terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Sala de justiça

Existem dois tipos de trabalho. Os trabalhos que eu posso fazer, e os que eu quero fazer. Infelizmente, aparentemente, na minha vida, essas duas coisas não se misturam.

Todos os trabalhos que eu realmente quis fazer não vieram pra mim. Teve aquele trabalho super ótimo naquela empresa que eu queria, e que era tudo na minha área, e tinha alguém ligeiramente mais experiente. E eu fiquei bem chateada mesmo. E continuo meio inconformada, achando que eu ainda era a melhor opção para a vaga. E aí surge essa outra empresa. Gigante, daquelas que têm o nome sempre nas páginas de economia dos jornais. E eles têm essa vaga, e eu fui lá ser entrevistada. Sabe quando vc sabe que está agradando? Quando a sua entrevista com o Rh de repente vira entrevista com a coordenadora, que a Rh fez questão que te conhecesse? E todo mundo impressionado com o tal do currículo, e várias anotações de caneta ao lado das informações de praxe. E, de repente, o seu telefone já tocou 3 vezes durante a tarde, marcando entrevistas novas, primeiro com um diretor que teria que aprovar a contratação, e tal, e depois com um diretor extra, que também tem que te conhecer. E aí vc tem que voltar no dia seguinte?

Isso é bom sinal, né? Deve ser. Porque quando é vaga que eu quero muito, em empresa que eu quero muito, o telefone emudece. Mas hoje não. Toca o tempo todo. E eu estou deveras assustada.

Começou porque a empresa é formal, do tipo sapato de bico fino e calça social. Depois porque a vaga é formal, com acesso quase que direto a um dos donos. A sala de justiça. Onde as tais decisões importantes são tomadas. Eu digo o que ele dirá, como será dito, que palavra deve ir no lugar de que palavra, pra ser simpático, persuasivo ou qualquer outra coisa que ele queira ser naquele momento. Cartas pra jornais de grande circulação? Check. Cartas pra ministros? Check. E eu estou aqui, agoniada. Porque, na segunda entrevista, fui informada de que o clima lá é formal. Como se eu não pudesse perceber isso sozinha. Mas me foi informado. Que o clima é formal, tá? E eu, que estava fantasiada de calça social e saltinhos fofos, fiquei me perguntando se toda aquela ênfase seria por causa do brilhantinho no nariz. E me disseram que o ambiente não só é formal, como silencioso. Tipo. Não devemos fazer barulho. Não devemos sorrir, não devemos conversar. Nem sobre o tempo, nem sobre o que houve na rua, nem sobre a televisão. Tudo muito sério.

E eu só consigo pensar que isso não pode ser boa coisa. Porque eu vou ter que me fantasiar de uma pessoa que eu não sou. Deixando as sapatilhas verdes, ou o casaco engraçadinho e cheio de personalidade no armário. E vestir uma personalidade nova, que não me pertence. Uma persona séria, focada, silenciosa. Eu, que sempre gostei tanto do meu próprio barulho. Que sempre me achei espirituosa, e engraçada. Que sempre tive certeza de que, se algo em mim merece atenção, é a personalidade.

Vou lá amanhã, né? De novo.

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