segunda-feira, 31 de maio de 2010

o maluco da baia ao lado

Ele chegou e começou a batucar na mesa. Não com uma mão, não um tantarilhar com os dedos. Bater. Com as duas mãos. Um lance meio bateria. Agravado pelos pés, balançando com a mesma violência. E eu ali, cara de paisagem, muito puta da vida mas sem dizer nada. Porque eu tenho horror a ser a chata do trabalho que faz cara feia pras pessoas. Sou fofa.

Daí ele foi perguntar pra Japa colorida querida qual era o meu nome. Ela disse, e veio cantar a bola pra mim. O maluco está interessado. E eu. Nããão. Pode parar. A vida seguiu, ele me deu follow no twitter. Dei follow back. Na primeira oportunidade que eu tive, mandei uma indireta, meio brincando, sobre ele ter mania de batucar na mesa. Well, senhores, message received. Ele parou, de leve. Eu percebo uma certa preocupação em não me incomodar.


Uns dias depois ele foi perguntar pra Japa, sempre ela, se eu gostava de "playboyzinho". Não trabalhamos com esse tipo de gíria. Desculpe. Óbvio que a japa veio correndo me contar, reforçando a teoria dela que eu chamei a atenção do maluco. Eu comecei a acreditar, e fiquei levemente preocupada. Atenção de quem eu quero chamar, #fail. Mas tamos aí, ninjas na arte de seduzir seres estranhos.


Pois bem. Tudo quanto é coisa que eu twitto, ele interage. Me deu cantada via twitter, já. "Oi, mocinha da baia ao lado", piscadela, algo dessa natureza. Não respondi. Eu digo bom dia, boa tarde, boa noite. Não interajo muito, só quando a japa aparece na mesa e o assunto é seriado. Daí, eu me meto mesmo.


Eu twitei sobre as maravilhas de greys anatomy. Ele retrucou que era série mulherzinha. Eu nem discuti. Eu gosto de greys anatomy, desculpaê. Ele pediu desculpas (?). Passou. Daí, semana passada, maluco conseguiu me irritar por causa de Lost. Ele entendeu uma coisa, eu entendi outra. Dá licença de interpretar a história do meu jeito? Tenho horror a fanatismo. Daí ele foi meio arrogante, dizendo que quem acreditava na teoria que não era a dele (e nem a da maioria da comunidade lost brasil bla bla bla) era loser. MERMÃO. mandei um reply na hora, botando maluco em seu devido lugar. O que gerou um segundo pedido de desculpas (?). Toda vez que eu discordo dele, ele pede desculpas. Daí ele ficou achando que eu estava brava com ele, porque tinha dado um fora via twitter. Isso, naturalmente, foi a japa que me contou. E eu falei que não, que nem tava brava, só tava sem paciencia pra fanatismo e arrogância *na vida em geral*. E ela. Tadinho. Ele me disse que acha que você não vai com a cara dele, e que ele sabe que o batuque te incomoda, e que ele toma *o maior cuidado do mundo* pra não batucar na mesa e te aborrecer.


o.O


Gente. Como lidar?


E ainda tem a questão da paredinha. Meu computador fica de costas pro dele, e tem essa divisória entre as mesas. Dá pra ver a outra pessoa. Eu sempre vejo ele me espiando por detrás do monitor. Sempre. Uma coisa digna de desenho animado, a cabeça dele aparecendo, eu olhando, ele se escondendo.


E aí, agora, ele apareceu no twitter dizendo que começou a ver greys anatomy. E que, sim, a série é boa. E que ele se identificou com karev. Com Karev. Faça-me o favor.

domingo, 30 de maio de 2010

descompasso

eu comecei a escrever sobre os acontecimentos dos ultimos dias. sobre o email dele, sobre o encontro no meio da rua, as palavras cortadas, a falta do que dizer. sobre o meu telefone ter tocado quando eu virei as costas, e sobre a conversa que virou briga e que terminou com ele dizendo que me odiava e não queria me ver nunca mais. e depois as mensagens. e a minha sensação inicial de euforia, por ter conseguido devolver os gritos. que virou sensação de quase morte, de novo e de novo. de tristeza, de impotência, de saber que a gente pegou um caminho que não tem volta.

