quarta-feira, 31 de agosto de 2011


parece que foi 2009 que veio e me atropelou de novo. dessa vez um atropelo diferente, meio controlado. de semelhante, a mesma inquietação, a mesma incapacidade de ficar parada no mesmo lugar, vendo o chão firmar de um jeito perigoso, desses que acimentam a gente e impedem o movimento.

comigo não, violão.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

3


Sometimes things have to fall apart to make room for better things.


eu sei exatamente quando as coisas começaram a dar certo pra mim. antes, não se enganem, eu era assim como qualquer outra pessoa que acha que não tem sorte na vida. eu tinha uma vida que eu não gostava, numa cidade que eu não gostava e achava que nada ia dar muito certo. por outro lado, eu tinha cá comigo esse monte de ideias de uma vida que era minha, e que era incrível, e que eu precisava chegar até ela para que as coisas começassem a dar certo. como se eu estivesse no lugar errado mesmo, e bastasse apenas e tão somente me colocar no lugar certo, no cenário certo, pra fazer, finalmente, a roda girar pro lado correto.

eu tinha medo de mudança. quem não tem? fui fazer terapia pra ganhar coragem e fazer o que precisava ser feito. jogar tudo pro alto, começar do zero, novo lugar, novas pessoas, nova vida.

a vida não se acertou imediatamente a partir da hora em que eu em instalei no cenário correto. eu precisei aprender os caminhos entre as prateleiras do supermercado, e entre as ruas da cidade grande. me perdi, me achei. foi preciso um esforço, o maior esforço do mundo. pra sorrir e fazer amizade, abrir espaço pra um mundo novo, de gente nova. engana-se quem pensa que tudo veio fácil. não veio. 

teve muito programa desmarcado por falta de dinheiro, teve muito aniversário de amigo perdido pela distância, teve todo o desampario de ficar doente e estar longe da família. teve muita aventura com gente que eu descobri - depois - que não valia era nada, teve muita roomate errada, teve gerente evil. 

hoje, o que temos? temos um rapazinho absurdamente incrível, com quem eu vejo toda uma vida esperando pra ser vivida. tem roomate fofa e que faz bolos, tem amigos queridos. tem zero gente errada em volta de mim, agora que eu aprendi a filtrar e selecionar. esses, eu quero bem longe. tem a firma colorida que é onde eu escolhi estar, e depois escolhi de novo. tem o projeto mais legal do mundo, o trabalho que me faz acordar todo dia feliz. tem esse friozinho delícia marcando 11º nos termômetros da faria lima. o supermercado novo que eu descobri e que tem o cottage que eu mais amo no mundo. tem fim de semana sem fim com meu menino, daqueles que o mundo pode explodir e a gente não liga. 

sabe esses momentos em que você olha em volta, respira fundo, sorri e sabe? 

nesse momento, eu sou feliz.

tem um monte desses momentos. um montão mesmo.

3 anos hoje, são paulo. and counting. <3

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

pequenas alegrias do cotidiano


estava eu quieta, minding my own business, trabalhandinho numa quarta à noite, fazendo hora pra ir jantar com meu menino quando o carioca, discreto que só, entra num looping só dele.

EU ESTOU SEMPRE ERRADO. ele disse. depois baixou o tom, mas ficou repetindo. eu estou errado, eu sou sempre o errado. não sou? eu sou O errado. então agora eu vou ser o errado. porque afinal de contas eu estou sempre errado.

eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. eu estou sempre errado. 

interrompo, né?

girei a cadeira, inclinei a cabeça, sorri. pisquei. quase carinhosamente, eu disse pra ele:

menos agora. que você está certo. 

;)

terça-feira, 16 de agosto de 2011


tem que ter firmeza pra acreditar que a decisão foi a mais acertada. a cada aborrecimento eu vou me questionar, claro que vou. a cada momento de dúvida, de cobrança. tem que ter firmeza. e saber que isso não é a minha vida, que a minha vida continua lá fora, mesmo agora que eu apostei mais e mais fichas. tem que saber respirar fundo e fechar o olho, e pensar no menino, e lembrar o horário do médico de alergia, e de abastecer o carro, e tirar o dinheiro da faxineira. tem que saber separar tudo bem separadinho, e tratar como compromisso o jantar com veneceous querido, e olhar coisinhas de viagem, quem sabe, no fim do ano? 

vida é lá fora. vida é lá fora. vida é lá fora. mantra.

porque eu vou ser testada, eu continuo sendo. e tem que ter firmeza.

embate com rhs


ligo pro rh contato do processo, um rapaz novinho de barba (tentando passar um ar mais sério, penso eu) e digo que minha decisão está tomada. ele insiste. eu me mantenho firme. minha decisão não está orientada por dinheiro, é o projeto, desculpa, parará. ele insiste. eu me mantenho mais firme ainda. meu pai disse que ia ser difícil. ele chama a coordenadora.

