sexta-feira, 20 de março de 2009

A difícil tarefa de fazer amigos

Eu sempre ouvi dizer que as pessoas em São Paulo eram mais reservadas. Eu sempre me irritei horrores com a mania que os cariocas têm de virar best friends forever cinco minutos depois de se conhecerem. E eu sempre fui mais reservada do que a maioria das pessoas à minha volta. Eu tô falando de trabalho, né? Porque, já aviso, o assunto vai bombar por esse blog daqui pra frente, por pelo menos 4 meses. Então eu cheguei na firma nova e, em cerca de 72h, utilizando recursos como observação, mapeamento e stalking na internet, eu já havia determinado quais seres humanos ali poderiam ser meus amigos. Mas eu não contava com uma coisa. Eu não conheço esse bicho estranho que vive em São Paulo. E todas as minhas estratégias sempre foram baseadas no tipo de bicho estranho que vive no Rio. E sim. Eu sou reservada, mas para padrões cariocas. Eu falo com as pessoas. Eu demonstro interesse, faço perguntas, estou pronta a respondê-las. Eye contact. Prática de amizade exige esforço. Isso deveria estar num manual, porque neguinho parece que não entende o princípios básicos.

Daí eu, com minha lista formada de amigos em potencial, comecei a ser simpática. Gentil, sorridente, interessada. E ninguém faz perguntas, ninguém sorri de volta. Awkward silences, here i go. Daí pensei, néam. Neguinho não foi com a minha cara. Hipótese refutada, dado meu alto índice de adorabilidade. Voltei para a observação, pra fazer ajustes e descobrir como é que gente, em São Paulo, fica amiga no corporativo. Considerando que a equipe toda é muito autogerenciável (se é que a palavra existe), pessoas ficam voando solo, por ali. Eu sou uma delas, em breve, quando acabar o meu “treinamento” e eu começar efetivamente a fazer coisas sozinha. Os horários são loucos, e não raras vezes as pessoas comem sozinhas. Eu odeio comer sozinha. Tenho pena de mim, juro, me acho freak sozinha numa mesa de restaurante. Nem tentem me analisar. Eu já tratei isso na terapia e cheguei à conclusão que isso é fichinha perto dos meus outros problemas de cabeça. Mas eu costumo ser esperta e sempre acabo almoçando com as outras meninas da equipe. O que me levou à observação de outro fato muito interessante.

As pessoas não conversam entre si. Eu tinha ido almoçar com essa garota, e ela é super legal. E me contou várias coisas, que é casada, e que passa só a semana em SP, etc e tal. E eu dei atenção, eu queria saber mais. No dia seguinte, almoçamos as duas, mais outras duas meninas da equipe. Que ela já conhece há mais tempo, visto que eu cheguei agora. E ela contou as mesmas histórias para as outras garotas. E eu me dei conta que elas não conversam, não há prática efetiva de amizade, ali. Não há. E eu, como boa carioca (mais ou menos), pensei que tenho uma missão nesse mundo. Unir as pessoas. Reunir todo mundo em almoços felizes, onde as pessoas comem juntas e ficam amigas.

Não tem sido fácil, devo confessar. Eu me vejo gritando de frente pra muros. Tudo o que ouço são grunhidos, palavras curtas, dessas de três letras, quando muito. Fosse o Rio, eu já estava mais próxima, super pertencente ao grupo. Aqui, ajustes ainda se fazem necessários. Não é que as pessoas não gostem de mim, ou sejam resistentes. Ela funcionam dessa forma, só isso. E aí hoje tinha esse cara, novo numa outra equipe, almoçando com o grupo. E ele estava muito isolado. E em um mundo ideal, eu o incluiria. Mas eu ainda estou deslocada. Preciso concentrar meus esforços em mim.

Aí tem a equipe de japoneses, aqueles cujos nomes eu não conseguia decorar. Uma das hipóteses tem se reforçado. Pra ir encontrá-los nas reuniões diárias, eu preciso subir 4 andares. 62 degraus. Na prática são dois andares, mas os andares lá são duplos, anyway. O elevador não me serve, é louco. Então, eu pego a garrafinha de água, respiro fundo e subo as escadas. Eu chego no andar deles vermelha, ofegante, sem oxigenação necessária no cérebro. E convenhamos. São japoneses. Falta decorar o nome de dois. Mas deles eu fiquei amiga. Eles fazem perguntas, e demonstram interesse, e já batemos altos papos sobre The Big Bang Theory. Eu não posso não ser amiga de quem conhece Sheldon Cooper. Então, é isso. Acho que estou fazendo amigos japoneses. Na outra equipe. Na minha, a das meninas coloridas, um longo caminho se anuncia.


* O estranho é que pra ficar amigo as pessoas são cheias de dedos. Mas o que eu tenho visto de casal em ambiente corporativo, ninguém nem faz idéia.

3 comentários:

juliamorena disse...

Eu super apoio amigos japoneses. Principalmente se gostarem de Big Bang Theory, It Crowd, Lost e StarTrek (Star Wars serve também). Me apresenta um aê, tô precisada de gente geek que saiba quem é o Cap. Pike. :)

Rozzana disse...

eu sou mineira. e reservada (embora seja comunicativa brincalhona e tal). mas vou muito a são paulo e me incomoda o quanto os habitantes mantém essa distância "refratária". no rio é uma festa, me sinto super à vontade, sempre.

Mme. Cedilha disse...

Rô, mas no Rio as pessoas não são meio "entronas" demais? Eu morei lá 10 anos, e não me costumei nunca nunca com essa mania de virar melhor amigo em 5 minutos. O ideal seria um meio-termo. Acho que o timing de São Paulo é diferente, mesmo. O que não quer dizer que as pessoas não sejam muito legais. =]