quando eu acabei o texto, eu vi que não era um post. era uma carta. uma carta pra ele. e eu cheguei bem perto de apertar o botão publicar. e então eu pensei em todo o nosso descompasso. no quão injusto seria dizer aquelas coisas aqui. e, pela primeira vez, eu tomei algum tempo para dizer a ele como eu me sinto. tendo visto se abrir um buraco em volta de mim. tendo visto o amigo se tornar um estranho. a sensação de abandono, de incompreensão. de perder o chão, mesmo.

lidar com essa perda, com esse luto, é coisa que eu faço o tempo todo. todo dia eu acordo e eu tomo de novo essa decisão. de não voltar atrás. de me ajustar à nova realidade. de let go.

eu queria que houvesse um caminho de volta. não há. as pontes estão queimadas.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

mensagem

"eu esperava mais de você."

well. eu também esperava. eu também.

mas eu acho que é isso mesmo, a vida. um ajuste de expectativas. eu precisei ajustar as minhas, você precisou ajustar as suas. vida que segue.


eu espero que você consiga encontrar alguma paz nas escolhas que fez. assim como eu venho tentando encontrar paz nas escolhas que são minhas.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Lost

também vou falar sobre isso. porque eu comecei a assitir em 2004, e segui bonitinho cada um dos episódios. e repeti pra mim mesma várias das frases dos personagens, nesses últimos seis anos. porque todo um ciclo da minha vida aconteceu enquanto eu assistia aos episódios. porque, mesmo com os altos e baixos, eu nunca me posicionei de um jeito a achar que os roteiristas me deviam alguma coisa. eu sempre aceitei o que vinha, e tentava entender, e passava horas discutindo teorias mirabolantes, e pensando em plot twits, e me chocava com os seasons finales. porque aquele live together, die alone, que o jack fala no segundo episódio da primeira temporada permeou toda a minha experiência com a série. o lance ali, mais do que qualquer outra coisa, era a relação que aquelas pessoas construíram. e dane-se se elas eram interrompidas por tramas da iniciativa dharma, ou por ursos polares, ou monstros de fumaça, ou viagens no tempo. elas continuavam sendo o mais importante. então, quando eu parei de procurar entender cada acontecimento como pista, eu pude apenas aproveitar a viagem. e agradecer a oportunidade.

e eu sei que todo mundo ficou puto. mas gente, quanta ilusão achar que tudo seria explicado. não dava. não tinha como. e eu gostei muito, demais mesmo, de como as coisas se desenrolaram. e não, eu não acho - como o resto do planeta - que apenas a última temporada não aconteceu. eu acho que morreram todos no desastre. e que nada houve. e isso não é importante. importante é a volta dada. e, cá entre nós, que volta bonita. a brincadeira de que o jack nunca esteve pronto pra let go. e que ele teve que passar por aquilo tudo pra aprender, pra entender, aquilo que todos os outros entenderam antes. que não adiantava ficar preso. buscando respostas. é um pouco o recado dos roteiristas para o público, eu acho. o let go. eu gosto de pensar que a série toda foi o jack. claro, foram os outros, o desmond, tão querido, com o seu see you in another life, brotha. o faraday, doce, tentando explicar em fórmulas o inexplicável. o charlie, morte mais sentida de todas. mas a série era o jack. a teimosia, a mania de explicar e consertar tudo. nem tudo se explica, jack. nem tudo se conserta. e ele, man of science, cria quase que imediatamente o embate com o locke, man of faith. os nomes dos episódios da primeira temporada explicam tanta coisa. eu tenho vontade de rever tudinho, agora, mas prestando especial atenção no começo, quando as dicas todas foram dadas. quando as relações foram construídas.


lost, pra mim, é uma grande história de redenção. uma história bonita, do longo caminho que o jack percorreu pra, de homem da ciência, se transformar em homem de fé. e abandonar os padrões. e encarar o desconhecido. e, quando o jack finalmente entende, e aceita, ele sorri. ele sorriu tão pouco nesses últimos seis anos. e ele sorriu tão bonito no episódio final. tão relaxado. tão resignado. e ele pôde abraçar todas aquelas pessoas, e todos os reencontros estavam ali, o final feliz que a gente sempre espera. e - sim - eu chorei. chorei pelo final digno que a série me apresentou, independente das dúvidas que não foram, e nunca serão sanadas. o que eu queria estava ali. o final feliz.

e era tudo o que eu precisava.

obrigada, damon lindelof. obrigada, carlton cuse. obrigada, jj abrams. foi um prazer.

p.s.

