sábado, 31 de dezembro de 2011

sobre a pessoa perdida

eu tava aqui pensando em the walking dead. quando as pessoas estão naquele mundo bizarro e simplesmente escolhem não fazer parte. se matam, se explodem, estouram os miolos. eles têm uma expressão bem boa pra isso. fulano opted out.

daí eu fui no CCBB com meu menino. não tava nem me importando com o que estivesse passando lá, porque eu queria mesmo é que ele conhecesse o prédio, a abóbada com a luz entrando lá em cima. não tem como ir ao CCBB e não lembrar da renata. porque foi com ela que eu vi as polaroides do andy wahrol, e os quadros gigantes do roy lichtenstein e do keith haring.

opt out é o termo que eu escolhi usar para justificar o sumiço dela. porque eu já lidei muitíssimo mal com pessoas que sumiram da minha vida, e eu assisti, de perto, renata sumir da vida de algumas pessoas. 

quando ela ficava meio distante eu chamava ela no gtalk e perguntava se era isso, se já tinha chegado a minha vez. ela ria, dizia que eu era louca e paranóica e a gente marcava um japonês pra colocar a conversa em dia.

quando passava lost, e eu voltava da firma colorida a pé, nossos telefonemas eram clássicos. pra comentar o último episódio, pra concordar que desmond era muito legal. a gente brincava que uma era a constante da outra. a pessoa que estava lá no passado, e permanecia no presente. tudo podia mudar, a gente ainda estava ali. quando nós duas ainda estudávamos na puc e não fazíamos a menor ideia do que aconteceria conosco. a gente brincava de imaginar que um dia iria dividir apartamento num predinho no leblon e pintar as paredes de laranja. isso antes de ela casar com um menino querido e se mudar pra são paulo, e me apresentar a amiga que foi a minha primeira roomate quando chegou a minha vez de dizer que são paulo seria minha. renata era a minha constante.

era com ela que eu discutia polanski, e almoçava menos só pra comer mais sobremesa, o supremo de banana do couve-flor. foi ela que testemunhou o ataque do esquilo na faculdade. foi ela que me disse que eu falava pra caralho, e que se eu estava quieta era porque algo de muito errado tinha acontecido. renata me conhecia bem.

ela foi comigo a todos os shows do placebo, franz ferdinand, silverchair. não tem como ouvir placebo e não associar à gente, sempre atrasadas, correndo de mãos dadas e gritando infra-red, junto com brian molko, já do palco.

renata sumiu ano passado. ainda mora a algumas quadras de casa, em são paulo, mas a gente nunca se encontra. os núcleos são outros. parou de me chamar no gtalk, foi desaparecendo, sumindo. mesmo online, ali, a dois cliques. eu chamei uma, duas vezes, tentei marcar jantar, almoço, convidei pro meu aniversário. 

renata sumiu. opted out. quando finalmente chegou a minha vez, renata sumiu silenciosamente. eu senti aquela dorzinha fina e sofrida que eu sempre sinto quando alguém querido se afasta, mas achei que essa seria a minha oportunidade de cura. de não me desmanchar, não perguntar o motivo. entender, aceitar. não houve motivo, nem sempre há. a vida engole a gente, leva por caminhos diferentes, e a verdade é que a gente precisa se esforçar muito pra não perder as pessoas nesse processo. nem sempre as pessoas se esforçam. nem sempre existe algum esforço a ser feito.

renata mora, agora, dentro da minha cabeça. mora no gtalk, e ver o nome dela verdinho faz com que eu saiba que ela ainda existe. e eu tenho, sim, vontade de clicar e dizer oi, e perguntar da vida, e do trabalho, e do menino dela, mas eu entendo. chegou a minha vez. e a forma que eu tenho de ser amiga, nesse momento, é respeitar o silêncio, a ausência. respeitar uma decisão que é dela.

renata mora, agora, dentro das músicas antigas do placebo, dentro do ccbb com suas exposições de pop art, dentro das estampas de cerejinhas. 

renata mora ali. e segue aqui. dentro da minha cabeça.

2 comentários:

raquel a. disse...

"não houve motivo, nem sempre há. a vida engole a gente, leva por caminhos diferentes, e a verdade é que a gente precisa se esforçar muito pra não perder as pessoas nesse processo."

é tão difícil aceitar que, simplesmente, não há motivo. mas penso que não haver motivo é um motivo.

um beijo!

Natacha Echkardt disse...

No dia 29 (ou 30, sei lá) eu fiquei aqui relendo os posts que vc falava sobre amizade. Eu sempre me emociono muito com esses textos, acho que é porque vc trata amizade como amor e eu tbm só consigo tratar da mesma forma. Eu estava aqui procurando um texto que desse sentindo ao que estava sentindo naquele momento, eu encontrei vários textos lindos, mas nenhum que traduzisse a situação. Mas daí hoje eu venho aqui e leio isso, e termino o texto chorando, porque era esse o texto que eu procurava, é esse o texto que traduz a situação.
Eu estou aceitando esse afastamento, mas sempre tem aquele momento que era pra essa amiga que eu queria ligar, porque ela entenderia completamente o que está acontencendo. É estranho perceber que aquela amiga que esteve com você em momentos tão importantes não vai mais te acompanhar. Mas eu torço pra que ela seja feliz, e mesmo de longe continuo tendo o mesmo carinho!

Um 2012 maravilhoso pra vc madame Ç, eu fiquei muito feliz de saber que vc está feliz ao lado do seu menino! Embora não comente acomponho o blog há muito tempo e sei que vc fez por merecer toda essa felicidade, vc conquistou isso com muito luta e confiando nos seus sonhos! Beijos!