais rica ou mais pobre? Mais rica. \o/
18. O que você queria ter feito mais? 
Fui pouquíssimo ao cinema. Vi pouquíssimo os meus seriados. Dormi menos do que precisava.
19. O que você gostaria de ter feito menos?
Bebi mais Coca-cola do que deveria ser permitido.
20. Como você passou seu Natal?
Bem, em família.
Não existe a 21…
22. Você se apaixonou em 2010?
Não. Mas me encantei com alguns rapazinhos. :)
23. Qual foi a maior mudança para você em 2010? 
Amigos. Troquei a maioria, por necessidade. Troca válida, troca incrível.
24. Quais foram os seus programas de TV favoritos? 
Seriados: Greys Anatomy, The Big Bang Theory, How I Met Your Mother.
25. Você odeia alguém agora que você não odiava há um ano?
Não. Mas teve gente que morreu, pra mim, esse ano. Morte sofrida e necessária.
26. Qual foi o melhor livro que você leu? 
Gente, que horror. Não li. Hello. Sou burra?
Em compensação, li todos os blogs do muito, muito, todos os dias. Vou listar depois.
27. Qual foi a melhor descoberta musical?
Redescobri Arcade Fire. E Placebo. E Alanis, quem diria.
28. O que você queria e conseguiu? 
Várias coisas. Recuperar o tempo perdido na firma colorida, fazer amigos novos.
29. O que você queria e não conseguiu? 
Eu queria não brigar. Eu briguei mais do que devia ser permitido.
30. Qual foi o seu filme favorito em 2010? 
Deixe ela entrar, que só vi esse ano. A Onda, alemão, incrível. Achei Inception bom, mas não, não é o novo Matrix.
31. O que você fez no seu aniversário (e quantos anos você tem)? 
Fiz 31. Juntei todo mundo no karaoke.
32. Que coisa teria tornado seu ano imensuravelmente melhor?
Ele foi um bom ano. Tenho reclamações não.
33. Como você descreveria seu conceito pessoal de moda e estilo em 2010?
Encurtei a franja e as saias.

Fiz experimentos com maquiagem colorida e delineador.
34. O que manteve sua sanidade?
Terapia, uma vez por semana. Senão, nem sei.
35. Qual celebridade/figura pública que mais te fascinou?
Hum. Não sei.
36. Escolha o trecho de uma canção que melhor resume seu ano de 2010.
Sometimes, I can't believe it. I'm moving pass the feeling again.  - The Suburbs, do Arcade Fire.
37. Do que você sente falta?
Do ex melhor amigo, em momentos específicos.

De Julinha do lado, o tempo todo.
Das meninas do MBA juntas, em volta de mim. No Gula-gula. Comendo salada de carne desfiada.
38. Quem foi a melhor pessoa que você conheceu em 2010?
Japa colorida, que eu já conhecia. 

O coworker que ainda não tem apelido. 
As meninas coloridas da firma, que saíram do lugar de coworkers e viraram pessoas favoritas no mundo todo.
39. Conte uma lição de vida importante que você aprendeu em 2010.
Nem sempre as coisas têm conserto. E, sim, a gente sobrevive.
40. Quais são os seus planos para 2011?
Ser mais blasée, quem sabe.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

no ipod em 2010

As mais ouvidas de 2010, segundo meu Last.fm. Porque eu até achava que este seria o ano dominado pela pop music mas, vejam só, rock continuou por aqui. Surprise, surprise.

1. The Suburbs - Arcade Fire
               Sometimes I can't believe it
               I'm moving past the feeling
2. Ready to Start - Arcade Fire
3. Speak in Tongues - Placebo
4. Kitty Litter - Placebo
5. Modern Man - Arcade Fire
6. Ashtray Heart - Placebo
7. I'll Try Anything Once (You Only Live Once Demo) - The Strokes
               Sit me down, shut me up
               I'll calm down, and I'll get along with you 
8. Julien - Placebo
9. Dance Anthem of the 80's - Regina Spektor
               And it's been a long time since before i've been touched
               Now i'm getting touched all the time
               And it's only a matter of whom
               And it's only a matter of when
10. Rococo - Arcade Fire
11. White Rabbit - Jefferson Airplane 
12. The Calculation - Regina Spektor
               So we made the hard decision
               And we each made an incision
               Past our muscles and our bones
               Saw our hearts were little stones
13. Samson - Regina Spektor
14. Devil in the Details - Placebo
15. Haemoglobin - Placebo
16. Holocaust - Placebo
17. Trophy - Bat for Lashes
18. Better - Regina Spektor
19. Empty Room - Arcade Fire
20. My Sweet Prince - Placebo
21. On the Radio - Regina Spektor
22. Laughing With - Regina Spektor
23. The Never-Ending Why - Placebo
24. City With No Children - Arcade Fire
25. Peeping Tom - Placebo
26. Us - Regina Spektor
               They'll name a city after us, and later say it's all our fault
               Then they'll give us a talking to
               Then they'll give us a talking to
               Cause they've got years of experience 
27. Après Moi - Regina Spektor
28. Bright Lights - The Strokes
29. Special K - Placebo
30. Soulmates - Placebo
               Dry your eye, soulmate dry your eye
               Cause soulmates never die

Top 30 artistas de 2010
 
1. Placebo
2. Regina Spektor
3. Arcade Fire
4. The Strokes
5. Alanis Morissette
6. The Killers
7. Lady Gaga
8. The Beatles
9. David Bowie
10. Coldplay
11. Weezer
12. Madonna
13. Rufus Wainwright
14. Franz Ferdinand
15. Silverchair
16. Bat for Lashes
17. Jefferson Airplane
18. Queen
19. George Michael
20. The Smiths
21. Red Hot Chili Peppers
22. Britney Spears
23. Robbie Williams
24. Scissor Sisters
25. Wolfmother
26. Amy Winehouse
27. Yeah Yeah Yeahs
28. Jason Mraz
29. The Ark
30. Carla Bruni

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Da vida como ela é. Da vida como ela tem sido.

eu sei que a gente vive a vida falando das maravilhas de ser solteira, e livre, e poder fazer o que quiser, com quem quiser. e se gabar de ter ficado com os meninos mais bonitos da festa, e de ter continuado saindo com um deles, o mais legal, o mais divertido, o mais interessante.

e parecer bem resolvida, bonita, interessante, inteligente, essas coisas todas que todo mundo acha que é bonito parecer. e saber que eu sou, de fato, muito legal. porque eu não pareço: eu sou.

e tudo se esvai num telefonema que não vem depois do date que terminou com o menino bonito na sua casa. a segurança, o sorriso, a sensação de dominar o mundo.

porque - sim - é muito legal ser solteira, e livre, e poder fazer o que quiser. e, sim, no caminho existem milhares de caras bonitos. mas tudo isso, no fim das contas, se resume a buscar um menino, um só, que não abandone a gente no dia seguinte.
a questão toda é. o segundo menino era muito, muito legal.

eu não sabia. eu não tinha como saber. eu só via ele pelos elevadores, e eu nem nunca achei que ele estivesse me observando. eu me lembro do dia que eu o vi pela primeira vez. quais são as chances de alguém se lembrar da primeira vez em que vê outra pessoa?

