quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Tenho memória infalível pra muita coisa. E me confundo em outras. Raciocínio lógico, por exemplo, não tenho. Não sei o que acontece, não é item de fábrica. Sei todas as regras do bom português, me orgulho de ter aprendido a tabuada e de manter, quase intacto, meu aprendizado das aulas de Kumon. Acho que escrevo direito, mas isso me torna exigente, e eu fico cretina com o mau português dos outros. Nunca na minha vida eu aprendi química orgânica, aquela dos carbonos. Nunca na minha vida eu aprendi química at all. Acho realmente muito impressionante que eu tenha passado incólume pelo segundo grau, e depois pelo vestibular. Como ninguém percebeu nada? Lembro do terror que foi, no colégio, aprender números primos e pares. Lembro de ter dito que não entendia, de ter sido levada ao quadro negro pela professora, que me explicou over and over again. E eu continuava sem entender. A vi perder a paciência, a derrota estampada no rosto. Não aprendi. Hoje, sei mais ou menos quais são os primos e quais não são, mas não confio nem um pouco no meu julgamento. Não mesmo.

Nunca aprendi o que era imagem vetorizada. Fiz a mesma pergunta para a Renata, minha amiga que entendia de photoshop. Ele me explicou. Dias depois, esqueci. Não sei se esqueci que já tinha perguntado isso, ou qual tinha sido a resposta, não sei. Perguntei de novo. Ela explicou, exemplificou, desenhou. Esqueci. Perguntei de novo. Renata, sempre tão calma e bem humorada, gritou comigo, dizendo que não aguentava mais me responder aquela p**** de pergunta. Calei a minha boca, entendi que ela não ia mais me explicar e desisti. Nunca aprendi direito a diferença entre in, on e at. Quer dizer, EU SEI A DIFERENÇA, mas não consigo. Sempre erro a colocação, ou quando acerto é meio que no chute. Minha professora de inglês, querida que só ela, se esforçava. Eu dizia: "Don't bother". Ela ria e eu continuava confundindo. O pior é que o meu inglês é bom, uso no trabalho e ninguém nunca reclamou. Mas on, in e at, eu confundo.

E então somos trazidos ao dia de hoje. No trabalho. A equipe da qual eu faço parte é design/conteúdo. Por design, leia-se dois especialistas em montagem de sites, com alto poder de concentração e experts em códigos malucos. Três designers, especialistas em photoshop, em imagens vetorizadas (aquelas, que eu nunca aprendi) e bem treinados naqueles códigos malignos. Html. Malignos. Well, /conteúdo sou eu. Assim mesmo, barra conteúdo. Eu. Especialista em regras de português, em colocação correta de artigos, preposições, acentos e mesóclises. Não que eu use mesóclises. Acho por demais arrogantes. Mas sei quando elas cabem, por assim dizer. Sei que as proparoxítonas são acentuadas e sei dizer quando uma palavra é oxítona, paroxítona ou proparoxítona. Próclise, ênclise, mesóclise. Sei, pra mim é simples. Sei quando as pessoas erram conjugações no subjuntivo. Mas não me façam perguntas de códigos.

Então, por ser a única que vem depois da barra, lá no nome da equipe, e considerando o estado de semi-congelamento a que tenho sido submetida, sou como Blanche Dubois, dependendo da boa-vontade de estranhos. Eu grito, eles me acodem. Porque os códigos me atacam, e eu me confundo. E uma barrinha que eu coloque fora de hora pode tirar o site do ar, e as pessoas não ficarão felizes comigo se eu fizer isso.

Então, surge a pergunta, vinda lá da tecnologia. "Ei, vocês, nerds especialistas em códigos, me dêem uma ajuda?" Era algo relacionado a um div. Outro dia fui apresentada ao conceito de div. Eu perguntei, Julia, aquela dos golfinhos e da granola, com toda a paciência do mundo pôs-se a explicar. Div fecha uma regra, ele monta um código, uma barra, e determina as características, entendeu? Não. Óbvio que não. Que pergunta!

Mas aí, hoje, eu me vi no meio da conversa que transcrevo a seguir. Não pensem que estou inventando não, porque dada a minha total ignorância do assunto discutido, pus-me a transcrever tudo o que ouvia, em uma janela de texto aberta no meu computador.

"os dois já estão floater, usa a index, pra frente já tá, ele aparece onde na tela? que eu to fazendo como javascript.
bota um div, é muito simples. esse é um div flutuante, onde tiver esse div, eu quero que esse apareça junto, andando junto, flutuante. esse div tem que estar dentro desse, esse vai estar com uma posição dentro desse, pra poder andar junto. já está dentro, que eu quero colocar x y dentro da parada, com um scroll para aparecer invisível. basta colocar esse div relativo a esse. varios divs, java scripts, ele já anda, hoje, mas eu quero que esse aqui que ta flutuando, que aparece aqui dentro
(e nesse momento a figura começa a desenhar, possivelmente o tal div, que ainda desconheço),
quando aparece esse div e anda, esse outro aqui já ta andando, mas aí esse div aqui já ta andando, porque eu defino xy disso aqui, não é um java comum, veja bem, se 100 por 100 for aqui, ele aparece, pum, aqui, mas eu quero que ele apareça ali. então eu preciso saber o que o div está no momento, pra eu saber onde alinhar o div e ele ficar flutuando, passando ali.
Não, não é isso que eu quero. eu quero saber a posição de um div que já está na tela. Ele aparece sempre na mesma posição, o primeiro div. sempre vai ser esse lugar. não.
entendeu? entendi. Faz isso aqui. Ok, valeu."


E em algum momento, bem lá no início da conversa sobre os divs todos e por que eles flutuavam ou não, eu me perdi. Parecia que eu estava embaixo d'água, submersa, ouvindo sussurros vindos da superfície. Sons abafados e incompreensíveis. De alguma forma, eles se entendiam. E eu não. Eu era o /conteúdo, ali, isolada do mundo dos códigos. Pensei em, quando a pergunta acabasse, quando eles entrassem em um consenso, perguntar para a adoradora de bichinhos o que era um div. Desisti. Eu me confundo.

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