É fato conhecido para os meus amigos mais próximos que uma fofura estranha tomou conta de mim nos últimos tempos. Virei pessoa boa, feliz, gentil, essas coisas todas que eu desprezava num passado ainda recente. Passei a esperar o melhor das pessoas, acreditar na bondade e nas boas intenções. Well, me ferrei.
Chegava eu de viagem no último sábado. Tirei as bagagens do carro, deixei no cantinho do hall do elevador do novo prédio, aquele que fica na rua fofa e tem velhinhos fofos. Não levaria mais de 5 minutos pra colocar o carro na vaga e voltar, pegar as coisas ali, empilhadinhas no chão e subir. Burra. Tirei a bolsa do carro e coloquei junto. Minha bolsa listrada, estruturada, que fica em pé e não tomba nunca. Bolsa com carteira, carteira com dinheiro. Câmera digital, ipod, essas coisinhas todas que deixam a gente feliz, né? Deixei a bolsa ali, 5 minutos. Burra. Quando voltei do carro, encontrei seu Zé, porteiro de bigode e aparentemente muito solícito, agachado em cima da bolsa, que estava aberta. Nas mãos, minha carteira laranja e a bolsinha da câmera digital, aberta. O fio do carregador do ipod enrolado nos dedos. Foi tudo tão rápido. Cheguei, olhei pra ele, ele sorriu e disse que a bolsa estava caída e as coisas se espalharam. Pensei. Que senhor gentil de me ajudar com as bagagens, e guardar as minhas coisas caídas de volta na bolsa. Agradeci, sorri, conversamos sobre o calor louco que faz em São Paulo esses dias e sobre o portão, cujo acionamento automático anda temperamental e quase pegou o carro da vizinha. Ele me ajudou a guardar tudo no elevador e apertou o botão do meu andar, já que eu tinha as mãos ocupadas. Que senhor bonzinho, eu pensava. Tão solícito. Cheguei em casa, arrumei as coisas e fui pra uma festa. Eis que, chegando na festa, percebo a ausência de uma nota de R$ 50,00. Eu sempre sei o que está na minha carteira, nunca foi roubada, nunca perdi nada, nem celular, nada. Burra. Achei que tinha deixado em casa, usei o cartão de débito, beleza. Mas o dinheiro não estava em casa, não estava em lugar nenhum. Virei o carro de cabeça pra baixo, achando que a nota podia ter caído por lá, ignorando o fato de que eu mesma me lembrava muito bem de tê-la guardado na carteira laranja, aquela que horas antes passeava nas mão do solícito porteiro bonzinho, aquele que me ajudou com as malas.
E essa fofura toda, essa bondade no coração que se abateu sobre a minha pessoa, pesou na consciência. Fiquei ingênua, passei a acreditar que as pessoas são legais e que estão sempre com as melhores intenções. Fiquei ingênua aos 29 anos. Shame on me. Foda-se o dinheiro, sabe? Óbvio que ele era meu, e que esse não é exatamente um momento na minha vida em que eu posso sair abrindo mão de notas de R$ 50,00. Tô puta com o larápio, obviamente, mas estou mais puta ainda comigo. Como assim eu deixei a bolsa sozinha no corredor? Eu peguei o maldito em flagrante, a bolsa da câmera aberta, mais dois segundos e eu ficava, inclusive, sem o ipod. E eu agradeci, sorridente, a ajuda oferecida, e eu fui gentil, e desejei boa tarde, essas coisas todas que uma moça bem educada faz. E eu fui roubada. Burra.
E agora me vejo num impasse. Eu sou a moradora nova, dois meses no prédio. Seu Zé tem mais tempo que eu, sabe-se lá quantos anos. Pode ter uma mulher que faz faxina, pode ter filhos que vem visitá-lo na portaria e ganham doces dos moradores, pode ser querido por todos. Eu sou a nova moradora, que vai acusá-lo de algo grave, que não tem prova nenhuma de que ele pegou o dinheiro, mas que viu quando ele estava debruçado sobre a minha bolsa. Eu sou a pessoa que vai provocar a sua provável demissão, e vai ficar culpada. Nunca acusei ninguém de roubo. Sou a moradora encrenqueira, que traz pânico à calma aparente dos outros moradores, dizendo que eles não estão a salvo nem mesmo na portaria do próprio prédio. Sou má. E burra.