faz uns três meses, e eu estava no elevador, subindo. o elevador parou no sétimo andar, abriu as portas, e ele estava ali. provavelmente querendo descer, porque ele não entrou. houve aqueles 3 segundos em que a gente se olhou, ele do lado de fora, eu do lado de dentro. eu achei que ele parecia com martim, e cismei que martin trabalhava na firma. eu andava meio obcecada. o elevador fechou as portas, eu terminei de subir, ele provavelmente desceu.


houve esse momento. e eu me lembro.


na festa, ele contou que me observava há uns seis meses, e que apostava que eu nunca tinha visto ele por ali. e eu contei que já tinha, sim, e citei o dia do elevador.

fomos ao cinema. jantamos. ele me buscou e me levou em casa. mãos dadas. eu não sei andar de mãos dadas. não consigo. toda uma vida sem a mão de alguém na outra ponta. o menino jornalista é mais novo, meio moleque, no bom sentido. uma coisa mais leve. o que faz com que eu realmente acredite que isso não vai pra frente. 

o que não me impede de aproveitar o passeio.

e, vou dizer. que passeio. :)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

os dias seguintes

a parte divertida é contar pros amigues. eles pedem foto. você acha. do menino número 2, aquele que te adicionou no facebook, e você já tem acesso aos álbuns antes bloqueados. fácil, simples.

o menino número 1 não tem links. fico meio pra morrer com gente sem links, sem fotos. como vou provar pra veneceous e velma quem era o menino bonito que eu tava falando?

daí vou pra reunião com ele. fico entediada. o assunto não me interessa tanto, não me envolve, sou apenas consultada pruma questão ou outra. me entretenho com o que? o iphone querido. o bom do iphone é a discrição que a pessoa pode sair fotografando seres humanos por aí. sem que eles notem.

eu precisava de fotos. o menino mais bonito do mundo não tem fotos. e estava ali, na minha frente. distraído.

fiz um book. tem de lado, de frente, mão na testa, braços cruzados. eu fotografava e mandava pra veneceous, pra minha irmã, pra anne louise, pro baile todo.

eis que a reunião vai acabando, e eles precisam fazer um teste. NO MEU IPHONE. o mesmo que eu tava mandando mensagens, e tirando fotos? e de repente meu iphone está nas mãos dele. e eu de pé, meio desesperada, torcendo pra que ninguém tivesse a brilhante ideia de me responder as mensagens.

momentos de terror.

domingo, 19 de dezembro de 2010

o dia seguinte

toda uma novela essa minha vida.

comofas com o dia seguinte em que a gente aprontou na festa da firma? comofas quando a reunião que você tem, e que vai durar a tarde toda, é junto com o menino mais bonito do mundo. aquele que você estava beijando poucas horas antes? e a reunião é com os outros meninos, que VEJA BEM, podem ter assistido aquela cena bonita da noite anterior, de camarote? 

nunca se sabe.
 
comofas quando você sabe que tem um outro menino, alguns andares acima, que também pode ter sido visto. e que um não pode saber do outro? e que seria bom que ninguém soubesse de nenhum? mesmo quando você sabe que não tomou os cuidados necessários pra não ser vista?
 
comofas quando você não sabe exatamente quem te viu com um, quem te viu com outro, e quem te viu com os dois? comofas pra impedir que os assuntos se propaguem, e se misturem, e as pessoas troquem informações e descubram que você, menina fofa e educada, fez strike, como costuma dizer sua irmã?
 
comofas quando alguém insinua que te viu na festa, e você não sabe exatamente de quem a pessoa estava falando? e não pode perguntar, porque VEJA BEM, vai que você acaba contando que eram dois, e a pessoa achava que era só um?
 
cada encarada, cada sorriso meia boca. pra mim, é alguém que viu. alguém que sabe. alguém que tem informações. cada email que chega com links de fotos faz gelar a espinha. porque pode ser você, ali, em alguma situação que não devia ser registrada.
 
comofas quando você tem outra reunião, em outro andar, e é parada pela secretária principal, uma fofa que conhece todo mundo, e que vem te perguntar se os rumores são verdade, se você pegou mesmo o (inserir apelido do OUTRO menino, no diminutivo) na festa? e quando você, CORADA, pergunta como ela soube, ela responde. só se fala nisso aqui no andar? comofas? quando a sua chefa faz a mesma brincadeira, com a mesma pergunta, e o mesmo apelido carinhoso, no diminutivo, se referindo ao menino jornalista?
 
posso ficar feliz porque os dois não se conhecem, e porque PELO MENOS eu tive o cuidado de me entreter com meninos de áreas diferentes? posso torcer pra que quem circule pelas duas áreas, assim como eu, não tenha a brilhante ideia de discutir a festa?
 
***
 
com o menino número 1, aquele mais bonito do mundo, foi assim. 15 minutos de awkwardness, com a gente com vergonha um do outro. em seguida, tudo bem. ele continua incrivelmente bonito. não fiquei imune, não.
 
com o menino número 2, o também bonito e alto, muito alto, conversas começam a se desenrolar, tímidas. msn, seu lindo. a conversa continua boa. cinema, talvez, pro final de semana. vamos ver.

***

consequências. tamos aí. LIDANDO.

sábado, 18 de dezembro de 2010

festa da firma

desde que eu cheguei em são paulo, desde que eu conheci a firma colorida, eu ouço falar sobre a festa de fim de ano. o dia em que se abre um portal encantado e tudo é permitido. e as pessoas perdem a noção. e casais se formam e se desfazem. e grandes traições, brigas e barracos acontecem. nesse único dia. o da festa da firma.

não há de ser surpresa pra ninguém a minha contagem regressiva. principalmente no ano em que eu posso dizer que virei party people. na verdade, essa minha fama recente de party people, junto com a japa colorida e os outros amigos, já correu toda a firma. todo mundo sabe onde a gente vai. o que a gente fez. todo mundo quer sair com a gente. de vez em quando a gente até carrega um ou outro para uma ou outra festa.

brinquei que as expectativas eram altas, e teríamos de nos esforçar para atendê-las. sabe como é. vodka. eu realmente tinha planos de que a festa fosse incrível.

e não. eu não estava exatamente mal intencionada. eu juro.

***

eu dançava, obviamente alterada, como se não houvesse amanhã.  

eis que passa por mim o menino mais bonito do mundo. ele não é amigo dos meus amigos, mas eu apresentei, aquela coisa bem educada, e puxei ele pro grupo, pra dançar com a gente. e ele veio. 

e ele dançou. com o grupo? 

não. comigo. 

eu juro que não tive maldade. não no início. só resolvi corresponder a toda aquela aproximação depois de ter absoluta certeza de que não, eu não estava sonhando. repito. não sou a fim dele. nunca nem cogitei nada do tipo.  way out of my league. coisa boa na vida é a gente ter senso. mas ele é bonito. e eu nunca escondi de ninguém o efeito que ele causa em mim. 

e ele estava ali. dançando colado comigo. me segurando pela cintura. e eu estava meio bebada. e eu estava dando corda.

quando me dei conta, ele estava me carregando pela pista. não esperou a gente estar em um lugar mais escondido pra me beijar. eu perguntei se ele estava louco, ele disse que não se importava. daí eu também não me importei.

então foi isso. eu fiquei com o menino mais bonito do mundo. só porque ele era incrível, e estava ali, dando sopa.

não foi nada de mais. nada mesmo. ele foi embora, eu continuei na festa.

badge conquistado. bom pro portifólio. vida que segue.

saí contando pra todos os meus amigos, ainda em choque com o que tinha acabado de me acontecer. quando você pega um cara incrível, e quando você não se importa de parecer ter 16 anos (hello, de 13 pra 16, grandes progressos), a situação é clara. 

kiss and tell.

