segunda-feira, 12 de abril de 2010

comfort zone

o mais bizarro de ficar sem o iphone é ter perdido os contatos. não, eu não tinha backup. ok, eu sobrevivo. mas é que eu sempre vivi em universos controlados. eu não sou pessoa que lida com eventos inesperados. não sou. experimenta me ligar de última hora me chamando pra fazer qualquer coisa? tudo bem, de vez em quando, muuuuuito de vez em quando, eu topo, mas isso sou eu querendo ser uma pessoa um pouco menos, hum, eu. porque eu não sou de decidir as coisas assim, out of the blue. eu gosto de saber o que vai me acontecer num futuro imediato. eu não sou do tipo que planeja longe, não mesmo. mas o agora tem que ser exatamente como eu imaginei que seria.

e aí, sem o iphone, lá se foi a minha proteção. sou "atacada" por números estranhos o tempo todo. não há registro, eu não sei quem me manda mensagem me chamando pra tomar um café. pode ser um amigo, pode ser um desconhecido. minha resposta, também por sms, levemente assustada será um "quem é?". da mesma forma, recebo mensagem fofa de alguém que ouviu regina spektor e lembrou de mim. mas eu não sei de quem se trata. foram-se embora todos os meus sorrisos ao ver a foto de algum querido na ligação esperando pra ser atendida. agora, só tem susto. quem é? quem é?


se não servir pra mais nada, esse ano já está servindo pra aprender a me desapegar. pra me tirar da comfort zone. eu sou obrigada a desapegar de pessoas, sou obrigada a desapegar do meu gadget querido, sou obrigada a prestar atenção em cada ser humano que resolver praticar amizade comigo porque, bem, ele pode ser um sociopata esperando o momento exato de invadir a minha bolsa e me tirar algo querido. não há controle nenhum, aqui onde eu estou.


estranhamente, eu estou me saindo bem. os sustos estão a cada toque do celular, mas eu já consigo começar a pensar mais no iphone novo, que ainda vai chegar, do que no iphone querido, que tinha as minhas coisinhas. desapegar dos queridos também não foi fácil, mas o trabalho simplificou quando eu desconstruí as pessoas todas. e pensar que, há alguns meses, eu morria de medo de perder algumas amizades. sentia um silêncio diferente e já ficava aflita. e doía o coração. essas mesmas pessoas estão longe, sumidas, nas brumas. perdidas. assim como eu tanto temia que acontecesse. e eu estou bem. é quase como se elas não tivessem existido. elas existiram. mas a gente aprende a se desapegar. doi no início, parece que o mundo vai acabar, some tudo o que se considerava referência. e aí você se dá conta de que aquilo não era referência, era o que você estava - erroneamente - se apoiando. e eu volto pra música da alanis, toda vez. you will learn to lose everything, we are temporary arrangements.


a gente aprende. a perder tudo. os amigos, os amores, o apoio. o passatempo. a gente perde as esperanças, até. e desacredita que as coisas fiquem bem, de novo. porque é tudo muito temporário mesmo, o que liga as pessoas é um fio, e ele se parte tão rápido que, às vezes, a gente nem nota. às vezes, a gente nota. sente arrebentar, fio a fio, desfazer. doi cada pedacinho. mas ainda assim, a gente aprende.


e agora eu estou assim. solta, sem fios. sem memória, sem as lembranças e as fotos dos queridos, sem os telefones, sem os "amigos". é um lugar curioso de se estar. não é confortável. mas, de forma alguma, é ruim. é novo. só isso.

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