(post escrito em 29 de dezembro de 2009, censurado, adormecido. que eu reli, agorinha, e não mudei nenhuma vírgula. porque é isso, mesmo. exatamente como eu escrevi. há quase um ano atrás.)
~ o irmão mais velho da amiga ~
Então, vamos lá. Eu tinha uns 16 anos quando me apaixonei irremediavelmente. Ele era irmão mais velho da minha melhor amiga. Louro, olhos azuis. Não era do tipo que arrasava corações, era até bem bobo, na verdade. Nunca soube o poder que tinha.
Tocava piano lindamente. Tocava violão lindamente. E eu lá. Embasbacada. Sem coragem de me declarar, escrevendo páginas e mais páginas em agendas, chorando até dormir, torcendo para ser vista. Ele nunca me viu. Ele levava e buscava nas festas, ligava nos aniversários, trocávamos um monte de histórias. Cada vestido que eu usava, era pra ele. E ele nunca me viu.
E, naqueles quase dois anos em que eu girei em torno dele, ele ficou com cada uma das minhas amigas. Namorou uma delas. Partiu meu coração todos os dias. Em pedaços pequeninos. Eu sofria calada, me achava feia, justificava a sua falta de atenção no meu andar desengonçado, na minha falta de charme.
A primeira vez que eu beijei um menino, foi tentando fazer ciúmes nele. E ele não viu. E a vida seguiu. E, um dia, eu resolvi que ele devia saber. Tinha esse amigo oculto, e eu mexi uns palitinhos pra que ele fosse o meu. Comprei um cartão bonito, onde deixava mais do que claro o que eu sentia. Foi um espetáculo de coração partido em praça pública.
Ele nunca mais falou comigo depois daquele dia.
Meu coração se partiu, o que sobrou eu colei, sozinha, e congelei. Essa história de coração congelado é conhecida, por aqui. Por causa dele eu tomei cuidado com cada pessoa que mostrou interesse em mim, depois desse dia. Pra não quebrar, pra não machucar. Porque eu fui quebrada e machucada.
Mudei de cidade, mudei de amigos, de vida. Mas continuei quebrada. Tentei acreditar que ele não tinha mais efeito sobre mim, que eu estava curada. Uns cinco anos depois, encontrei com ele numa dessas lojas de conveniência em posto de gasolina. Meu irmão estava comigo, e eu era uma nova pessoa. Mais confiante, mais segura, mais consciente de que era, sim, uma mulher bonita. Nos encontramos e conversamos, aquelas conversas vazias de quem não sabe muito o que dizer. Quando saímos da loja e eu entrei no carro, meu irmão me disse: Balançou, hein? Aparentemente, era óbvio o vermelho nas minhas bochechas, as minhas mãos meio tremendo, a agitação. E eu me dei conta de que era a mesma pessoa, ainda.
Há quinze dias nos encontramos de novo. Depois de mais uns cinco anos, arrisco dizer. Eu estava linda, vestido de festa. Cheia de histórias da metrópole, feliz, segura. Viramos pessoas diferentes. Nunca daria certo, e coisa e tal. O tipo de coisa que eu, racional, digo e repito. Eu sei disso.
Mas vai explicar isso praquela garota de 16 anos, rimel borrado no rosto, desengonçada, rejeitada? Porque, novamente, era ela girando em torno dele. E rindo, e sendo gentil, e simpática, e fazendo charme. E ele não viu. Não importa o que eu fizesse aos 16 anos, não importa o que eu faça agora, aos 30. Ele é imune a mim. Não vê, não liga. E eu posso, sim, encher a boca com todas aquelas frases feitas de ele não me merece, e whatever, mas a verdade é que tem essa garota gritando dentro da minha cabeça, sem entender por que diabos ele nunca olhou pra ela.
Ela nunca foi desengonçada. As fotos estão lá, desde sempre. Ela era linda. Eu estava linda, há 15 dias, sendo rejeitada por ele.
2 comentários:
Você conta histórias que são também as nossas histórias, Ç. E de um jeito tão bonito...
Fico pensando no quanto esses primeiros são tão importantes pro jeito como as coisas vão acontecer com os que chegam depois. É de se sentir presa na história que precedeu quem a gente é hoje.
Postar um comentário