***

algum tempo depois, eu troco olhares com esse outro rapazinho. o menino que parece martim, que eu cruzei nos elevadores muito rapidamente, mas o suficiente pra ficar curiosa. alto. jornalista. outra área da firma, outro mundo. o meu mundo.

conversa vai, conversa vem, conversa ótima. enquanto ele ensaiava todo tipo de aproximação, eu só pensava em me esquivar.  e eu pensava, cá com meus botões. sua louca. você não pode beijar dois meninos na festa da firma. mas a conversa era boa. o menino era bonito. e legal. tirei ele do meio do galere e na pista, já quase vazia, ele me roubou um beijo. e eu, novamente, não me importei. 

***

peguei dois meninos bonitos na festa da firma. não, não acho certo. não acho bonito. alguns me viram com um, outros me viram com outro. certamente alguns me viram com os dois. 

achei divertidíssimo. isso eu achei.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

o menino mais bonito do mundo

ok. nem todo mundo concorda que ele é o menino mais bonito do mundo. mas eu não conheço UMA pessoa que não olhe pra ele e não concorde que - sim - ele é bem incrível.

meu primeiro contato com ele foi ainda na oficina. eu ia realizar uns testes com usuários, e fui avisada em cima da hora que eles seriam assistidos pelo cliente. entre um teste e outro, tive a brilhante ideia de invadir a salinha pra papear com o cliente, pra saber o que ele estava achando, pra acertar os erros.

entrei na salinha num atropelo, e dei de cara com esse menino. pele branca, barba, olhos incrivelmente verdes. o cabelo castanho claro, cortado curto. perdi o rumo. mal consegui ordenar as palavras. saí da sala em estado de choque, e fiz um escândalo com as meninas na sala. quem é esse menino? por que ninguém me preparou para esse encontro?

elas riam, e boa parte já tinha passado pelo mesmo processo de choque. resolveram não me avisar de propósito. pra que eu passasse por isso. desde então, toda vez que o nome do menino mais bonito do mundo é pronunciado em um recinto, qualquer recinto, eu repito em voz alta, meio com um gemido. porque precisa. é o drama necessário que acompanha a situação.

há alguns meses, a notícia de que ele estaria vindo para a firma colorida. não na minha área, mas lá na outra, a equipe antiga e querida, do gerente de covinhas. quase morri. alertei todo mundo. o menino mais bonito do mundo vem aí. preparem-se. nos esbarramos vez por outra e o efeito que a criatura causa se manteve inalterado. em mim, nas outras meninas, nos meninos, o baile todo.

há três semanas eu chego numa reunião do projeto e ele está ali, sentadinho. quase morro. muita informação para a minha cabeça. enquanto ele era anunciado o novo responsável pela outra parte do projeto, o MEU projeto, eu lancei o iphone e twittei. susan miller, sua linda. porque ela tinha dito que urano era o fator incrível na minha vida. e urano trouxe o menino mais bonito do mundo para o meu projeto.

desde então, é susto todo dia. ele chega na minha mesa sem avisar e eu levo uns bons 30 segundos pra me acalmar e entender sobre o que estamos falando. eu fico desnorteada. quando ele sai, eu brinco. ele precisa me avisar da visita antes, pra eu me preparar. é tão bonito.

aos poucos, a gente vai se entendendo. ele me chamou pelo meu apelido no outro dia, e eu confesso uma pequena crise quando isso aconteceu. VEJAM BEM. não estou a fim dele. é só choque, mesmo. com aquela beleza toda concentrada numa só cara, a dele, ali, a poucos metros. me chamando pelo apelido, me olhando com os olhos verdes, se despedindo com beijo. quase morro. muita emoção.

ele tem namorada, obviamente. além disso é mais novo. não é um cara interessante. não tem essa coisa que eu super olho, a personalidade, a piada pronta, a risada. ele é tímido. tímido e lindo.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

processando 2010 - parte quatro

trabalho foi a coisa mais genial. 

sabe a firma colorida? é minha. cada centímetro, cada pessoa, até aquelas que eu não sei o nome. a cozinha com o chocolate quente, o carrinho com a salada de frutas, o designer querido que trabalha do meu lado e faz ficar lindo tudo o que eu invento. os meninos geeks, o helicóptero de brinquedo que sobrevoa o nono andar, os cumprimentos de bom dia no elevador, sempre quase ao meio-dia, quando eu estou chegando para o trabalho. porque eu acordo as 10h, chego 12h, checo e-mail, saio pra almoçar e volto. e aí então o dia começa. :)

as rampas da garagem, que eu subo mais rápido do que é permitido. e que eu desço, também rápido, ouvindo arcade fire, strokes, alanis (por que não), placebo. o passeio por entre as baias, sentando um pouquinho na mesa de cada querido, pra saber se está tudo bem. os almoços fugidos, os murais decorados. o gerente de covinhas sorrindo lindamente e me chamando pelo meu apelido, forçando sotaque carioca. tudo meu. 

os jantares tarde da noite na temakeria, ou no restaurante árabe, onde a gente flerta com o garçom e pondera se ele é hetero ou gay. ele podia escolher quem ele quisesse, na nossa mesa. temos todas as opções. o elevador que demora, os queridos antigos, lá no outro andar. o menino mais bonito do mundo, recém contratado na equipe antiga, sendo encaixado no mesmo projeto que eu. e eu fico ali, olhando. meodeos. bochechas naturalmente rosadas. a barba por fazer. o olho verde.

o japonês que era querido e que agora me dá nos nervos, sendo malcriado. meu também. aos poucos a gente se reajusta. o designer bonitinho que tem namorada, que me imita usando o iphone, e é quem mais me dá bronca quando eu fico ausente das conversas, entretida com alguma coisa na tela. a japa colorida. tão colorida. tão incrivel. as meninas com sotaques do nordeste. amor em seu estado mais puro. o coworker que precisa de apelido, e rápido, porque ele não é mais só coworker. é amigo. do melhor tipo. de um jeito que o coração transborda só de pensar. cheio de casacos interessantes, e cachecóis, e chapéus, e boinas. me ensinando a não me arrepender das bobagens que eu faço, e me incentivando a fazer mais bobagens. eu preciso fazer bobagens. é hora.

são onze meses desde que eu voltei. o projeto está andando, e eu tenho sido levada ao meu limite algumas vezes. mas poucas vezes na minha vida eu estive tão certa sobre o que eu estou fazendo, sobre o caminho que eu estou trilhando. sobre o meu papel nas coisas que acontecem, ali. senso de propósito, a gente vê por aqui. every single day.

2010 foi duro, foi ano de sedimentar o meu chão, de botar as vigas principais, passar cimento, firmar.