Uma coisa que é importante pontuar. Quando eu escrevo sobre o sofrimento que é me desvincular daqueles que foram, durante quase dois anos, os meus. Eu lamento profundamente o rumo que as coisas tomaram. E nunca, nunca, eu gostaria de estar passando por essa situação. Eu não corto pessoas. Não sei fazer isso. Sei que é assim que o mundo funciona, não tenho ilusões. Estou falando de mim. Eu não sei. Eu sofro. Eu sinto.

Mas nunca, jamais, em hipótese alguma, tendo presenciado as coisas que eu presenciei, tendo ouvido as coisas que eu ouvi, tendo ganhado perspectiva, tirado as lentes cor de rosa, eu gostaria que as coisas voltassem a ser como eram. Isso não. Por mais que a mudança exija de mim um esforço de adaptação, de ajuste à nova realidade, é algo que precisa ser feito, e que eu faço.


Não há nada, nada, que me fizesse voltar a conviver com aquelas pessoas. I am better off.


=)


vida que segue.

invisível

r diz que eu tenho um efeito diferente sobre as pessoas. começou quando eu passei em frente da mesa dele, e cruzei com um menino de códigos. quando eu voltei pra minha mesa, a janelinha piscava. e ele disse que o rapazinho dos códigos tinha medo de mim.

isso faz tempo, talvez uns dois meses. eu ri, e disse pra ele que o tal efeito que ele apontava era, na verdade, nada de mais. eu era a última a ter entrado na firma colorida, era natural que despertasse alguma curiosidade. e que, quando a primeira loura entrasse no andar, eu seria esquecida, meu "encanto" se desfaria. ele discordou, e disse que não. que eu tinha um efeito diferente. que não era tipo o efeito que uma loura talvez fizesse. ele disse que eu provocava, sim, curisidade, mas mais que isso. eu provocava medo.


fiquei com isso na cabeça. porque eu não sou pessoa de beleza fácil, que entra numa sala e traz todas as atenções para si. nunca fui. até o ponto onde eu estou hoje, até entender que eu era bonita, não de um jeito óbvio, mas de um jeito meu, foi um longo caminho. às vezes eu percebo que eu chamo atenção. mas eu acho que é mais uma coisa no jeito de andar, de me mover, mesmo. ou de falar. nunca por uma coisa de oh, como ela é bonita.


da mesma forma que existe esse momento em que eu percebo qua atraio alguma atenção, eu conheço muito bem o momento seguinte. que é, basicamente, quando o efeito surpresa acaba e eu desapareço. vou empalidecendo, pouco a pouco, apagando, aquarelando. e pronto. sumi. virei pessoa normal, quase invisível. é quando eu brinco que o "encanto" se quebra. então, sempre, sempre, quando eu estou no primeiro momento, o de chamar atenção, eu espero pelo segundo.


eu odeio o segundo momento. ele traz à tona a menina de 13 anos que sempre se achou muito, muito feia. que ganhou o concurso de mais sem graça da turma na escola, e chorou uma tarde inteira. e carregou para a vida essa verdade. se vestiu de invisível.


ser essa pessoa que chama atenção é algo novo, que eu confesso não saber lidar. e eu sei que boa parte disso tem a ver com o corte de cabelo diferente, o blush, o rímel, o batom vermelho. eu gosto de passar cor no meu rosto. é um jeito de sair do invisível. o invisível que é meu.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

checklist

pra acabar de vez com esse clima de melancolia chato que se instalou por aqui. ou melhor, que EU instalei por aqui, vamos tratar de animar as coisas. como agora são 2h da manhã e eu acabo de ver o episódio final de lost, e estou concentrada assistindo o elenco querido participar do jimmy kimmel live (internet banda larga, te dedico, justin.tv, amor eterno, amor verdadeiro), sem nem pensar em ir trabalhar amanhã logo cedo, porque, hello, questão de prioridade. 1) lost; 2) todo o resto.

