sábado, 25 de agosto de 2007

checklist

Se a minha cabeça funcionasse de forma mais simples, ah, seria tão melhor. Porque eu deveria agora, enquanto escrevo, estar arrumando a gaveta aqui ao meu lado, com papéis, documentos, caixinhas e fotos. Porque tem coisas ali que precisam ir comigo em viagem amanhã. Coisas que eu não sei onde estão e que, se estivesse arrumando a gaveta, como eu deveria, eu saberia. Eu tenho que tirar do chaveiro a chave do porta-correspondência, que fica na portaria, para o meu irmão poder pegar a conta da internet e a mensalidade do francês enquanto eu não estiver por aqui. Deveria recolher o material do francês, meus dicionários todos, pegar os cds que eu quero comigo, os dvds com seriados gravados, essas coisas. É muito tempo fora, penso. E se eu não levar alguma roupa que eu decida usar, tipo, na quarta feira? Mas como é que eu posso saber hoje, sábado, que roupa eu vou querer usar na quarta feira? Será que vai estar frio? A cidade siderúrgica é mais fria, e também mais poluída. Hum, preciso levar meu shampoo, o de pitanga. Secador de cabelo, vai que eu tenho um bad hair day? Maquiagem, casaquinhos, quero as minhas bolsas comigo, mesmo que lá eu decida passar a semana inteira usando só uma. Pijama. O pior é que é de lá que eu vou sair, na sexta feira que vem, pra visitar Madame T na selva de Pedra. Lá é mais frio ainda. Então, preciso levar um pijama menos quente para minha primeira parada, e um mais quente para a segunda. E se São Paulo for quente no verão? Não vou a SP há mais de 10 anos, minha memória só me traz a idéia de lugar frio, e com garoa, sei lá. Meu guarda chuva está na casa da Frá, há meses, porque aqui eu tenho carro e de carro eu não tomo chuva. Mas lá em SP pode ser que chova, e então eu estarei despreparada. E se fizer sol? Será que é um sol desses que deixa frio onde está sombra ou é tipo esse aqui do Rio, que queima a mufa em pleno inverno, hoje? Estou de camiseta, e agosto ainda nem terminou. Eu gosto de inverno, gosto de frio, andei comprando uns casaquinhos tão fofos, nem seria justo não poder usá-los na minha primeira ida a São Paulo depois de tanto tempo. Da última vez que eu estive em São Paulo, vejam só, ganhei do meu pai uma barbie, um livro dos contos de grimm, que tenho e adoro até hoje, e uma borracha amarela que virou de estimação, e que está, agora, no meu estojo do francês. Não sei bem como vou encarar a selva de pedra. Faz tanto tempo. Preciso levar calças e quero MUITO levar as botas novas. Uma marrom e uma preta. Não vão caber na mala, fato. E se estiver quente, com sol? Eu tenho que, para essa possibilidade, estar munida com sapatinhos fofos, sandálias, sei lá. Meus casacos amassam na mala. This sucks. Não tenho pijamas suficientemente quentes pra um frio desses. E são dois. Meias. Saias seriam uma opção. Mas aí eu precisaria levar sandálias que pudessem ser usadas com calças ou saias. Eu fico irritada porque ligo para a Madame e ela não atende. Deve estar na academia, a louca. Malhando num sábado. A Louca. Preciso saber do tempo, da previsão, do tipo de programa que ela planejou, pra saber o que eu levo, porque a mala tem que ser feita ainda hoje, e tem que servir para meus dois destinos, a cidade siderúrgica e São Paulo. E eu não sei o que levar. Que tipo de mala, se de rodinhas, se não. Levo toalhas? Toalhas ocupam TANTO espaço na mala. Preciso levar roupa de sair à noite? Existe roupa apropriada para HH em São Paulo? HH é happy hour, um apelido carinhoso que no rio não diz absolutamente nada. Saídas de fim de semana configuram hh, ou só quando é durante a semana, pra fugir do trânsito? Eu moro a 15 minutos do trabalho, nem sei o que é trânsito. Na cidade siderúrgica, 15 minutos é o que uma pessoa leva para ir de um extremo a outro, passando pelo centro, com todos os sinais fechados. Ou era. Faz tanto tempo. Nem sei.

