terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Tadinha da Garota. Garota querida, trabalhando por demais. Eu trabalho bastante, mas sempre arranjo tempo de, ainda que de casa, manter minha leitura, me informar sobre figurinos do oscar e sobre as últimas da Britney. E é por isso que, eu já disse, acabo me preocupando.

Hoje, em plena reunião de trabalho, me peguei discutindo Big Brother com o chefe. E isso foi depois de discutir coisas sérias. Concordamos que o alemão é carisma puro, mas que perdeu um pouco do tom. Concordamos que Irislene não presta pra nada, e juntos, também, chegamos à conclusão de que o jogo está com cartas marcadas. Então, Anne Louise, acompanhe a partir daqui. Cartas marcadas. Meu palpite é Siri sendo saída com 57% dos votos.

A Britney não vai bem. Raspou a cabeça, surtou. Entrou no salão, isqueiro e garrafinha de red bull na mão. Filhos? Nem sinal. Sentou, esperou, e não agüentou. Munida de uma máquina zero, raspou a cabeça. Vi em alguma foto um chumaço de cabelo na nuca, meio hare krishna, mas pode ter sido só impressão. Ou não. De Britney, espero qualquer coisa. Já careca, surtada, tentou ir na casa do Kevin, que não deixou ela entrar. Paparazzi fotografando, um vexame. Nossa Britney não se deu por vencida e, desta vez munida de um guarda chuva, bateu no fotógrafo, no carro dele, na câmera. As fotos estão por aí, põe no google. Ou no Youtube. Minha pena é de Sean Preston, e de Jayden James. Essas crianças já estão em débito com a terapia.

LíliA Cabral arrasa, assim, sem “n” no final. Rima com humilha. Eu te dou um desconto pelo excesso de trabalho. Achei Isabel e Renato bem morno, também. Mas confesso que adoro aquele tipão cafajeste. Gostei da menina gritando para o ônibus em chamas, mas me doeu a história do João Hélio. Achei que a Nanda ia salvar a Gabi do incêndio. Nanda está em todas. Alguém precisa mandar ela seguir aquele corredor comprido em direção à luz. O caminho é aquele.

No mais, o de sempre. Oscar político, vestidos deslumbrantes. Destaque para Nicole imitando o laço gigante da Charlize ano passado. Valeu, ficou bom. Gostei das roupas da Gwyneth, mas Gwyneth é sempre Gwyneth. Adoro. Sofri por Miss Sunshine, vibrei pelo Scorsese e suas sobrancelhas gigantes. Mas foi tudo muito médio. Muito médio mesmo.

Então é isso, querida, as notícias são essas. Beijomeliga. Tomuitoaípravocê.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Eu me preocupo

Eu me preocupo. Mais do que gostaria, mais do que deveria. Eu me preocupo com as bebedeiras da Britney Spears, mas mais ainda com aquelas duas pobres crianças que, na ausência da mãe louca (ou morta ou internada para desintoxicação, ou sem calcinha e bêbada em alguma limusine) terão como única saída ficar com o pai, que também é um loser. Eu me preocupo com meus quadris e me dói o coração a cada vez que eles se apertam em uma calça jeans. Eu me preocupo com a tireóide da Flávia, e com a minha um pouquinho. Me preocupo com os rumos que a minha carreira vem tomando, com a prova do MBA na semana que vem e com o sábado que será perdido com um trabalho de grupo. Me preocupo com o tempo que eu passo em frente à tv e ao computador, mas no fundo eu lamento não passar mais horas. Me preocupo com os barulhos do meu carro, mesmo que ninguém mais os ouça e que me chamem de louca e paranóica. Com a fome na África, com o aquecimento global, com o calor infernal do Rio de Janeiro. Me preocupo com a minha bolsa de veludo suja, com o meu pai fumando, com a minha irmã e suas unhas compridas demais. Me preocupo com a minha dicção, com o meu falar rápido, e com o meu pensar mais rápido ainda. Mal sobra espaço entre pensar e fazer, vejam só. Chamam de impulsividade, eu chamo de burrice. Me preocupo com o meu déficit de atenção, que me faz prestar atenção em milhares de coisas ao mesmo tempo. Que me faz entender piadas internas de pessoas que não são minhas amigas. Que me faz juntar peças de quebra-cabeças que eu não preciso montar e, pior, que eu não gosto de ver montados.