2011, possivelmente, será hora de fazer um jardim. plantar margaridas. e trazer passarinhos.

sábado, 11 de dezembro de 2010

processando 2010 - parte três

quando uma coisa acontece repetidamente, é hora de prestar atenção aos sinais. isso quem me disse foi a tarot lady. há quase um ano, dia 29 de dezembro de 2009, eu fui lá na casa dela, saber a quantas andavam as previsões para o meu futuro. estava tudo bem, estava tudo lindo. meus melhores amigos estavam por perto, o trabalho novo ia começar, eu sentia, depois de algum tempo, o chão firme por debaixo dos pés. quando eu já tinha feito todas as perguntas de amor e de trabalho, eu pedi que ela visse as minhas amizades. eu me concentrei naquele grupo específico, o grupo do (até então) melhor amigo.

a primeira carta era o demônio. a segunda carta era o bobo, a carta de valor zerado. a terceira carta era a morte. a quarta carta, aquela que ela tira como conselho, era a torre. ainda em silêncio, eu senti gelar a espinha. aquele jogo era uma combinação maligna de todas as cartas de tarot que eu temia. e elas estavam juntas, na minha frente. no jogo que eu perguntava sobre amizade.

as previsões foram pesadas. briga, ruína, afastamento, dor. segredos e mentiras, ela dizia. meu coração doía olhando aquilo, mas eu tomei a decisão consciente de ignorar o jogo e seguir a vida. ao lado dos meus queridos.

dia 20 de fevereiro meu chão ruiu. qualquer um que tenha  usado algum tempo pra ler as minhas histórias aqui, sabe. meu coração partiu, meus amigos desapareceram. eu lembrava do jogo. "he who foresees calamities suffers them twice over". eu sofri quando não quis acreditar, eu sofri quando precisei acreditar.

o aprendizado que veio, a questão à qual a tarot lady talvez tenha se referido, quando disse que eu precisava entender por que as coisas se repetiam, pra mim ficou clara. eu preciso parar de tratar isso como o fim do mundo. de me despedaçar, de me arrasar. de achar que o mundo acabou. AQUELE MUNDO ACABOU. fato.

no lugar daquele mundo, eu vi surgir um outro. eu ganhei dois dos meus melhores amigos, hoje. eu ganhei as pessoas mais incríveis, os amigos de festa, de gargalhada, de almoço. de discussão sobre caras bonitos, de discussão sobre a vida. de olhar no olho e saber exatamente o que vai, ali. de mandar sms de madrugada. porque pode.

e eu nunca fiz tanta festa. eu trouxe pra outra metade do apartamento, depois da saída da roomie freak número 2, a amiga dos tempos de oficina colorida. e a casa ganhou sotaque de minas e cheiro de baunilha, e bolos quentinhos pra comer com geléia. e almoços pelo bairro, e colisão de universos, e músicas gritadas no karaoke. minha casa virou ponto de encontro, e nunca esteve tão cheia. nunca eu tive tanto prazer em receber os meus queridos do rio, de jogá-los no sofá roxo e saber que eles estariam ali pela manhã. vi leo ficar amigo da japa. vi veneceous gargalhar com a ana, enquanto  me esperavam terminar a maquiagem. vi o dia nascer com eles, sentada no degrau da portaria do prédio. eu estou rodeada de gente feliz. e de gente que me faz feliz.

aquisições de 2010, hum, deixa eu ver. não conto nos dedos de uma mão. preciso de mais dedos. de mais mãos.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Processando 2010 - parte dois

Em 2010 eu não me apaixonei nenhuma vez. Tive meu coração partido lá bem no inicinho, com covinhas encontrando o amor de sua vida bem debaixo do meu nariz, fiquei um tempão colando os cacos. Me envolvi com meninos errados e meninos certos. Nenhum dos envolvimentos foi pra frente. Valeu pra consertar minha autoestima, que sempre foi capenga. Eu sempre me achei sem graça. Aquele tipo de pessoa que você até acha ok, mas não é nada demais,  passa despercebida. Esse ano eu me olhei no espelho e o que eu vi foi uma mulher bonita. Desculpaê. Eu gostei do que eu vi.

Junto com a autoestima veio a atitude. O bancar uma one night stand, coisa que eu nunca tinha feito na vida. Menino Pedro, cabelos cacheados, saiu da minha casa um domingo de manhã e a gente nunca mais se viu. Eu estranhei, mas a vida seguiu. E eu pude me engraçar com o hipster, com o menino ruivo, com o menino de olhos azuis que não valia era nada, e com todos os outros. A arte de manter um relacionamento (?) depois das primeiras semanas, ainda desconheço. Aproveitei o ano pra ser inconsequente, pra tomar porres homéricos, pra stalkear guys from last night no facebook, pra dançar no pole dance do Vegas, pra correr risco de ser presa por atentado ao pudor dentro do carro do menino que não prestava. Foi bom, sabe? Foi divertido.

Flertei de leve no trabalho, flertei loucamente nas festas, e todos os meninos pelos quais eu me encantei tinham namorada. Uma droga, eu sei. Vida que segue. Todos os caras com quem eu realmente me envolveria já estavam envolvidos. E, justamente por serem caras tão legais, não estavam disponíveis para experimentar uma traição. E nem eu toparia.

Eu costumo me encantar com os caras mais legais. Isso é uma regra. Fica aquela aura de amor impossível, de coisa interrompida, de que pena, não pode ser. Eventualmente, quem sabe, eu acho um cara legal e disponível.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

geek whore

aí você esbarra num cara incrível, num desses eventos de trabalho. exatamente do jeito que você gosta. não exatamente bonito, a barba, o sorriso tímido por trás do cabelo bagunçado, o allstar colorido. vocês começam a discutir um case e antes que vocês percebam estão, os dois, rabiscando colorido nos papeizinhos. ele ordena as ideias escrevendo, e a letra é bonita. e ele escreve na folha sem pauta em linhas tão retas. minhas linhas são tortas, sempre foram.

ele deita o iphone no modo paisagem e digita furiosamente com os polegares. eu fico uau. porque esse não é um celular feito pra isso. pra digitar com os polegares. quer dizer. você *até pode* fazer isso. mas o design não favorece. o aparelho é escorregadio, mais largo, feito pra ser segurado com uma mão e acionado com outra. 

e o menino ali. ninja. 

e eu ali. uau. imaginando as maiores bobagens da história da humanidade.

geek whore. o/

é óbvio que ele tem namorada. precisa nem perguntar, né?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

processando 2010 - parte um

há um ano, quando 2009 se despedia e 2010 se apresentava cheio de possibilidades, eu respirei fundo, fechei os olhos, e desejei uma coisa. uma coisa apenas, e se meu ano me desse isso, eu já estaria feliz.

eu desejei não me envolver em brigas. não me aborrecer com ninguém, não aborrecer ninguém. não me desgastar, não chorar, não perder o tom, o equilíbrio, as estribeiras. ser pessoa agradável, que só trouxesse coisas boas e lembranças felizes. 

eu juro que foi isso que eu desejei, com toda força que eu tive.

em 2010 eu me envolvi em mais brigas do que em qualquer outro ano da minha vida. algumas eu não queria, algumas eu provoquei, algumas eu contribuí lindamente com a parte que me cabia, os meus 50%. nenhuma delas me deixou sair ilesa. de algumas delas eu saí melhor, mais segura, mais resolvida. de outras, mais enfraquecida, mais estilhaçada. todas elas poderiam ter sido menores do que foram. e, por isso, eu assumo total responsabilidade.

