terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Então que a garota precisava contratar estagiários. Sempre peça um texto, ela disse. Concordo. Textos dizem muito sobre a pessoa, desde a forma com que as vírgulas são dispostas até mesmo pelo tema escolhido. Quando você tem a oportunidade de enviar algum texto seu para alguém que vai te avaliar por isso, seja um amigo, o seu futuro chefe, whatever, isso é importante. Este é um momento que requer muita concentração, muito senso. Muita calma nessa hora. Pesa a escolha do texto, a forma com que ele foi escrito, o bom português, a forma com que você se coloca, se expõe, se exprime. Palavrões são permitidos, se bem usados e, claro, se quem for ler parecer não se importar com um punhado de palavras feias. E a garota precisava contratar estagiários.

Quando eu fui contratada, tive que mandar um texto. Mandei três. Um sobre o meu nome, um explicando os motivos pelos quais eu prefiro os cachorros aos gatos e um sobre o quanto eu odeio natal. Os três eram bem escritos, of course, mostravam como eu me expressava, um deles tinha dois ou três palavrões que não foram um problema. Doze horas depois da entrevista eu estava contratada. Mas a vaga era pra redatora, então, tudo bem. Um texto diz muito sobre uma pessoa. Mais do que qualquer um pode imaginar. Eu posso ganhar respeito imediato por uma pessoa que articule as próprias idéias. Em compensação, uma pessoa que não escreva bem e direito, perde pontos. That’s me, sorry.

E a garota precisava contratar estagiários. E disse que sempre é preciso pedir um texto. Eu nunca contratei ninguém, já é tarefa suficientemente trabalhosa tomar conta de mim mesma. Mas concordei, concordo. Sempre peça um texto. Então, a garota que ela entrevistou na semana passada, e cuja descrição física já vale um post exclusivo, mandou hoje, não um, mas três textos. Três péssimos textos. Muito ruins, impossíveis de serem lidos. Ela não conseguiu, me enviou, e eu, guerreira, sofrendo linha após linha, consegui terminar.

A apresentação, o e-mail que ela mandou pra justificar o envio dos textos era algo, assim, indescritível. Mentira, era nada, descrevo: “para que possas me conhecer melhor e ter uma base mais sólida”; “Espero não estar bombardeando-te com tantas palavras”. E por aí foi.

Eu poderia citar exemplos dos erros de colocação. De como ela disse que escreveu uma carta, “cuja própria começava assim”. De como ela confundia briGAM com briGÃO, erro de terceira série. De como ela se enrolava nas próprias palavras, tropeçava e confessava que não estava conseguindo se expressar. De quando ela disse “Junta a sede com a vontade de comer, mas não tenho a porra do prato e nem o copo.” Nem o ditado ela acerta, a coitadinha. Fome, vontade de comer, né? Assim fica melhor. De quando ela filosofou sobre pregos, e a importância de escolher o prego certo em um saco com quinhentos pregos e martelar direito, para que ele não entortasse. Porque você podia se confundir e escolher o prego errado, ou então poderia querer justamente o prego que não estaria no saco com os outros quinhentos. E a busca pelo prego permaneceria, porque o prego que você (ela!) escolhesse martelar estaria para todo o sempre fincado ao seu lado (dela!), na madeira ou em uma árvore no meio da floresta. E que ele, o prego, nunca poderia esquecer da martelada que foi dada em sua cabeça. Pobre prego.

Eu queria gritar com a garota, dizer: “O que você estava pensando ao enviar isso para uma pessoa que está pensando se deve ou não te contratar? Are you insane?” Queria achar ela no orkut, ver as comunidades, as fotEEEnhas, o blog. Sim, porque esse texto só pode ter saído de blog. Onde é que ela iria escrever tanta coisa?
Não sei. No final do dia o meu coração, que é bom (que nem o da porrrta do big brother), se acalmou, e eu resolvi deixar pra lá. Ao final do dia surgiu outro garoto, outro prospect. E estamos aguardando o texto. E torcendo por dias melhores.

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