tenho uma lista de coisas sobre as quais preciso escrever:


1. o presente incrível que a ana luiza me trouxe de viagem (com fotos)

2. minha fixação com pessoas ruivas (não o tom corra lola corra da evil menina de cabelos vermelhos, peralá)

3. lost. porque, né? muito amor no meu coração. polêmica instalada e eu só consigo dizer que achei incrível.

4. minha história com séries do jj abrams.

5. o dia que eu dancei no pole dance cercada de viados na balada. (se eu conseguir traduzir o acontecimento em palavras)


por enquanto, é só.

=)



quarta-feira, 19 de maio de 2010

preguiça

tem essa parte de mim com uma preguiça gigante das pessoas. que começa a conhecer e pensa what's the point? que se recolhe aos finais de semana, quietinha, televisão ligada e computador no colo. é todo um processo. até ganhar confiança de novo. até achar que vale a pena. que nem sempre precisa terminar mal. essa parte preguiçosa, meio paralisada, me calou no twitter, e se esforça mais do que qualquer outra coisa pra ainda ter voz aqui. me fez parar de chamar os queridos no msn e dar longos suspiros. tem sido assim, já faz algum tempo. ir encontrar as pessoas cansa, gasta energia. tudo gasta energia. faltam forças. e eu preciso ficar sozinha, ordenando as ideias. pensando onde diabos eu comecei a acreditar que bastava ser eu mesma e a vida se acertava.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

das coisas que são, efetivamente.

demorou mais do que eu esperava. até eu poder olhar em volta e me perceber como parte do cenário. como parte daquilo tudo. porque eu entrei e era um ambiente estranho, quase hostil. não havia nada. o projeto devia ser construído do zero. eu deveria construir do zero. e ninguém me ensinava nada, não havia tempo. e eu ficava sentada na cadeira, olhando para os dois monitores gigantes na minha frente, e pensava. quando é que eles vão descobrir que eu sou uma fraude e corrigir o terrível engano de me chamar pra assumir esse projeto? e de erro em erro, acerto. chegou o designer, e eu pude jogar na mesa dele todas as minhas dúvidas, todas as minhas ideias, os meus planos infalíveis. e eu percebi que, assim como eu, ele chegou perdido. e eu assumi o papel de dizer pra ele que tudo ia ficar bem. e que ele respirasse fundo, que amanhã seria um novo dia. e eu não tinha a menor ideia do que eu estava dizendo. se as coisas iam efetivamente ficar bem. mas ele precisava escutar isso, assim como eu tinha precisado, e não havia ninguém ali pra me dizer. e eu fiquei feliz de poder ser essa pessoa, pra ele. e aos poucos as discussões foram crescendo, e, gosh, como eu preciso delas. não funciono sozinha não. sou ser social. preciso de interação. preciso de alguém discordando, de alguém provocando, me fazendo pensar de um outro jeito que não seja o meu. aos poucos eu fui construindo os tijolinhos. e falta ainda um mundo, mas agora eu olho e já tem alguma coisinha, minha, ali. criada do zero, de onde não havia nada. e o trabalho é duro, mas não é tão pesado. sobra tempo pra ir saber se os meus queridos estão bem no msn, dá pra ir buscar referências no google reader. e ir fazendo as coisas do jeito que elas podem ser feitas. de erro em erro, acerto.