Eu me preocupo com a garota perdida em São Paulo, por mais que ela saiba se virar bem. Me preocupo comigo perdida no Rio, e eu sei me virar também. Me preocupo com a programação da tv a cabo, com os novos seriados que eu não vou ter tempo de ver e com os antigos que eu já não consigo acompanhar. Me preocupo com a dor de cotovelo da Jennifer Aniston ao ver Brad e Angelina adotando e fazendo bebês, e posando em revistas com sua felicidade de plástico. Me preocupo que cada ator do elenco de Friends se estabeleça em outro seriado. Que os meus diretores queridos continuem fazendo bons filmes. Me preocupo com a revolução que a internet provoca na vida das pessoas, e com a minha parcela de responsabilidade pelo que eu coloco na rede, seja no trabalho ou em casa. Eu me preocupo com os milhares de corações que serão partidos sem que nada possa ser feito a respeito. Com aqueles que ainda acreditam. Com aqueles que são felizes, por desconhecerem a verdadeira tragédia que é estarmos todos perdidos, agora, nesse exato momento. Me preocupo com os que enxergam mais longe, que percebem mais que os outros, e que perdem as esperanças. A ignorância pode ser absolutamente libertadora. Eu me preocupo com o lugar onde foram enterrados os ossos do cachorro mais legal do mundo, o meu. Eu me preocupo porque não estava lá com ele quando ele fechou os olhos e morreu. Eu me preocupo com todos aqueles que, em algum momento, fizeram parte da minha vida, e que hoje não fazem mais. Com todos os que me adoram e com todos os que me odeiam. Eu me preocupo com os absurdos que eu já disse. Eu me preocupo que eu me orgulhe de alguns absurdos que eu já escrevi para magoar pessoas. Com a minha capacidade de virar prós em contras e de atacar quando me sinto acuada. E de me vingar quando me sinto injustiçada.

Eu me preocupo com todos aqueles que apanham por causa de preconceito, com os rumos que algumas pessoas resolvem dar às suas vidas. Me preocupo com o preço da pastinha de soja deliciosa que descobri no supermercado e que me viciei desde então. Com meu vício em Coca-Cola e em coisas que entopem artérias. Com as formigas que invadiram meu apartamento, e que me vencem dia após dia. Com a mancha de shoyu na minha saia plissada e com a minha bolsa de cabrinhas bebês que está imunda, mas que eu tenho medo de lavar e estragar. Com a minha péssima atuação em fotos. É inacreditável como eu fico horrível em todas elas. Eu me preocupo com a minha péssima pronúncia em francês e em desperdiçar momentos importantes por preguiça, comodismo e conformismo. Eu me preocupo com a Marcela, com quem eu não falo há mais de um ano. Com a nuvem de preocupação sobre a cabeça do Bernardo, e sobre a qual ele não quer falar, e que eu respeito. Com cada um dos meus amigos, com cada semana que eu não os vejo. Com o fato de na caixinha de Mentos existir um novo sabor, que eu odeio. Com o fato de terem parado de fabricar Trident sabor pêssego e maçã verde. Com a escassez de vendedores de balas Juquinha no meu mundo. Com os altos preços das lojas que eu gosto, com a ausência de casaquinhos legais na Zara. Com o meu vício em açúcar e cafeína. Com gente que não se posiciona, com o governo que me decepcionou, com toda a bagunça que se estabeleceu. Com a máquina mágica de doces do 7o andar, que de vez em quando surta, engole as moedas e não libera o pedido. Diz apenas have a nice day e não se fala mais nisso. Com todas as outras coisas que a gente investe e não tem retorno, e que, quando muito, recebe em troca apenas um have a nice day.

Eu me preocupo com a minha conta bancária e com todas as coisas que eu tenho e não preciso. Com todas as roupas que eu comprei pra usar uma vez e das quais não consigo me desfazer. Com a pia do banheiro pingando, com todas as músicas que eu não vou ouvir nunca e que eu adoraria, se ouvisse. Com o fato de que eu falo com a Fernanda cada vez menos. Com cada foto da época da faculdade que eu não apareço, porque eu não estava lá. Porque eu raclamava da distância, do horário, do tempo. E esse tempo não tem volta, e eu não estou nas fotos. Eu me preocupo com o que já foi, com o que é e com o que ainda vai ser. Mais do que deveria, mais do que gostaria.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Então era Carnaval. E o mundo corporativo liberou a garota para passar alguns dias no Rio de Janeiro. Achei bom, mas quando vi que ela estava combinando eventos outdoor, ao ar-livre e embaixo do sol escaldante, pensei, já era. Eu queria cinema, coisas civilizadas. Restaurantes, casas de amigos, um filme ou outro no DVD.

Então a garota quis ir à praia e eu mandei a minha irmã ir me representar, enquanto ficava em casa, em ambiente refrigerado, tomando coca-cola gelada e fazendo downloads. Eis que, no meio da tarde, surgem as duas, de biquíni, dizendo que a gente ia para a Lapa. Eu não sei por que eu disse que ia, mas fato, eu disse. E isso foi realmente impressionante. A condição era que não me levassem para sambinhas, porque ia ser muito caótico e eu era alguém civilizada. Eu era.

