preciso contar.
dei o maior furo da história da humanidade. o maior.
você aí. todos os furos que vc der na vida, todos os furos que você presenciar alguém dando na vida, você vai ter a incrível oportunidade de lembrar desse momento e saber que EU ganhei. Que eu bati o récorde. E, que se eu não apanhei hoje, foi a mais pura sorte.
Estava eu no restaurante, almoço com gênias coloridas. Não sei bem de onde o assunto surgiu. Mentira, sei sim. Estávamos falando de turismo de tragédia, e eu super dizendo que havia público sim. Que quando a Daniela Perez morreu e o meu pai botou eu e a minha irmã no carro pra refazer o caminho da garota antes de morrer, e depois parou do lado do mato onde o corpo dela havia sido encontrado pra gente saber que foi ali que ela tinha sido morta, e eu e a minha irmã super achamos mó legal essa aventura, eu não estava preocupada com o fator horror da situação. Lá na minha casa todo mundo sempre teve humor negro, a começar pelo meu pai. Casa de médicos, a gente sempre lidou com acidente, machucado e morte de um jeito meio escroto. Insensível, irônico. Não desmerecendo a tragédia, mas de um jeito que o assunto jamais foi tabu, e sempre foi considerado parte de como a vida acontece.
E eu lá. Discorrendo sobre turismo de tragédias. Tipo ir ver onde é que foi mesmo que o maníaco do parque atacou aquelas mulheres, ou onde Suzane Von Ritchoffen morava com sua família comercial de margarina, antes de mandar todo mundo morrer a pauladas. Onde foi mesmo que Isabelinha morreu? Queria saber o bairro, onde fica o prédio.
Comecei falando de Isabelinha, e as gênias também, mas eu mais. Confesso. Eu fiquei super chocada com a história dela, e a menina era fofa, e eu quis MUITO acreditar que o pai dela não era culpado, porque veja bem, ele é pai. Mas depois a história foi tomando contornos de espetáculo, e dá-lhe fantástico entrevistando a mãe da menina. Meu choque com a situação veio depois. Num dia que teve um evento qualquer pela paz, desse que têm Padre Marcelo Rossi cantando, com cobertura do Jornal Nacional. E eles disseram que a Ana Carolina Oliveira, mãe da menina morta, tava lá.
Todo um caráter celebridade que me incomodou demais da conta. Porque não há celebridade em cima de tragédia. E eu acho que a garota foi meio colocada de mártir, de símbolo da violência e da dor, e talvez tenha faltado uma boa assessoria. Pra dizer que não é ok tirar fotos com fãs, que querem fotografias ao seu lado porque você é famosa. Porque, meu bem, você só é famosa porque a sua filha morreu. Barbaramente.
E eu tava lá, incrédula, vendo a Ana Carolina, com camiseta estampando o rosto de Isabelinha, posando pra fotos com fãs, crianças, velhinhos. Sorrindo pras fotos, dizendo xis.
E. Mermão. Se eu tivesse uma filha, e a minha filha tivesse sido morta, e eu tivesse sido jogada nesse circo, e neguinho viesse me pedir foto, eu rosnava. E avançava. Porque isso não se faz.
E era exatamente isso que eu vinha dizendo na mesa do restaurante, pras gênias. Que eu achava horrível ela posar pra fotos. E nisso. A frase se esvai no meio, a voz me falta. A mãe da menina Nardoni estava a apenas alguns poucos metros, olhando pra mim, prato de comida na mão. Ela estava lá desde quando eu falei do turismo de tragédias, acompanhou toda a minha tese sobre como você deve se comportar quando o seu filho morre barbaramente e o Jornal Nacional faz a cobertura.
Tomei um carão sem precedentes. Foi a situação mais bizarra, quais eram as chances de isso acontecer? De ela estar no mesmo lugar que eu, na hora em que eu falava aleatoriamente disso?
Fiquei meio sem saber o que fazer. Eu realmente penso tudo aquilo que eu estava dizendo, mas ela não precisava estar ali ouvindo. Porque machuca.
Conclusões. Vou cortar o cabelo, pra não ser reconhecida. Vou dar um tempo do restaurante, pra ela esquecer de mim. Vou gradear as minhas janelas quando tiver uma filha, pra que a praga que ela tenha me jogado não tenha efeito. Vou pro inferno.
dei o maior furo da história da humanidade. o maior.
você aí. todos os furos que vc der na vida, todos os furos que você presenciar alguém dando na vida, você vai ter a incrível oportunidade de lembrar desse momento e saber que EU ganhei. Que eu bati o récorde. E, que se eu não apanhei hoje, foi a mais pura sorte.