Preciso saber o que vestir, o que levar. Preciso salvar os meus favoritos pra ter acesso aos blogs de outros computadores. Meu delicio.us está mais bagunçado que essa gaveta fechada aqui do lado, a que eu precisava arrumar. Tenho malas pra fazer, odeio tanto isso. Odeio fazer malas, pagaria alguém pra fazer por mim, juro. Quero ver televisão, comer pipoca e dormir um pouco. Mas tem as malas, e a bendita gaveta, céus.


Se a minha cabeça funcionasse de forma mais simples, seria tão melhor.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Eu preciso dizer que, nesses últimos dias antes das tão sonhadas férias, eu operei a 17% da minha capacidade. É verdade. Um sono absurdo tomou conta da minha pessoa, os dias foram longas esperas pelo passar das horas. E eu produzi pouco, quase nada. Tem dias que eu faço mais, tem dias que eu faço menos. Eu tenho feito menos, ultimamente, muito menos do que eu poderia. A verdade é que eu estou bem cansada mesmo, um cansaço estranho, que nem é por falta de sono não, é falta de, sei lá, brilho. A gente tem uma brincadeira no trabalho que imita uma propaganda, de algum carro offroad, onde as pessoas precisam ter mais contato com a natureza. E tem uma planta num canto, e as pessoas passam e ficam muito impressionadas com a planta. E o comercial termina com a fala de alguma pessoa, quase que em choque, exclamando “Há vida neste vaso!”. E sempre que alguém está animado com algum projeto, rola a mesma brincadeira, do “Há vida neste vaso!”. E não há vida neste vaso, no meu. Eu sou uma espécie da planta, seca, no canto da parede, desmaiada, aborrecida, contando o passar do tempo e fingindo que não estou ali. Isso me deixa um pouco frustrada, porque afinal de contas, eu tenho tanto a oferecer, e sou tão absurdamente cheia de idéias, e até mesmo acima da média, sem falsa modéstia. Mas eu fico ali, operando a 17% da minha capacidade, porque só me exigem mais ou menos 20%. E esses 17% são a minha forma de me rebelar contra o sistema, dizendo que se é pouco o que querem, então eu faço menos ainda. Rá. Quero ver quem ganha esse joguinho.

Se me quisessem a 100%, eu daria 110%. Mas é assim mesmo. As pessoas têm o que merecem. Não mais do que isso.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Esta semana, especialmente essa semana, eu perdi a minha paciência com telemarketing. Eu até vinha tentando lançar a personalidade fofa, entender que aquelas pessoas são realmente muito fudidas por trabalharem em cabines apertadas e terem pouco mais de 5 minutos por dia para comer/ir ao banheiro, e que não é à toa que uma empresa precisa criar estratégias pra motivação de equipes. Eles recebem um zilhão de “nãos” na cara, todos os dias, e ainda assim te ligam com a maior paciência, torcendo mais que tudo pra ticar o quadradinho ao lado do nome de cada cliente com uma marquinha positiva. Não sei se eles ganham por hora, imagino que por produtividade não seja, mas tenho que conter os bocejos ao pensar nas aspirações de uma pessoa que fale o dia inteiro com estranhos predispostos a tratarem-na como lixo.

