quanto tempo é permitido sofrer? qual é o prazo socialmente aceitável?
não estou falando do let go. o let go já veio. eu já entendi que nem sempre a gente consegue manter por perto aqueles de quem a gente gosta. que os estragos são feitos, e uma coisa piora a outra, e muitas das vezes a gente perde o controle. e tudo fica pesado demais para ser simplesmente apagado, esquecido.
não estou falando do move on, do achar novas pessoas, fazer novas coisas, descobrir outros caminhos.
estou falando da perda, propriamente dita. da saudade que fica quando a raiva vai embora, quando você consegue dissociar as coisas ruins que ouviu do que é verdade, porque sabe que só foi machucada porque também machucou.
estou falando da saudade que te toma de assalto quando você vê a pessoa passeando distraída na rua. Quando vê um livro e sente o impulso de comprar, porque sabe que ela gostaria de ganhar de presente. Ou quando vê um desenho, ou uma fotografia, ou um filme. a cada vez que surge um momento desses, um impulso quase inconsciente traz de volta as lembranças, ainda tão vivas.
eu morro de novo, e de novo.
e o tempo destrói tudo. o tempo desembaça a vista. hoje eu vejo que houve um momento em que eu poderia ter trazido ele de volta. ali, parado na minha frente, sorrindo. eu me assustei. e reagi com medo, depois com gritos, com todas as coisas que andavam engasgadas junto com o choro. minha reação foi a mais verdadeira possível. naquele momento. se hoje a mesma cena ocorresse, se eu fosse surpreendida com um sorriso, talvez eu sorrisse de volta. e eu sei que eu ia desabar, e chorar tudo aquilo que eu já chorei em dobro. e olhar com raiva, depois com pena de estarmos os dois nessa situação, depois com alguma ternura, dessas que sobram, mesmo quando todo o resto desanda. e abraçar com força, pra segurar e não deixar ir embora. porque o último abraço que eu dei selou o fim. e eu sabia, no momento em que soltei os meus braços e recuei.
todo o resto desandou. e no outro dia eu pensei. e se eu abrisse os vidros do carro e gritasse o nome dele? e sorrisse? e tentasse olhar nos olhos, buscar aquela ligação que um dia existiu, tão firme, tão limpa. e eu perguntasse. até quando? até quando a gente vai passar por isso assim, de longe? sem falar, sem saber? evitando cada encontro, evitando cada troca de olhares? será que existe uma outra forma de passar por isso?
eu sei que eu fui machucada. eu ainda estou. eu ainda choro até dormir. ainda ontem eu não conseguia sair do carro, porque o mundo desabou de repente, assim, sem aviso. faltaram as forças, mesmo. porque eu sinto saudades. porque eu sei que eu machuquei de volta.
e não interessa que eu não tivesse a intenção. eu machuquei. e toda a raiva que veio, veio porque eu fugi. eu me afastei. eu cortei. eu me arrependo. eu não sei como eu poderia ter feito diferente, não sei mesmo. eu briguei com as armas que eu tinha. eu tinha um coração partido, eu tinha esse monte de frases que me escapavam quase que sem filtro, eu tinha esse espaço. eu escrevi a minha dor. eu machuquei. eu não queria machucar.
e se eu abaixasse os vidros do carro e falasse? como a gente conserta? tem conserto? eu tento perdoar. todo dia. não tem mais raiva. tem tristeza, tem saudade, tem esses momentos que eu dividiria com ele, e que ficam aqui, guardados, trancados. eu não substituo pessoas. o espaço que era dele é dele, ainda. aqui do lado. no outro canto do sofá. do outro lado da rua. do outro lado da mesa. é dele.
como a gente conserta o que não tem conserto?
não estou falando do let go. o let go já veio. eu já entendi que nem sempre a gente consegue manter por perto aqueles de quem a gente gosta. que os estragos são feitos, e uma coisa piora a outra, e muitas das vezes a gente perde o controle. e tudo fica pesado demais para ser simplesmente apagado, esquecido.
não estou falando do move on, do achar novas pessoas, fazer novas coisas, descobrir outros caminhos.
estou falando da perda, propriamente dita. da saudade que fica quando a raiva vai embora, quando você consegue dissociar as coisas ruins que ouviu do que é verdade, porque sabe que só foi machucada porque também machucou.
estou falando da saudade que te toma de assalto quando você vê a pessoa passeando distraída na rua. Quando vê um livro e sente o impulso de comprar, porque sabe que ela gostaria de ganhar de presente. Ou quando vê um desenho, ou uma fotografia, ou um filme. a cada vez que surge um momento desses, um impulso quase inconsciente traz de volta as lembranças, ainda tão vivas.
eu morro de novo, e de novo.
e o tempo destrói tudo. o tempo desembaça a vista. hoje eu vejo que houve um momento em que eu poderia ter trazido ele de volta. ali, parado na minha frente, sorrindo. eu me assustei. e reagi com medo, depois com gritos, com todas as coisas que andavam engasgadas junto com o choro. minha reação foi a mais verdadeira possível. naquele momento. se hoje a mesma cena ocorresse, se eu fosse surpreendida com um sorriso, talvez eu sorrisse de volta. e eu sei que eu ia desabar, e chorar tudo aquilo que eu já chorei em dobro. e olhar com raiva, depois com pena de estarmos os dois nessa situação, depois com alguma ternura, dessas que sobram, mesmo quando todo o resto desanda. e abraçar com força, pra segurar e não deixar ir embora. porque o último abraço que eu dei selou o fim. e eu sabia, no momento em que soltei os meus braços e recuei.
todo o resto desandou. e no outro dia eu pensei. e se eu abrisse os vidros do carro e gritasse o nome dele? e sorrisse? e tentasse olhar nos olhos, buscar aquela ligação que um dia existiu, tão firme, tão limpa. e eu perguntasse. até quando? até quando a gente vai passar por isso assim, de longe? sem falar, sem saber? evitando cada encontro, evitando cada troca de olhares? será que existe uma outra forma de passar por isso?
eu sei que eu fui machucada. eu ainda estou. eu ainda choro até dormir. ainda ontem eu não conseguia sair do carro, porque o mundo desabou de repente, assim, sem aviso. faltaram as forças, mesmo. porque eu sinto saudades. porque eu sei que eu machuquei de volta.
e não interessa que eu não tivesse a intenção. eu machuquei. e toda a raiva que veio, veio porque eu fugi. eu me afastei. eu cortei. eu me arrependo. eu não sei como eu poderia ter feito diferente, não sei mesmo. eu briguei com as armas que eu tinha. eu tinha um coração partido, eu tinha esse monte de frases que me escapavam quase que sem filtro, eu tinha esse espaço. eu escrevi a minha dor. eu machuquei. eu não queria machucar.
e se eu abaixasse os vidros do carro e falasse? como a gente conserta? tem conserto? eu tento perdoar. todo dia. não tem mais raiva. tem tristeza, tem saudade, tem esses momentos que eu dividiria com ele, e que ficam aqui, guardados, trancados. eu não substituo pessoas. o espaço que era dele é dele, ainda. aqui do lado. no outro canto do sofá. do outro lado da rua. do outro lado da mesa. é dele.
como a gente conserta o que não tem conserto?