Na Lapa, imaginem. Eu fui à lapa em festinhas ploc no circo voador, em feirinhas ploc, ao show do Franz Ferdinand. Não sou ploc, sou simpatizante, é importante mencionar. Acho a lapa uma graça, tão bonitinha. Tão “in”. Não sei como fui parar lá. Estava com dor de estômago, mas entrei no clima, coloquei anteninhas e me meti no meio da multidão. Adoro anteninhas. Então, como estava tudo muito absurdamente cheio, as pessoas ficavam zanzando de um lado para o outro, e eu seguia o fluxo. Peixe fora d’água. Peixe fora d’água, usando anteninhas. Eis que eu percebo que as pessoas estão me levando para um samba. Não houve tempo para reação. Era o caos, a barbárie. Desconhecidos suados, bêbados e esbaforidos esbarravam no meu vestidinho, pisavam nas minhas sapatilhas tão cuidadosamente escolhidas. Poças de resto de chuva, xixi (o horror, o horror), cerveja derramada. Pessoas se acotovelavam, me acotovelavam. E eu ali, preocupada em não estragar (mais) os meus sapatinhos de amarrar na canela, escolhidos para a visita à lapa.

A garota gritava, louca, alguma melodia que eu não conhecia, mas que devia ser um samba. Dedos em riste, um chapéu de oncinha tomado de um transeunte. Praticava amizade com qualquer um que tentasse vender cerveja, mandava dançar. Dançava, gritava. Dançava no meio de rodinhas desconhecidas. E cantava. E gritava.

“não pense que meu coração é de papel,
não brinque com o meu interior,

camarão que dorme a onda leva
hoje é dia da caça, amanhã do caçador”.

Minha irmã, percebendo o meu desespero, me comprou uma coroa. De princesa. Brilhava com luzinhas que piscavam. Adoro coroas. Daí, me entreguei. Comecei a sambar, o que causou alguma comoção no grupo. Desisti de ser do contra, pulei carnaval, falei com desconhecidos, acotovelei pessoas. Danem-se as sapatilhas.

Então, era Carnaval. E, pasmem, eu me diverti.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Ontem foi um dia estranho. Um dia normal, mas com revelações estranhas. Revelações óbvias, nada demais, eu já sabia, rá, mas é sempre uma surpresa ouvir.

Sabe quando você tem certeza de que alguém não gosta de você? Na maioria das vezes, você também não gosta da pessoa, e a especulação nem chega a ter algum valor. É algo que você imagina, não é real. Mundo das idéias. E, você pensa, se for real, dane-se, e daí. Não ligo. Mas aí, de supetão, como um raio, chega alguém e diz. Aquela pessoa (ou pessoas, ou whatever) me disse que não gosta de você. E isso joga o mundo das idéias no mundo real, e isso vira algo com o qual é preciso lidar.

Eu não lido bem com rejeição. Tenho uma tendência doentia a levar tudo para o lado pessoal, mesmo. E sei que não deveria me importar com o que os outros dizem ou pensam de mim, imagine. Mas a verdade é que eu me importo mais do que deveria e muito mais do que gostaria. E a tal revelação lá de cima acabou me deixando meio paranóica. O que eles disseram, eu perguntei. Nada, foi a resposta. Não posso dizer. Junto ao "não posso dizer", esboçou-se um arremedo de sorriso, de algo engraçado e que, pior, a pessoa que portava a notícia, concordava. Senão não ria, simples assim. Fiquei infernizando, perguntando o que exatamente foi dito, por quem, em que contexto. Mas o que gritava dentro da minha cabeça era outra questão, ainda mais importante: "como alguém pode não gostar de mim?". Eu me acho legal, sabe? Engraçada, essas coisas. Espirituosa. E eu entro em uma loucura de achar que é obrigação das pessoas me acharem legal. Mesmo aquelas que EU não gosto. Sei lá. Acho que Hitler devia pensar assim.

Então, fiquei com raiva. Raiva das pessoas que não gostam de mim (porque eu não sou adorável coisa nenhuma, porque eu reclamo delas também, porque boa parte da minha ironia e do meu sarcasmo são direcionados a elas em horário comercial), e raiva da pessoa que vem me contar uma coisa dessas. Porque eu era mais feliz apenas especulando, e eu não quero saber que alguém disse com todas as letras que não gosta de mim. E porque eu não consegui arrancar mais nada, nenhuma informação relevante dessa pessoa, e porque eu acho que ela não deveria - sendo minha amiga, veja bem - circular com tanta desenvoltura entre dois grupos tão opostos, e porque ultimamente eu tenho juntado peças de um quebra-cabeças que eu não gosto de ver montado. Not pretty. Not pretty at all.

