sexta-feira, 12 de março de 2010

as múmias

uma vez, quando eu devia ter uns sete, oito anos, eu tive um sonho. eu sonhei que uma casa na rua onde eu morava estava lotada de múmias. múmias tipo essas de desenho animado, que são enroladas com faixas e têm só os olhos descobertos, e andam com os dois braços estendidos à frente, em direção às suas vítimas.

no sonho, eu era avisada que a casa estava cheia de múmias. e, ao invés de correr pra longe, impulso natural, eu ficava eufórica, e corria justo em direção à casa. entrava na sala, e elas estavam andando, errantes, por todo o lugar. então, eu ficava encostada numa parede, olhando pra elas, vindo na minha direção.


eu sentia muito medo. e então eu escapava pela porta e corria, corria, até minha casa, a muitos metros dali. em casa, já em segurança, eu ficava entendiada. e eu voltava pra lá. eu buscava as múmias, buscava a situação de desconforto, de medo, de estar vulnerável.


isso era um looping eterno, no sonho. eu escapava e ficava em segurança, mas algo mais forte me levava a correr em direção das múmias novamente.


a minha vida toda eu tive um comportamento parecido com esse, do sonho.


eu busco as múmias, eu me coloco à disposição delas, pra ser assustada, acuada, machucada. eu procuro saber, eu peço pra ouvir. eu sempre tenho a chance de correr e ficar em segurança, mas voluntariamente eu abro as portas, as janelas, abro acesso. uma tentativa meio descontrolada, de, hum, vejam a contradição, controlar alguma coisa.


well. eu não controlo coisa nenhuma. eu controlo o que eu faço, o que eu digo, a pessoa que eu sou com os meus amigos. eu sou uma boa pessoa. e o que as outras pessoas pensam de mim, o que as múmias gritam e pregam, não é da minha conta. é problema delas.


então, só pra experimentar, eu resolvi fazer diferente. eu escolhi, pela primeira vez, não buscar as múmias. deixá-las dormindo num canto, andando sozinhas entre aquelas paredes, de um lado pro outro. se eu escolher não entrar na sala, elas não podem me intimidar.


só de ter feito isso, o coração se acalmou. a cabeça clareou. foi a melhor coisa que eu podia fazer por mim. abandonar esse padrão.

3 comentários:

aline marangoni disse...

acho impossível não ir atrás das múmias.
nesse exato momento, lá vou eu atrás de outra que continua me machucando.

boa sorte para mim.

Luiz com Z disse...

Mas isso é direitinho a história eleitoral do Chile! A única diferença é que eles optaram a voltar pras múmias às vésperas dos terremotos. Tem que tremer de medo mesmo. Pelo menos você está um passo evolutivo à frente. :)

Unknown disse...

adoro que agora vc posta muito. tava super ouvindo musica e lendo os seus ultimos cinco posts. e qdo eu acabei tudo, me dei conta de que não tinha a mínima noção de que música tava ouvindo. esto me gusta! bjo proce.