quinta-feira, 2 de junho de 2011

houve essa época em que eu era brigona, sabe? respondia professora, devolvia desaforo, mandava e-mails falando absurdos. brigava de volta, mesmo. daí eu comecei a sofrer algumas perdas, dessas que a gente acha que nunca vai se recuperar. ou que a gente até se recupera, mas fica meio manco, ferida de guerra, pro resto da vida.

não foram amores. quer dizer. amigos sempre foram, pra mim, categorizados como amores. eu comecei a ver que na vida a gente vai deixando as coisas pelo caminho, e nem sempre eu estive preparada para deixar assim, as coisas pelo caminho.

então eu achei que era a minha personalidade agressiva, a culpada. e eu abrandei o meu tom, as minhas palavras, me vesti de amor profundo por aqueles que me rodeavam. passei a calar mais, a brigar menos. chocada, comecei a ouvir. tudo aquilo que os meus gritos abafavam, tudo aquilo que parecia não existir quando era eu a pessoa a desferir grandes verdades, grandes ofensas.
e eu vi gente mal educada e cruel, gente tratando gente com ironia, indelicadeza. gente assim como eu era, e escolhia não ser.

naturalmente, eu fiquei mais sensível. mais calada, mais reflexiva. passei a tomar todo o cuidado do mundo com as palavras, a ter horror à ideia de magoar qualquer pessoa que fosse, porque eu sabia que eu podia, se quisesse. passei a não retrucar as bobagens que eu escutava. e assim eu fui levando a vida. desse jeito pacífico e meio adorável, acreditando que eu podia ser apenas alguém agradável. 
 
mas eu tenho natureza belicosa. sempre tive. e passei a me culpar a cada vez que não reagia, a me julgar passiva e covarde a cada vez que alguém se dispusesse a ser cretino comigo.

e, meodeos. como tem gente cretina no mundo.


adiantou foi nada. mesmo fazendo tudo direito eu continuai perdendo pessoas, sendo deixada pelo caminho. mas agora era diferente, porque eu tinha também a sensação de  estar desprotegida, já que eu não rebatia, apenas absorvia os acontecimntos e remoia, remoia. e chorava, sentida.
o que esse período de garras aparadas (e unhas roidas) me trouxe foi uma tolerância baixíssima a qualquer tipo de rispidez, voz em tom mais alto ou grosseria. não aceito, não tolero. eu também fiquei mais sensível ao que acontece com as pessoas à minha volta, uma coisa de prestar atenção, mesmo.

aos poucos, com algum equilíbrio, que só os anos de clausura poderiam ter disciplinado, minha agressividade volta. para os casos em que não, não é ok apenas escutar. para os casos em que rispidez vira instrumento de coação, de convencimento, de violência gratuita. não gosto. não topo. a pessoa meio que morre, pra mim. não sem antes receber um contragolpe.


em volta de mim eu quero gente gentil, assim como eu sou. ou como eu me condicionei a ser.

Um comentário:

Mariana Coelho disse...

eu tô igual, a mesma história antiga, o mesmo período de transição e agora, o mesmo final. "quando eu olhar pro lado, eu quero estar cercado só do que me interessa"