E então, voltamos à Madame Ç paranóica em versão Big Brother, aquela que sai da casa com 93% de rejeição. E eu não sei até que ponto eu fui prejudicada com a edição. O resultado dessa confusão toda dentro da minha cabeça foram três sonhos intranqüilos. No primeiro, eu era ODIADA pela minha turma de mba. Eu chegava em uma mesa onde estavam todos sentados e não era nem um pouco bem vinda. Eles ficavam cochichando entre si algo como "o que ela está fazendo aqui, quem chamou essa garota", etc. No segundo sonho, um macaquinho entrava na minha casa, me perseguia, pulava em mim e me mordia no pescoço. Mordia doído, uma dor que me acompanhou no terceiro sonho e que me fez olhar no espelho, de manhã, pra ver se tinha alguma marca. Pois bem. Eu tentava matar o macaco com um cabo de vassoura, mas ele era mesmo impossível. No terceiro sonho, algo típico de momentos de stress, a nova versão do sonho "pelada na escola". Eu sonhava que perdia o meu carro, que eu não achava ele onde eu tinha parado, ou não sabia bem onde eu tinha estacionado. Ficava lá, com a chave na mão, procurando um carro que não existia. Sem chão.

Daí, cheguei à brilhante conclusão de que talvez seja a hora de eu voltar a encarar o psycho. O analista, aquele a quem eu dei alta há menos de um ano atrás.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Unsent. Ou Menthos, the troublemaker;

Queridos fabricantes da bala Mentos. Preciso me abrir com vocês. Tenho uma reclamação séria pra fazer, um pedido, em nome de todos os adoradores da balas mastigáveis.

Sou consumidora antiga do seu produto. Cinema pra mim só tem sentido se for com bala mastigável. Bala mastigável, pra mim, é Mentos. Ou era, não sei. Estou por demais confusa com o rumo que as coisas foram tomando. Eu gostava daquele tubinho com Mentos de fruta, em três sabores, laranja, limão e morango. Três sabores, veja bem. Achava meio chato porque um tubinho nunca parecia ser suficiente, e sessão de cinema completa, tinha que ter três. Três tubinhos, com três sabores sortidos, escolhidos ao acaso quando as luzes do cinema estão apagadas. Uma surpresa descobrir qual seria a próxima bala. Todo mundo gostava da rosa, a de morango. Eu não. Adorava a de laranja. Tão docinha, tão refrescante. Bom mesmo era achar uma de cada e colocar logo as três na boca. Mastigar tudo junto, assim, fazer um bolão doce sabor tutti-frutti, que naturalmente demoraria mais tempo para acabar.

É preciso dizer, ainda, que minha fidelidade não se abalou nem quando eu quebrei a minha obturação em uma bala extra dura, sabor limão. Porque um dos segredos de Mentos é esse. Nos dias quentes, elas são mais molinhas, nos dias frios, são potencialmente assassinas de obturações infelizes. Um dia, minha obturação se foi. 1 x 0 para a bala. Não reclamei. Fui ao dentista, consertamos o pequeno estrago e lá estava eu, feliz e sorridente, lépida e fagueira, com mais três unidades sortidas dentro da boca, misturando sabores, explodindo em sabores de frutas. Alegria, alegria.


Não gosto da Mentos de hortelã, vejam bem. Já as achava meio estranhas desde muito antes dessa onda de mandar tudo para os ares, explodir garrafas. Não gosto de Coca-light, não gosto de Mentos sabor hortelã. Não ligo, não me afetam essas explosões. Se a combinação fosse feita de Coca comum e Mentos de fruta, eu me rebelaria, faria passeatas, pelo fim ao desperdício de Mentos de frutas e Coca-Cola comum. Mas não. A causa da Mentos hortelã não me mobiliza at all.