eu e essa minha maldita mania de tomar qualquer coisa como fim do mundo. nem sempre é. nem sempre precisa ser. mas eu faço com que seja, every single fucking time. por causa do drama todo, do coração partido, da sensação de morte, mesmo. e eu tinha me prometido não brigar.

da briga com o ex melhor amigo, ficou a saudade, depois que eu filtrei todas as coisas ruins de todo o processo. ficou aquela coisa de achar que podia não ter sido tão ruim, tão irreversível. ficou a noção de que eu provoquei, e que eu machuquei, e que 50% ali são meus. e sou eu que preciso lidar com isso. com essa responsabilidade. os outros 50 são dele, e eu nem sei se ele já processou tudo isso. eu espero que sim. da briga com ele eu saí mais forte. saí com uma autoconfiança que não existia, e que me permitiu fazer coisas que eu nem imaginava antes. da briga com ele eu saí bonita. eu saí engraçada, e interessante, e cheia de vontade de fazer as coisas do meu jeito. porque já fazia tempo que, sem perceber, eu fazia as coisas do jeito dele. ainda estou colando cacos, vez por outra eu ainda desabo. mas não tem um dia que eu não perceba o quão melhor eu estou depois de ter passado por isso.

da briga com, hum, deixa eu ver. a roomate que eu achava fofa e nem era, era estranha e errada. ficou a distância, o eu não querer nem contato. não era só a criação diferente o problema. vai além. é questão de índole, mesmo. gente que mente, rouba e trapaceia. aquela coisa. que siga a vida, e que seja bem longe. coisa que eu aprendi esse ano. gente louca você não tenta entender. de gente louca, você corre.

da briga com a frá ficou a gargalhada. e a consciência - mais uma vez - de que ela configura a amiga café-com-leite. não tem nada que a gente não resolva.

da briga com anne louise, mais uma, ficou toda uma maluquice pra consertar. maluquice da minha cabeça, que fique claro. porque desde sempre a gente briga, e para sempre vai ser assim. e eu preciso aprender que isso não é o fim. por mais que pareça, toda vez. o carinho, que é o mais importante, continua ali. o resto se ajusta.

da briga com s. eu não sei. eu nem sei o motivo de ele ter brigado comigo. acho que nem ele sabe. espero que ele descubra. e me conte.

da briga com a evil manager, sobrou o maior time will tell da história. comigo extremamente feliz no trabalho, fazendo tudo o que eu sempre quis, rodeada de gente boa. com a roomate feliz no trabalho dela, fazendo tudo o que sempre quis, rodeada de gente boa. com as gênias coloridas saindo uma a uma da oficina, e seguindo adiante, fazendo coisas incríveis. com os martinis sendo mantidos, sempre que possível. com as notícias sempre frescas de que a evil manager continua no MESMO lugar, com o MESMO cabelo, os MESMOS problemas, a MESMA antipatia daqueles que a rodeiam, o MESMO discurso vencido de que ela está certa e todo o resto da humanidade errado. isso é time telling. todo dia, toda hora. :)

eu desejei com todas as minhas forças que 2010 fosse um ano sem brigas.

nesse aspecto, eu falhei miseravelmente.

sábado, 27 de novembro de 2010

ainda.

quanto tempo é permitido sofrer? qual é o prazo socialmente aceitável?

não estou falando do let go. o let go já veio. eu já entendi que nem sempre a gente consegue manter por perto aqueles de quem a gente gosta. que os estragos são feitos, e uma coisa piora a outra, e muitas das vezes a gente perde o controle. e tudo fica pesado demais para ser simplesmente apagado, esquecido. 

não estou falando do move on, do achar novas pessoas, fazer novas coisas, descobrir outros caminhos.

estou falando da perda, propriamente dita. da saudade que fica quando a raiva vai embora, quando você consegue dissociar as coisas ruins que ouviu do que é verdade, porque sabe que só foi machucada porque também machucou.

estou falando da saudade que te toma de assalto quando você vê a pessoa passeando distraída na rua. Quando vê um livro e sente o impulso de comprar, porque sabe que ela gostaria de ganhar de presente. Ou quando vê um desenho, ou uma fotografia, ou um filme. a cada vez que surge um momento desses, um impulso quase inconsciente traz de volta as lembranças, ainda tão vivas.

eu morro de novo, e de novo.

e o tempo destrói tudo. o tempo desembaça a vista. hoje eu vejo que houve um momento em que eu poderia ter trazido ele de volta. ali, parado na minha frente, sorrindo. eu me assustei. e reagi com medo, depois com gritos, com todas as coisas que andavam engasgadas junto com o choro. minha reação foi a mais verdadeira possível. naquele momento. se hoje a mesma cena ocorresse, se eu fosse surpreendida com um sorriso, talvez eu sorrisse de volta. e eu sei que eu ia desabar, e chorar tudo aquilo que eu já chorei em dobro. e olhar com raiva, depois com pena de estarmos os dois nessa situação, depois com alguma ternura, dessas que sobram, mesmo quando todo o resto desanda. e abraçar com força, pra segurar e não deixar ir embora. porque o último abraço que eu dei selou o fim. e eu sabia, no momento em que soltei os meus braços e recuei.

todo o resto desandou. e no outro dia eu pensei. e se eu abrisse os vidros do carro e gritasse o nome dele? e sorrisse? e tentasse olhar nos olhos, buscar aquela ligação que um dia existiu, tão firme, tão limpa. e eu perguntasse. até quando? até quando a gente vai passar por isso assim, de longe? sem falar, sem saber? evitando cada encontro, evitando cada troca de olhares? será que existe uma outra forma de passar por isso?

eu sei que eu fui machucada. eu ainda estou. eu ainda choro até dormir. ainda ontem eu não conseguia sair do carro, porque o mundo desabou de repente, assim, sem aviso. faltaram as forças, mesmo. porque eu sinto saudades. porque eu sei que eu machuquei de volta.

e não interessa que eu não tivesse a intenção. eu machuquei. e toda a raiva que veio, veio porque eu fugi. eu me afastei. eu cortei. eu me arrependo. eu não sei como eu poderia ter feito diferente, não sei mesmo. eu briguei com as armas que eu tinha. eu tinha um coração partido, eu tinha esse monte de frases que me escapavam quase que sem filtro, eu tinha esse espaço. eu escrevi a minha dor. eu machuquei. eu não queria machucar. 

e se eu abaixasse os vidros do carro e falasse? como a gente conserta? tem conserto? eu tento perdoar. todo dia. não tem mais raiva. tem tristeza, tem saudade, tem esses momentos que eu dividiria com ele, e que ficam aqui, guardados, trancados. eu não substituo pessoas. o espaço que era dele é dele, ainda. aqui do lado. no outro canto do sofá. do outro lado da rua. do outro lado da mesa. é dele.

como a gente conserta o que não tem conserto?

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

música explicando saudade



:~

Sympathetic Character
(Alanis Morissette)

I was afraid you'd hit me if I'd spoken up.
I was afraid of your physical strength.
I was afraid you'd hit below the belt.
I was afraid of your sucker punch.
I was afraid of your reducing me,
I was afraid of your alcohol breath.
I was afraid of your complete disregard for me.
I was afraid of your temper,
I was afraid of handles being flown off.
I was afraid of holes being punched into walls.
I was afraid of your testosterone.

