terça-feira, 24 de agosto de 2010

sala de espera da terapia.


eu pensava na vida, nos últimos dias, no mundo de meninos bonitos que andaram cruzando o meu caminho. mudou o mundo? não. acho que mudei eu. já consigo olhar nos olhos, já consigo dizer o que quero. fazer joguinhos, trançar as palavras de um jeito diferente. é todo um aprendizado. eu não sei bem como começou, se tem a ver com a franja, com essa nova consciência que eu tenho de mim, de me olhar no espelho e me ver bonita. é recente. pode ter a ver com os ultimos e-mails, sofridos, trocados com aquele que foi o melhor amigo. e que hoje é, bem, eu não sei. não consigo catalogar, o vazio ainda é muito grande. porque é assim que funciona, mesmo. leva tempo. tem gente que sabe apertar os seus botões, para o bem e para o mal. ele fez isso, comigo. me jogou na cara algumas verdades sofridas, algumas coisas que eventualmente eu teria de lidar. que eu me vejo, aqui, meses e meses depois, lidando. eu tenho tomado cuidado pra não mover a minha vida como uma eterna resposta àquele último e-mail. porque ali ele machucou mais do que poderia imaginar. mais do que eu imaginei que alguém, algum dia, pudesse fazer. e ele fez. e eu fiquei tentando entender, primeiro com raiva, depois com mágoa, depois com esse sentimento que eu não sei o que é, não consigo dar nome. 

tem gente que aperta os seus botões. alfineta a parte mais sensível, o que você tem de mais íntimo. ele apertou. pegou as palavras mais duras, os segredos mais escondidos, jogou ali, espalhou tudo. e eu fiquei tentando arrumar, guardar de novo. não havia como. sobrou aquele gosto amargo na boca, um resto de choro que vem escondido, sentido, vez por outra. ele dizia que eu não me arriscava. não tem nada que eu tenha feito mais ultimamente do que isso. me arriscar. não tem nada que eu tenha feito mais ultimamente do que isso. responder aquele maldito e-mail, dentro da minha cabeça, over and over again.

eu fico aqui pensando. eu mudei muito, muito, desde que tudo começou. desde aquele bloody february, que se estendeu por um bloody march de discussões intermináveis, de silêncios profundos e garganta ardendo de tanto prender o choro. que deu um tempo em abril, mas voltou com tudo em maio e junho. machucando o que já estava machucado por demais. fazendo chorar, e gritar de raiva, e desejar coisas muito, muito ruins. eu não desejo mais. nada de ruim, mesmo. as pontes estão todas queimadas. ontem eu o vi no supermercado. coisa de uns 20 passos de mim. recuei, desviei, desapareci por entre as gôndolas. eu ainda não sei o que fazer com essa sensação. de reconhecimento. ele existe. eu fico imaginando como seria se fôssemos pegos os dois, de surpresa, tipo um desses esbarrões que acontecem. se a gente se falaria. eu acho que não. não que não exista mais nada a dizer. existe um mundo. faltam forças, mesmo, no meu caso. sobra ressentimento, eu acho, do dele. amizade quando acaba é coisa triste por demais.

e eu me pego sentindo falta dele, às vezes. ainda.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ontem na terapia eu falava justamente sobre como é estranho o fato da gente conhecer uma pessoa, se relacionar com ela e depois não sobrar nada, nem um oi. Você passa aquele tempo vivendo junto, fazendo planos e de repente não existe mais nada a ser dividido. Parece que a vida passa um borracha em uma das partes e a outra fica ali, tentando reescrever alguma coisa. Mas é como nos cadernos de escola, por mais que a borracha fosse boa, sempre ficava um resto que tínhamos escrito antes, sempre ficava um resto do seu erro na página.
Analogia ruim, mas é mais ou menos por aí.

Fabricio Braga disse...

Gostei da analogia da borracha. :o)

Leiliane Fontenele disse...

Não te conheço!
mas acompanho o teu blog e gosto das coisas que acontecem, vi tristeza nas linhas que vc escreveu, mas vi tb sorrisos. A vida deixou marcas. Mas marcas são lembranças que muitas vezes não nos deixam erra duas vezes, lembre-se sempre que o mundo gira rápido demais. As situações mudam mais rápido ainda. Então, somente viva. Se responder esse e-mail com as suas atitudes te fizer uma pessoa melhor, responda se não manda pro lixo.

beijo

stella disse...

ç,

a gente sobrevive. passei por situação semelhante há mais de, meu deus, 15 anos atrás. a gente sobrevive. fica uma cicatriz ou outra, levam da gente algum jeito de falar, umas frases que eram engraçadas e deixaram de ser. mas a gente sobrevive e, se a gente se permitir, pode carregar com orgulho a cicatriz.

tippi hedren disse...

eu tenho tanto medo de te ler, às vezes. é muito parecida comigo, com histórias minhas, por deus. nem consegui terminar de ler esse post de tanto que ecoou aqui dentro.