sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

carta aberta para a amiga

velma, querida.

quando eu coloquei a minha vida no carro, o que eu podia carregar, eu tive medo. parte porque alguns dos queridos já tinham vindo pra são paulo, e eu não entendia direito o que a cidade havia feito com eles, se era bom, ruim, ou como lidar com isso. parte porque eu deixava outros queridos pra trás, e eu temia, de leve, que a cidade fizesse comigo o que eu temia que ela tivesse feito com os outros. quando eu coloquei a minha vida no carro e botei george michael pra cantar faith enquanto a marginal tietê se desenhava ao longe, com o horizonte apinhado de prédios e um céu lindo, amarelado, de sol de fim de tarde que até hoje eu não vi igual, eu sabia exatamente o que eu estava perdendo. eu não sabia nada sobre o que eu iria ganhar. 

agora é veneceous. colocando a mesma vida num carro. e eu vou desenhar pra ele um mapinha, com todos os pontos de referência que eu conseguir. pra que ele chegue seguro na minha casa. pra que ele ocupe o sofá roxo que vai ser dele, durante o tempo que ele quiser. pra que ele descubra as coisas que eu descobri.

são paulo muda as pessoas. a maioria endurece. isso é o que todos dizem. isso é o que eu vi acontecer com alguns dos meus queridos. não é um endurecer ruim, sabe? é um endurecer no sentido de enfrentar as coisas, de ser adulto pela primeira vez. de verdade. 

são paulo me mudou. são paulo me tornou doce, uma doçura que eu nunca tive. me tornou mais agressiva no trabalho, mais confiante no que eu faço. mais rodeada de gente assim como eu. 

nós ainda não sabemos o que são paulo vai fazer com veneceous. mas eu vou te contar o que eu acho. eu acho que ele vai ser feliz, aqui. e que ele vai morrer de saudades daí. porque ele é da praia como eu nunca fui. da vida ao ar livre, da capoeira, da corrida. mas ele vai entender que pra tudo tem hora, e que se for o caso, quando for a hora, ele volta. assim como eu sei que eu não volto. porque eu sempre fui dos carros, das buzinas, do concreto.

receba esse post como um abraço. de quem entende o que é ver o melhor amigo ir pra longe. e saber que é o melhor pra ele. e tentar descobrir esse novo jeito de conviver. de conversar. de saber. veneceous e eu tomamos café da manhã juntos por vários e vários domingos. via skype. com gargalhadas e oversharing. não há ninguém que tenha mais mensagens armazenadas no meu celular. porque toda hora é hora. porque basta dois cliques. basta chamar e o outro está ali, sempre esteve. eu tô te contando isso pra você saber que nada muda. que ele continua seu como sempre foi. porque não tem velma sem veneceous. e não tem veneceous sem velma. porque em boa parte desses sms que eu te contei, que ele me manda desde sempre, tem foto sua. que ele tirou e você nem viu. e mandou pra mim. pra que eu continuasse por perto, mesmo longe. perto dele, e perto de você.

agora, que a situação é levemente invertida, eu te digo que vou te mandar fotos. dessas que ele não vai ver eu tirar. dele experimentando a cidade. sorvendo cada detalhe, como foi comigo. e você, de longe, vai estar perto. e os cafés da manhã agora serão de vocês. e você vai ver que nada muda. porque a base é forte, o chão é firme. e esse tipo de coisa, distância nenhuma apaga. só fortalece. 

eu sei. porque foi o que aconteceu comigo. e com ele.

meu sofá é seu, assim como é dele. na hora que a saudade apertar, venha nos ver. e a gente vai te levar pro vegas, pra praça do por do sol, pra bater perna nas ladeiras da vila madalena.

foi veneceous que te trouxe pro meu mundo. foi por causa dele que a gente construiu essa amizade bonita. que nem nota que são 470km de distância. eu sou grata a ele, por isso.

eu vou cuidar bem do nosso garoto. te prometo.

um beijo.
ç.

2 comentários:

Senior disse...

Bom saber que eu vou ficar em boas mãos. E sofá.

=]

juliamorena disse...

o sofá é incrivel e o cobertor de pele de cookie monster tb. (y) curto