I have as much rage as you have.
I have as much pain as you do.
I've lived as much hell as you have.
And I've kept mine bubbling under for you.

You were my best friend
You were my lover.
You were my mentor.
You were my brother.
You were my partner.
You were my teacher.
You were my very own sympathetic character.


I was afraid of verbal daggers.
I was afraid of the calm before the storm.
I was afraid of for my own bones.
I was afraid of your seduction.
I was afraid of your coercion.
I was afraid of your rejection.
I was afraid of your intimidation.
I was afraid of your punishment.
I was afraid of your icy silences.
I was afraid of your volume.
I was afraid of your manipulation.
I was afraid of your explosions.

I have as much rage as you have.
I have as much pain as you do.
I've lived as much hell as you have.
And I've kept mine bubbling under for you. 


You were my best friend
You were my lover.
You were my mentor.
You were my brother.
You were my partner.
You were my teacher.
You were my very own sympathetic character. 


You were my keeper.
You were my anchor.
You were my family.
You were my savior.
And therein lay the issue.
And therein lay the problem.

sábado, 20 de novembro de 2010

avó falecida manda recado

Festa sexta, festa sábado. Tequila, pole dance, dois celulares de amigas perdidos, dois meninos bonitos depois. 

Domingo de manhã. Eu, tomando café da manhã, recapitulando com uma amiga toda a bagunça das 48h anteriores. Gargalhando. 

Toca o telefone. Minha mãe. O tom preocupado, quase severo. Minha filha, ela disse. Sonhei com sua avó essa noite. Estou de pé desde as 7h da manhã, aflita, querendo te ligar. 

Sua avó te mandou um recado.

(Minha avó, pessoa querida, fofa toda vida, morreu em 1986, se eu me recordo. Me recordo pouco, eu tinha 6 anos.)

Sua avó disse que você anda fazendo muita festa, e que é pra você tomar cuidado com exageros. Sua vó pede pra avisar que você vai perder o controle.

Eu, do alto dos meus 31 anos recém completados (preciso lidar com isso ainda, não me acostumo, não me acostumo), passo um senhor esporro na senhora minha mãe. Que é absurdo demais ela ficar me vigiando por causa de festa. Que não tem cabimento, isso. Que eu sou adulta, bla bla bla, whiskas sachê. Ela pede desculpas, desliga.

A amiga ali, sentada na cozinha, olhando sem entender. Eu digo. Minha mãe ligou. Sonhou com minha avó, morta em 1986, e minha avó mandou um recado. Eu vou perder o controle.

Amiga solta uma gargalhada sonora. E diz. Mas é agora que ela avisa?

Eu? Eu não poderia concordar mais.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Teoria da distração

Venho elaborando cá comigo essa teoria. Se você está muito puto com alguma coisa, tipo 100% puto mesmo, você precisa se distrair. Faça uma bobagem qualquer, algo que te tire do assunto, do eixo, que desvie a sua atenção para outra coisa, ou outra pessoa, ou outra vida em geral.

Daí você continua puto com o que você já estava antes, mas só 50%. Ou 30%. Ou 10%. O importante é que o  espaço restante, aquele da distração, passa a ser gasto com coisas legais. E de repente, você está só 50% puto com alguma coisa, e 50% animado/distraído/gargalhando com outra. Ou 60%. Ou 90%.

Tenho colocado em prática. Isso explica uma parte das so-called bobagens que eu ando fazendo.

Vale cada segundo. De distração.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

martim no supermercado

esbarrei em martim no supermercado. era ele. eu, com duas amigas loucas, com planos de passar a tarde bebendo vinho e olhando o pôr-do-sol. a gente se esbarrou perto da prateleira de flores. trocamos olhares, daqueles de reconhecimento, mas não, não nos cumprimentamos. não é um oi, como você está. a gente sempre se encontra em um momento específico, de fragilidade, os dois prestes a entrar em salas separadas por uma parede grossa, cada um com seu personal freud. não é um momento fácil, aquele, da sala de espera. ninguém fala. um olhar ou outro perdido, mas na maioria das vezes, os dois olhando pra frente, lado a lado, para o vazio.

ali, no supermercado, perto da prateleira com flores, o olhar durou uns dois, três segundos. pude perceber como ele é realmente alto. a camiseta meio surrada vermelha mostrando uma tatuagem, no braço. o mesmo alargador, na mesma orelha. fiquei absolutamente incrível com a coincidência. ele deve morar no bairro. quando ele foi embora, entrando no carro, eu vi ele olhando pra trás. ele também deve ter achado curioso.

fiquei fazendo planos de puxar assunto na sala de espera. perguntar se era ele, mesmo, naquele dia de finados, no supermercado do bairro. 

e, desde então, a gente se desencontra.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Menino de olhos azuis. The end.

Check.

Quer saber? Não foi nada de mais. Não foi legal. Ele não foi legal. Eu sabia que ele não era. Eu sabia. Velma avisou. A minha convivência com ele, ainda que esporádica, avisou. Tudo avisou. Eu sabia.


Eu estava curiosa. Porque tinha aquele lance de ele ser bem incrivelzinho quando a gente se encontrava. E era uma coisa mais de química, mesmo. A gente não tinha grandes conversas, assuntos. Não havia. Eu sou capaz de me apaixonar em dois tempos por um cara com quem seja fácil conversar, que seja espirituoso, que me faça rir. Ele nunca me fez rir. Quer dizer. Ele rendeu boas gargalhadas nas minhas longas conversas com velma querida, as duas concordando que tipinho mais babaca ele era. Com ele, eu nunca ri.
 
Mas era isso. Eu estava curiosa. Criei uma certa expectativa, não nego. Eu imaginei que passar a noite com ele seria ALGO. Por causa do piercing, por causa das mãos todas, por causa do algum senso de intimidade que acaba se criando quando você fica com a mesma pessoa muitas vezes.

E não foi legal.

Sim, ele foi escroto. Ficou malcriado, respondão, antes do que eu imaginava. Eu olhei pra ele, vazio, vazio, passive-agressive, enquanto ele tentava se fazer de vítima insinuando que eu estava brincando com ele - vejam só - e perguntei.

Mas já?

Ele não entendeu. Bobagem minha tentar uma conversa que exijisse um pouco mais de raciocínio por parte do menino vazio. Eu fui embora. E pensei que tudo isso foi mesmo uma grande bobagem.

Não me arrependi. Nem um pouco. Eu queria saber, eu caminhei com as minhas próprias pernas até a casa dele. Eu experimentei. Valeu por isso. Agora eu sei. O que eu já sabia, mesmo.

Pensei na Velma, e na sorte que ela teve de ser abandonada enquanto dormia.

De resto, ainda pensando em Velminha, eu acho que finalmente entendi o que ela queria dizer quando falava sobre ele não ser legal. O menino de olhos azuis deixa uma sensação ruim quando vai embora. Ou quando a gente vai embora, anyway. Fica isso. Essa coisa ruim. 