coordenadora de rh repete o looping inicial. fala que eu sou um profissional de ouro, e que absurdo mesmo é a firma colorida não me valorizar, etc e tal. eu concordo com ela (mas discordo na vida, porque eu sou valorizada sim, e isso quem sabe sou eu), digo que está certíssima, mas *no momento* a minha decisão tinha sido orientada por projeto (projeto mais legal da firma colorida e do mundo, desculpaê x projeto sem graça e que não me encantou nem um pouco) e que sim, havia perspectivas. Pra quem sabe onde está indo, qualquer lugar é caminho. Sra coordenadora RH continua falando dos benefícios, pergunta quantoéquetãomepagandopraficar e eu. Veja bem, minha senhora, a questão não é grana, não faço leilão, não gosto disso, nunca gostei. Ouço um áudio diferente na conversa, de barulho ambiente, e me dou conta de que estou no VIVA VOZ. hello?

hello. do outro lado, toda uma pequena comitiva de rhs reunidos, me dando oi, argumentando que eu estava tomando a decisão errada, pra eu mudar de ideia, que lá era legal, etc. eu digo GENTE, desculpa, a decisão tá tomada, e coisa e tal. haja força de vontade. haja amor ao projeto. quando eu finalmente consigo desligar, ainda meio desnorteada, corro pro meu pai. sou desse tipo. preciso de conselho de pai quando as coisas se confundem. meu pai gargalha e diz que o que aconteceu ali foi o meu caráter sendo testado. e que era pra eu aguardar, olha lá, mais uns dias. Que essa firma louca e cheia de RHs felizes e argumentativos ia me testar de novo, oferecendo mais dinheiro. eu rio e digo que ele está louco, mas peraí, tem ligação em espera. 

são ELES. de novo. enquanto eu me choco achando que eu devo mesmo ser tudo isso aí que eu até já achava que eu era mas que não sabia se o mundo percebia, escuto uma proposta de cargo e salário ainda mais alto. penso nos planetas todos, e quero perguntar à Susan Miller se isso é Saturno querendo me ensinar alguma lição ou Urano brincando com a minha cabeça. moça educada que sou, recuso, agradeço, peço desculpas. decisão tomada, galerê. desejo boa sorte na proposta ao candidato seguinte.

ainda desnorteada, volto pra minha mesa. joguei dinheiro pela janela. o bizarro é estar absolutamente em paz com a decisão. se eu sou tão boa assim quanto eles fizeram questão de repetir, não vai ser difícil chegar onde quero. trabalhando nos projetos que eu quero.

OBS. a segunda opção era o ex menino mais bonito do mundo, que sempre foi referência no que eu faço. Hoho. 

i win.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

do not walk.

então eu tinha decidido sair. fui buscada, nem procurei, olha só. me ligaram, vem aqui, fala com o diretor, com o vice presidente, e eu disse assim pro meu menino. vou só olhar, mal não faz, veja bem.


e eu fui, e eles me perguntaram porque é que eu queria sair da firma colorida e eu MENTI, menti que queria crescer mais (que nem é mentira, mas não é tipo algo que não aconteceria na firma colorida), que não queria estacionar, que achava que o projeto tava chegando num ponto que eu já estava satisfeita. eu menti.

a verdade é que sim, eu perdi aquele encanto com a firma, com as pessoas (não todas, mas uma parte relevante, vá lá), mas não, eu não perdi o encanto com o trabalho. não tem projeto que eu goste mais, não tem dia a dia que me dê mais prazer, e meu sorriso é sincero quando eu vejo os resultados chegando. é sim. porque são, agora, estamos contando, 1 ano e 8 meses de trabalho árduo, e nem pasta do projeto tinha na rede, podem me chamar de romântica mas a primeira sementinha está lá, e fui eu que plantei. e lá estava eu na outra firma, em troca da promessa de maiores méritos e riquezas, vejam bem, mentindo pra eles e pra mim de que já era hora de andar.

e nem era, olha só.

O que eu consegui com isso tudo? junto com a proposta, uma gastrite, uma dor absurda de despedida de cada cantinho, de pensar que isso aqui ia continuar lindo e que seria outra pessoa no meu lugar, vendo isso acontecer.

era demais pra suportar.

uma boa conversa com a coordenadora fofa e todo um horizonte se abriu na minha frente. eu respirei fundo, chorei mais um pouco, concordei secretamente com daniel querido, que sabendo da minha decisão de sair e tendo passado por isso um ano antes, me disse. eles vão foder a sua cabeça.

e sim. foderam. não bem eles, mas todo esse mundo que eu quis vivenciar e que é meu. e não tem parabéns que não seja também pra mim, não tem reconhecimento que não seja meu, também. o que fode a minha cabeça, na vida, é o meu amor pelo meu trabalho. e não. nenhuma decisão, por mais incrível ou promissora que seja, vai ser tomada com a cabeça, enquanto eu me arrepiar desse jeito com o meu trabalho sendo reconhecido, e sendo BOM.

porque é bom, sabe? é sim. :)

com isso, depois do meu looping eterno do vou ou do fico, depois das lágrimas, do medo de me arrepender, da sensação de perda antecipada, eu cheguei à conclusão mais óbvia do mundo.

hora de andar porra nenhuma.

hora de ficar. e colher, um a um, os frutos do meu trabalho. são meus. e eu não vou deixar pra ninguém, não.


