sábado, 28 de março de 2009

Eu costumava implicar com o sotaque paulista.

Isso foi antes de eu saber a diferença entre paulista e paulistano. Paulista é quem nasce no estado de São Paulo, paulistano é quem nasce na cidade. Tipo carioca e fluminense. Então, na verdade, eu implicava com o sotaque paulista, que eu achava que era o da cidade de São Paulo. Essa coisa “os mano”, “as mina”, “véio”, "trampo". Daí eu descobri que isso é uma coisa muito localizada em uma certa área da cidade. Gíria de motoboy, eu ficava pensando. Não. O paulistano que eu tenho conhecido fala bonitinho, com um “r” levemente preso e uma entonação levemente anasalada. E eu me pego adorando o sotaque.

Eu sou suspeita. Criei um amor a essa cidade que mal cabe dentro de mim. E eu não conheço nada pra gostar tanto assim. Eu tenho consciência que esse amor é meu, e vem muito de tudo o que eu projetava, e que a cidade não me decepcionou. Eu gosto do barulho, do movimento, dos temporais no meio da tarde. Da minha janela no trabalho eu vejo o fim de tarde com a ponte estaiada ao fundo, e o céu meio cor de rosa. São Paulo tem céu cor de rosa, aquele céu que eu declarei meu.

Eu não cresci no Rio. Sou fluminense, pela definição da palavra. Nasci na Tijuca, o que me faz carioca da gema, mas saí de lá com poucos dias de vida pra ir para a cidade em que a minha família efetivamente morava. A cidade siderúrgica. Que é poluída e tem os céus cor de rosa com os tons mais incríveis no fim da tarde. Poluição faz isso. Eu não ligo. Ligo para os tons, e pra saber se a minha câmera vai conseguir captar tudo aquilo da janela do apartamento.

A cidade siderúrgica fica estrategicamente posicionada entre Rio, São Paulo e Minas Gerais. Foi “plantada” ali, pra facilitar os transportes de todo aquele aço até onde ele seja necessário. Foi povoada com trabalhadores vindos de diversas partes do país, mas de Minas Gerais em sua maioria. Então o sotaque é meio de Minas. Tem aquela coisa meio fofinha do mineiro, de falar engolindo letras no final das palavras. Andano. Partino. Falano. Só fui descobrir que falava assim na faculdade, quando uma amiga implicou. Ao me dar conta, decidi que me policiaria pra falar direito. E coloquei cada um dos dês que faltavam nos meus gerúndios.

Eu nunca puxei o s. O sotaque da cidade siderúrgica puxa pra Minas no gerúndio, tem o erre do rio de janeiro, bem rasgado. E uma ou outra coisinha de São Paulo. Tipo um híbrido, um sotaque específico. No Rio, passei 10 anos sendo tratada como forasteira, pela falta do s com som de x. O resto do sotaque, peguei. Aquela coisa de falar de um jeito meio cantado, cheio de manha. Isso é do carioca. Vim pra São Paulo, e todo mundo aqui diz que eu tenho muito sotaque. Mas eu não puxo o s, eu digo. Ninguém liga. É essa coisa cantada que chama atenção, por aqui.

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