domingo, 21 de junho de 2009

Sexta-feira

Quando eu me vesti, de manhã, eu pensei. Hoje eu vou ter meu coração partido. Sim, estou falando de trabalho. É isso que eu faço.

Não que o coração já não viesse sendo espatifado aos poucos, desde a outra conversa. Eu sabia que seria assim. Então, no fim da tarde eu chamei o gerente de covinhas, as mesmas covinhas que já não me enganam mais, pra conversar. E ele disse exatamente o que eu já sabia que ele iria dizer. Eu não fico na firma colorida quando o contrato acabar.

Em parte, a conversa foi boa. Eu pude dizer pra ele que a minha aposta, por mais alta que tivesse sido, caiu por terra. Disse também que não volto pra firma colorida se a vaga for temporária, algo que ele já tinha mencionado antes. Sobre eu ser a primeira opção dele pra outros casos de gente saindo pra ter bebê, ou licença, ou o raio que o parta. Eu não tenho what it takes. Não quero entrar se tiver de sair. Eu desmancho, sabe? Então, eu não quero saber de telefonemas pra substituir ninguém. Quando a vaga definitiva existir, se é que ela vai existir, se eu for cogitada, dependendo de como estiver a minha vida, eu volto, sim. Em qualquer outra circunstância, thanks, but no, thanks.

Saí do trabalho e estava bem frio, e eu vim andando pela rua com o choro engasgado de um jeito quase que impossível de controlar. Eu respirava fundo, e alto, pra engolir tudo bem engolido. Gente andando chorando pela rua é algo bizarro de se ver. Passei no supermercado, comprei coca-cola, e quando entrei em casa e saquei que poderia chorar, eu tinha perdido a vontade. Comecei a pensar nas outras coisas todas que andam acontecendo, e está na hora de parar de choramingar, e fazer as coisas darem certo. Talvez eu continue mandando currículos, talvez eu aceite uma proposta que me veio do nada, e que pode ser bem legal. A única certeza, por esses dias, é a viagem para a cidade siderúrgica, onde comerei arroz doce até morrer. E brincarei com a calopsita. E verei minha avó.

Por hora, eu só preciso que essa semana passe rápido, e que a outra também. Não quero happy hour de despedida, não vou ficar de cara amarrada. Eu só quero que acabe. Da firma colorida eu vou levar algumas pessoas. E basta.

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