Foi com grande felicidade e alegria genuína que eu descobri a caixa grande das minhas balinhas queridas, sortidas, chacoalhantes no mega box colorido. Ou no copinho, tão fofo, colorido e igualmente barulhento. Alegria, alegria. Parecia que vocês tinham lido a minha mente. E lá fui eu para o meu cinema, com minha personal Mentos supply. E algo aconteceu. Da minha caixinha feliz saíram balas de sabores desconhecidos! Uma roxa, ou vermelha, meio fluorescente, quase radioativa. Depois de muito custo, muita degustação, a revelação: sabor frutas vermelhas. É importante mencionar que só descobri do que se tratava ao ler na embalagem. Meu paladar tão apurado e desenvolvido em degustação de balas não conseguiu identificar tamanha aberração. São docinhas, como as outras, mas agem nas papilas gustativas de modo pouco familiar, ardem. A produção de saliva aumenta, triplica, quadruplica. Os olhos ardem, lacrimejantes. Não são balinhas inofensivas, capazes de apenas trazer alegria àqueles que as consomem. São balas malignas, de sabor ultra forte, com poderes de desconcentrar suas vítimas. Qual era o filme mesmo? O que ele disse? Não sei, foi a bala. A bala quer ser a estrela, não lhe cabe o papel de coadjuvante. Então, lá, perdida no meio das malignas balas vermelho-roxas, restaram umas poucas antigas companheiras de laranja, limão e morango. Elas ficam encolhidas no canto da caixinha, humilhadas no meio de tanto sabor. Sabor demais, por favor, entendam, não é qualidade. Eu gostava de suas personalidades suaves e dispostas a fazer o meu dia um pouco melhor. As roxo-vermelhas não aceitam ser renegadas, precisam ser as estrelas da caixa. E se multiplicam. E invadem o ambiente, me tiram do filme, gritam, berram, me fazem chorar.

Então, em nome de todos aqueles que foram prejudicados com essa pequena crise de personalidade da bala em questão, peço que coloquem a pobrezinha na terapia, amansem a sua personalidade. Personalidade demais é problema. As balinhas são geniosas, hiperativas, bipolares. Precisam ser domadas, educadas, adestradas. Nós, pobres consumidores, não devíamos sofrer com suas crises de auto-afirmação, de “oi, eu sou a Mentos frutas vermelhas, eu tenho MUITO sabor”. Não. Queremos balinhas comportadas, com doses adequadas de açúcar e alegria, dispostas a colaborar com a experiência que é assistir um bom filme sem engasgar com excesso de saliva, sem lágrimas que não sejam provocadas pela história. Balinhas seguras de si não precisam de tanto sabor. Elas sabem o seu verdadeiro valor. E, exatamente por isso, fazem as pessoas felizes, que é a verdadeira missão da vida de uma bala.

Sinceramente,
Madame Ç.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Confesso que já comi hóstia, só pra saber como era, sem ter feito primeira comunhão e sem ligar a mínima para o que aquele sacrilégio representava.
Confesso que rezei e acreditei em Deus boa parte da minha vida. Confesso que não acredito mais.
Confesso que não tenho passaporte, e que nunca saí do país. Shame on me.
Confesso que reclamo a maior parte do tempo, e que meu copo está sempre meio vazio.
Confesso que odeio gente meiga, odeio gente burra e gente boazinha. Confesso que sou maldosa, e às vezes meio sádica. Confesso que sou extremamente rancorosa e meio moralista.
Confesso que pequenas coisas salvam o meu dia, como comprar um cubo mágico ou um rodinho de pia. Descobrir um seriado novo, receber um telefonema daqueles que duram horas ou dormir no sofá, entediada.
Confesso que também gosto da Wanessa Camargo, enquanto pessoa, mas acho a musica dela um lixo. Confesso que sei cantar aquela música da Perla, do “não atende o celular”. Confesso que amo Big Brother, e que torcia para o Alemão, mas não torço mais. Agora é Fani. Uhunoviguaçu.
Confesso que penso em inglês, às vezes. Confesso que travo brigas imaginárias com pessoas com quem não consigo brigar pessoalmente. Confesso que algumas músicas da Britney e dos Backstreet Boys são brilho puro. Confesso que sabia a letra de várias músicas do Só Pra Contrariar e que já fui a um show da Ivete Sangalo, quando ainda não tinha personalidade, e que me diverti horrores.
Confesso que me acho meio parecida com a Deborah Evelyn, mas não acho isso nem um pouco bom. Confesso que já roubei borracha nas Lojas Americanas, mas tive remorso depois.
Confesso que me apego cada vez mais a objetos. E cada vez menos a pessoas. Confesso que me acho meio sem-graça, mas que o blush e o rímel têm operado maravilhas na minha vida.
Confesso que choro sozinha, escondido. E rio também. Confesso que falo sozinha e me acho muito engraçada.
Confesso que acho que nunca vou conseguir aprender francês. Confesso que tenho medo de ser abduzida.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Andaram dizendo que meus posts estão chatos. Fiquei profundamente magoada, ferida de morte mesmo. Não que eu nutra inseguranças com relação a eles, não mesmo. Se tem algo que eu sei fazer, é escrever. É meu trabalho no mundo real. Eu já faço textos esperando aprovação o dia inteiro, o tempo todo. Escrevo esperando um "sim", ou um "não", ou correções. Se eu escrevesse mal, não estaria trabalhando.