De perda de tempo.
eu ainda não consigo postar tudo o que eu escrevo. acaba sendo meio ridículo. principalmente depois que um dos meus maiores medos - ser descoberta - deixou de existir.
 
eu fui descoberta.
 
hoje, na firma, várias pessoas conhecem o endereço. não. não fui eu que dei. por algum motivo o que eu escrevi tocou uma pessoa, que enviou para outra, que enviou para outra. e essa outra me conhecia.
 
mundo pequeno.
 
eu fiquei pensando. a gente perde perspectiva, mesmo. por um segundo, quando eu fui ameaçada, eu fiquei muito, muito assustada. hoje, parece bobagem, mas eu ainda aperto control + A e delete depois de algum texto mais, hum, comprometedor. o que é comprometedor, eu pergunto? não há nomes, não há nada. existe inclusive ali em cima, canto direito, atendendo a pedidos (ou exigências), um disclaimer.
 
isso é uma obra de ficção. qualquer semelhança com fatos, pessoas ou acontecimentos terá sido por mera coincidência. além disso, é o que eu sempre digo. blog é opt in. vc digita o endereço e lê. vc cadastra ativamente no seu reader e recebe. vc escolhe. ninguém te ataca com isso, não sai no jornal, não tem a sua foto. é uma história qualquer, de uma pessoa qualquer. numa cidade qualquer. assim como todos os outros. assim como os livros, os filmes. a vida.
 
e eu aqui. deletando textos. com medo de uma ameaça vazia, que mal se sustenta. não há nomes. não havendo nomes, não há provas. não havendo provas, não há caso, não há nada. há a suposição. e o que vc faz com uma suposição? hum. nada. essa é a resposta.
 
pois então eu fui descoberta. o mundo não acabou. eu ainda estou descobrindo como lidar com esse novo lugar, onde uma pessoa me conhece primeiro aqui, depois na "vida real". a exposição é toda minha.
 
ainda outro dia eu conheci uma pessoa que só existia aqui, na caixa de comentários. eu podia olhar pra ela e tratar como uma desconhecida. mas ela não é. ela acompanha meu coração rasgando há meses. eu acompanho o dela, também através de um blog. não tem nada de desconhecido nisso. tem reconhecimento. a gente já se conhece.
 
desconhecido é quando alguém te conhece bem. e ainda assim vem aqui. e não entende nada do que você escreveu. e te julga, e te ameaça, e te amedronta e assusta. isso é desconhecido.
 
todo um exercício, isso de voltar a escrever sem medo. faço questão de conseguir.

sábado, 13 de novembro de 2010

hello, stalker.

oi, você que chegou aqui digitando na mesma caixa de busca as palavras: incrível, hipsters, post, twitter, mobile, iphone e freud.

e passou 17m50s lendo. e visitou 12 páginas do blog.

#win

você me conhece. fato. 

apresente-se.

:)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O menino nórdico

Porque o buraco é sempre um pouco mais embaixo.

Há umas semanas teve uma festa da firma. festa que rola vez por outra, meio karaoke, com uma banda do pessoal da equipe antiga. E geralmente eles chamam todos que já saíram da firma, e isso sempre serve pra encontrar as pessoas perdidas. E eu perdi dois amigos para o mercado recentemente. Uns dias sem um deles e o meu coração doi. Ele era quem sempre pedia a minha coca-cola, com gelo e sem limão, antes mesmo de eu me sentar na mesa. O que eu vou dizer? Se alguém olha pra você, diz que você é foda e que te paga uma fortuna, você tem mais é que ir embora, mesmo. Foi o que ele fez. Eu respeito ele mais ainda por isso, mas meu coração despedaça a cada vez que eu entro no restaurante árabe sem ele.

E ele foi na festa, junto com a amiga, junto com aquele pessoal esperto dos outros andares, com quem a gente pouco esbarra, mas que, em alguns casos, até topava esbarrar muito mais. E eu tava lá. E tinha esse menino desenvolvedor, que trabalhou na firma até meados desse ano. Desde o ano passado eu achava ele meio incrível. Eu era tímida, ainda não estava nessa fase meio pomba gira em que me encontro agora. Ele é alto, meio louro, magro, mas do tipo que vai à academia. Preferia até que não fosse, vejam bem, mas ele vai. E ele toca guitarra, e eu sempre vou achar isso um charme. E ele tem o olho meio puxadinho, mas é louro, nórdico, sobrenome alemão. Acho bem digno.

No ano passado, enquanto eu seguia o coworker territorialista pelos corredores, eu esbarrava nesse menino. Nunca percebi ele me olhando, nada de mais, nada além daquela troca de olhares normal. Saí da firma colorida, fui pra oficina. A firma colorida cliente, de vez em quando a gente esbarrava nas pessoas, por lá, observando os testes com os usuários. E teve esse dia que ele foi. E eu não sabia. E quando eu soube que era a minha amiga querida na salinha de observação, entrei lá que nem uma flecha, fazendo festa. E era ele, lá, com ela. Fiquei sem graça, sorri, vida seguiu. Voltei pra firma, nos esbarramos algumas vezes, aquela coisa default. Quando chegou o email de despedida dele, eu pensei. Oh, crap. Mas nem era assim, algo importante.

Quinta feira, festa da firma, ele aparece. Trocamos olhares. Sóbria, eu fico sem graça. Cumprimentei, começamos a conversar. Ele me contou como estava, onde estava, falou que tinha saído da firma porque foi aprovado num concurso público whatever e era hora de buscar estabilidade na vida. Estabilidade. Tudo que eu não procuro na vida. Eu quero a aventura, thankyouverymuch. Falou que estava pensando em "casar, constituir família". Eu disse. Nossa. Tudo do que eu mais fujo.

Não deu meia hora, eu ainda sóbria, ele me pegou pelo braço. Pra me dizer que desde o ano passsado me achava incrivel, bla bla bla whiskas sachê. E eu. Nossa, menino. Mas que surpresa. E ele segurando o meu braço. E eu. Mas assim você me deixa sem graça.

Abre parêntesis.
Estivesse eu bêbada, como sói acontecer, enlaçava meus dois braços em volta daquele pescoço e o resto era história.
Fecha parêntesis.

Eu estava sóbria. Fiquei sem graça mesmo. E não rolava pegar ele ali, no meio da festa da firma. Pelo que eu me lembrava, de acordo com um leve stalking uns meses antes, o menine tinha até namorada.

Vida seguiu. Cheguei em casa, resolvi buscar. Facebook, e coisa e tal. E tava lá. In a relationship.

Pulei fora. Porque. Né?

domingo, 7 de novembro de 2010

oi, garoto.


faz um tempo que a gente brigou, e eu queria te contar umas coisas. a primeira é que eu ainda sinto saudades. de vez em quando, cada vez menos. mas de vez em quando acontece.

queria te contar que longe de você eu fui livre, e pude fazer as minhas escolhas. e quando eu me dei conta, havia gente incrível em volta de mim. de novo. porque eu sempre reconheço gente incrivel. mesmo que a gente incrível que um dia foi você tenha se tornado essa coisa que eu ainda não sei dar nome. não. eu ainda não sei.

queria te contar que desde que a gente brigou eu comecei a sair. primeiro porque distraia do fato de que eu não tinha por perto o melhor amigo, e todo o grupo. e que vocês continuavam juntos, se divertindo, só que agora sem mim. por escolha. foi escolha vocês me cortarem, foi escolha eu não correr atrás. amizade é mão dupla. se não for, não serve. mas, ainda assim. queria te contar essas coisas.