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

walk.



sempre admirei as pessoas que sabem a hora de parar e a hora de andar.

pois bem. hora de andar.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

not in kansas anymore.

dia 23 de agosto vai fazer três anos que eu vim buscar a minha vida aqui na cidade grande. buscar a minha vida porque sim, ela sempre esteve aqui. e eu passei muito tempo, primeiro sem saber exatamente onde ela estava, e depois sabendo e tentando chegar até ela. e eu cheguei. larguei tudo o que não me servia, me despedi dos queridos, e me mudei pra são paulo.

eu tomei essa decisão porque eu tinha uma ideia bem clara da pessoa que eu deveria ser. e eu precisava, e precisava rápido, fazer as duas se encontrarem. a que eu era e a que eu precisava ser. e eu inventei lá no fundo da minha cabeça que era a firma colorida o lugar, e eu fiz a maior armação do mundo pro meu curriculo chegar nas mãos do gerente de covinhas, e convenci ele de que era eu, e somente eu, a pessoa que ele precisava. trabalhei, saí, voltei. 

e na volta eu tirei um projeto do chão. meu projeto. o único lugar ali que me interessava ocupar era o meu, todo o tempo, ainda hoje. a firma colorida tem disso. é meio mãe. te envolve numa névoa, te abraça quentinho, te serve chocolate quente e salada de frutas. zona de conforto. o maior conforto do mundo. o tipo de conforto que a gente sabe que deve escapar, porque distrai, seduz, confunde. e você se vê sentado por meses, por vezes anos, fazendo a mesma coisa, dia após dia. 

eu me prometi não deixar essa névoa me distrair. eu devia isso à garota que chegou com a vida empacotada no carro, ouvindo george michael cantar faith, se preparando para uma vida grandiosa. essa névoa gostosa e quentinha me deixaria no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa, sendo feliz, feliz pela vida.

mas vejam bem. no mesmo lugar.

a garota que largou tudo buscando uma vida grandiosa não merecia que a outra garota se distraísse. e quando tudo ficou confortável demais, a sirene tocou. tocou alto e doído, aquele barulho incômodo que a gente sabe que não quer ouvir. mas precisa. porque força o movimento, força a superação.

a sirene era uma outra firma. amarela. não um amarelado suave, mas amarelo forte, desses agressivos, desses que varrem o mercado buscando as pessoas. a sirene anunciou uma vida ainda mais grandiosa. fora da zona de conforto. grandes desafios, grandes méritos. e eu devia àquela garota cheia de planos essa resposta. porque era isso que ela buscava quando largou tudo apostando todas as fichas no que ela sabia.

a resposta era sim.

então, bem no aniversário de três anos do meu caso de amor eterno com essa cidade cinzenta, eu rompo o meu relacionamento sério e estável com a firma colorida. e vou ali buscar um pouco mais do que eu mereço. 

dá licença.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

tenho aprendido algumas coisas de uns meses pra cá.

pode ter sido o namoro, que me trouxe pra fora da bolha da firma colorida, pode ter a ver com a série de decepções que eu tive com algumas pessoas que eu insisti em posicionar como amigos. pode ter sido o ambiente cruel e competitivo que eu descobri depois da minha promoção, a série de exclusões que eu sofri, a visão corrigida colocando tudo em perspectiva.

nada daquilo era vida, não.

vida acontece aqui fora. quando eu encontro os meus amigos pra jantar, quando eu beijo longamente o meu menino e ele passa a mão no meu cabelo, quando eu compro flores pra colocar na sala de casa ou abro as cortinas pra deixar o sol entrar.

eu deixei o sol entrar. e na luz eu vi que não precisava trabalhar todas aquelas horas extras, que os prazos irreais podiam ser trazidos à realidade com um não, desculpe, não é possível.

não me interessa o mimimi corporativo de cargos e níveis, de ter de atender telefone pra ouvir que a equipe está discutindo o meu novo aumento, como se ele fosse menos do que absolutamente merecido. preguiça eterna das reuniões onde a chefa louca com cara de vilã de desenho animado se diverte torturando gente boa e que trabalha direito. eu meio que saio do meu corpo, e olho tudo do alto. não serve, é pequeno.

a vida é aqui fora. 

e é agora. e não espera não.