Eu leio blogs há anos. Alguns posts são excelentes, alguns são médios, alguns totalmente desinteressantes. Jamais eu comentei um post, de qualquer pessoa que fosse, criticando, dizendo gostei ou não gostei. Eu comento o assunto, caso tenha algo a dizer. Senão, valeu a visita, no comments at all.

E eu não quero começar a escrever esperando a aprovação de ninguém. Já basta isso em horário comercial, sério. Mesmo. Então, se eu for chata, ignorem. Se eu não fizer um texto absurdamente legal ou divertido, ignorem. Não é concurso. Não é avaliação, não é competição entre os meus textos e os da outra garota. Eu adoro os textos da outra garota, muito mesmo. Odiaria competir com eles.

E eu já fiz o momento tréplica uma vez, criticando a crítica do Mister P, um dia, lá no histórico. Era fácil criticar o engraçadinho, ele tem telhado de vidro. Posso brigar e espernear com qualquer um, discutir. Pra mim, nenhuma discussão nunca está acabada. Eu sempre tenho algo a dizer, preciso ter a palavra final. É minha. Posso ser realmente irritante com isso, deixar as pessoas malucas, só porque preciso mesmo convencê-las de que eu estou certa. Mas talvez eu não esteja, e alguns textos sejam chatos. Outros não.

Se quiserem me atacar, digam que eu sou chata, não os textos. Anotem a dica. Digam que eu irrito, que minha companhia incomoda, que meus quadris não têm jeito, não importa quantos quilos eu perca. Falem que eu pareço forçada, que ando desengonçada, que me visto mal e minha postura é péssima. Que eu falo muito palavrão, sou de lua, reclamo de tudo. Digam que eu não aceito críticas. Que eu não aceito ser contrariada, que não vejo quando erro, que sou orgulhosa, péssima pessoa. Que eu desperdiço água, incomodo os vizinhos, ignoro limites. Digam que eu maltrato golfinhos e mato cabrinhas bebê em troca de bolsas deslumbrantes. Mas jamais, jamais, maltratem meu textos.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Então que a garota precisava contratar estagiários. Sempre peça um texto, ela disse. Concordo. Textos dizem muito sobre a pessoa, desde a forma com que as vírgulas são dispostas até mesmo pelo tema escolhido. Quando você tem a oportunidade de enviar algum texto seu para alguém que vai te avaliar por isso, seja um amigo, o seu futuro chefe, whatever, isso é importante. Este é um momento que requer muita concentração, muito senso. Muita calma nessa hora. Pesa a escolha do texto, a forma com que ele foi escrito, o bom português, a forma com que você se coloca, se expõe, se exprime. Palavrões são permitidos, se bem usados e, claro, se quem for ler parecer não se importar com um punhado de palavras feias. E a garota precisava contratar estagiários.

Quando eu fui contratada, tive que mandar um texto. Mandei três. Um sobre o meu nome, um explicando os motivos pelos quais eu prefiro os cachorros aos gatos e um sobre o quanto eu odeio natal. Os três eram bem escritos, of course, mostravam como eu me expressava, um deles tinha dois ou três palavrões que não foram um problema. Doze horas depois da entrevista eu estava contratada. Mas a vaga era pra redatora, então, tudo bem. Um texto diz muito sobre uma pessoa. Mais do que qualquer um pode imaginar. Eu posso ganhar respeito imediato por uma pessoa que articule as próprias idéias. Em compensação, uma pessoa que não escreva bem e direito, perde pontos. That’s me, sorry.

E a garota precisava contratar estagiários. E disse que sempre é preciso pedir um texto. Eu nunca contratei ninguém, já é tarefa suficientemente trabalhosa tomar conta de mim mesma. Mas concordei, concordo. Sempre peça um texto. Então, a garota que ela entrevistou na semana passada, e cuja descrição física já vale um post exclusivo, mandou hoje, não um, mas três textos. Três péssimos textos. Muito ruins, impossíveis de serem lidos. Ela não conseguiu, me enviou, e eu, guerreira, sofrendo linha após linha, consegui terminar.

A apresentação, o e-mail que ela mandou pra justificar o envio dos textos era algo, assim, indescritível. Mentira, era nada, descrevo: “para que possas me conhecer melhor e ter uma base mais sólida”; “Espero não estar bombardeando-te com tantas palavras”. E por aí foi.

