segunda-feira, 4 de outubro de 2010

pequeno manual de distanciamento

como você vive sabendo que seu coração está partido, e que a pessoa existe? que ela anda por aí, come, dorme, trabalha, se diverte?

eu faço essa pergunta, vez por outra. fiz hoje, pra japa, na firma colorida. faço pra qualquer um que reclame o coração partido. faço pra mim, mas a minha resposta eu já sei.

a japa disse que isso é só uma parte. que ela guarda o coração partido num cantinho e vida que segue. fico me perguntando se as pessoas são assim, todas elas. eu não. eu não sei seguir a vida com a pessoa existindo.

quando alguém me aborrece, me magoa, quando eu não sei o que fazer com a dor que essa pessoa me causou, eu sempre tenho a mesma ideia. de que ela precisaria não existir para que eu pudesse continuar. porque a ideia de encontrar ela por aí, de saber que ela falou de mim, ou que pode aparecer online no msn, ou andar pela rua, esbarrar no supermercado, existir na vida em geral me pesa os ombros, me pesa a vida. e eu penso que a única forma seria apagar. cortar, fugir, sumir.

é fácil apagar alguém de existir em volta de você. você vira as costas e anda pra longe. se afasta dos amigos em comum, porque eventualmente você vai saber que eles almoçaram, ou jantaram, ou se esbarraram no shopping. isso machuca. então os silêncios são necessários. pra aquietar o barulho louco que faz dentro da cabeça. esconder as atualizações no facebook, bloquear acesso em casos mais extremos. pra que um morra para o outro, como deve ser. deletar os contatos do celular, porque o simples correr de dedos na agenda faz gelar a espinha se o nome aparecer, perdido, ali, perto de quem você procura. apagar do msn, dar unfollow no twitter. eu tenho essa pasta no msn, e ela chama the others. a unica regra pra ela é. mantenha fechada. ali eu guardo as pessoas que me fazem doer o coração. não há dois cliques que me salvem disso. nunca haverá.

e eu fico pensando que quando você conhece uma pessoa, ou amigo, ou alguém por quem você se apaixona, no início, tudo o que se faz é tentar trazer essa pessoa para a sua vida. para existir, ali, na paisagem, de um jeito que você possa esticar a vista e encontrar, com um sorriso nos lábios. essa fase é bonita. mas como a gente conserta isso quando as coisas desmoronam, quando os defeitos passam a sobrepor as qualidades, quando você olha no olho e não vê mais nada daquilo que já existiu? como a gente pode existir e esbarrar, e ver, e ler, e saber que a outra pessoa segue a vida, ali, ainda no seu campo de visão? na paisagem que é sua?

mundo ideal pra mim, esses dias, é ter a clareza de não trazer ninguém pra muito perto. pra que eu não precise jogar ela pra tão longe quando a vida mostrar que é assim que as coisas funcionam.

7 comentários:

Leiliane Fontenele disse...

Gosto das pessoas. E eu sempre tento guardar o melhor que elas me deram, por mais que doa. Faço todas essas coisas, retirar no MSN, exclui do orkut, apagar as mensagens do meu celular (pq se eu vacilar, me pego lendo e deixando as lágrimas cairem). Tiro todos os cartazes que me levam para aquela pessoa, mas quem é capaz de apagar o perfume, a lembrança do sorriso, o calor do abraço. Isso é o que me lasca, ouvir uma música e visuallizar aquele ser cantando desafinado, mas canitando pra mim. rsrsrs
Sempre que me proponho a esquecer alguém, passo um bom tempo me dedicando nesse trabalho. AS vezes dá certo, algumas pessoas eu tenho levado comigo até hoje. Triste? Nem sei se é.

Anônimo disse...

sempre te visito, gosto muito das suas palavras, mas nunca tanto como hoje. Entendo tanto essa necessidade do outro ter de desaparecer pra que se possa continuar. Faço uso de todos esses recursos, principalmente a exclusão dos meios de acesso virtuais. O problema é a memória, traiçoeira e soberana. Como é difícil driblar as lembranças, nela reside meu calcanhar de Aquiles. Apesar disso tudo, não consigo me domar ao ponto de me proteger de novos "tombos". Você consegue?

Fica bem. :)
Suzana

fiquei desafim disse...

Nossa, que coisa linda e verdadeira vc escreveu aí.. eu me sinto exatamente assim. Olhar no olho e não ver mais nada daquilo que existiu.. e o pior de tudo é quando vc tem que conviver diretamente com a pessoa e nem pode guardá-la na pastinha do the others.
Äs vezes tento esquecer, outras, fingir que a amizade não foi assim tão forte e seguir em frente.. acontece.

Luiza disse...

parece até que fui eu que escrevi esse post. senti como se cada palavra tivesse sido digitada por mim.
exatamente assim.
exatamente agora.

Ge disse...

Seu manual chegou até a mim em boa hora.

Acho que preciso mesmo fazer tudo isso pra conseguir continuar fazendo com que minhas coisas sigam a despeito de...

Unknown disse...

Ppalavras pesadinhas, acompanhadas de lágrimas até. o pior é que é extamente assim que as coisas funcionam. O meu problema é que sempre dou sois clicks na pastinha the others, de um jeito, ou de outro... cuide-se.

Desabafos disse...

Eu gostaria de conseguir fazer isso, deletar de tudo. Bem que tentei. Deletei. Mas não consigo guardar rancor das pessoas, eu sou assim, por mais machucada que eu tenha saído da situação, as lembraças mais fortes são de momentos bons. Me senti culpada e imatura por ter deletado. Eu tenho que conseguir esquecer e seguir em frente por mim mesma, por isso, acabei adicionando de novo. Pode parecer "errado", mas me senti melhor assim!!!
Seu post caiu feito uma luva!!!