quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Unsent. Ou Menthos, the troublemaker;

Queridos fabricantes da bala Mentos. Preciso me abrir com vocês. Tenho uma reclamação séria pra fazer, um pedido, em nome de todos os adoradores da balas mastigáveis.

Sou consumidora antiga do seu produto. Cinema pra mim só tem sentido se for com bala mastigável. Bala mastigável, pra mim, é Mentos. Ou era, não sei. Estou por demais confusa com o rumo que as coisas foram tomando. Eu gostava daquele tubinho com Mentos de fruta, em três sabores, laranja, limão e morango. Três sabores, veja bem. Achava meio chato porque um tubinho nunca parecia ser suficiente, e sessão de cinema completa, tinha que ter três. Três tubinhos, com três sabores sortidos, escolhidos ao acaso quando as luzes do cinema estão apagadas. Uma surpresa descobrir qual seria a próxima bala. Todo mundo gostava da rosa, a de morango. Eu não. Adorava a de laranja. Tão docinha, tão refrescante. Bom mesmo era achar uma de cada e colocar logo as três na boca. Mastigar tudo junto, assim, fazer um bolão doce sabor tutti-frutti, que naturalmente demoraria mais tempo para acabar.

É preciso dizer, ainda, que minha fidelidade não se abalou nem quando eu quebrei a minha obturação em uma bala extra dura, sabor limão. Porque um dos segredos de Mentos é esse. Nos dias quentes, elas são mais molinhas, nos dias frios, são potencialmente assassinas de obturações infelizes. Um dia, minha obturação se foi. 1 x 0 para a bala. Não reclamei. Fui ao dentista, consertamos o pequeno estrago e lá estava eu, feliz e sorridente, lépida e fagueira, com mais três unidades sortidas dentro da boca, misturando sabores, explodindo em sabores de frutas. Alegria, alegria.


Não gosto da Mentos de hortelã, vejam bem. Já as achava meio estranhas desde muito antes dessa onda de mandar tudo para os ares, explodir garrafas. Não gosto de Coca-light, não gosto de Mentos sabor hortelã. Não ligo, não me afetam essas explosões. Se a combinação fosse feita de Coca comum e Mentos de fruta, eu me rebelaria, faria passeatas, pelo fim ao desperdício de Mentos de frutas e Coca-Cola comum. Mas não. A causa da Mentos hortelã não me mobiliza at all.

Foi com grande felicidade e alegria genuína que eu descobri a caixa grande das minhas balinhas queridas, sortidas, chacoalhantes no mega box colorido. Ou no copinho, tão fofo, colorido e igualmente barulhento. Alegria, alegria. Parecia que vocês tinham lido a minha mente. E lá fui eu para o meu cinema, com minha personal Mentos supply. E algo aconteceu. Da minha caixinha feliz saíram balas de sabores desconhecidos! Uma roxa, ou vermelha, meio fluorescente, quase radioativa. Depois de muito custo, muita degustação, a revelação: sabor frutas vermelhas. É importante mencionar que só descobri do que se tratava ao ler na embalagem. Meu paladar tão apurado e desenvolvido em degustação de balas não conseguiu identificar tamanha aberração. São docinhas, como as outras, mas agem nas papilas gustativas de modo pouco familiar, ardem. A produção de saliva aumenta, triplica, quadruplica. Os olhos ardem, lacrimejantes. Não são balinhas inofensivas, capazes de apenas trazer alegria àqueles que as consomem. São balas malignas, de sabor ultra forte, com poderes de desconcentrar suas vítimas. Qual era o filme mesmo? O que ele disse? Não sei, foi a bala. A bala quer ser a estrela, não lhe cabe o papel de coadjuvante. Então, lá, perdida no meio das malignas balas vermelho-roxas, restaram umas poucas antigas companheiras de laranja, limão e morango. Elas ficam encolhidas no canto da caixinha, humilhadas no meio de tanto sabor. Sabor demais, por favor, entendam, não é qualidade. Eu gostava de suas personalidades suaves e dispostas a fazer o meu dia um pouco melhor. As roxo-vermelhas não aceitam ser renegadas, precisam ser as estrelas da caixa. E se multiplicam. E invadem o ambiente, me tiram do filme, gritam, berram, me fazem chorar.

Então, em nome de todos aqueles que foram prejudicados com essa pequena crise de personalidade da bala em questão, peço que coloquem a pobrezinha na terapia, amansem a sua personalidade. Personalidade demais é problema. As balinhas são geniosas, hiperativas, bipolares. Precisam ser domadas, educadas, adestradas. Nós, pobres consumidores, não devíamos sofrer com suas crises de auto-afirmação, de “oi, eu sou a Mentos frutas vermelhas, eu tenho MUITO sabor”. Não. Queremos balinhas comportadas, com doses adequadas de açúcar e alegria, dispostas a colaborar com a experiência que é assistir um bom filme sem engasgar com excesso de saliva, sem lágrimas que não sejam provocadas pela história. Balinhas seguras de si não precisam de tanto sabor. Elas sabem o seu verdadeiro valor. E, exatamente por isso, fazem as pessoas felizes, que é a verdadeira missão da vida de uma bala.

Sinceramente,
Madame Ç.

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