e aí hoje eu olhei em volta. eu estava sentada, pernas cruzadas, em cima da mesa do designer. a gente estava discutindo uns módulos, de uma biblioteca que eu me meti a fazer, pra orientar o trabalho dele e o meu. e eu me dei conta que eu sabia. eu sabia. eu passei de uma posição onde eu tinha certeza absoluta de que não fazia a mais remota ideia, de nada, pra uma outra, incrivelmente diferente. eu sei o que eu estou fazendo. e eu estiquei o olho e observei todas aquelas pessoas. cada um trabalhando do seu jeito. e eu descobri que aquele ali era o meu jeito de participar daquilo, sentada em cima da mesa, discutindo cada vírgula, cada pixel. chegando juntos às conclusões. e eu me dei conta que isso era genial. que eu era genial. e ele. e o que a gente está se propondo a fazer. de erro em erro, acerto. e assim a gente vai. um passo depois do outro. território desconhecido. de erro em erro, acerto.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

das coisas que não podem ser

de vez em quando, eu cruzo olhares com o designer bonitinho que tem namorada. eu desvio, imediatamente, mas não consigo evitar um sorrisinho tímido. me lembro dos tempos de escola, onde cumprimentar o menino que eu gostava era tipo o ponto mais alto do dia. quando eu ficava feliz com o simples fato de ele ter me olhado de volta.

coincidência é que os dois têm o mesmo nome.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

let go.

deixar as coisas pra trás não é tarefa fácil. você faz o que é preciso fazer. se concentra nas coisas ruins, pra que as boas não tenham tanto peso. pra que a falta das boas não machuque tanto. se concentra nas palavras duras, nas fragilidades jogadas de volta, como munição. coisas que haviam sido ditas em momentos de delicadeza, de amizade. e que voltam com raiva, com dedo em riste, pontiagudas.

aos poucos, você se sente melhor. se rodeia de outras pessoas, constroi novos laços. tem novos assuntos. as lembranças vêm de um jeito meio embaçado, como se aquilo tudo tivesse acontecido há muito, muito tempo, num outro lugar, uma outra vida. com uma outra pessoa, que não fosse você. a vida segue dessa maneira. o coração para de apertar aquele tanto. você se veste de serenidade, resignado. era pra ser assim. não tinha como ser de outro jeito.


e aí, um dia, do nada, a sensação te golpeia. pode ser dirigindo, num corredor do supermercado, o tênis colorido de um estranho passando na rua. as lembranças vêm vivas, e você quase sorri. se lembra dos momentos, de cada um deles. da estrada, das palavras doces, de quando você levou em casa pra conhecer os seus pais. porque você queria que eles se conhecessem. que os universos colidissem, que cada um soubesse da importância do outro. de quando o sofá da casa dele era seguro, e você podia ficar escondida lá, o dia todo. você se lembra de quando tudo era leve, e fácil. de quando você passou a tarde no hospital esperando um médico consertar o pé que parecia destruído. fazendo companhia. zelando. de quando ele te tirou de casa no dia em que você estava de coração partido e te distraiu o dia todo, andando pela rua. de quando você olhava a outra pessoa e sabia exatamente o que ia ali. de quando a amizade parecia forte, de quando o chão parecia firme.


não foi a primeira vez em que esses laços se romperam. que eu vi um querido se afastar, fazer de conta que eu não existo, que eu nunca existi. esquecer cada um dos momentos bons, se concentrar nos ruins. eu não aprendi da primeira vez, eu não aprendi da segunda. a deixar pra trás. eu acho que não vou aprender nunca. e que vai doer sempre.


porque eu me lembro.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

o apartamento 44

tava lendo esse blog, e ela contava que mora no apartamento 44. tem um roomie e, pelo que entendi, é tudo muito recente. o apartamento 44 marca o início de uma nova fase, mais independente, mais adulta, por que não. deixei um comentário dizendo que quando me mudei pra são paulo, eu também morei no 44. ela respondeu perguntando se o 44 tinha sido auspicioso.

parei um pouco antes de responder. porque a resposta imediata seria não, e a maior prova disso é que hoje eu não moro mais nele. ia responder por lá mesmo, mas achei melhor fazer aqui. com sorte, ela aparece, lê e entende. o porque de a resposta para a pergunta dela ser, ao mesmo tempo, não e sim.

o apartamento 44 representou a primeira vez que eu oficialmente saí de casa. foi o início de uma nova fase, mais independente, mais adulta. foi quando eu me coloquei com todas as minhas tralhas e os meus papéis em uma casa que não era, de alguma forma, ligada a dos meus pais. em outra cidade, em outro estado. dividida com uma desconhecida. é sempre uma surpresa dividir apartamento. e, sim, dá trabalho. o que não quer dizer que não seja uma experiência absolutamente incrível.