Chegava eu de viagem no último sábado. Tirei as bagagens do carro, deixei no cantinho do hall do elevador do novo prédio, aquele que fica na rua fofa e tem velhinhos fofos. Não levaria mais de 5 minutos pra colocar o carro na vaga e voltar, pegar as coisas ali, empilhadinhas no chão e subir. Burra. Tirei a bolsa do carro e coloquei junto. Minha bolsa listrada, estruturada, que fica em pé e não tomba nunca. Bolsa com carteira, carteira com dinheiro. Câmera digital, ipod, essas coisinhas todas que deixam a gente feliz, né? Deixei a bolsa ali, 5 minutos. Burra. Quando voltei do carro, encontrei seu Zé, porteiro de bigode e aparentemente muito solícito, agachado em cima da bolsa, que estava aberta. Nas mãos, minha carteira laranja e a bolsinha da câmera digital, aberta. O fio do carregador do ipod enrolado nos dedos. Foi tudo tão rápido. Cheguei, olhei pra ele, ele sorriu e disse que a bolsa estava caída e as coisas se espalharam. Pensei. Que senhor gentil de me ajudar com as bagagens, e guardar as minhas coisas caídas de volta na bolsa. Agradeci, sorri, conversamos sobre o calor louco que faz em São Paulo esses dias e sobre o portão, cujo acionamento automático anda temperamental e quase pegou o carro da vizinha. Ele me ajudou a guardar tudo no elevador e apertou o botão do meu andar, já que eu tinha as mãos ocupadas. Que senhor bonzinho, eu pensava. Tão solícito. Cheguei em casa, arrumei as coisas e fui pra uma festa. Eis que, chegando na festa, percebo a ausência de uma nota de R$ 50,00. Eu sempre sei o que está na minha carteira, nunca foi roubada, nunca perdi nada, nem celular, nada. Burra. Achei que tinha deixado em casa, usei o cartão de débito, beleza. Mas o dinheiro não estava em casa, não estava em lugar nenhum. Virei o carro de cabeça pra baixo, achando que a nota podia ter caído por lá, ignorando o fato de que eu mesma me lembrava muito bem de tê-la guardado na carteira laranja, aquela que horas antes passeava nas mão do solícito porteiro bonzinho, aquele que me ajudou com as malas.
E essa fofura toda, essa bondade no coração que se abateu sobre a minha pessoa, pesou na consciência. Fiquei ingênua, passei a acreditar que as pessoas são legais e que estão sempre com as melhores intenções. Fiquei ingênua aos 29 anos. Shame on me. Foda-se o dinheiro, sabe? Óbvio que ele era meu, e que esse não é exatamente um momento na minha vida em que eu posso sair abrindo mão de notas de R$ 50,00. Tô puta com o larápio, obviamente, mas estou mais puta ainda comigo. Como assim eu deixei a bolsa sozinha no corredor? Eu peguei o maldito em flagrante, a bolsa da câmera aberta, mais dois segundos e eu ficava, inclusive, sem o ipod. E eu agradeci, sorridente, a ajuda oferecida, e eu fui gentil, e desejei boa tarde, essas coisas todas que uma moça bem educada faz. E eu fui roubada. Burra.
E agora me vejo num impasse. Eu sou a moradora nova, dois meses no prédio. Seu Zé tem mais tempo que eu, sabe-se lá quantos anos. Pode ter uma mulher que faz faxina, pode ter filhos que vem visitá-lo na portaria e ganham doces dos moradores, pode ser querido por todos. Eu sou a nova moradora, que vai acusá-lo de algo grave, que não tem prova nenhuma de que ele pegou o dinheiro, mas que viu quando ele estava debruçado sobre a minha bolsa. Eu sou a pessoa que vai provocar a sua provável demissão, e vai ficar culpada. Nunca acusei ninguém de roubo. Sou a moradora encrenqueira, que traz pânico à calma aparente dos outros moradores, dizendo que eles não estão a salvo nem mesmo na portaria do próprio prédio. Sou má. E burra.