Eu poderia citar exemplos dos erros de colocação. De como ela disse que escreveu uma carta, “cuja própria começava assim”. De como ela confundia briGAM com briGÃO, erro de terceira série. De como ela se enrolava nas próprias palavras, tropeçava e confessava que não estava conseguindo se expressar. De quando ela disse “Junta a sede com a vontade de comer, mas não tenho a porra do prato e nem o copo.” Nem o ditado ela acerta, a coitadinha. Fome, vontade de comer, né? Assim fica melhor. De quando ela filosofou sobre pregos, e a importância de escolher o prego certo em um saco com quinhentos pregos e martelar direito, para que ele não entortasse. Porque você podia se confundir e escolher o prego errado, ou então poderia querer justamente o prego que não estaria no saco com os outros quinhentos. E a busca pelo prego permaneceria, porque o prego que você (ela!) escolhesse martelar estaria para todo o sempre fincado ao seu lado (dela!), na madeira ou em uma árvore no meio da floresta. E que ele, o prego, nunca poderia esquecer da martelada que foi dada em sua cabeça. Pobre prego.

Eu queria gritar com a garota, dizer: “O que você estava pensando ao enviar isso para uma pessoa que está pensando se deve ou não te contratar? Are you insane?” Queria achar ela no orkut, ver as comunidades, as fotEEEnhas, o blog. Sim, porque esse texto só pode ter saído de blog. Onde é que ela iria escrever tanta coisa?
Não sei. No final do dia o meu coração, que é bom (que nem o da porrrta do big brother), se acalmou, e eu resolvi deixar pra lá. Ao final do dia surgiu outro garoto, outro prospect. E estamos aguardando o texto. E torcendo por dias melhores.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Música para os meus ouvidos

Fato é que cheguei ao trabalho e algo inédito se assucedeu. Música. Música para os meus ouvidos. Acontece que há meses, nos intervalos das minhas reclamações sobre o ar-condicionado gélido, eu reclamo da falta de som no meu computador. Todo mundo escuta música, menos eu. Condenada ao silêncio, a barra conteúdo fica ali, tentando se distrair do barulho dos outros. Pra alguém com DDA, ser condenada ao barulho dos outros é a morte, o horror. Distraída, sem conseguir me concentrar, eu acabo distraindo os demais. É óbvio que a conversa rende. Eu falo pra caramba, e se alguém cair na besteira de me responder, ou simplesmente olhar pra mim, este pode ser um caminho sem volta. Geralmente é.

Então, hoje, música. Com fones, imaginem só! Tem até controle do volume do som no fio. Muito brilho. Brilho puro. Eu adoraria acreditar que ganhei música porque meus co-workers se preocupam com o meu bem-estar, e porque eles querem que eu não me sinta excluída, e porque é sempre muito bom fazer alguém feliz. Um presente por ser uma boa pessoa, sabe? Pois acontece que eu não sou uma boa pessoa, e provavelmente eu incomodo falando muito, e me distraio, porque, como já disse, sou condenada ao silêncio. Era. Agora, com música e fones, fico quietinha.

E daí que eu sou distraída? O meu trabalho é feito, bem feito. Sou multitarefa, consigo falar, escrever, trabalhar e ler ao mesmo tempo. So sorry. Problema dos outros se eles não são. Mas valeu o presente. Ô, se valeu. Elvis me fez companhia o dia todo.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Tenho memória infalível pra muita coisa. E me confundo em outras. Raciocínio lógico, por exemplo, não tenho. Não sei o que acontece, não é item de fábrica. Sei todas as regras do bom português, me orgulho de ter aprendido a tabuada e de manter, quase intacto, meu aprendizado das aulas de Kumon. Acho que escrevo direito, mas isso me torna exigente, e eu fico cretina com o mau português dos outros. Nunca na minha vida eu aprendi química orgânica, aquela dos carbonos. Nunca na minha vida eu aprendi química at all. Acho realmente muito impressionante que eu tenha passado incólume pelo segundo grau, e depois pelo vestibular. Como ninguém percebeu nada? Lembro do terror que foi, no colégio, aprender números primos e pares. Lembro de ter dito que não entendia, de ter sido levada ao quadro negro pela professora, que me explicou over and over again. E eu continuava sem entender. A vi perder a paciência, a derrota estampada no rosto. Não aprendi. Hoje, sei mais ou menos quais são os primos e quais não são, mas não confio nem um pouco no meu julgamento. Não mesmo.