no apartamento 44 eu morei durante 433 dias. tomei meu primeiro porre, ainda que tardio. eu era moça ridiculamente comportada. aprendi a pagar conta, fiz festa, limpei bagunça, briguei com a vizinha. consegui o trabalho que eu mais queria e vi ele acabar, conforme o combinado. fiquei à toa, de bobeira, passei dias trancada, em frente à tv. tive medo de que as coisas não fossem ficar bem, e que toda a bagunça que eu fiz com a vida estável que eu tinha pudesse ter sido em vão. fiz amigos novos, reencontrei os velhos. gargalhei, conversei, chorei. emagreci. fui muito, muito feliz. e depois, triste. porque é isso que acontece, todo dia, com todo mundo. me apaixonei e tive meu coração partido. como acontece todo dia, com todo mundo. tive momentos de muito assunto e momentos de nada a dizer. até que o tempo do apartamento 44 acabou, a relação coma roomate que jamais virou amiga acabou, e eu perdi o chão. literalmente.

hoje, o apartamento é outro, o 13. outra roomate, também incrivelmente diferente de mim, mas mais aberta, mais receptiva. a relação é mais fácil. existe conversa, existe assunto, existe discussão interminável sobre vestidos e sobre o nosso gosto tão diferente para meninos. ela gosta de mauricinhos, eu de bagunçados. ela gosta dos fortes, eu dos magrelos. o apartamento 13 é maior e mais ensolarado. cabe direitinho o meu movimento pra fora, pros lados. o 44 era mais encolhidinho, e me cabia naquela fase. No apartamento 13 a bagunça é maior, o clima é mais solto, existe mais barulho.

eu gosto mais do apartamento 13. mas o 44 foi auspicioso, sim.

me levou até onde eu estou, hoje. que era basicamente onde eu devia estar.

no donut for me

toda uma pobreza se abateu sobre essa pessoa que vos fala. primeiro porque casa nova pede móveis novos. e eu estava super investindo em móveis. segundo porque com a visita da minha irmã em fevereiro, eu sofri um pequeno e descabido shopping descontrol e saí da zara CHEIA de sacolas. e com o cartão de crédito comprometido. Aliás estou, agora, nesse momento, usando duas das peças que comprei. o que comprova que foram compras úteis, e boas, e tal. daí teve o roubo do iphone. alguém aí sabe quanto custa um iphone? o meu antigo, associado a um plano bonitinho da operadora, foi caro. o segundo, pós roubo, não tinha plano pra associar, então teve que ser só o aparelho. só o aparelho, gente boa, custa o dobro. e eu estou comprometida até a alma com parcelas intermináveis. mas com meu gadget querido e amado e ÚTIL no bolso, muito obrigada. devidamente segurado.

a questão é outra. não bastasse os cartões ferrados, freud custa caro. e eu tenho altos problemas de cabeça pra tratar, terapia é artigo de primeira necessidade, algo não discutível. meu reaperto semanal de parafusos. daí eu fiquei pensando como é que eu ia fazer pra cortar gastos. eu tava andando super fresca, gastando uma pequena fortuna com táxi todos os dias pra cruzar os 2km que separam casa e trabalho. cortei. martinis com as gênias queridas? diminuí. festinhas e restaurantes legais? não, não.


estou um exemplo de bom comportamento. acho que em breve eu serei uma pessoa mais inteira, menos sofrida. hoje eu fui numa loja incrível com as meninas coloridas do trabalho, e tinha um tantão de vestidos que eram a minha cara. juro. as mangas fofas estilo princesa, os laços, a cintura marcada. e eles não eram nem muito caros. eram os preços normais que se gasta em vestidos. e eu, master of my domain, pegava cada um, tecia os elogios devidos, colocava na minha frente em frente ao espelho, constatando que SIM, eles eram feitos pra mim, e devolvia bravamente às araras às quais eles pertenciam. a vendedora olhava e dizia: proooooooova. e eu: nããããão.