Estava eu no restaurante, almoço com gênias coloridas. Não sei bem de onde o assunto surgiu. Mentira, sei sim. Estávamos falando de turismo de tragédia, e eu super dizendo que havia público sim. Que quando a Daniela Perez morreu e o meu pai botou eu e a minha irmã no carro pra refazer o caminho da garota antes de morrer, e depois parou do lado do mato onde o corpo dela havia sido encontrado pra gente saber que foi ali que ela tinha sido morta, e eu e a minha irmã super achamos mó legal essa aventura, eu não estava preocupada com o fator horror da situação. Lá na minha casa todo mundo sempre teve humor negro, a começar pelo meu pai. Casa de médicos, a gente sempre lidou com acidente, machucado e morte de um jeito meio escroto. Insensível, irônico. Não desmerecendo a tragédia, mas de um jeito que o assunto jamais foi tabu, e sempre foi considerado parte de como a vida acontece.
E eu lá. Discorrendo sobre turismo de tragédias. Tipo ir ver onde é que foi mesmo que o maníaco do parque atacou aquelas mulheres, ou onde Suzane Von Ritchoffen morava com sua família comercial de margarina, antes de mandar todo mundo morrer a pauladas. Onde foi mesmo que Isabelinha morreu? Queria saber o bairro, onde fica o prédio.
Comecei falando de Isabelinha, e as gênias também, mas eu mais. Confesso. Eu fiquei super chocada com a história dela, e a menina era fofa, e eu quis MUITO acreditar que o pai dela não era culpado, porque veja bem, ele é pai. Mas depois a história foi tomando contornos de espetáculo, e dá-lhe fantástico entrevistando a mãe da menina. Meu choque com a situação veio depois. Num dia que teve um evento qualquer pela paz, desse que têm Padre Marcelo Rossi cantando, com cobertura do Jornal Nacional. E eles disseram que a Ana Carolina Oliveira, mãe da menina morta, tava lá.
Todo um caráter celebridade que me incomodou demais da conta. Porque não há celebridade em cima de tragédia. E eu acho que a garota foi meio colocada de mártir, de símbolo da violência e da dor, e talvez tenha faltado uma boa assessoria. Pra dizer que não é ok tirar fotos com fãs, que querem fotografias ao seu lado porque você é famosa. Porque, meu bem, você só é famosa porque a sua filha morreu. Barbaramente.
E eu tava lá, incrédula, vendo a Ana Carolina, com camiseta estampando o rosto de Isabelinha, posando pra fotos com fãs, crianças, velhinhos. Sorrindo pras fotos, dizendo xis.
E. Mermão. Se eu tivesse uma filha, e a minha filha tivesse sido morta, e eu tivesse sido jogada nesse circo, e neguinho viesse me pedir foto, eu rosnava. E avançava. Porque isso não se faz.
E era exatamente isso que eu vinha dizendo na mesa do restaurante, pras gênias. Que eu achava horrível ela posar pra fotos. E nisso. A frase se esvai no meio, a voz me falta. A mãe da menina Nardoni estava a apenas alguns poucos metros, olhando pra mim, prato de comida na mão. Ela estava lá desde quando eu falei do turismo de tragédias, acompanhou toda a minha tese sobre como você deve se comportar quando o seu filho morre barbaramente e o Jornal Nacional faz a cobertura.
Tomei um carão sem precedentes. Foi a situação mais bizarra, quais eram as chances de isso acontecer? De ela estar no mesmo lugar que eu, na hora em que eu falava aleatoriamente disso?
Fiquei meio sem saber o que fazer. Eu realmente penso tudo aquilo que eu estava dizendo, mas ela não precisava estar ali ouvindo. Porque machuca.
Conclusões. Vou cortar o cabelo, pra não ser reconhecida. Vou dar um tempo do restaurante, pra ela esquecer de mim. Vou gradear as minhas janelas quando tiver uma filha, pra que a praga que ela tenha me jogado não tenha efeito. Vou pro inferno.
Um comentário:
Jesus me socorre, que eu não sei se rio ou se choro... :D
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