Eu me preocupo. Mais do que gostaria, mais do que deveria. Eu me preocupo com as bebedeiras da Britney Spears, mas mais ainda com aquelas duas pobres crianças que, na ausência da mãe louca (ou morta ou internada para desintoxicação, ou sem calcinha e bêbada em alguma limusine) terão como única saída ficar com o pai, que também é um loser. Eu me preocupo com meus quadris e me dói o coração a cada vez que eles se apertam em uma calça jeans. Eu me preocupo com a tireóide da Flávia, e com a minha um pouquinho. Me preocupo com os rumos que a minha carreira vem tomando, com a prova do MBA na semana que vem e com o sábado que será perdido com um trabalho de grupo. Me preocupo com o tempo que eu passo em frente à tv e ao computador, mas no fundo eu lamento não passar mais horas. Me preocupo com os barulhos do meu carro, mesmo que ninguém mais os ouça e que me chamem de louca e paranóica. Com a fome na África, com o aquecimento global, com o calor infernal do Rio de Janeiro. Me preocupo com a minha bolsa de veludo suja, com o meu pai fumando, com a minha irmã e suas unhas compridas demais. Me preocupo com a minha dicção, com o meu falar rápido, e com o meu pensar mais rápido ainda. Mal sobra espaço entre pensar e fazer, vejam só. Chamam de impulsividade, eu chamo de burrice. Me preocupo com o meu déficit de atenção, que me faz prestar atenção em milhares de coisas ao mesmo tempo. Que me faz entender piadas internas de pessoas que não são minhas amigas. Que me faz juntar peças de quebra-cabeças que eu não preciso montar e, pior, que eu não gosto de ver montados.
Eu me preocupo com a garota perdida em São Paulo, por mais que ela saiba se virar bem. Me preocupo comigo perdida no Rio, e eu sei me virar também. Me preocupo com a programação da tv a cabo, com os novos seriados que eu não vou ter tempo de ver e com os antigos que eu já não consigo acompanhar. Me preocupo com a dor de cotovelo da Jennifer Aniston ao ver Brad e Angelina adotando e fazendo bebês, e posando em revistas com sua felicidade de plástico. Me preocupo que cada ator do elenco de Friends se estabeleça em outro seriado. Que os meus diretores queridos continuem fazendo bons filmes. Me preocupo com a revolução que a internet provoca na vida das pessoas, e com a minha parcela de responsabilidade pelo que eu coloco na rede, seja no trabalho ou em casa. Eu me preocupo com os milhares de corações que serão partidos sem que nada possa ser feito a respeito. Com aqueles que ainda acreditam. Com aqueles que são felizes, por desconhecerem a verdadeira tragédia que é estarmos todos perdidos, agora, nesse exato momento. Me preocupo com os que enxergam mais longe, que percebem mais que os outros, e que perdem as esperanças. A ignorância pode ser absolutamente libertadora. Eu me preocupo com o lugar onde foram enterrados os ossos do cachorro mais legal do mundo, o meu. Eu me preocupo porque não estava lá com ele quando ele fechou os olhos e morreu. Eu me preocupo com todos aqueles que, em algum momento, fizeram parte da minha vida, e que hoje não fazem mais. Com todos os que me adoram e com todos os que me odeiam. Eu me preocupo com os absurdos que eu já disse. Eu me preocupo que eu me orgulhe de alguns absurdos que eu já escrevi para magoar pessoas. Com a minha capacidade de virar prós em contras e de atacar quando me sinto acuada. E de me vingar quando me sinto injustiçada.
Eu me preocupo com todos aqueles que apanham por causa de preconceito, com os rumos que algumas pessoas resolvem dar às suas vidas. Me preocupo com o preço da pastinha de soja deliciosa que descobri no supermercado e que me viciei desde então. Com meu vício em Coca-Cola e em coisas que entopem artérias. Com as formigas que invadiram meu apartamento, e que me vencem dia após dia. Com a mancha de shoyu na minha saia plissada e com a minha bolsa de cabrinhas bebês que está imunda, mas que eu tenho medo de lavar e estragar. Com a minha péssima atuação em fotos. É inacreditável como eu fico horrível em todas elas. Eu me preocupo com a minha péssima pronúncia em francês e em desperdiçar momentos importantes por preguiça, comodismo e conformismo. Eu me preocupo com a Marcela, com quem eu não falo há mais de um ano. Com a nuvem de preocupação sobre a cabeça do Bernardo, e sobre a qual ele não quer falar, e que eu respeito. Com cada um dos meus amigos, com cada semana que eu não os vejo. Com o fato de na caixinha de Mentos existir um novo sabor, que eu odeio. Com o fato de terem parado de fabricar Trident sabor pêssego e maçã verde. Com a escassez de vendedores de balas Juquinha no meu mundo. Com os altos preços das lojas que eu gosto, com a ausência de casaquinhos legais na Zara. Com o meu vício em açúcar e cafeína. Com gente que não se posiciona, com o governo que me decepcionou, com toda a bagunça que se estabeleceu. Com a máquina mágica de doces do 7o andar, que de vez em quando surta, engole as moedas e não libera o pedido. Diz apenas have a nice day e não se fala mais nisso. Com todas as outras coisas que a gente investe e não tem retorno, e que, quando muito, recebe em troca apenas um have a nice day.