Nunca aprendi o que era imagem vetorizada. Fiz a mesma pergunta para a Renata, minha amiga que entendia de photoshop. Ele me explicou. Dias depois, esqueci. Não sei se esqueci que já tinha perguntado isso, ou qual tinha sido a resposta, não sei. Perguntei de novo. Ela explicou, exemplificou, desenhou. Esqueci. Perguntei de novo. Renata, sempre tão calma e bem humorada, gritou comigo, dizendo que não aguentava mais me responder aquela p**** de pergunta. Calei a minha boca, entendi que ela não ia mais me explicar e desisti. Nunca aprendi direito a diferença entre in, on e at. Quer dizer, EU SEI A DIFERENÇA, mas não consigo. Sempre erro a colocação, ou quando acerto é meio que no chute. Minha professora de inglês, querida que só ela, se esforçava. Eu dizia: "Don't bother". Ela ria e eu continuava confundindo. O pior é que o meu inglês é bom, uso no trabalho e ninguém nunca reclamou. Mas on, in e at, eu confundo.

E então somos trazidos ao dia de hoje. No trabalho. A equipe da qual eu faço parte é design/conteúdo. Por design, leia-se dois especialistas em montagem de sites, com alto poder de concentração e experts em códigos malucos. Três designers, especialistas em photoshop, em imagens vetorizadas (aquelas, que eu nunca aprendi) e bem treinados naqueles códigos malignos. Html. Malignos. Well, /conteúdo sou eu. Assim mesmo, barra conteúdo. Eu. Especialista em regras de português, em colocação correta de artigos, preposições, acentos e mesóclises. Não que eu use mesóclises. Acho por demais arrogantes. Mas sei quando elas cabem, por assim dizer. Sei que as proparoxítonas são acentuadas e sei dizer quando uma palavra é oxítona, paroxítona ou proparoxítona. Próclise, ênclise, mesóclise. Sei, pra mim é simples. Sei quando as pessoas erram conjugações no subjuntivo. Mas não me façam perguntas de códigos.

Então, por ser a única que vem depois da barra, lá no nome da equipe, e considerando o estado de semi-congelamento a que tenho sido submetida, sou como Blanche Dubois, dependendo da boa-vontade de estranhos. Eu grito, eles me acodem. Porque os códigos me atacam, e eu me confundo. E uma barrinha que eu coloque fora de hora pode tirar o site do ar, e as pessoas não ficarão felizes comigo se eu fizer isso.

Então, surge a pergunta, vinda lá da tecnologia. "Ei, vocês, nerds especialistas em códigos, me dêem uma ajuda?" Era algo relacionado a um div. Outro dia fui apresentada ao conceito de div. Eu perguntei, Julia, aquela dos golfinhos e da granola, com toda a paciência do mundo pôs-se a explicar. Div fecha uma regra, ele monta um código, uma barra, e determina as características, entendeu? Não. Óbvio que não. Que pergunta!

Mas aí, hoje, eu me vi no meio da conversa que transcrevo a seguir. Não pensem que estou inventando não, porque dada a minha total ignorância do assunto discutido, pus-me a transcrever tudo o que ouvia, em uma janela de texto aberta no meu computador.

"os dois já estão floater, usa a index, pra frente já tá, ele aparece onde na tela? que eu to fazendo como javascript.
bota um div, é muito simples. esse é um div flutuante, onde tiver esse div, eu quero que esse apareça junto, andando junto, flutuante. esse div tem que estar dentro desse, esse vai estar com uma posição dentro desse, pra poder andar junto. já está dentro, que eu quero colocar x y dentro da parada, com um scroll para aparecer invisível. basta colocar esse div relativo a esse. varios divs, java scripts, ele já anda, hoje, mas eu quero que esse aqui que ta flutuando, que aparece aqui dentro
(e nesse momento a figura começa a desenhar, possivelmente o tal div, que ainda desconheço),
quando aparece esse div e anda, esse outro aqui já ta andando, mas aí esse div aqui já ta andando, porque eu defino xy disso aqui, não é um java comum, veja bem, se 100 por 100 for aqui, ele aparece, pum, aqui, mas eu quero que ele apareça ali. então eu preciso saber o que o div está no momento, pra eu saber onde alinhar o div e ele ficar flutuando, passando ali.
Não, não é isso que eu quero. eu quero saber a posição de um div que já está na tela. Ele aparece sempre na mesma posição, o primeiro div. sempre vai ser esse lugar. não.
entendeu? entendi. Faz isso aqui. Ok, valeu."


E em algum momento, bem lá no início da conversa sobre os divs todos e por que eles flutuavam ou não, eu me perdi. Parecia que eu estava embaixo d'água, submersa, ouvindo sussurros vindos da superfície. Sons abafados e incompreensíveis. De alguma forma, eles se entendiam. E eu não. Eu era o /conteúdo, ali, isolada do mundo dos códigos. Pensei em, quando a pergunta acabasse, quando eles entrassem em um consenso, perguntar para a adoradora de bichinhos o que era um div. Desisti. Eu me confundo.