enquanto isso, eu vou passando sofrida pelas vitrines a caminho do trabalho. vestidinhos cinzas de cintura baixa, meio anos 20. meias coloridas, sapatilhas com pesponto colorido, cachecóis, saias de cintura alta. não, nada disso é pra mim. não por enquanto.


a parte boa, tentando ser otimista. quando a minha vida estiver mais fácil, quando os cartões pararem de me oprimir, será tempo de promoções. destes mesmos vestidinhos e sapatinhos que tanto me maltratam nesse momento.

gentileza

saí do trabalho tarde, 23h. a caminho do ponto de táxi, passou um ônibus. não sei por que, fiz sinal. um daqueles ônibus pequenos, já bem velhinho. o motorista e o trocador usavam camisas laranjas. por um segundo eu pensei que aquele podia não ser um ônibus normal, mas um daqueles que transportam trabalhadores. lembrei que ele tinha a plaquinha e eu queria saber se passava perto de casa. perguntei. o motorista disse que sim. entrei. logo depois da catraca, uma senhora. no fundo, um executivo distraído com o jogo em seu iphone. ao lado do motorista, várias sacolas de supermercado, no chão.

no meio do caminho, a senhora fez sinal. as sacolas de compra eram dela, então ela perguntou se podia sair pela porta de trás e dar a volta, pra pegar as compras na porta da frente. enquanto ela dava a volta, o trocador se apressou em pegar as sacolas pra ela. quando ela estendeu os braços, ele disse. deixe, senhora, eu coloco na calçada. achei gentil.

mais pra frente, meu ponto. dei sinal. eu teria que andar mais um quarteirão até chegar na minha rua. quando eu dei o sinal, o motorista lembrou o nome da rua que eu tinha perguntado se o ônibus passava e me perguntou se era pra lá que eu ia. eu disse que sim. e ele. então espere, que eu paro o ônibus logo na esquina. achei gentil.

o executivo desceu junto comigo, e cada um tomou um caminho. o ônibus seguiu vazio, com os dois homens de camisa laranja falando sobre o jogo de futebol.

bobagenzinhas, absolutamente de graça, que fizeram o meu restinho de dia um pouco mais feliz.

=)

terça-feira, 4 de maio de 2010

sobre a arte de destruir coisas

desde que eu saí da oficina colorida, foi como um dominó. agora, não tem mais nenhuma das gênias. toda semana o meu msn pipoca com alguém me avisando que mais uma está saindo. e mais uma, e mais outra. quando a última das gênias pediu pra sair, não ouviu gritos. segundo relatos, a evil manager suspirou fundo e agradeceu. e disse que pensava em não continuar lá muito mais tempo. é óbvio que deve ter pesado pra ela. é trabalho demais, pra qualquer um. o problema é que ela entrou rasgando, e não conseguiu aliado nenhum. e teve toda uma equipe irritada com ela, sem respeito e sem querer seguir suas ordens. a começar por mim, que já falava que ela era do mal quando todo mundo ainda estava dando o benefício da dúvida. e quando todo mundo dizia que eu era implicante. fato é que, depois de quase 4 meses da minha saída, não restou pedra sobre pedra. tem a chinesinha fofa, mais três ou quatro meninas coloridas. e todas, assim, sabe-se lá até quando. eu quase fico com pena. mas isso é um grande "eu bem que avisei". ela entrou errado. fez com que os motivos pelos quais aquelas pessoas estavam ali fossem se esvaindo, um a um. porque dá pra aguentar um ritmo louco, trabalhando mais horas por dia do que seria possível imaginar, mas o clima da empresa precisa ser bom. você precisa saber por que acorda todo dia de manhã, e sorrir, e gostar das pessoas que te rodeiam. quando eu parei de sorrir, quando os meus motivos deixaram de ser tão fortes, quando a minha matriz swot desequilibrou, eu saí. e foi aquela novela que todo mundo que lê isso aqui há um tempinho já sabe. essa novela se repetiu umas seis vezes, já, depois de mim. e a evil manager continuou sem aprender.

uma coisa é certa. ela tem palavra. ela bem que disse que ia fazer uma faxina, e derrubar tudo pra reconstruir do zero. não sobrou nada.