quinta-feira, 1 de março de 2007

Pouca gente sabe, mas hoje é desaniversário da garota. Há 25 carnavais, num primeiro de março, em um ano que não era bissexto, nascia aquela lá. Brilho seria se Ana Luiza nascesse num ano bissexto, porque ela teria como data de nascimento o dia 29 de fevereiro. E só faria aniversários de 4 em 4 anos. Ia ser muito brilho. Mas deve ser aquela velha história de jisus looks at her. Ele já devia olhar antes mesmo de ela nascer. Pensou bem em tudo, para que ela não viesse ao mundo em um ano bissexto, em um dia 29 de fevereiro. E para que pudesse ter um dia para chamar de seu todos os anos.

Ana Luiza fala sozinha, ri sozinha e tem palavras que só ela usa. Pergunta de tempos em tempos como é que se escreve obsessão, ou exceção, ou portfólio. Eu respondo. Na maioria das vezes, ela já pergunta escrevendo certo. Ana escreve bem, de um jeito mais rápido, mais curto e mais certeiro do que eu. Escreve doído, sabe elogiar e ofender. Dificilmente eu vi um texto dela que eu faria diferente, que eu trocaria uma vírgula que fosse. Isso toma de mim um pouco da isenção, mas concordo com absolutamente tudo o que ela diz, escreve ou pensa. Se, por acaso, eu não concordar, vou, provavelmente, me perguntar se sou eu que não estou errada.

Ana Luiza tem mania de maquiagem, e me ensinou a pintar o rosto. Passa blush na cara de qualquer um que considere pálido. Um dia, lá atrás, foi a minha vez. Hoje, blush, não vivo sem. Ana me ensinou a passar rímel preto há cerca de 10 dias. Que vergonha, eu achava que sabia. Estou de rímel hoje, e estava ontem, e isso é obra dela. Ana, ao telefone, não começa dizendo alô, nem termina dizendo tchau. Vai direto ao assunto, sempre. Desliga na cara se você estiver desprevenido. É porque o assunto acabou, nada pessoal. Ela odeia falar no telefone. Odeia mesmo. Ligou pra falar que a Analy vetar o anjo foi puro brilho. E desligou.

Ana me mata de vergonha. Faz amizade com qualquer naipe de ser humano que cruze o nosso caminho. Pratica amizade com mendigos, pivetes, vendedores de balas e frutas. Uma vez, quase implorou a um vendedor de caquis que DESSE um pra ela. Gemeu, disse que tinha fome. O cara não caiu. Ela riu. Eu corei.

Ana bebe coca light e prefere cheesecake a brownie no outback. Usa meia-calça colorida para trabalhar em pleno verão, e se irrita quando as pessoas comentam. Usa xales, mantas e sapato boneca. É a melhor amiga pra comprar bolsas, casacos e tomar chocolate quente. Tem um apartamento colorido, que eu só conheço por foto. Tem um carro igual ao meu, que tem cheiro de naftalina. Ana dá nomes aos bichos, aos chaveiros. Me manda calar a boca sem a menor cerimônia, quando eu a interrompo sem perceber. Se qualquer outra pessoa fizer isso, eu me enfureço.

Ana não sabe o nome de nenhum filme, de nenhum ator e nenhuma atriz. Não gosta de filme triste, reclama de filme político. Gosta de Legalmente Loura e de comédias inteligentes. Odiou alguns filmes que eu amo, ri quando eu tento usar as minhas referências de cinema para explicar alguma coisa. Adora Seinfeld, está aprendendo a gostar de Friends. Quase me matou quando eu disse que o Chandler ficava com a Mônica, disse que eu estava adiantando a história. Mas, vem cá... Quem não sabe que Chandler e Mônica são um casal? Ela não sabe.

Ana faz aniversário hoje, e por incrível que pareça, é só o terceiro desde que somos amigas. Parece o trigésimo.

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