No início eu dizia “não”, e desligava. Me aconselharam aqui no trabalho a desligar sem nem mesmo dizer não, assim, na cara da pessoa. Mas a outra Madame havia me dito que, até que eu diga não efetivamente, fica rolando um “pending” ao lado do meu nome, e eles vão me ligar de novo. Eles sempre ligam nas horas mais inoportunas mas, cá entre nós, existiria algum horário que fosse oportuno para atender telemarketing? Sempre digo que estou no transito, ou no almoço, ou no trabalho, que não posso falar, que estou no enterro da minha tia-avó, qualquer coisa que faça com que o infeliz se sinta mal, muito mal mesmo. Mas aí eu fico pending, e eles sempre ligam de novo. Não tenho interesse em promoções para celular, nem em saber como aproveitar os descontos da Embratel. Daí o espertinho surge com a seguinte pérola: “Você não gosta de economizar dinheiro?” Minha chefe outro dia disse que respondeu que não, que era louca e rasgava dinheiro mesmo. Quero até copiar essa idéia, é realmente bem boa. Eles sempre fazem perguntas que te obrigam a concordar, mas isso aí é técnica, e eu tenho preguiça, e caio para a grosseria mesmo.

Me ligaram do Credicard, há coisa de 3 ou 4 semanas atrás. Sempre a mesma ladainha. Por favor, eu gostaria de falar com a Madame Ç. É ela, respondo, tomando fôlego para o fora que vou dar. Olá, Madame Ç, primeiramente bom dia, aqui quem fala é a Zuneide da Credicard, como vai a senhora? – Me ofende me chamando de senhora, me diz um nome que me obrigaria a perguntar de novo. Ela não está interessada em saber como eu vou. Prossegue: A senhora utiliza cartões de crédito no dia a dia? Não, respondo, odeio cartão, odeio dívidas, tenho pra mim que isso é coisa do Demo. Ela continua a conversa e, só porque ainda estou zonza de sono, eu a deixo continuar, esperando a próxima chance de dizer não. OBVIO que eu me contradigo, e falo que tenho, sim, cartões, e que apenas não estou interessada em adquirir outro. Zuneide se ofende, vejam só, e tenta me pregar uma peça: Mas a senhora disse que não usava cartões! Essa é a hora que eu digo que não, e acredito sinceramente que saí da listinha de pending e que estou livre da Credicard. Ledo engano.

Recebo uma carta anunciando o cartão, rasgo e jogo no lixo. Recebo outra, agora com prazo, dizendo que eu vou perder a super mega hiper promoção incrível feita exclusivamente pra mim. Dane-se. Rasgo. E aí, sábado passado, matando aula de francês porque cheguei em casa de madrugada, toca o telefone. Me acorda. O relógio marca 8h03 da manhã. Reúno algum bom humor, achando que seria minha pobre mãe preocupada, querendo saber se eu cheguei inteira em casa. Não. Era a Zuneide, do Credicard. Olá, dona Madame Ç, primeiramente bom-dia, nós estamos efetuando essa ligação para apresentar à senh..... – Soltei um berro no telefone, JURO. Falei: Sábado, 8h03 da manhã. Vocês estão malucos? Vocês, de telemarketing, estão loucos? Sábado, 8h03 da manhã! Zuneide percebe a grande falha e pede desculpas, e pergunta, assim como quem não quer nada, quando seria um BOM HORÁRIO pra falar comigo sobre o cartão CREDICARD. Nunca, não me liguem mais. Vocês perderam a noção de limites!

E, resignada, tenho certeza de que Zuneide ainda não desistiu da minha pessoa. E hoje, nesse momento, eu digo que nunca, em hipótese alguma, eu terei um cartão Credicard. Por causa dela. Da Zuneide.
Hoje, só hoje, eu gostaria que as horas voassem. Hoje não, amanhã e depois de amanhã também. E aí, segunda, terça e quarta. Porque quinta é o meu primeiro dia das minhas primeiras férias, as primeiras merecidas com o trabalho, as primeiras depois de um ano e meio muito cheio de informação, as primeiras depois que o MBA dos infernos acabou e as primeiras que eu realmente quero e preciso. E eu fiz milhões de planos, dos mais divertidos aos menos, com passagens por dentistas, oftalmologistas e afins, com extreme makeover agendado no salão, dietas programadas. Estou baixando todas as séries que o tempo me negou nesse período, a última temporada de ER, House, Greys Anatomy e tantas outras. Não vou conseguir ver nem metade, mas eu quero, quero mesmo, preciso.