você dizia que eu era travada, que eu não saia, que eu me permitia muito pouco, quase nada. pode ser. eu nunca vou te perdoar pela forma como essas coisas foram ditas, mas eu queria te dizer que longe de você eu fui livre. e eu virei noites e noites dançando até amanhecer, e eu fiquei bêbada, e eu dancei num pole dance. eu beijei mais meninos bonitos do que eu consigo me lembrar. dormi com alguns. fiquei aborrecida por alguns não me ligarem no dia seguinte, aliviada por outros.

era isso que você dizia? que eu tinha que fazer? eu acabei fazendo, sabe? eventualmente, no meu tempo, na hora em que eu quis, com as pessoas que eu quis. sem que você me dissesse quem e onde. sem que você me ensinasse. sem que você me criticasse por ser uma péssima aprendiz.

sabe a parte em que eu disse que não te perdoaria? eu menti. eu te perdoei, já. ainda tenho um pouco de medo de esbarrar em você, mas só por não saber como agir, mesmo. e porque ainda machuca. não de um jeito ruim, forte, sofrido. é tipo uma alfinetadinha no coração. eu achava que a gente ia ser amigo pra sempre. juro. ou pelo menos por muito tempo. a gente nem foi. engraçado.

ainda ontem eu me lembrei de você. porque era 5 de novembro. remember, remember, de 5th of november. eu lembrei de você me buscando na firma colorida, usando a máscara do V, buzinando alto e gargalhando. e a gente jantou no italiano de sempre, bebeu vinho e teve uma boa conversa. a gente costumava ter boas conversas. eu fico me perguntando onde foi que as coisas se perderam. ali, naquele dia, estava tudo bem.

isso sou eu, purgando a nossa briga. percebendo claramente em quais momentos da minha vida eu faço algo que é resposta pra você, mesmo silenciosa. jogando a cabeça pra trás e gargalhando alto, enquanto tudo gira em volta. eu estou feliz, sabe? tenho novos amigos, e eles são pessoas absolutamente geniais, pra usar uma palavra que eu sei que você adora. com eles não tem tempo ruim, não tem cobrança, não tem julgamento. tem cuidado. tem uma aceitação absurda de cada um como é. um troço que talvez você não conheça. mas que eu te desejo de todo coração.

e era isso, mesmo. o que eu queria te contar. o que eu te contaria, se você ainda estivesse por perto.

domingo, 31 de outubro de 2010

castelinhos

eu tento me concentrar nas coisas boas. e, sim, eu preciso tirar desse ano uma lição. a lição final. eu fico em looping com dramas de amizade não é de hoje. é desde nova, desde criança. grandes perdas, grandes decepções. eu construo um mundo e vejo ele desabar. sempre foi assim. tem sido assim. 2010 concentrou esse tipo de acontecimento com carga extra de drama. acho que pra me ensinar. pra que 2011 comece mais leve. comece só com o que precise restar. o que não precisar, fica por aqui. junto com o ano mais dramático da minha vida, no que diz respeito a amizade.

tem essas duas pessoas oscilando aqui em mim. uma delas ainda constroi castelinhos, e universos, e mundos coloridos. e acha as pessoas incríveis, e se diverte, e abraça, e o coração é quente, e a vida é feliz. eu tive tudo isso esse ano. vi se aproximarem de mim as pessoas mais queridas. estive aberta a isso. a comunicação começa a não precisar de palavras. eu quero guardar todo mundo numa caixinha, dessas de guardados, de lembranças felizes, junto com fitas coloridas e papel de bala de frutas. a alegria é de verdade. o amor é do tipo mais puro. do tipo que dá vontade de chorar, só de pensar que está ali, que existe. e a gente se senta num banco de madeira tomando picolé, no meio da tarde, e gargalha alto. e eu me dou conta de que aquele ali, distraído, é um momento feliz. isso sou eu, repetindo o padrão, construindo castelos bonitos. enfeitando tudo colorido. 

muito escondido, tipo uma sombra, discreta, essa outra pessoa me olha com desdém, e me pergunta até quando? até quando o coração vai encher desse jeito, quanto tempo até que você os decepcione, ou seja decepcionada? e essa pessoa me lembra de todos os escombros, dos castelos que foram construídos. as ruinas ali, me lembrando que às vezes sobra nada, ou sobra muito pouco. e as pessoas que um dia foram guardadas em potinhos foram perdidas, o mundo colorido esmaeceu, aquarelou, escorreu junto com a água da chuva. essa pessoa ainda se contorce de noite, quando ninguém pode ver. e vez por outra ela chora. e amaldiçoa o mundo, as boas intenções, e acha que nada pode dar certo, nunca. e eu me pego, influenciada por ela, achando que nada presta, e nem ninguém. 

num espaço intermediário, todas as coisas que eu ainda não consigo catalogar. todas as relações machucadas. mas que o amor resiste. tem dessas também. os castelinhos que têm rachaduras. que precisam ser reformados, consertados, observados de perto e com cuidado. algumas paredes ruiram, outras persistem. eu não consigo destruir o que restou. fico olhando, meio sofrida, pensando no que ainda pode ser erguido, de volta, naqueles espaços vazios. eu comparo pessoas a construções, me chamem de louca. meus castelos foram surrados esse ano. uns ruiram rapidamente. desabaram como que feitos de areia pura. desmancharam no ar. outros bambearam, algumas paredes caíram. outras persistem, sabe se lá como, sabe-se lá por que.

eu entrei nesse looping, ontem, sem nem perceber. almoçando com dois queridos, desses castelinhos recém construídos, coloridos, firmes. e eu falava de como as pessoas são estragadas. fui corrigida. será que eu estou me tornando uma pessoa amarga, eu fico me perguntando. por que eu não consigo simplesmente me desvencilhar? porque precisa machucar tanto, toda vez? não é justo com quem chega, não é justo com quem persiste. e não é justo comigo, nunca, nunca.

então eu recomeço, do zero. a melhor forma de restaurar a fé é buscar onde ela é testada. e eu corri pra uma dessas pessoas. e passei horas e horas machucando e sendo machucada.  porque machuca, quando a gente se importa. eu me importo. os meus castelos são meus. eu construí, e sim, eu posso me recusar a ver ruir. tem que ser assim. se não for, pra que serve isso tudo? tem que ser assim.

no final, o que resta é isso. é o que a gente constroi. é o que machuca, mas justamente por machucar, é o que deve ser mantido. porque se não machucasse, não era castelinho, não era mundo colorido. e eu fiquei ali. parede por parede, tijolo por tijolo. botando as coisas no lugar. onde elas deviam estar. estou bem esgotada. faltam ajustes. falta a massa, a tinta nas paredes. as novas flores nos jardins. abrir as janelas pra deixar entrar sol, de novo. pra renovar.

eu fico ouvindo que amizade deve ser leve. amizade, pra mim, nunca é leve. nada que tome meu coração é leve. nunca foi. nunca vai ser. alguns vão dizer que é drama. eu chamo de cor. eu pinto as coisas em volta com cores fortes. minhas cores são berrantes. meu castelos são coloridos. eu preciso descobrir um jeito de pegar essa pessoa que se ressentiu, e trancar ela num lugar onde ela só observe as coisas que deram certo. pra que ela acredite, de novo. e deixe de achar que as coisas não têm conserto. pra que ela acredite que não é sempre assim. que não precisa ser sempre assim.