Eu me preocupo com a minha conta bancária e com todas as coisas que eu tenho e não preciso. Com todas as roupas que eu comprei pra usar uma vez e das quais não consigo me desfazer. Com a pia do banheiro pingando, com todas as músicas que eu não vou ouvir nunca e que eu adoraria, se ouvisse. Com o fato de que eu falo com a Fernanda cada vez menos. Com cada foto da época da faculdade que eu não apareço, porque eu não estava lá. Porque eu raclamava da distância, do horário, do tempo. E esse tempo não tem volta, e eu não estou nas fotos. Eu me preocupo com o que já foi, com o que é e com o que ainda vai ser. Mais do que deveria, mais do que gostaria.
Eu me preocupo com a garota perdida em São Paulo, por mais que ela saiba se virar bem. Me preocupo comigo perdida no Rio, e eu sei me virar também. Me preocupo com a programação da tv a cabo, com os novos seriados que eu não vou ter tempo de ver e com os antigos que eu já não consigo acompanhar. Me preocupo com a dor de cotovelo da Jennifer Aniston ao ver Brad e Angelina adotando e fazendo bebês, e posando em revistas com sua felicidade de plástico. Me preocupo que cada ator do elenco de Friends se estabeleça em outro seriado. Que os meus diretores queridos continuem fazendo bons filmes. Me preocupo com a revolução que a internet provoca na vida das pessoas, e com a minha parcela de responsabilidade pelo que eu coloco na rede, seja no trabalho ou em casa. Eu me preocupo com os milhares de corações que serão partidos sem que nada possa ser feito a respeito. Com aqueles que ainda acreditam. Com aqueles que são felizes, por desconhecerem a verdadeira tragédia que é estarmos todos perdidos, agora, nesse exato momento. Me preocupo com os que enxergam mais longe, que percebem mais que os outros, e que perdem as esperanças. A ignorância pode ser absolutamente libertadora. Eu me preocupo com o lugar onde foram enterrados os ossos do cachorro mais legal do mundo, o meu. Eu me preocupo porque não estava lá com ele quando ele fechou os olhos e morreu. Eu me preocupo com todos aqueles que, em algum momento, fizeram parte da minha vida, e que hoje não fazem mais. Com todos os que me adoram e com todos os que me odeiam. Eu me preocupo com os absurdos que eu já disse. Eu me preocupo que eu me orgulhe de alguns absurdos que eu já escrevi para magoar pessoas. Com a minha capacidade de virar prós em contras e de atacar quando me sinto acuada. E de me vingar quando me sinto injustiçada.
Eu me preocupo com todos aqueles que apanham por causa de preconceito, com os rumos que algumas pessoas resolvem dar às suas vidas. Me preocupo com o preço da pastinha de soja deliciosa que descobri no supermercado e que me viciei desde então. Com meu vício em Coca-Cola e em coisas que entopem artérias. Com as formigas que invadiram meu apartamento, e que me vencem dia após dia. Com a mancha de shoyu na minha saia plissada e com a minha bolsa de cabrinhas bebês que está imunda, mas que eu tenho medo de lavar e estragar. Com a minha péssima atuação em fotos. É inacreditável como eu fico horrível em todas elas. Eu me preocupo com a minha péssima pronúncia em francês e em desperdiçar momentos importantes por preguiça, comodismo e conformismo. Eu me preocupo com a Marcela, com quem eu não falo há mais de um ano. Com a nuvem de preocupação sobre a cabeça do Bernardo, e sobre a qual ele não quer falar, e que eu respeito. Com cada um dos meus amigos, com cada semana que eu não os vejo. Com o fato de na caixinha de Mentos existir um novo sabor, que eu odeio. Com o fato de terem parado de fabricar Trident sabor pêssego e maçã verde. Com a escassez de vendedores de balas Juquinha no meu mundo. Com os altos preços das lojas que eu gosto, com a ausência de casaquinhos legais na Zara. Com o meu vício em açúcar e cafeína. Com gente que não se posiciona, com o governo que me decepcionou, com toda a bagunça que se estabeleceu. Com a máquina mágica de doces do 7o andar, que de vez em quando surta, engole as moedas e não libera o pedido. Diz apenas have a nice day e não se fala mais nisso. Com todas as outras coisas que a gente investe e não tem retorno, e que, quando muito, recebe em troca apenas um have a nice day.
Eu me preocupo com a minha conta bancária e com todas as coisas que eu tenho e não preciso. Com todas as roupas que eu comprei pra usar uma vez e das quais não consigo me desfazer. Com a pia do banheiro pingando, com todas as músicas que eu não vou ouvir nunca e que eu adoraria, se ouvisse. Com o fato de que eu falo com a Fernanda cada vez menos. Com cada foto da época da faculdade que eu não apareço, porque eu não estava lá. Porque eu raclamava da distância, do horário, do tempo. E esse tempo não tem volta, e eu não estou nas fotos. Eu me preocupo com o que já foi, com o que é e com o que ainda vai ser. Mais do que deveria, mais do que gostaria.
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