Vou me aboletar na casa dos meus pais, onde as refeições seguem horários e são equilibradas. Onde eu até encontro chocolates, onde é mais frio, e há quem lave/passe minhas roupas. Vou cortar a comunicação com os demais, nada de MSN, nada de Orkut. Mentira. Mas seria bem bom. Vou esquecer da existência de alguns infelizes que só fazem me dar nos nervos ultimamente. Pensar na vida e assistir temporadas antigas de Seinfeld e Friends. Colocar a locadora em dia, assistir Marcia Goldschmith (ou whatever), Gaspareto e novelas mexicanas no meio da tarde. Malhação. Vou ver quem diabos é Romulo Arantes Junior, ou filho, ou sobrinho, o tal do moleque que pegou os travestis há um tempo atrás. Vou rever meus escritos do francês, assistir filmes sem legenda, retomar contatos importantes, por assim dizer. Atualizar meu currículo porque, sabe como é, nunca se sabe. E eu ando bem cansada mesmo. Das pessoas, em geral, de uma boa parte delas.

Vou visitar a Madame na selva de pedra e fazer um esforço sobre-humano pra não reclamar da vida. Vou tentar não gastar dinheiros, mas vou trocar o som do carro. Gravar CDs novos, essas coisas. Reassistir Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças. Adoro tanto esse filme. Talvez eu pare pra ver uns clássicos, mas eu nem acho que vai dar tempo. Eu podia fazer sabe o que? Ir numa vidente, ou coisa que o valha. Saber um pouco do futuro, acreditar em previsões felizes, fazer as unhas. Tomar banhos de espuma, assistir um pouco mais de televisão, descobrir mais alguns blogs legais pra ler. Ler os históricos de blogs recém descobertos. Ler no sol. Comprar bombons de banana que só vendem no shopping da cidade siderúrgica. Pra depois morrer de culpa por ter comido tantos, e em seguida me desculpar porque eu estou de férias, e eu mereço esses mimos. Eu realmente mereço.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Sonhei com o meu quarto, não esse, o lá da cidade siderúrgica, onde cresci, onde moram os meus pais, a minha avó, e onde está enterrado o meu cachorro. Estava em um grupo, fazendo um trabalho, desses bem de colégio, com papéis coloridos e gente reunida, sentada no chão, fazendo da cama uma mesa, a mesa de trabalho. Olhei pela sacada e vi o céu. Estava estrelado, e eu quase podia identificar pelo nome as constelações que nem conheço. As estrelas faziam desenhos, e um desses desenhos se moveu formando a figura de um homem, um esqueleto. O esqueleto desceu do céu, e eu pude ver que ele era suspenso por cordas, daquelas que suspendiam Ethan Hunt em Missão Impossível, o primeiro dos filmes. Ele vinha descendo e de repente parou na sacada do meu quarto. A essa altura, nem era mais um esqueleto, era um homem coberto com um uniforme branco, igualzinho a um power ranger. Estava filmando um comercial para a televisão e entrou filmando no meu quarto, e de repente eu era parte do comercial. Eu ficava constrangida, mas participava meio fingindo não ligar, assim, meio blasé. Me assisti na televisão e fiquei satisfeita com o resultado, me achei bem natural, bonita, até. No comercial que o power ranger que desceu das estrelas ia filmando. E então eu saí de casa com os meus papéis coloridos, em direção a uma rua bem conhecida lá na cidade e, ao tentar tirar minha câmera da bolsa pra fotografar a lua, que estava linda, deixei os papéis caírem. O Lázaro Ramos, que vinha passando, me ajudou a recolher os papéis. Eu agradeci, porque sou moça bem educada.

Pedi férias no trabalho.