quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Summer x Tom

Summer.

A festa começou ainda em casa, com queridos e vodka. Continuou na porta da danceteria, se estendeu pela pista. Eu dançava entre desconhecidos, feliz. Festa gay tem disso. Não tem perigo, todo mundo dança com todo mundo. E então um menino bonito segurou o meu braço. Típica abordagem carioca que sempre me irritou. Antes que eu, obviamente alcoolizada, pudesse entender, ele disse. Você é a cedilha? Uns flashes passaram pela minha cabeça, ainda não deu tempo de ser reconhecida em sp. E ele continuou. Eu sou o Jorge, a gente fez mba juntos.

Jorge. Menino incrível dos idos de 2006, 2007, quando muito pouca gente me interessava, visto os trogloditas cariocas que me rodeavam. Jorge era alto, tímido, uma coisa meio perdida na vida em geral. Eu era péssima em dar mole, skill ainda em desenvolvimento (melhoras significativas na área, já adianto). Jorge tinha namorada. Trocamos uns e-mails engraçadinhos, Jorge nunca correspondeu às minhas investidas. Hoje eu me pergunto what the hell eu estava fazendo, porque aquilo que eu chamava de dar mole não se assemelha em nada a nada que possa ser considerado dar mole. A vida seguiu, o mba acabou. E ali estava Jorge, camisa xadrez, segurando o meu braço, feliz com a coincidência.

Na hora bateu um estalo. Era a minha chance. Dancei com ele, tentei provocar. Nada. Bolas de feno. Jorge, absolutamente imune aos meus encantos. O mais incrível de estar bêbada é a nossa facilidade tomar decisões sensatas. Tipo. Vou provocar Jorge dançando com todos os caras. E foi o que eu fiz.

E aí havia esse menino. Oculos de aro grosso, cachos, barba. Começamos a dançar, e antes que eu me desse conta, Jorge não mais existia. Existia o menino de olhos castanhos, me girando na pista. Me segurando a cintura. Me puxando pra perto. E eu deixei. Antes que eu percebesse, era ele dormindo ao meu lado, profundamente. Eram as minhas roupas por todo o apartamento, era a cabeça rodando de leve.

Tão bonito. Fiquei com pena de acordar, mas havia marcado um almoço, com amiga antiga, e não podia atrasar. Pedi desculpas, ele disse que não se importava. Levei até a porta da casa dele, nos despedimos. Voltei pra minha casa ouvindo strokes.

A parte Summer de mim achou genial a aventura, o menino bonito, a falta de expectativas e de responsabilidades.

Tom.

Existe essa personalidade guardada, que surge com vodka e música alta. Quando Jorge me segurou o braço, eu me lembrei de toda uma vida querendo coisas que eu não podia ter. Ou achando que não podia. Toda uma lista de meninos bonitos que nunca me enxergaram. Olhei pro lado. O menino de  olhos castanhos e óculos ali. Eu não tinha grandes intenções, não mesmo. Achei que fosse gay, olha que bobinha. Menino que dança, alguma coisa me faz achar que não oferece perigo. E a gente dançou. E ele sorria, e me segurava a cintura, e as luzes me cegavam, e eu jogava a cabeça pra trás e gargalhava. Tudo rodando. Um sotaque carioca que eu demorei a perceber. Tentando provocar um menino carioca, eu me vi seduzida por outro.

Falamos sobre cinema, sobre Londres, sobre trabalho, descobrimos uma amiga em comum. Ele repetia meu nome com sotaque, descobrimos que temos o mesmo sofá, o meu roxo, o dele vermelho. O meu é mais bonito, ele disse, com uma leve arrogância de quem entende de arte e design. Os pés são de madeira. Compramos com o mesmo senhorzinho, na Teodoro Sampaio. Mário. Ele riu quando eu disse que o vendedor achou que eu fosse lésbica, porque estávamos eu e a roomate antiga deitadas, experimentando a parte que o sofá vira cama. Ele criticou a textura das paredes do corredor da minha casa, dizendo que era kitch. Eu concordei. Bebemos Coca-cola deitados no chão, olhando pro teto, a luz começando a entrar pela fresta da janela.

Na porta do prédio dele, eu que ri, com as texturas estranhas das paredes. Disse que ele não podia zoar as minhas paredes, com paredes como aquelas. Ficamos os dois, dentro do carro, olhando pro alto, estudando as texturas azuis. Ele me beijou, desceu do carro e sumiu. E não me ligou mais.

A parte Tom de mim ficou achando que ele bem podia ser o grande amor da minha vida, e podia ter me ligado. E ficou com dorzinha de leve no coração.

The end.

4 comentários:

Leiliane Fontenele disse...

O o pior Ç é que as pessoas sempre podem ser "o grande amor de nossas vidas" as vezes nem precisava ser tão grande assim. Mas eles simplesmente não vee o mesmo!

Vivo isso diariamente, e me iludo todos os dias, pesando que um dia isso vai mudar. mas ate agora Nada...

Caru disse...

ele podia ter ligado, e você podia ter ligado também.

tire a dorzinha do coração. tire a dúvida. passe a mão no telefone e ligue para o moço. a parte tom de você acha que ele pode ser o grande amor da sua vida.

deh disse...

e a summer, que não acreditava em casamento, mudou de ideia qdo encontrou o 'cara certo', não foi?

sempre há possibilidades. mas a gente tem que dar a cara pra bater.

Mariana Coelho disse...

gente e minha cabeça que funciona igual? amo pra sempre isso aqui.