domingo, 15 de agosto de 2010

das coisas que não têm jeito, mesmo


as minhas unhas estão roídas, e eu estou sem voz. e essa semana eu nem sei como andou, se andou, como foi. me senti carregada, atropelada, arrastada, pelas pessoas, pela vida, por agosto. porque eu vi amiga querida com olheiras profundas sem conseguir respirar, recebendo telefonema com a pior notícia do mundo.

e foi assim. quando suspeitamos o que estava por vir, entramos na sala de reuniões vazia e nos sentamos com ela, em silêncio. rede de proteção. os olhos se cruzavam e se desviavam, olhavam o chão, olhavam a janela, são paulo de noite, lá fora. silêncio dos que esperam um milagre, qualquer coisa, um fiozinho de esperança onde já não existe mais nada. o telefone tocou e, enquanto a notícia era dada, as mãos tremendo, só nos restava chorar. porque ela tinha brigado bastante, por muito tempo, e as forças findaram. e o coraçãozinho parou. e só restava aceitar a realidade. aceitar que nada, nunca mais, vai ser como era, porque antes ali havia uma menina de cinco anos, e agora não existe mais nada. e aqueles poucos centímetros que me afastavam da amiga eram maiores do que o que eu podia transpor. porque não há abraço que aquiete, não há palavra que console. silêncio, apenas.

criança não devia morrer nunca. porque é a coisa mais devastadora que pode acontecer com alguém. filho, sobrinho, irmão. não tem jeito. essa ferida não sara nunca.

agosto tem sido um mês muito, muito ruim.

Um comentário:

Marcela Souza disse...

=/

nesses casos só resta o tempo...