terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Eu vinha chegando com as compras

quando escutei uma brincadeira, já na garagem do prédio. Era alguém querendo praticar amizade. Eu não sou uma pessoa que pratica amizade com desconhecidos. Conversa na fila? No thanks. Conversa de elevador? Please, kill me. A única conversa de elevador que eu me meti até hoje teve conseqüências catastróficas, com todas as garotas do mba que malham mas não são putas extremamente ofendidas. I learned my lesson, really did. O máximo que alguém arranca de mim nesses lugares estranhos, hoje em dia, é um sorriso sincero, e os cumprimentos padrão. Bom dia, boa tarde, boa noite, por favor, obrigada. Passar bem.

Nessa categoria eu incluo conversas de prédio, conversas de supermercado e conversas de corredor. A manobra mais esperta se alguém me encontra num desses ambientes é fingir que eu não estou ali, que eu não sou uma pessoa. Sou uma planta, uma estátua, um quadro na parede. E, tenha certeza, eu farei o mesmo.

Então, parei o carro na garagem, e tinha compras pra levar pra casa. Toda uma novela, já que não tem um porteiro coração bão que te ajude sem vasculhar as suas coisas, ou um desses carrinhos de supermercado que ajudem no transporte garagem-apartamento. E eu lá, fazendo malabarismo, pegando sacolas, empilhando no chão. E gargalhadas, alguém querendo conversar, oferecendo ajuda.

A VIZINHA.

Obviamente que eu não reconheço a vizinha a menos que ela esteja na porta do apartamento dela, bem do lado da planta medonha que ela colocou pra decorar o ambiente.

De volta à garagem, a fulana oferece ajuda, fala do tempo, tem certeza de que não precisa que eu te ajude com as sacolas? Não, obrigada. Sou moça autosuficiente, não preciso de ajuda de ninguém. Ela subiu, eu suspirei aliviada. Quando, tempos depois, eu chego no meu andar, lá está ela, ao lado da planta, vestido azul, tamanco de madeira, dentes espalhados em um sorriso ameaçador. Oferecendo ajuda.

Quem, hoje em dia, usa tamanco com salto de madeira, meodeos?

Eu, administrando sacolas, celular tocando, chave na porta, e tendo de ser simpática com aquela criatura que só queria ser útil. Daí eu lembro do Marcelo psicopata psiquiatra do bbb8, dizendo que não gosta de gente que serve demais. Talvez tenhamos algo em comum, afinal.

E ela: Olha, se vcs precisarem de qualquer coisa, é só bater aqui, qualquer coisa mesmo, ajuda, alguma coisa emprestada, não precisa sair pra comprar, bate aqui, me pedeeeeeee.

E eu. Obrigada. Hã. Obrigada mesmo. Hã. Você também. Hã.

Fiquei pensando se devia informá-la de que depois de amanhã vai ter festcheenha aqui em casa, e que muita gente foi convidada. Se devia aproveitar aquele momento em que a criatura estava desarmada e sorrindo cheia de dentes pra dizer que, dentro de dois dias, pode ser que ela queira nos matar, ou aos convidados. Deixei pra lá. Qualquer coisa a gente resolve com meia dúzia de chocolates.

3 comentários:

Leo Amato disse...

Conversar com estranhos e semi-estranhos e O PE-OR. Outro dia mesmo... cheguei no meu predio estava minha vizinha "supimpa" com seu filho temporão usando patins e dando gritinhos de "Oh!Acho q vou cair!"... Dei Boa Tarde (era manhã) e segui a linha reta do desenho piso q levava até o hall.

Gente que serve demais, usa chapeu ou gel e tenta ser prolixa sem ser, são pessoas perigosas.

Bjs

Anônimo disse...

Eu digo: convide a vizinha, alimente a vizinha, entretenha a vizinha, embriague a vizinha e depois deixa-a na portaria de manhã bem cedo. beijo, Bruno.

Senior disse...

Eu digo: minha vizinha é velha, tipo, todos os anos de idade. Ela abre a porta do corredor quando QUALQUER pessoa bota o pé pra fora e também puxa papo, assim, comoquemnãoquernada, fingindo disfarçar a abrida de porta repentina.

Saltos e tamacos a parte, se a tua vizinha for que nem a minha, ó querida amiga, não faça o bendito convite, viu.

Mas se for aquela do brigadeiro, você tem que praticar amizade si, ficaadica.